Artes

Arte Mesopotâmica

Ao contrário da civilização egípcia, marcada pela continuidade, na Mesopotâmia desenvolveram-se várias culturas, cada uma com evolução e características independentes.

Entre os séculos IX a.C. e IV a.C, desenvolveram-se sucessivamente no Oriente Médio três grandes impérios, dos sumérios, dos assírios e dos persas, todos com marcantes características artísticas.

As culturas mesopotâmicas

Apesar da variedade cultural e política, algumas culturas exerceram sucessivamente o controle sobre a Mesopotâmia, reconhecendo-se certa herança de umas sobre as outras.

No que diz respeito à arte, existem alguns traços comuns, relacionados aos grandes poderes que articulavam a sociedade.

De um lado, os deuses, ligados às forças da natureza, que o ser humano contempla com reverência e temor. De outro, os reis, que ostentam um poder intermediário. Nesse sentido, a arte é produzida para templos e palácios.

Arte dos sumérios

A arquitetura religiosa mesopotâmica no terceiro milênio

Os sumérios situaram as bases de sua arquitetura na Mesopotâmia, cuja primeira construção característica foi o templo, o Eanno ou casa do céu.

O material utilizado era o tijolo de adobe, sem cozimento, com o qual se formavam grossas paredes capazes de sustentar cargas elevadas. No exterior, tinha a forma de um paralelepípedo, maciço, eventualmente com decoração de formas geométricas. Os sumérios também conheciam o arco de meio ponto e a abóbada,

Mas a construção religiosa mais característica é o templo-torre chamado de zigurate, que deve estar relacionado à bíblica “Torre de Babel”. Trata-se de uma estrutura de vários terraços, com paredes em talude e rampas de acesso, de imponente valor simbólico. Sua silhueta dominava as cidades.

Representação do Zigurate de Ur, período neossumério (c. 2100 a.C.).

A arte de narrar histórias

O desenvolvimento de uma arte figurativa entre os sumérios está ligado, muitas vezes, à comemoração política, por sua vez relacionada com a recordação de algum feito histórico.

Destacam-se os relevos denominados “esteias”, onde se representavam cenas em faixas, com as figuras no mesmo plano, sendo o corpo de frente e a cabeça e os pés de perfil. É o caso da Esteia de Umanshe, de 40 centímetros de altura, em que o rei de Lagash aparece em duas cenas: numa delas, como construtor; na outra, presidindo uma festa sagrada. A peça era perfurada para que pudesse ser fixada à parede de um templo.

De tamanho maior é a chamada Esteia dos Abutres, de 180 centímetros, que comemora a vitória do príncipe Eannantum de Lagash sobre a cidade de Umma.

Também tiveram importância entre os sumérios os selos cilíndricos, que deixavam uma marca de comprimento indefinido sobre uma substância mole, do tipo da argila, assim como os objetos suntuários como o Estandarte real de Ur, uma placa de concha e calcário sobre fundo de lápis-lazúli, representando cenas de guerra.

Arte mesopotâmica.
Estandarte de Ur, período sumério (2500 a.C). Museu Britânico, Londres.

Da época acadiense é a Esteia de Naramsin, com modelagem mais cuidadosa e a preocupação em ambientar de maneira naturalista a cena comemorativa da vitória do rei, protetor de seu povo, sobre os lulubitas. Naramsin, de poderosa anatomia e representado em tamanho maior que seus soldados, porta um capacete de chifres, até então exclusivo dos deuses.

À época paleobabilônica corresponde a Esteia de Hamurábi, que contém o primeiro código legal escrito, gravado sobre diorito.

A escultura isolada

As primeiras peças dos sumérios são figuras de deuses, cujo modelo escultórico mais conhecido da época neossuméria é a estátua de Gudea, chefe político-religioso ou patesi de Lagash.

Escultura mesopotâmica
Estátua sedente de Gudea, rei de Lagash, época neossuméria (c. 2100 a.C).

Trata-se de figuras compactas, robustas e maciças, que obedecem a uma intenção sintética, realizadas em diorito negro.

Representam a figura sentada do príncipe-sacerdote, em atitude recolhida, com as mãos enlaçadas. Sobre as pernas há um plano de um templo, desenhado em tábua, modo escolhido para apresentá-lo como devoto construtor de templos. Em sua túnica aparecem textos gravados, alusivos à construção.

Também se conhecia na Mesopotâmia a técnica da fundição em bronze, como revela a Cabeça de Naramsin, da época acadiense, obra de grande maestria, com materiais preciosos incrustados, que transmite uma imagem quase sobrenatural desse rei.

A arte assíria

A capital assíria localizava-se na parte alta do rio Tigre, em Asur, nome da cidade, do deus principal e do povo, com vários momentos alternativos de domínio sobre a área. Artisticamente, destaca-se o chamado Novo Império (883 a.C-612 a.C.), ao qual se segue um novo controle da Babilônia, conquistada em 539 a.C. pelos persas que, oriundos do leste, impõem sua autoridade na região.

Os assírios formaram um povo com uma personalidade bastante forte, marcada pela rigidez e violência. Chegaram a estabelecer império poderoso, regido a partir do palácio do soberano, como o da cidade de Kalakh, eleita capital por Assurbanipal II no século IX a.C. Encontrava- -se inserido em cidadela murada, cujo elemento artístico mais interessante é a singular decoração escultórica.

A cidade-palácio do rei Sargâo II, do final do século VIII a.C., era Dur Sharrukin, ou Fortaleza de Sargão, hoje Khorsabad, ao qual dedicou os últimos anos de sua vida, erguendo muralhas de extraordinária espessura e, provavelmente, abóbadas de tijolos.

Arte da Mesopotâmia.
Touro alado de Khorsabad, época assíria (c. 720 a.C.).

As portas aparecem protegidas por animais reais ou imaginários, que encarnam diversos poderes, como o lamassu, touro alado androcéfalo, guardião de portas, símbolo de poder e força, relacionados à autoridade a que defendiam. Com suas características cinco patas e a barba ondulada, própria dos reis, impõem-se pela monumentalidade, fundindo-se arquitetura e escultura.

As paredes das salas principais do palácio eram cobertas por placas de alabastros com relevos, onde se reconhecem cenas em distintos registros. Os do palácio de Assurbanipal, em Nínive, representam episódios bélicos e de caça protagonizados pelo rei, que aparece como uma figura dotada de força sobre-humana, com a qual domina o mundo, especialmente o mundo animal.

Nos relevos de Sargão, em Khorsabad, de tema bélico, aparecem cruéis castigos impostos aos vencidos. São relevos que remetem a um desenho mais esquemático, ainda que com muitos detalhes, indicativos do afã narrativo do artista que os fez.

As figuras mais importantes, como o soberano, são monumentais. Reconhece-se um naturalismo intencionalmente exagerado, com o fim de sublinhar a sensação de força e vigor, entre outras convenções representativas, que proporcionam ao relevo assírio um estilo muito característico, bem diferenciado dentro do mundo mesopotâmico.

O esplendor da Babilônia

O esplendor da Babilônia do século VI a.C. constitui um episódio mítico da história, cuja grandeza e suntuosidade têm sido propagadas desde a Antiguidade.

A cidade era prodigiosa, com avenidas retas, adornadas de ladrilhos com leões em relevos realizados em tijolos variados, próprios de técnica artística característica do período.

Um testemunho desse estilo é a reconstruída Porta de Ishtar, com seus volumes rotundos e grandiosos, cuja superfície está decorada com ladrilhos coloridos em relevo. De efeito deslumbrante, era símbolo de um poder amável e próspero, muito distante da brutalidade assíria.

A arte dos persas

Os persas tinham o centro de sua cidade na região montanhosa do leste da Mesopotâmia. Essas terras entram em contato com o mundo grego e, em definitivo, com a história do Ocidente. O Império Persa consolida-se com Ciro II, o Grande, que anexa o território da Babilônia.

Até o reinado de Dario I, que morre no ano 486 a.C., desenvolvem-se as formas artísticas mais características.

O centro da vida política persa é o palácio, que Dario I estabeleceu em Persépolis e cuja construção foi continuada por seus sucessores. Cabe destacar três de seus aspectos:

  • A decoração, que reúne a tradição assíria na utilização de touros alados androcéfalos, nesse caso com quatro patas, como guardiões, e a decoração de relevos, com cenas da corte, nas quais o rei é representado sempre em maior tamanho.
  • A monumentalidade espacial, com ambientes imensos, como a apadana, ou sala de audiências, com colunas em grande altura.
  • O emprego da pedra como elemento construtivo, com capitéis característicos em forma de cabeças de touro, sustentando vigas de cobertura.

Outra manifestação arquitetônica bastante relevante entre os persas foi a tumba. A de Ciro II, em Pasárgada, onde também ergueu seu palácio, tem forma de casa quadrangular, com cobertura em duas águas, sobre um embasamento escalonado. Seus sucessores optaram por escavar a tumba em rocha, em cuja superfície foi talhada uma cruz de extremidades largas, configurando uma fachada rebaixada, com pórtico, que dá acesso à câmara funerária.

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