Artes

Teatro Ocidental

Embora sejam mal conhecidas as origens do teatro ocidental, a maior parte das teorias apontam para uma origem ritual.

Os primeiros dados já documentados da literatura dramática datam do século VI a.C. A primeira obra crítica sobre a literatura e o teatro, a Poética (330 a.C.) de Aristóteles, afirmava que a tragédia grega nasceu a partir do ditirambo, hinos corais em honra ao deus Dionísio. Segundo a lenda, Téspis, poeta do século VI a.C., criou a tragédia ao assumir o papel de personagem principal.

A tragédia grega floresceu no século V a.C. com autores como Ésquilo, Sófocles e Eurípides. Suas obras são grandiosas, escritas em verso e estruturadas em cenas (episódios) com três ou menos personagens e um coro que canta em odes. A maior parte das histórias se baseiam em mitos ou relatos antigos e seu objetivo principal é mostrar o caráter dos personagens, o papel da humanidade no mundo e as consequências das ações individuais.

As comédias mais antigas que se conhece são as de Aristófanes. Têm uma estrutura bem cuidada, inspirada nos antigos ritos de fertilidade. Sua comicidade consistia numa mistura de ataques satíricos a personalidades públicas, pilhérias escatológicas e paródias aparentemente sacrílegas dos deuses.

O misantropo é a única obra completa que se conserva de Menandro, o grande autor da nova comédia grega. A trama gira em torno de uma complicação ou situação relacionada com o amor, o dinheiro, problemas familiares e similares.

Teatro-Ocidental

O teatro caracteristicamente romano só veio a se desenvolver no século III a.C. e seu período mais fecundo se iniciou no século II a.C., dominado pelas comédias de Plauto e Terêncio, que consistiam em adaptações da nova comédia grega. As tragédias de Sêneca viriam a exercer grande influência na época do renascimento.

Em fins do século II a.C. a literatura dramática havia entrado em declínio, sendo substituída por outras formas, mais populares, de entretenimento e espetáculo. A nascente Igreja cristã atacou o teatro romano porque os atores e atrizes tinham fama de libertinos e porque os mímicos com frequência satirizavam os cristãos. Com a queda do Império romano, o teatro clássico decaiu no Ocidente. A atividade teatral só viria a ressurgir cerca de 500 anos depois. Apenas os artistas populares, conhecidos como jograis sobreviveram, criando um elo de continuidade.

Ironicamente, o teatro sob a forma de drama litúrgico ressurgiria na Europa graças à Igreja católica romana, que dele se serviu para ampliar sua influência. No século X, os diferentes ritos eclesiásticos ofereciam possibilidades de representação dramática e a própria missa era, na realidade, um drama. Com o tempo, o espetáculo foi assumindo um sentido secular.

Por volta do século XIV, as obras eram escritas em forma de coplas (estrofes em geral de quatro versos, destinadas a serem cantadas com música popular), de fácil memorização. Apesar de seu conteúdo religioso, eram em grande parte consideradas como forma de divertimento. Daí surgiram peças folclóricas, farsas e dramas pastoris, que influenciaram o desenvolvimento dos autos no século XV.

A Reforma protestante pôs fim ao teatro religioso em meados do século XVI, surgindo em seu lugar um novo e dinâmico teatro profano. O renascimento esboçou uma tentativa de recriar o drama clássico.

Os primeiros exemplos de teatro renascentista datam, na Itália, do século XV. Eram obras com finalidade didática e concebidas para serem lidas. Menção especial merece a peça La Celestina, do dramaturgo espanhol Fernando de Rojas, onde aparecem os elementos que caracterizarão o teatro espanhol do século de ouro. Em fins do século XVI, as elaboradas exibições cênicas levaram à criação da ópera, que logo se popularizou, exigindo a construção de grandes teatros. O teatro popular, baseado na improvisação, deu origem à commedia dell’arte, que teve seu apogeu entre 1550 e 1650. O drama clássico encontrou terreno fértil na França, com as obras de Corneille e Racine. Molière, por sua vez, é considerado o grande comediógrafo francês. Ver Comédie Française.

O teatro renascentista inglês partiu das formas populares e das exigências do público em geral. Thomas Kyd e Christopher Marlowe propiciaram o nascimento de um teatro dinâmico e épico, que culminaria no trabalho complexo e diversificado do maior gênio do teatro inglês, William Shakespeare.

O século de ouro espanhol designa uma dos períodos mais férteis da dramaturgia universal. Seguindo a influência italianizante, introduzida na Espanha por Juan del Encina e Lope de Vega, caberia a este a responsabilidade e o mérito de haver então integrado em sua valiosa Arte nova de criação de comédias (1609) as linhas mestras que regeriam o teatro de sua época, que foi denominado ‘comédia nova’ espanhola. Divertir educando o público é princípio que se converteria em livro e em lema para seu discípulo Tirso de Molina. Calderón de la Barca seria, por sua vez, o mestre dos autos sacramentais. Ver Teatro espanhol.

O teatro do século XVIII, em grande parte da Europa, era basicamente um teatro de atores, sendo as obras escritas já com vistas ao estilo de representação. No entanto, produziu-se igualmente uma reação ao neoclassicismo e um gosto crescente pelo sentimental em dramaturgos como o alemão Ephraim Lessing e o francês Pierre de Marivaux. Na Inglaterra, George Lill e Richard Steele escreveram peças sobre as classes média e baixa, com situações realistas, se bem que simplistas. Na Espanha desenvolveu-se um tipo de teatro popular que ressaltava os aspectos castiços dos plebeus, com destaque para os madrilenhos. Leandro Fernández de Moratín reagiria a esses extremos, fazendo em sua obra uma crítica da sociedade.

Ao longo do século XVIII foram tomando corpo certas ideias filosóficas, que acabariam por reunir-se em princípios do século XIX no movimento romântico. Muitas das ideias e práticas do romantismo estavam já configuradas no Sturm und Drang, liderado por Goethe e pelo dramaturgo Friedrich von Schiller. As obras do dramaturgo francês René Charles Guilbert de Pixérécourt abriram caminho ao romantismo francês. Hernani (1830) de Victor Hugo é considerada a primeira peça romântica francesa.

O introdutor do romantismo na Espanha é Alarcón, Duque de Rivas, com sua obra Don Álvaro o la fuerza del sino, mas o expoente máximo é José Zorilla, autor de Don Juan Tenorio.

Em meados do século XIX o interesse pelos detalhes realistas, as motivações psicológicas e a preocupação com os problemas sociais provocaram o surgimento do naturalismo no teatro. Na França, Émile Zola comparava o trabalho do autor teatral ao do médico, que tem que fazer aflorar a enfermidade para curá-la.

Ao mesmo tempo crescia o interesse pelo realismo das motivações psicológicas dos personagens. As figuras mais relevantes deste estilo foram o dramaturgo norueguês Henrik Ibsen e o autor teatral sueco Augusto Strindberg, não raro considerados os fundadores do teatro moderno. O autor irlandês George Bernard Shaw, por exemplo, demonstra clara influência de Ibsen.

O teatro russo começou a se desenvolver em fins do século XVIII. Suas figuras mais representativas, Alexander Ostrovsky e Nikolai Vassilievitch Gogol, eram de certo modo realistas, no que se refere ao estilo; mas o naturalismo viria a se impor em fins do século XIX, com as obras de Lev Tolstoi e Maksim Gorki. Anton Tchekhov, embora seja mais precisamente um simbolista, tem aspectos realistas em suas peças e foi muitas vezes considerado um naturalista. Konstantin Stanislawski, um diretor autodidata, fundou em 1898 o Teatro de Arte de Moscou e seu método de interpretação continua sendo, ainda hoje, a base de formação de muitos atores.

Existiam ainda formas populares nos teatros de ruas e praças, com uma mistura de música, dança, números de circo e pequenas obras cômicas. O interesse pela fantasia e pelo espetáculo se alimentava da pantomima, da extravagância e do gênero burlesco.

O movimento simbolista francês adotou as ideias de Richard Wagner na década de 1880, realizando uma chamada à ‘desteatralização’ de todos os entraves tecnológicos e cênicos, substituindo-os pela espiritualidade, que deveria provir do texto e da interpretação. As peças simbolistas do belga Maurice Maeterlinck e do francês Paul Claudel, bastante conhecidas entre a última década do século XIX e meados do século XX, são pouco representadas atualmente. A influência simbolista é também evidente nas obras dos dramaturgos norte-americanos Eugene O’Neill, Tennessee Williams e do inglês Harold Pinter, animador do ‘teatro do silêncio’, em que se dá importância decisiva à iluminação e à cenografia.

Em 1896 estreia Ubu Rei, de Alfred Jarry, obra desconcertante e provocadora, que serviria de modelo a futuros movimentos dramáticos de vanguarda e, posteriormente, ao teatro do absurdo. Paralelamente, Valle-Inclán revolucionaria a cena espanhola com a criação de seu ‘esperpento’.

O movimento expressionista teve seu apogeu nas primeiras décadas do século XX, principalmente na Alemanha. Explorava os aspectos mais violentos e grotescos da mente humana, criando um mundo de pesadelo no palco. Do ponto de vista cênico, o expressionismo caracterizou-se pela distorção, o exagero e um uso sugestivo da luz e da sombra. Entre seus autores se destacam Georg Kaiser, Ernst Toller e, de certo modo, O’Neill.

Outros movimentos da primeira metade do século XX, como o futurismo, dadaísmo e o surrealismo, procuraram trazer ao teatro novas ideias artísticas e científicas.

O dramaturgo e poeta espanhol Federico García Lorca fundiria simbolismo, surrealismo, lirismo, realismo e formas populares em um teatro cujo eixo é a liberdade do autor ao se expressar.

O dramaturgo alemão Bertolt Brecht também se manifestou contra o teatro realista. Julgava que o teatro podia instruir e transformar a sociedade e para tal deveria forçosamente ser político. O uso de um palco nu, em que fosse visível a colocação dos elementos técnicos e a iluminação, as cenas curtas, a justaposição de realidade e teatralidade, técnicas correntes em nossos dias, são, em grande parte, mérito de Brecht.

O teórico francês Antonin Artaud exerceu influência das mais significativas no panorama teatral após a II Guerra Mundial. Rejeitava o drama psicológico e procurava substituí-lo por uma experiência teatral religiosa, comunitária, convocando à criação de uma nova linguagem teatral, o chamado teatro da crueldade.

O gênero não-realista mais popular do século foi o teatro do absurdo, descendente das obras de Alfred Jarry, dos dadaístas, surrealistas e da influência das teorias existencialistas de Albert Camus e Jean-Paul Sartre. Seus melhores exemplos são a peça de Ionesco O rinoceronte (1959) e a do escritor irlandês Samuel Beckett, Esperando Godot (1952).

As peças dos norte-americanos Arthur Miller e Tennessee Williamns também usam recursos não-realistas. Na Europa, o teatro não se encontrava tão comprometido com o realismo psicológico e sua precocupação central era com o jogo de ideias, que se evidencia nas obras do dramaturgo italiano Luigi Pirandello e nos autores franceses Jean Anouilh e Jean Giraudoux. Muitos dramaturgos, como Sam Shepard, nos Estados Unidos, Peter Handke, na Áustria, e Tom Stoppard, na Inglaterra, criaram obras centradas na linguagem. Nos últimos trinta anos, as formas mais tradicionais de entretenimento foram absorvidas pela televisão. Das formas mais populares, só o musical parece ter florescido, dando ênfase às canções, à coreografia e à comédia leve. A tendência à espetaculosidade se manteve ao longo da década de 1980, com musicais à moda de Andrew Lloyd Webber e produções como Cats (1982) e O fantasma da ópera (1988). O West End, de Londres, considerado ponto de referênia teatral, não cessou de ver passarem musicais por seu palco, muitos dos quais se tornaram grandes sucessos do ponto de vista econômico.

O teatro ocidental através dos tempos

Na Grécia antiga, o público se colocava em fileiras de assentos em declive, ao redor da orquestra, que era o espaço destinado aos músicos, às danças e ao coro, e do palco, de modo a possibilitar uma boa acústica. Exemplo típico é o teatro de Epidauro, cujas imensas arquibancadas se apoiam na encosta de uma colina. Os romanos conceberiam a forma do anfiteatro, uma galeria sustentada por arcos em que se dispunham as arquibancadas, possuindo ainda uma orquestra em semi-círculo, circundando a cena.

Na idade média europeia surgiriam as obras de ciclo, ou passagens (pageants), com temas religiosos, interpretadas nas igrejas ou nas praças, sobre carretas móveis que mais tarde se transformariam em plataformas sobre cavaletes. Com isso o espaço cênico ia se fechando em três lados, deixando apenas um espaço aberto ao público, na frente da cena. Até fins do século XVI não se haviam ainda construído as primeiras edificações teatrais.

O Teatro Olímpico de Vicenza, Itália, datado de 1580, foi o primeiro edifício de uso teatral permanente. Planejado por Scamozzi, a partir das ideias renascentistas de Andrea Palladio, possibilitava já o uso de múltiplos cenários num palco só.

Em 1640 Londres dispunha de quatro teatros, cujas galerias tinham surgido em pátios onde antes se representavam obras teatrais. Sua forma era semelhante à dos pátios utilizados para as lutas de feras ou gladiadores. O teatro The Globe, dirigido por Richard Burbage, e no qual foram representadas inúmeras peças de Shakespeare, foi reconstruído na década de 1990 mantendo sua localização anterior e os mesmos materiais do edifício original. Na França foi inaugurado em 1689 um novo teatro para a Comédie Française.

No decorrer do século XIX o teatro europeu desenvolveu uma disposição de fileiras múltiplas em torno do espaço central, forma que seria também adotada pelos teatros de ópera, destacando-se o teatro da Ópera Garnier de Paris e o La Scala de Milão.

Na segunda metade do século XX a construção de teatros se tornou atividade internacional e multidisciplinar. Na década de 1980 entraram em voga pequenos teatros modulados, que podem abrigar tanto teatro quanto concertos, opereta ou desfiles de modas.

Na Espanha merecem destaque o Teatro Real de Madri e o Gran Teatro del Liceo de Barcelona. Em Portugal, o Teatro Nacional de São Carlos, destinado a concertos, corais, com um repertório nacional e estrangeiro. Na América Latina, o Palácio de Bellas Artes, na cidade do México; o Teatro Colón, em Buenos Aires; o Teatro da Paz, em Belém (Pará), construido em 1878, durante o chamado ciclo da borracha; a Ópera do Arame, em Curitiba; o Teatro Amazonas, em Manaus; o Teatro Municipal do Rio de Janeiro e o Teatro Municipal de São Paulo.

Por: Sandro Felisberto Pommes

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