Biografias

Eça de Queirós

Biografia

Eça de Queirós nasceu na Póvoa de Varzim (1845) e morreu em Paris, em 1900. O pai, homem culto, era membro da alta burguesia. Apesar de ter sido criado longe dos pais, recebeu educação adequada.

Fez o curso de Direito em Coimbra, advogou em Lisboa e tendo feito carreira diplomática, trabalhou e viveu em Havana, Brístol e Paris. Conviveu com Antero de Quental, por quem foi convencido a participar das Conferências do Cassino Lisbonense, desmembramento da Questão Coimbrã. Deixou obra de inquestionável qualidade, na qual se evidencia sua cultura, além do conhecimento sobre a realidade social portuguesa, especialmente em relação à elite econômica.

A obra de Eça de Queirós

A obra literária de Eça de Queirós pode ser dividida em três fases.

Primeira fase

Constitui-se de artigos e crônicas publicadas na Gazeta de Portugal, reunidos, posteriormente, num volume sob o título de Prosas bárbaras. Sendo obra inicial, é provável que não tenha atingido a qualidade esperada por Eça, tanto que ele próprio tentou fazer com que o público e observadores ignorassem essa parte de sua produção.

Retrato de Eça de Queirós.

Segunda fase

Iniciada com a publicação de O crime do padre Amaro (1875), esta é a fase mais importante do autor não só pela qualidade das obras que a compõem, mas também porque, em se tratando de fase bastante crítica, principalmente sobre a burguesia lisboeta, estabelece-se a certeza de que as narrativas desta fase reproduzem o verdadeiro foco literário de Eça de Queirós: o de crítico social bem informado, bom observador, contundente, mordaz e de finíssima ironia.

Nesta fase, destacam-se três obras-primas do autor: O crime do padre Amaro, O primo Basílio e Os Maias. Tais romances esboçam um panorama de crítica social e cultural da vida portuguesa, por meio de linguagem original, de bela plasticidade, com boa dose de simplicidade e, como em boa parte o narrador fez uso de linguagem bastante próxima do cotidiano da cidade (Lisboa), o entendimento de suas histórias são bastante acessíveis ao grande público, mas sem concessões ao gosto por literatura de segunda classe, por parte de certos leitores de menor nível cultural.

Trata-se de linguagem antideclamatória, contrariando o gosto anterior de muitos românticos. Essas características da linguagem dessas três obras, aliadas a descrições e ações oportunas e extremamente adequadas à realidade social da época em que se inserem, dão às suas histórias grande vigor narrativo e expressivo.

Avulta, ainda, a extraordinária propriedade na caracterização de certas personagens, as quais entraram para a mitologia popular do Ocidente, além de razoável dosagem de um lirismo melancólico, forte dose de sátira e ironia, utilizadas com sutileza e graça. A soma desses aspectos confirma a segunda fase como a melhor da obra total de Eça de Queirós.

Terceira fase

Esta fase, chamada por alguns críticos de pós-realista, é marcada por sentimento de desilusão, provavelmente pelo fato de o autor ter tido a percepção de que conseguiria pouco ou nenhum resultado prático quanto à melhoria do comportamento social, por meio das críticas estabelecidas nos romances da 2ª fase.

Aparentemente cansado, abandona os ideais realistas quanto ao trato do tema social e, nas narrativas subsequentes, empreende uma busca pela reconciliação consigo mesmo e com a sociedade. Sua obra, a partir daí, torna-se amena, pois o autor passa a ver a condição e o comportamento humanos de maneira condescendente, até compreensiva, tendo se voltado, também, para o culto de aspectos históricos da pátria portuguesa e para o registro de tipos humanos próprios de Portugal. São livros desta 3ª fase: A ilustre casa de Ramires e A cidade e as serras.

No conto, Eça de Queirós também foi excelente autor, tanto que deu à literatura portuguesa um de seus melhores momentos nesse gênero, como provam os contos Singularidades de uma rapariga loira, O milhafre, A aia e No Moinho.

No geral, a obra de Eça de Queirós é uma vasta análise e verdadeira radiografia sobre o comportamento, principalmente o da burguesia, classe social contra a qual ele aponta os certeiros canhões de sua crítica da 2ª fase. Parece mesmo ter sido essa burguesia a culpada de o escritor terminar seus dias decepcionado e melancólico, concluindo que a dignidade, a honra e o patriotismo só existem mesmo nos cidadãos comuns e pobres. Esta, aliás, é uma das mensagens inseridas no livro A ilustre casa de Ramires.

Por: Wilson Teixeira Moutinho