Biografias

Graça Aranha

Graça Aranha nasceu em São Luís do Maranhão e morreu no Rio de Janeiro (1868-1931). Foi aluno e discípulo de Tobias Barreto, desenvolveu carreira diplomática, tendo sido, também, juiz de direito nos estados do Maranhão e do Espírito Santo.

Participou do movimento modernista, porém mais como doutrinador, tendo em vista sua experiência e idade superior à da maioria dos jovens revolucionários modernistas. Não teve, portanto, participação prática significativa na preparação do movimento de 1922.

Características estilísticas do autor

Predominam em Graça Aranha o estilo retórico, grandiloquente e a farta adjetivação, influência, talvez, do contato com a cultura europeia, já que, como diplomata, viveu algum tempo na França, principalmente. Há exageros nessa técnica, especialmente quando o texto, mesmo em prosa, assume anseios poéticos na linguagem. Quanto à ambiência física – pessoas e natureza –, muitas vezes desponta o jeito impressionista com nítida influência dos romances de tese dos naturalistas.

A obra que fez o diplomata maranhense Graça Aranha famoso foi o romance Canaã, de 1902. Essa obra tem como tema os contrastes culturais entre os imigrantes alemães no Espírito Santo e a população local.

Além disso, a obra traz, por meio das personagens principais, uma discussão curiosa sobre valores étnicos. O alemão Milkau defende a integração harmoniosa entre as raças e manifesta amor ao Brasil. Outro alemão, Lentz, por sua vez, acredita que a etnia branca é dominante e superior ao mestiço, o qual ele vê como fraco e indolente.

Graça Aranha, com Canaã, foi um dos primeiros escritores brasileiros a tratar das teorias da dominância étnica como tema central. Antecipa, assim, uma das mais complexas questões que atormentam o homem dos séculos XX e XXI: a luta étnica, que foi um dos estopins da Segunda Grande Guerra Mundial; que é causa dominante das lutas no Oriente Médio e entre o Oriente Médio e o Ocidente; e que dizimou boa parte da população falante de português em Timor Leste, na Indonésia.

Em Canaã, notamos que o narrador, personificando o autor, assume nitidamente o ponto de vista humanista de Milkau, defendendo a miscigenação racial e o amor entre os povos, a fim de se construir a tão sonhada Canaã, a Terra Prometida.

Romance estruturalmente irregular, Canaã oscila entre longos trechos digressivos, em que se expõem as concepções de vida de Milkau e Lentz, e um tom oratório, em que os dois alemães discutem essas concepções. A tensão narrativa propriamente dita acontece a partir de quando Milkau se envolve com Maria, descendente de imigrantes. Seduzida pelo filho do casal parado qual trabalha, Maria é abandonada, dá à luz sozinha, na mata, e não tem forças para impedir que porcos selvagens devorem seu bebê. E tomada como assassina e foge com Milkau.

Se o debate em forma de discurso teórico é resquício do determinismo naturalista, a cena final, em que o casal foge em busca da terra prometida, retoma a romântica cena final de O guarani, de José de Alencar, em que o índio Peri e a branca Cecília fogem da inundação para formar a raça brasileira. Atente-se para a contaminação simbolista de certos trechos reflexivos do livro, sobretudo esse final, que antecipa certa tendência vanguardista para a escrita vertiginosa e inconsciente.

Graça Aranha deve ser hoje lembrado mais pelo seu engajamento na militância intelectual, preocupado com a cultura e o desenvolvimento do país, do que pelo seu trabalho literário. Foi grande incentivador da implantação do Modernismo no Brasil. Mesmo sendo membro da Academia Brasileira de Letras, discursou, na Semana de Arte Moderna de 1922, contra o imobilismo artístico e o convencionalismo político dessa instituição. Não conseguindo realizar as reformas que desejava na Academia, abandonou-a.

Outros livros de Graça Aranha: Estética da vida, O espírito moderno, A viagem maravilhosa

Por: Renan Roberto Bardine

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