Biografias

Guimarães Rosa

Biografia

João Guimarães Rosa Nasceu em Minas Gerais em 1908 e faleceu no Rio de Janeiro em 1967. É uns dos autores da terceira fase do Modernismo Brasileiro.

Formou-se médico e exerceu a profissão no interior de Minas. Em 1934 ingressou na carreira diplomática, servindo em Hamburgo. Trabalhou ainda pelo Ministério do Exterior em Bogotá e Paris.

Como chefe do serviço de demarcação de fronteiras, resolveu casos delicados: Picos da Neblina e Sete Quedas. Morreu de enfarte aos 59 anos de idade, na mesma semana em que fora eleito membro da Academia Brasileira de Letras.

Características estilísticas do autor

Guimarães Rosa é, acima de tudo, um inovador. Sua obra, seu estilo, suas personagens e o psicologismo diferem de tudo o que se fizera antes em língua portuguesa.

Diferencia-se dos outros regionalistas, especialmente por dois motivos: embora sua ficção se prenda a uma região do Brasil (sertão de Minas Gerais, principalmente), consegue suplantar o meramente regional e atingir o universal, por meio da aguda percepção dos problemas vitais que existem no interior do homem de qualquer região.

Retrato de Guimarães Rosa
João Guimarães Rosa

Dessa maneira, os elementos pitorescos e tipicamente regionais que aparecem em sua obra são importantes entre si mesmos (como em muitos outros autores), mas servem também para estruturar e revelar ao leitor todas as inquietudes e dilemas do homem.

Por esse motivo, sua obra apresenta uma temática que envolve indagações sobre o destino, Deus e o diabo, o bem e o mal, a morte e o amor.

Quanto à relação bem/mal, parece que Guimarães Rosa acreditou o tempo todo na supremacia do primeiro sobre o segundo. Em sua obra, essa atitude chega quase a configurar uma tese, aliás, coerente com o proverbial otimismo do autor, impresso, inclusive, no realismo fantástico que distribui por toda a sua produção.

Além disso, o que o distingue dos outros regionalistas é a linguagem. As criações linguísticas operadas por Guimarães Rosa transformaram-no num profundo inovador da linguagem literária brasileira. Além de explorar os diversos valores do signo (sonoro, nocional, visual), criou palavras, utilizou arcaísmos, e não raro aproveitou-se de outras línguas modernas, além de recorrer ao grego e ao latim.

Desse verdadeiro laboratório linguístico, consegue Guimarães Rosa criar uma poderosa linguagem literária, apta para expressar a profunda visão do mundo que sua obra transmite. Muitas vezes sentimos que o que estamos lendo não é mais a fala da personagem e talvez nunca tenha sido, mas sim seu pensamento articulado em palavras na tentativa do autor em torná-lo inteligível para o leitor.

Através desse artifício, Guimarães Rosa nos destila a surpreendente psicologia da personagem que “fala”. Isso não ocorre em cem por cento de sua obra, mas não é raro. O que faz, por exemplo, Riobaldo em Grande sertão: veredas? O que é o interlocutor fictício dele senão a sua própria consciência?

Obras

Guimarães Rosa escreveu novelas, romances e contos, veja suas principais obras.

Romances

  • Campo Geral (Manuelzão e Miguilim)

Nesse livro, o autor continua a desenvolver sua extraordinária pesquisa linguística, explorando o linguajar da região norte do sertão mineiro. Trabalha essa linguagem e a enquadra no modelo do regionalismo universal.

Reproduz linguagem, hábitos e tradições dessa cultura, de maneira que leitores de qualquer origem entendam, principalmente porque a geografia e a cultura humanas enfocadas, são, na verdade, uma metáfora de todo o cosmo mundial geográfico e humano.

Em Manuelzão e Miguilim, Guimarães Rosa, mais uma vez, revela sua sensibilidade quanto aos sentimentos humanos. O livro, em resumo, é isto: um painel de emoções do qual se destaca a delicadeza da alma infantil, impotente diante dos desencontros, das dores e dos desmandos dos adultos.

  • Grande sertão: veredas

O livro Grande sertão: veredas é narrado em 1ª pessoa por Riobaldo, um ex-jagunço que conta a história de sua vida, grandemente envolvida com a atividade de cangaceiro pelo norte do sertão de Minas Gerais, região a que se dá o nome genérico de campos gerais.

O interlocutor para quem Riobaldo faz a narrativa de sua vida não tem qualquer influência na história e nem interfere em momento algum.

Para a crítica, as evidências indicam que se trata de uma conversa do protagonista-narrador com sua própria consciência. A narrativa constitui-se, portanto, de um longo monólogo.

Contos

No conto, tanto quanto no romance, Guimarães Rosa confirma sua maestria narrativa, seja quanto à observação sobre o universo humano, seja na variedade e qualidade na criação de personagens, também no registro da cultura social registrada na narrativa, bem como no inusitado de muitos dos enredos, além do extraordinário trabalho com a linguagem, característica esta de Guimarães Rosa, sobejamente conhecida.

Apesar de ser autor de dezenas e dezenas de contos, cada um deles constitui-se em exemplo singular e muito positivo no campo da narrativa curta (conto).

Também nesse gênero literário, o ambiente social que prevalece é o do norte de Minas Gerais, ou sertão mineiro.

O primeiro livro de contos e de toda a carreira de Guimarães Rosa foi Sagarana – “saga”, do escandinavo, significa lenda; “rana”, do tupi, significa parecido com. Logo, Sagarana é mais um neologismo do autor. Pode-se entender, portanto, que as histórias que compõem o livro parecem lendas, mas podem não ser. Sagarana contém nove narrativas curtas.

Já a partir desse primeiro passo como ficcionista, Guimarães Rosa mostrou que estava surgindo um dos maiores escritores em língua portuguesa de todos os tempos e que seu intento era o de contar histórias que se poderiam entender como verdadeiras ou ao menos possíveis, frutos do fantástico, do impossível; narrativas que se situariam na fronteira entre o real e o imaginário.

A prova disso, já em Sagarana, está no fato de as nove histórias situarem-se em região real, informada com precisão, com a citação de lugares conhecidos na região – norte de Minas Gerais – enquanto que os “fatos” narrados sempre têm a presença do chamado maravilhoso literário que, na arte, significa relato ou descrição de algo impossível, a partir da referência daquilo que o gênero humano tem como “possível de acontecer”.

Portanto, o irreal soa mais natural, porque está fundamentado em dados reais, daí, a interpenetração entre o real e o irreal se faz, porque esse “impossível”, paradoxalmente, tem data e vem com a indicação exata de onde “aconteceu”.

Por: Wilson Teixeira Moutinho

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