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Nematelmintos

Os animais que constituem o filo Nematoda, ou os chamados nematóides ou nematelmintos, são vermes com corpo cilíndrico, tanto de vida livre quanto de característica parasita. Os representantes desse filo são os causadores de uma série de parasitoses comuns entre seres humanos, por exemplo.

Há cerca de 90 mil espécies de nematelmintos. Os nematelmintos de vida livre podem ser encontrados em praticamente todos os ambientes – marinho, terrestre, fluvial. As espécies parasitas são mais facilmente encontradas dentro do corpo dos hospedeiros, e fora dele em estágios larvais.

Como parasitas, os nematelmintos atingem praticamente todas as espécies de animais e vegetais. Plantas podem ser alvo de parasitas nematelmintos nas suas raízes, dentro de sementes e frutos. Nos animais, nematóides podem estar em praticamente qualquer órgão do corpo.

Nematelmintos
Nematelminto Ascaris lumbricoides, popular lombriga, causador da ascaridíase.

Características dos nematelmintos

Os nematelmintos são organismos com corpo cilíndrico e delgado, com duas novidades evolutivas em relação aos platelmintos: um tubo digestório completo e a chamada pseudoceloma (blastoceloma), uma cavidade corporal parcialmente revestida por mesoderma, um precursor da pele.

Estrutura corporal

Os nematódeos são organismos com uma estrutura fisiológica relativamente simples. Se olharmos no todo, seus corpos parecem um cilindro dentro do outro. A estrutura cilíndrica interna é um intestino, um tubo que tem inicio na boca e termina no ânus, na extremidade oposta.

O cilindro externo seria a pele, o envoltório que protege as estruturas internas. Entre os dois tubos corre uma cavidade repleta de um líquido, no qual estão as demais organelas internas.

A grande maioria das espécies apresenta poucos milímetros de comprimento, porém há espécies que podem chegar a vários centímetros de comprimento ou mesmo um metro.

A parede do corpo apresenta a epiderme e uma camada de células musculares. A epiderme é formada por células multinucleadas e produz uma cutícula que é depositada na porção externa. Essa cutícula é uma estrutura lisa e resistente que oferece proteção ao animal. Ao redor da parte externa do corpo não há cílios ou estruturas similares.

Seus músculos são exclusivamente longitudinais, ou seja, a orientação das fibras sempre está disposta no sentido do próprio corpo. Isso torna a mobilidade do verme bastante limitade, mesmo em comparação aos arcaicos platelmintos.

Contudo, o esqueleto hidrostático, construído a partir da cavidade corporal formada pelo pseudoceloma, oferece algum suporte às estruturas dos músculos e permite alguma movimentação, além de delinear o corpo do verme – uma vez que o líquido intersticional não permite compressão.

Anatomia externa (A) e corte transversal de lombriga (B).

Digestão

A extremidade anterior do corpo dos nematóides possui boca para entrada de alimento e nutrientes, seguida por uma faringe, um longo intestino e um ânus para a saída de dejetos e resíduos da alimentação. Os nematelmintos, assim sendo, são os primeiros animais enterozoários completos.

Na boca, em alguns dos vermes, há placas cortantes que são preambulares aos dentes. Eles servem ao propósito de perfurar tecidos de outros seres.

O alimento ingerido é parcialmente digerido por enzimas que atuam ao longo do tubo digestório e nutrientes absorvidos pelas paredes intestinais. Essas substâncias são então lançadas no pseudoceloma e distribuídos pelas células do corpo. Trata-se de uma digestão predominantemente extracelular.

Muitos nematelmintos de vida livre são carnívoros e se alimentam de pequenos animais ou de corpos de animais mortos (comensais). Os parasitas intestinais recebem o alimento já parcialmente digerido pelo hospedeiro, e por essa razão sobrevivem sem um sistema digestório sofisticado.

Circulação

Assim como os platelmintos, não existe um sistema circulatório propriamente dito. A cavidade intersticial repleta de o pseudoceloma, somada às contrações musculares longitudinais do verme, permitem uma distribuição relativa entre as células do corpo todo.

Respiração

Também não há um sistema respiratório e as trocas gasosas acontecem na superfície corporal, ou na “pele”, por meio de difusão. Os nematóides de vida livre são aeróbios e conseguem o oxigênio no meio em que vivem, seja aquático ou terreste.

Os parasitas são geralmente anaeróbios e realizam uma reação de fermentação. Dessa forma, não requerem oxigênio e a maioria não elimina CO2, realizando um processo de fermentação láctica, que não libera esse gás.

Excreção

Os resíduos metabólicos são removidos do pseudoceloma pelo renete, uma célula especializada, e também por canais excretores longitudinais, originados a partir de uma única célula em forma de H (célula-H).

Esses canais percorrem as laterais do corpo todo do verme e unem-se através de um tubo transversal na região anterior do corpo do animal. Esse tubo transversal é conectado por um outro duto a um poro excretor, que elimina os resíduos.

Os nematelmintos podem possuir um ou dois renetes – mas também há espécies que somente possuem a célula H. Nesse caso, os resíduos são excretados por difusão pelas paredes do corpo do verme.

Sistema nervoso

O sistema nervoso dos nematoides é do tipo ganglionar e ventral. Na região anterior, o sistema é constituído por um anel nervoso ao redor da boca, onde começam os cordões nervosos. Os cordões têm, no seu comprimento, zonas com protuberâncias que apresentam aglomerados de células nervosas, onde estão os gânglios.

Toda a lógica neural dos nematóides, como ocorre com os demais sistemas, é longitudinal e segue o comprimento do corpo do animal.

Reprodução

A maioria dos nematódeos é dioica, ou seja, há sexos distintos. Na maioria das espécies há dismorfia entre machos e fêmeas – diferenças no tamanho e até mesmo na forma do corpo entre os dois gêneros de uma mesma espécie.

Durante o acasalamento ou a cópula, indivíduos machos depositam espermatozoides num poro genital existente no corpo das fêmeas. Assim como ocorre nas células dos animais adultos, os espermatozoides dos nematelmintos são destituídos de cílios e movimentam-se por meio de pseudópodes.

Sem poros genitais ou estruturas sofisticadas, os machos secretam espermatozoides pela cloaca. Na fêmea, espermatozoides fecundam óvulos internamente. Após a fecundação, forma-se um embrião num ovo de casca resistente. Os ovos em geral são eliminados.

O desenvolvimento do embrião é indireto, com passagem por diferentes estágios larvais. A larva que sai do ovo primeiramente recebe o nome de rabditoide. Depois de sofrer uma ou algumas substituições da sua cutícula, há uma migração de estágio larval, para um filarioide, que eventualmente irá evoluir para um organismo adulto.

Nas espécies parasitas, o embrião pode entrar no corpo hospedeiro em qualquer um dos dois estágios larvais. O exemplo clássico é o das lombrigas, ou Ascaris lumbricoides – onde humanos ingerem embriões por meio da água ou alimentos contaminados.

Principais doenças transmitidas por nematelmintos

    • Ascaridíase: causada pelo verme Ascaris lumbricoides. A lombriga é um parasita intestinal. Seus ovos podem permanecer longos períodos no ambiente e geralmente são ingeridos através da água ou alimentos contaminados. Cólicas e prisão de ventre são sintomas clássicos, mas o verme também pode causar crises pulmonares que lembram a bronquite.
    • Ancilostomose ou amarelão: causada pelos vermes Ancylostoma duodenale e Necator americanus. Novamente, o alvo principal é o intestino, no caso do verme adulto. Contudo, vermes mais jovens, em estágio filarioide, entram no corpo através da pele, principalmente nos pés. Assim, podem provocar dermatites e irritações. No intestino, é comum o aparecimento de sintomas como a diarreia, ulcerações intestinais, geofagia, anemia, fraqueza generalizada e até mesmo depressão.
    • Filaríase ou elefantíase: causada pelo verme Wuchereria bancrofti. O verme existe como larva no mosquito Culex fatigans. Quando o pernilongo suga uma vítima, o verme invade o corpo do hospedeiro, atacando o sistema linfático e obstruindo seus vasos. Como resultado, são causados edemas e progressivos inchaços, especialmente nas pernas. Membros tornam-se inchados e ganham enorme tamanho, o que levou ao apelido de elefantíase.
  • Enterobiose (oxiurose): causada pelo verme Enterobius vermicularis. Esses vermes apenas infectam humanos. O contágio se dá de forma similar à das lombrigas. Os vermes infectam o intestino e se concentram na região próxima ao ânus, causando coceira e prurido anal. Especialmente nas crianças, a coceira passa ovos para unhas e mãos, o que facilita a transmissão para outras crianças.
  • Dermatite serpiginosa ou bicho-geográfico: causada pelo Ancylostoma brasiliensis. Apesar de ser um parasita canino, larvas podem penetrar de forma acidental na pele humana, causando lesões e irritações que levam a marcas que lembram mapas, o que levou ao apelido.

Função dos nematelmintos na natureza

Embora os vermes comumente sejam lembrados pelas doenças que causam, é importante esclarecer que existem muitas espécies de vida livre.

Os nematelmintos realizam uma função ecológica de grande importância: atuam como animais comensais e realizam a compostagem de matéria orgânica. Atuam ainda no controle populacional de alguns micro-organismos, na mineralização de alguns nutrientes na terra e na degradação de uma série de toxinas.

Principais diferenças entre platelmintos e nematelmintos

Característica Platelmintos Nematelmintos
CelomaAcelomadosPseudocelomados
Forma do corpoVermes achatados dorsiventralmenteVermes cilíndricos, em forma de fio
Sistema digestórioIncompleto ou ausenteCompleto
VentosasPresentes nos vermes parasitasAusentes

Por: Carlos Artur Matos

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