Filosofia

História da Filosofia

A filosofia percorre uma longa trajetória, desde o seu surgimento, na Antiguidade grega, até a atualidade, transformando-se ao longo do tempo. No percurso histórico da atividade filosófica, modificam-se os seus temas, desenvolvem-se diferentes teorias e mudam as suas relações com outras formas de conhecimento.

A filosofia surgiu nas cidades gregas como uma construção cultural que, desde então, exerce ampla e profunda influência na história do pensamento e das sociedades humanas.

Surgimento da filosofia

Os pré-socráticos

Refere-se à filosofia anterior a Sócrates e marca o primeiro estágio da filosofia ocidental. Os filósofos pré-socráticos foram os primeiros a buscar o conhecimento para satisfazer sua curiosidade em relação aos processos naturais e não para obter vantagens práticas ou por motivos religiosos.

A filosofia começou a engatinhar no século 7 a.C., na Jônia, na costa asiática do Mar Egeu, oposta à Grécia. Os sábios jônicos estavam impressionados com as constantes mudanças que observavam – a passagem de uma estação para outra, a transição da vida para a morte. Achavam que algo devia ser permanente, resistente a mudanças.

Os primeiros filósofos preocupavam-se principalmente com a descoberta da natureza dessa permanência subjacente. Estes filósofos tinham opiniões diversas, mas todos acreditavam que essa imutabilidade era material. Tales, o primeiro filósofo jônico conhecido, considerava que a água era imutável; Heráclito, o fogo; Anaxímenes, o ar. A importância que estes filósofos tiveram para a evolução do pensamento humano repousa no fato de que eles foram os primeiros a questionar a natureza básica das coisas e a acreditar que a imutabilidade tinha uma unidade ou uma ordem que podia ser conhecida pela mente humana.

Os seguidores do matemático Pitágoras distinguiam entre o mundo da mudança e o mundo do número. Descobriram o princípio da harmonia musical e acreditavam que este princípio podia ser explicado em termos numéricos. A partir daí, decidiram que todas as coisas eram suscetíveis a números e que eles podiam conferir ordem e harmonia a todo o mundo. E a harmonia no corpo humano é a sua alma.

Parmênides diferenciava-se dos outros filósofos pré-socráticos por acreditar que a mudança é uma ilusão. Para ele, a única realidade era o que é, e não o que muda ou apenas aparenta. Assim, Parmênides introduziu a distinção importante entre razão e sentidos, entre verdade e aparência.

Os últimos filósofos pré-socráticos tentaram responder aos argumentos lógicos de Parmênides contra a mudança. Empédocles abandonou a noção inicial de que existe apenas uma substância. Afirmava que tudo resultava de uma mistura de quatro elementos – terra, água, fogo e ar – colocados em movimento pelas forças do amor e da discórdia. Anaxágoras manteve a ideia de vários tipos de ‘coisas’, mas introduziu o princípio da mente como o elemento organizador. Assim, abandonou a ênfase nas forças materiais e físicas.

Os pré-socráticos preocupavam-se principalmente com a natureza do cosmo e seus objetos, e por isso essa fase da história da filosofia é também conhecida como período cosmológico. Seus filósofos examinaram o problema do uno e do múltiplo, mas fracassaram na tentativa de resolver o problema. Apesar disso, deixaram contribuições importantes ao pensamento posterior pela introdução de várias distinções e conceitos novos. Estes foram retomados mais tarde por Platão e Aristóteles em suas tentativas de resolver o mesmo problema.

Os sofistas

No século V a.C. o movimento cultural grego concentrava-se em Atenas. As circunstâncias históricas levaram a uma nova atitude intelectual, conhecida como sofística. O eixo da filosofia, até então cosmológico, voltou-se para questões éticas e políticas.

Os Sofistas eram professores que iam de cidade em cidade, em troca de pagamento, ensinando os alunos a vencer os debates pela força da persuasão. Saía de cena a busca do conhecimento para entrar em cena a arte da linguagem bem-estruturada e do convencimento pelo discurso. O convencimento era fundamental nos rumos de uma cidade que, organizada democraticamente, tinha seus interesses debatidos em praça pública.

Os sofistas, mestres da retórica, contribuíram para os estudos de gramática, desenvolvendo teorias do discurso e de conhecimento da língua grega.

Os socráticos

O ateniense Sócrates (470-399 aC), personagem fundamental na história da filosofia, concede especial importância ao exercício da dúvida para a conquista do conhecimento.

Sócrates é contemporâneo dos sofistas. Entre eles, há alguns pontos em comum. Ambos protagonizam uma significativa mudança temática na filosofia. Se até então, com os pré-socráticos, a reflexão filosófica priorizava a investigação sobre a formação do cosmos e sobre os fenômenos da natureza – a physis – agora ela projeta o ser humano para o centro de suas preocupações.

Inspirados pela reflexão sobre o conhecimento de Sócrates, os filósofos Platão e Aristóteles desenvolvem complexos sistemas metafísicos para explicar o conjunto da realidade.

Platão (427-347 a.C.) é autor de um complexo sistema filosófico que percorre temas muito variados, como a ética, a ontologia, a linguagem, a antropologia filosófica e o conhecimento. Seus textos continuam ainda hoje sendo referência indicada para os estudos de Filosofia. Resumidamente, podemos declarar que, para Platão, o conhecimento exige a ultrapassagem do plano dos sentidos para o plano das ideias, algo que os seres humanos conquistam quando conseguem estabelecer o predomínio da racionalidade em suas almas.

Filósofo, educador e cientista, Aristóteles (384-322 a.C.) foi também o mais erudito e sábio dos filósofos gregos clássicos ou antigos. Familiarizou-se com todo o desenvolvimento do pensamento grego anterior a ele. É autor de grande número de tratados de lógica, política, história natural e física. Sua obra é a fonte do Tomismo e da Escolástica. Ele e seu professor Platão são considerados os dois mais importantes filósofos gregos da Antiguidade.

Para Aristóteles, a Filosofia, vista como a maneira pela qual todas as coisas podem ser conhecidas, não deveria tratar apenas de assuntos específicos. Por isso preocupou-se em apresentar os mais diversos tipos de saberes e conhecimentos produzidos pelos gregos. Este filósofo também se dedicou à diferenciação de sete formas de conhecimento, a saber: a sensação, a percepção, a imaginação, a memória, a linguagem, o raciocínio e a intuição.

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A filosofia medieval

Os filósofos cristãos antigos tentaram interpretar o Cristianismo e relacioná-lo à filosofia greco-romana. Queriam defender e introduzir em seus sistemas as doutrinas cristãs da imortalidade, o amor, o monoteísmo, ou crença em um só Deus, e o exemplo de Cristo como Deus e homem. Seus trabalhos concentravam-se em torno de discussões de (1) fé e razão; (2) existência de Deus; (3) a relação de Deus com o mundo; (4) a relação dos universais com os particulares; (5) a natureza do homem e sua imortalidade; e (6) a natureza de Cristo.

No séc. V, Santo Agostinho ensinava que toda a história era dirigida por Deus. Para ele, Deus estava acima de tudo, e o homem e o mundo eram suas criações. Santo Agostinho usou conceitos gregos (Platão e Plotino) para expressar os ideais e compromissos cristãos. Por meio da filosofia, ele tentou explicar a existência do mal no mundo. Segundo ele, o mal não fazia parte da ordem cósmica estabelecida por Deus, mas existia porque Deus havia dado ao homem liberdade de escolha.

No séc. XIII, São Tomás de Aquino baseou-se em Aristóteles para pôr fim aos conflitos entre fé e razão. Uma de suas criações mais famosas são as Cinco Vias, ou seja, as cinco maneiras de provar a existência de Deus. Segundo ele, uma vez que do nada nada se gera (esse era o pressuposto da filosofia clássica grega), então alguma coisa devia ter necessariamente existência, e não ser contingente (que nasce e morre), caso contrário chegaria um momento em que nada mais existiria. Na visão dele, essa coisa era Deus.

A influência do Cristianismo na filosofia estendeu-se até o séc. XV, quando o Renascimento e as novas descobertas científicas impulsionaram o racionalismo.

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A filosofia moderna

Durante o Renascimento

Nos séculos XV, XVI e começo do XVII, os filósofos voltaram sua atenção para o modo como as coisas acontecem na Terra e o modo como as pessoas buscam a verdade por meio da razão. Os cientistas dessa época obtiveram tanto sucesso com seus métodos de investigação que eles mesmos se tornaram os critérios para todos os campos de investigação. A matemática cresceu em importância com as descobertas de Nicolau Copérnico e Isaac Newton.

Copérnico, Galileu e Johannes Kepler assentaram as bases sobre as quais Newton mais tarde construiu seu famoso sistema de mundo. Galileu realizou medições e experimentou as fontes de verdade. Newton qualificou o mundo como uma máquina gigantesca. Seu principal trabalho, Princípios Matemáticos da Filosofia Natural, serviu de base para a física.

Nicolau Maquiavel, um estadista italiano, salientou a razão em detrimento da moralidade na política. Em O Príncipe, sua obra mais famosa, insiste com os governantes para que usem a força, a severidade e mesmo atos fraudulentos e imorais para atingir objetivos nacionalistas. Na França, Jean Bodin apresentou a ideia de que o Estado baseia-se num contrato social. Jean-Jacques Rousseau desenvolveu essa ideia durante o séc. XVIII.

O Apelo à Razão

No séculos XVII, o interesse filosófico mudou radicalmente do sobrenatural para o natural. Os filósofos utilizavam o raciocínio dedutivo para adquirir conhecimentos, tomando a matemática como modelo. Acreditavam que, como a matemática parte de axiomas, o pensamento também deveria partir de axiomas que fossem inatos à razão e verdadeiros, independentemente da experiência. Chamavam-nos de axiomas evidentes em si. Com base nesses axiomas, tentaram construir um sistema de verdades que se relacionassem logicamente.

Descartes quis criar um sistema de pensamento que tivesse a certeza da matemática, mas incluísse a metafísica. Começou buscando uma verdade fundamental que não pudesse ser posta em dúvida e encontrou-a na proposição “penso, logo existo”. Declarou que a existência de Deus podia ser provada, porque o homem não podia ter tido a ideia de Deus, a menos que essa ideia se originasse do próprio Deus. Descartes também enfatizou um dualismo básico entre a alma e o corpo. Seus Discursos Sobre o Método e Princípios Filosóficos exerceram grande influência no pensamento filosófico.

O filósofo holandês Baruch Spinoza seguiu os métodos e objetivos de Descartes. Considerava Deus uma substância da qual dependem todas as outras substâncias. Deus é a causa de todas as outras substâncias e a sua própria causa. A obra de Spinoza, Ética, foi escrita como um problema geométrico; começa com definições e axiomas, prossegue estabelecendo provas e termina por adotar um determinismo estrito.

O Apelo à Experiência

Durante o século XVIII, a maior importância foi dada à epistemologia e não mais à metafísica. A especulação filosófica centralizou-se em torno de como o homem adquire conhecimento e conhece a verdade. A física e a mecânica tornaram-se modelos de conhecimento, sendo o livro de Newton sobre física o exemplo mais importante. Os filósofos adotaram uma abordagem empírica e acreditavam que a experiência e a observação podiam dar origem a ideias fundamentais. Todo conhecimento podia então ser construído a partir dessas ideias.

Na Inglaterra, John Locke, em seu Ensaio sobre o Intelecto Humano, falou do intelecto como uma “tábula rasa” na qual a experiência escreve. Afirmou que a experiência age no intelecto por meio da sensação e da reflexão. Por meio da sensação, o intelecto recebe uma representação das coisas do mundo. Por meio da reflexão, o intelecto age sobre o que recebeu. Esses dois processos fornecem ao homem todas as suas ideias, que tanto podem ser simples ou complexas. Pela comparação e combinação de ideias simples, o entendimento humano constrói ideias complexas. O conhecimento é apenas o reconhecimento da conexão e separação de ideias.

David Hume descreveu as consequências da teoria do conhecimento empírico em seu Tratado sobre a Natureza Humana. Afirmou que todo conhecimento humano é limitado ao que o homem experimenta. As únicas coisas que se pode conhecer são fenômenos ou objetos da percepção sensível. E, mesmo no mundo da experiência, tudo que se pode alcançar é a probabilidade, e não a verdade. Não se pode ter o conhecimento exato ou absoluto.

O Apelo ao Humanismo

Os filósofos do séc. XVIII reduziram todo o conhecimento à experiência individual. Os filósofos do séc. XIX concentraram sua atenção nos diversos aspectos da experiência humana. O ser humano tornou-se o centro da atenção filosófica.

Na Alemanha, Immanuel Kant debruçou-se sobre a experiência. Mostrou que, por meio dos sentidos, o homem consegue impressões das coisas, mas que o intelecto humano forma e organiza essas impressões a fim de que se tornem significativas. O intelecto realiza esse processo por meio de juízos a priori, ou racionais, que não dependem da experiência. Esses juízos também permitem ao homem adquirir conhecimento, mesmo das coisas que não experimenta. A Crítica da Razão Pura de Kant, publicada em 1781, foi um dos trabalhos filosóficos que mais influência teve sobre o pensamento humano.

G.W.F. Hegel considerava a razão o absoluto que dirige o mundo. Afirmou que a razão se manifesta na história de um modo lógico, evolucionário. Em todos os aspectos do universo, elementos em oposição trabalham um contra o outro para produzir novos elementos. Esse processo dialético repete-se sempre até que a razão permaneça como único elemento que resta no mundo.

Em O Capital, Karl Marx tentou estruturar uma nova maneira de vida para os homens na Terra. Sua teoria do materialismo dialético baseou-se em algumas das opiniões de Hegel. Mas a temática de Marx concentrou-se na economia, e não na razão; numa sociedade sem classes, e não em Deus; na revolução, e não na lógica.

Friedrich Nietzsche rejeitou a abordagem dialética de Hegel e Marx. Considerou o desejo de poder o instinto básico de todos os homens. Achava que essa vontade de poder era a força propulsora da mudança e que a razão era seu instrumento. Acreditava que o objetivo da história era o desenvolvimento de uma sociedade de super-homens. A essência de seu pensamento consiste na morte de Deus e suas consequências. Rejeitava o Cristianismo porque este enfatizava a resignação e a humildade. O niilismo é a doutrina filosófica baseada na negação da autoridade do Estado, da igreja e da família. Para Nietzsche, o Niilismo é a consciência de que todos os valores que até então davam sentido à vida tornaram-se caducos.

O filósofo dinamarquês Sören Kierkegaard lançou as bases para o Existencialismo já no séc. XIX, antes do nascimento de Sartre, o mais famoso existencialista. Kierkegaard foi considerado, por muitos, mais um pensador religioso do que um filósofo. Ele ensinava que cada pessoa tem liberdade interior completa para dirigir sua própria vida, ou seja, o homem não se submete a regras gerais, mas é um indivíduo e, como tal, deve se reconhecer finito diante de Deus – o ser infinito.

A filosofia contemporânea

No século XX, a filosofia tomou dois rumos principais. Um baseia-se no desenvolvimento da lógica, da matemática e da ciência; o outro, numa preocupação crescente com o próprio homem.

Os filósofos britânicos Bertrand Russell e Alfred North Whitehead e o filósofo norte-americano F.S.C. Northrop concentraram-se na filosofia da ciência. Tentaram construir uma representação sistemática da realidade física, baseada no desenvolvimento científico. Muitas de suas obras discutiam a capacidade do homem para conhecer e utilizar os métodos científicos.

Os filósofos britânicos George Edward Moore e Gilbert Ryle e o austríaco Ludwig Wittgenstein rejeitaram as discussões filosóficas tradicionais sobre a natureza da realidade. Dedicaram-se à analise da linguagem utilizada pela filosofia ao falar sobre o mundo.

Muitos trabalhos filosóficos do séc. XX basearam-se na preocupação do homem consigo mesmo. A filosofia pragmática, desenvolvida nos EUA por Charles Sanders Peirce, William James e John Dewey, fez do ajustamento e progresso social os objetivos da vida. Filósofos posteriores têm se preocupado com a psicologia humana e a situação do homem na Terra. Existencialistas como Jean-Paul Sartre, Albert Camus, Karl Jaspers e Martin Heidegger discutiram o universo sob o enfoque das emoções humanas.

A Escola de Frankfurt busca, com Horkheimer, Adorno, Marcuse, e depois com Habermas, recriar um marxismo independente dos partidos políticos, a partir da “pesquisa social” e de conceitos oriundos da psicanálise.

Todas essas correntes filosóficas rejeitaram a abordagem filosófica tradicional de campos como a metafísica, ética, estética e axiologia. Preocupam-se com o homem e como ele pode sobreviver e ajustar-se a um mundo em mudança.

Referência

  • CHAUI, M. Convite à filosofia. 8. ed. São Paulo: Ática, 1997. p. 180-181.
  • MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2004.

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