Filosofia

René Descartes

O objetivo do filósofo francês René Descartes (1596-1650) era construir uma ciência universal com caráter de verdade necessária. Para isso, ele criou um método, baseado em procedimentos matemáticos e geométricos, até hoje utilizado no mundo todo.

Determinou o curso da filosofia no século XVII. Com o racionalismo, o pensamento filosófico experimentou uma renovação que fundamentou todo o conhecimento posterior.

René Descartes inaugurou o racionalismo e a filosofia moderna. Nascido na França e educado pelos jesuítas, estudou jurisprudência, ingressou no exército e retirou-se para viver nos Países Baixos, onde permaneceu de 1628 a 1649. Foi convidado pela rainha Cristina, da Suécia, para viver em sua corte, onde morreu.

Suas principais obras são Regras para a direção do espírito (publicada em 1701), Discurso do método (1637), Meditações sobre a filosofia primeira (1641), Princípios da filosofia (1644), Paixões da alma (1649) e O mundo ou tratado da luz (1664).

A contribuição de Descartes

René Descartes (1596-1650) formulou um sistema que, segundo ele, alcançaria o que a tradição perseguira inutilmente: um saber universal articulado, e com o grau de verdade que a ciência deveria possuir.

Ele confiava em que sua construção filosófico-científica, apresentada na obra Princípios da filosofia (1644), seria adotada pelas instituições mais avançadas. Por esse motivo, esforçou-se por manter boas relações com a ordem dos jesuítas, em cuja escola de La Flèche estudara.

René Descartes.
Retrato de René Descartes.

Por outro lado, distante do heterodoxo desenvolvimento da cosmologia copernicana realizado por Giordano Bruno, Descartes construía a nova filosofia como um saber em paz com a religião cristã e a Igreja católica. Alegava que seu sistema realizava a apologética definitiva da religião, ao demonstrar a existência de Deus e a imortalidade da alma por meio de argumentos conclusivos e transparentes. O plano não deu certo: a Igreja percebeu que o Deus de Descartes era diferente. Era um Deus intelectual, e não transcendente.

A física de Descartes

René Descartes deduz sua física a partir de ideias “claras e distintas” sobre a matéria, que possui uma extensão geométrica e é dividida em partículas que, ao chocar-se e combinar-se, formam os diversos corpos. Os corpos, portanto, contêm o movimento da matéria original, que os rege e conserva-se sempre constante.

As leis básicas da natureza, segundo Descartes

René Descartes relaciona estas três leis, sua necessidade e sua imutabilidade, com a mutabilidade de Deus. Portanto, as leis que governam o movimento da matéria a única mudança que nela existe) são universais, e a homogeneidade do universo é, como em Galileu Galilei e Giordano Bruno, absoluta

  • PRIMEIRA LEI: Toda alteração do estado de movimento de um corpo pressupõe uma causa.
  • SEGUNDA LEI: Todo corpo que se move tende a continuar seu movimento em linha reta.
  • TERCEIRA LEI: Quando um corpo móvel encontra outro, imóvel e “mais forte” do que ele, nada perde de sua quantidade de movimento, mas apenas muda de direção; caso encontre um corpo “mais fraco”, perde tanto movimento quanto imprime ao outro.

O poder da matemática

Descartes estava absolutamente convencido de que todo conhecimento devia ser regido pelos procedimentos matemáticos. Em sua obra, evocou sonhos de novembro de 1619, nos quais teve a visão de uma “ciência universal” e entendeu a missão pessoal de construí-la mediante um método análogo ao da matemática.

A busca do conhecimento seguro

O objetivo de René Descartes era conseguir um conhecimento seguro e estável, além de qualquer dúvida racional. A revitalização renascentista do ceticismo, que tinha alcançado uma enorme expressão com a obra de Michel de Montaigne, questionava a possibilidade de o homem ter, por meio da razão, um conhecimento certo da verdadeira realidade do mundo exterior.

Descartes negou o ceticismo combatendo-o em seu próprio campo. Diante da crítica cética à possibilidade humana de conhecer a realidade, e da concepção cartesiana do saber como uma estrutura unitária, desenvolvida dedutivamente a partir de algumas primeiras verdades necessárias e evidentes, a primeira questão era encontrar um princípio seguro e imune a toda dúvida – uma primeira verdade da qual fosse impossível duvidar, pela clareza e distinção, pela evidência com que ela se impunha na reflexão.

Essa primeira verdade foi, ao mesmo tempo, a refutação da crítica cética à capacidade humana de alcançar a verdade e o ponto de partida da construção ordenada e metódica do saber, de acordo com regras simples que Descartes derivou da prática dos geômetras. Tratava-se de encontrar um conhecimento seguro e certo da realidade, um saber ordenadamente adquirido e construído somente pela razão.

“Deus enganador”

René Descartes afirma que também se pode duvidar da verdade da matemática, aludindo às divagações da Baixa Idade Média sobre o poder absoluto de Deus e sua capacidade de suscitar, no homem, um conhecimento intuitivo que não corresponda à realidade.

Cita que “poderia acontecer de Deus querer que eu me engane todas as vezes que somo dois mais três”, ou seja, que a onipotência divina poderia fazer com que os homens se enganassem sempre que afirmassem aquilo que estimam evidente. Talvez aquilo que se manifesta como evidente para a razão não tivesse realidade objetiva.

E se não aceitassem a imagem desse “Deus enganador”, caberia pensar na existência de “um gênio maligno, não menos astuto e enganador do que poderoso, o qual usou toda a sua indústria para enganar-me” (Meditações, I, 13).

“Penso, logo existo”

René Descartes, portanto, leva até o limite o questionamento cético da capacidade humana de conhecer com certeza. Mas encontra, no contexto da dúvida universal, uma verdade evidente e clara que escapa da dúvida: a verdade necessária da própria existência do sujeito que duvida e que é vítima do engano. “Penso, logo existo” é para Descartes uma verdade “certa e segura” da qual não se pode duvidar. “Penso, logo existo” é, portanto, a primeira verdade.

A primeira verdade

Quando se pensa, a evidência da existência pessoal é a primeira verdade e o modelo de certeza para a afirmação das verdades que virão depois: “Julguei que poderia admitir, como regra geral, que as coisas que concebemos como muito claras e distintas são todas verdadeiras”.

René Descartes construiu sua filosofia como uma sequência de intuições evidentes a partir do cogito, ergo sum (“penso, logo existo”), entendido como a apreensão intuitiva e imediata :e uma verdade.

Referência

Gilles-Gaston Granger. Descartes. São Paulo: Abril Cultural, 1973. Coleção Os pensadores.

Por: Wilson Teixeira Moutinho