Geografia

O Processo de Urbanização

Uma cidade nasce a partir do momento em que um determinado número de pessoas se instala numa certa região através de um processo denominado de urbanização. Diversos fatores são determinantes na formação das cidades, tais como a industrialização, o crescimento demográfico, etc…

A urbanização resulta fundamentalmente da transferência de pessoas do meio rural (campo) para o meio urbano (cidade). Assim, a ideia de urbanização está intimamente associada à concentração de muitas pessoas em um espaço restrito (a cidade) e na substituição das atividades primárias (agropecuária) por atividades secundárias (indústrias) e terciárias (serviços).

Entretanto, por se tratar de um processo, costuma-se conceituar urbanização como sendo “o aumento da população urbana em relação à população rural“, e nesse sentido só ocorre urbanização quando o percentual de aumento da população urbana é superior a da população rural.

Histórico

As primeiras cidades surgiram na Mesopotâmia (atual Iraque), depois vieram as cidades do Vale Nilo, do Indo, da região mediterrânea e Europa e, finalmente, as cidades da China e do Novo Mundo.

Embora as primeiras cidades tenham aparecido há mais de 3.500 anos a.C., o processo de urbanização moderno teve início no século XVIII, em consequência da Revolução Industrial, desencadeada primeiro na Europa e, a seguir, nas demais áreas de desenvolvimento do mundo atual. No caso do Terceiro Mundo, a urbanização é um fato bem recente. Hoje, mais da metade da população mundial vive em cidades, e a tendência é aumentar cada vez mais.

A cidade subordinou o campo e estabeleceu uma divisão de trabalho segundo a qual cabe a ele fornecer alimentos e matérias-primas a ela, recebendo em troca produtos industrializados, tecnologia etc. Mas o fato de o campo ser subordinado à cidade não quer dizer que ele perdeu sua importância, pois não podemos deixar de levar em conta que:

  • Por não ser autossuficiente, a sobrevivência da cidade depende do campo;
  • Quanto maior a urbanização maior a dependência da cidade em relação ao campo no tocante à necessidade de alimentos e matérias-primas agrícolas.

Como é o processo de urbanização

Fenômeno ao mesmo tempo demográfico e social, a urbanização é uma das mais poderosas manifestações das relações econômicas e do modo de vida vigentes numa comunidade em dado momento histórico.

Urbanização é o processo mediante o qual uma população se instala e multiplica numa área dada, que aos poucos se estrutura como cidade. Fenômenos como a industrialização e o crescimento demográfico são determinantes na formação das cidades, que resultam, no entanto da integração de diversas dimensões sociais, econômicas, culturais e psicossociais em que se desempenham papéis relevantes às condições políticas da nação.

O conceito de cidade muda segundo o contexto histórico e geográfico, mas o critério demográfico é o mais usualmente empregado. A Organização das Nações Unidas (ONU) recomenda que os países considerem urbanos os lugares em que se concentrem mais de vinte mil habitantes.

O processo de urbanização, no entanto, não se limita à concentração demográfica ou à construção de elementos visíveis sobre o solo, mas inclui o surgimento de novas relações econômicas e de uma identidade urbana peculiar que se traduz em estilos de vida próprios.

Para avaliar a taxa de urbanização de um país utilizam-se três variáveis:

  • O percentual da população que vive nas cidades de mais de vinte mil habitantes;
  • O percentual da população que vive em cidades de mais de cem mil habitantes;
  • E o percentual da população urbana classificada como tal segundo o critério oficial do país.

A taxa de urbanização também pode ser expressa mediante a aplicação da noção de densidade, isto é, o número de cidades de mais de cem mil habitantes comparado à densidade demográfica total. Com esse método é possível comparar entre si regiões e países.

Existe estreita correlação entre os processos de urbanização, industrialização e crescimento demográfico. A cidade pré-industrial caracteriza-se pela simplicidade das estruturas urbanas, economia artesanal organizada em base familiar e dimensões restritas. Sob o impacto da industrialização, modificam-se em quantidade e qualidade as atividades econômicas, acelera-se a expansão urbana e aumenta a concentração demográfica. As antigas estruturas sociais e econômicas desaparecem e surge uma nova ordem, que passa a ser característica das cidades industriais. Nesse primeiro período, a indústria pesada e concentrada, grande consumidora de mão-de-obra, atrai para os novos centros contingentes populacionais que exercem sobre as estruturas de serviço existentes demandas que não podem ser atendidas.

Com a continuidade do processo de urbanização, a cidade se transforma de diversas formas:

  • Setores urbanos se especializam;
  • As vias de comunicação se tornam mais racionais;
  • Criam-se novos órgãos administrativos;
  • Implantam-se indústrias gradativamente na periferia do núcleo urbano original e modificam-lhe a feição;
  • Classes médias e operárias que, pela limitação da oferta existente em habitação, passam a alojar-se em subúrbios e mesmo em favelas;
  • E, sobretudo, a cidade deixa de ser uma entidade espacial bem delimitada.

A expansão industrial se acompanha de acelerado desenvolvimento do comércio e do setor de serviços, e de importante redução da população agrícola ativa. O crescimento das cidades passa a ser, ao mesmo tempo, consequência e causa dessa evolução. A indústria, mecanizada, passa a consumir mão-de-obra mais reduzida e especializada. As atividades terciárias tomam seu lugar como motores de crescimento urbano e, em consequência, do processo de urbanização.

Características do processo de urbanização

As características essenciais da urbanização contemporânea são sua velocidade e generalização, o que acarreta grande sobrecarga para a rede de serviços públicos, acentua os contrastes entre zonas urbana e rural e aprofunda as insuficiências econômicas de produção, distribuição e consumo.

Os sistemas de produção chegam a um ponto de estrangulamento, enquanto as necessidades de consumo passam por intensa vitalização. O somatório de todos esses fatores acaba por produzir um estado de desequilíbrio.

Em função do congestionamento, a cidade tende a expandir seus limites e nascem assim bairros, subúrbios e a periferia, que podem dar origem a novas cidades. A urbanização estendida a uma grande área circundante origina uma nova morfologia urbana, na qual se distinguem regiões diversas:

  • Zona urbanizada, isto é, conjunto ininterrupto de habitações;
  • Zona metropolitana, que engloba o núcleo central e seus arredores;
  • Megalópole, resultado da fusão de várias zonas metropolitanas;
  • Cidades novas e cidades-satélites.

Independentemente da forma que assume, o processo de urbanização apresenta sempre uma hierarquia, isto é, cidades de tamanhos diferentes e com funções diversas: capitais, descanso, turismo, industriais e outras.

Qualquer que seja sua função, a cidade não é apenas uma unidade de produção e consumo, caracterizada por suas dimensões, densidade e congestionamento.

Representa também uma força social, uma variável independente no interior de um processo mais amplo capaz de exercer as mais variadas influências sobre a população e cuja principal consequência é o surgimento de uma cultura urbana. No plano material, essa cultura cria um meio técnico e inúmeras exigências concretas: água, esgotos e serviços em geral. No plano psicossocial, manifesta-se pelo aparecimento de uma nova personalidade.

A deterioração do meio urbano é uma das consequências mais evidentes da rapidez com que se processa a urbanização. Em decorrência, esse meio apresentasse incompleto e imperfeito: favelas, habitações deterioradas, zonas a renovar e recuperar, superposição de funções e outras anomalias.

O remanejamento exige mais do que o planejamento material simples: aumento da rede de serviços, ampliação da oferta em habitações e racionalização da ocupação do solo. Torna-se fundamental a criação de novas estruturas, correspondentes à nova realidade.

A urbanização no mundo

A Inglaterra foi o primeiro país do mundo a se urbanizar (em 1850 já possuía mais de 50% da população urbana), no entanto a urbanização a celerada da maior parte dos países desenvolvidos industrializados só ocorreu a partir da segunda metade do século XIX. Além disso, esses países demoram mais tempo para se tornar urbanizados que a maioria dos atuais países subdesenvolvidos industrializados.

Como o processo de urbanização possui suas particularidades, cada país ou região desenvolveu sua ocupação urbana de determinada maneira. Por exemplo, nos países desenvolvidos, na América Latina e no Caribe cerca de mais de três quartos dos habitantes vive em cidades. Já em alguns países dos continentes africano e asiático essa quantidade muda para, aproximadamente, 40% da população. Mas, este panorama ainda se alterará bastante, pois a estimativa feita pela Organizações das Nações Unidas (ONU) é a de que até o ano de 2050 dois terços da população mundial deverá viver em cidades, concentrando-se em países como Índia e China.

Urbanização no Brasil

O processo de urbanização brasileira começou a partir de 1940, como resultado da modernização econômica e do grande desenvolvimento industrial graças à entrada de capital estrangeiro no país.

As empresas transnacionais preferiram se instalar nas cidades em que a concentração populacional fosse maior e de melhor infra-estrutura, dando origem às grandes metrópoles. A industrialização gerou empregos para os profissionais qualificados, expandiu a classe média e o nível de consumo urbano. A cidade transformou-se num padrão de modernidade, gerando o êxodo rural.

A tecnologia e o nível de modernização econômica não estavam adaptados à realidade brasileira. A migração campo-cidade gerou desemprego e aumento das atividades do setor terciário informal.

O modelo de desenvolvimento econômico e social adotado no Brasil a partir dos anos 50 levou a um processo de metropolização. Ocorrência do fenômeno da conurbação, que constituem as regiões metropolitanas (criadas em 1974 e 1975).

A partir da década de 80 houve o que se chama de desmetropolização, com os índices de crescimento econômico maiores nas cidades médias, havendo assim um processo de desconcentração econômica.

Outras regiões passaram a atrair mais que as regiões metropolitanas, havendo também desconcentração populacional.

Está ocorrendo um declínio da importância das metrópoles na dinâmica social e econômica do país. Um número crescente de cidades passou a pertencer ao conjunto das cidades médias e grandes.

Podemos dizer que o Brasil se modernizou e que a grande maioria da população brasileira, já está de alguma forma integrada aos sistemas de consumo, produção e informação.

Existe hoje uma integração entre o Brasil urbano e o agrário, um absolvendo aspectos do outro. A produção rural incorporou inovações tecnológicas produzidas nas cidades. O Brasil rural tradicional está desaparecendo e sobrevive apenas nas regiões mais pobres.

A produção comercial está cada vez mais voltada para a cidade. A produtividade aumentou e o meio rural integrou-se aos principais mercados nacionais e internacionais.

A implantação de modernos sistemas de transportes e de comunicações reduziu as distâncias e possibilitou a desconcentração das atividades econômicas, que se difundiram por todo o país e hoje são coordenadas a partir de diretrizes produzidas nos grandes centros nacionais e internacionais.

Segundo o modelo informacional, São Paulo é a metrópole mundial brasileira que exerce controle sobre os principais sistemas de comunicação que difundem as inovações por todo o país, através dos meios de comunicação.

Observa-se uma ruptura com a hierarquia urbana tradicional e a formulação de um novo modelo de relações, muito mais complexo e adequado ao quadro social e econômico do Brasil contemporâneo.

Por: Renan Bardine

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