Geografia

Origens do Islamismo

O Islamismo originou-se nas redondezas da cidade de Meca, na atual Arábia Saudita, por volta do ano 600 d.C. Naquela época, um pequeno mercador chamado Maomé relatou que, em um de seus retiros espirituais, recebeu a palavra divina através do anjo Gabriel, que lhe revelou a existência de um único Deus (chamado Alá), criador do mundo e juiz de todos os homens.

Disse ainda que o Paraíso só seria atingido pelos homens que amassem a esse Deus com sinceridade absoluta, a ele dirigissem suas preces diárias e praticassem a caridade por toda a vida.

Maomé realizava a pregação do islamismo especialmente no povoado em que vivia, Meca, que nessa época era o centro de cultos politeístas e para onde se dirigiam milhares de peregrinos todos os anos. A nova religião pregada por Maomé era monoteísta e, por isso, ameaçava essas crenças, pondo em risco os negócios dos comerciantes locais.

Por isso, Maomé passou a ser perseguido e ameaçado de morte. Para proteger-se, fugiu para um povoado vizinho, chamado Iatrebe, onde conquistou proteção e apoio popular. Logo conseguiu unificar e chefiar várias tribos regionais, criando um poderoso exército.

O exército de crentes formado por Maomé passou a atacar caravanas que se dirigiam a Meca, enriquecendo e ampliando seu poder. As constantes vitórias fortaleceram a unidade do grupo e chamaram a atenção de novas tribos, facilitando a expansão do islamismo.

Maomé fundou, então, o Islão, um Estado teocrático, com sede na cidade de Iatrebe, que passou a ser chamada de Medina (Cidade do Profeta). Foi a partir dessa época que o termo islamita começou a designar a pessoa que vive no Islão e segue a religião islamita, e o termo muçulmano, a significar aquele que é fiel e se submete ao islamismo.

Meca
Dentre os rituais seguidos pelos que fazem a peregrinação à cidade de visita ao santuário em forma de cubo conhecido como Caaba, local existente desde a época de Maomé.

Maomé foi o construtor da primeira mesquita, estabeleceu a cobrança do dízimo entre os crentes e escreveu os princípios doutrinários do islamismo num livro chamado Corão.

O Corão é considerado depositário direto das palavras de Deus, ditadas a Maomé por um anjo. Seu credo, baseado na Lei Islâmica (Sharia) é constituído por seis normas básicas, conhecidas como os pilares do islamismo. São elas:

  • Shahada – a constante confissão de fé;
  • Salat – o culto através das preces, cinco vezes ao dia;
  • Zakat – os atos de caridade através da esmola e do dízimo;
  • Hadj – a peregrinação dos homens a Meca ao me­nos uma vez na vida;
  • Saum – o jejum no Ramadã (mês sagrado do ca­lendário muçulmano);
  • Jihad – a guerra santa.

Apesar das regras básicas, com o passar do tempo surgiram pequenas diferenças ritualísticas e interpretativas que separaram os seguidores do islamismo em diversos grupos, sem, no entanto, quebrar sua unidade cultural e religiosa. Destacam-se, entre essas diferentes vertentes, dois grupos:

Sunitas (fiéis, à tradição)

Formam o grupo mais numeroso do islamismo nos dias de hoje. São aqueles que seguem a Sunnan, ou seja, a prática do profeta. Segundo os sunitas, as palavras e os atos de Maomé devem ser seguidos durante toda a vida. Os muçulmanos sunitas caracterizam-se por sua moderação política e pelo forte senso comunitário.

Xiitas (seguidores de Ali)

Surgiram após a morte do quarto califa (primo e genro de Maomé, chamado Ali). Após sua morte no ano de 656, teve início a divergência que até hoje separa esse grupo dos sunitas.

Os xiitas passaram a acreditar que somente os descendentes de Ali tinham o direito de dirigir a comunidade islâmica, pois Maomé teria revelado para ele os profundos segredos dos versos do Corão, que desde então teriam passado de um imã para outro. O imã, divinizado pelos xiitas, é considerado infalível e portador da luz divina.

Entre os xiitas, são comuns os rituais carregados de emoção e autoflagelação, pois consideram o sofrimento como benéfico para a alma. Já para os sunitas, essa prática é inadmissível, sendo seus rituais e preces endereçados diretamente a Alá.

Expansão do islamismo

A maioria da população do Oriente Médio é islamita sunita, mas no Irã e no Iraque os xiitas são maioria (90% e 55%, respectivamente). Há duas exceções na região: Israel, onde mais de 80% da população é judia, e o Líbano, onde quase 40% são cristãos.

Desde a formação do primeiro Estado islâmico por Maomé, a expansão territorial desses povos seguidores da religião islâmica não cessou. Observe no mapa abaixo.

Expansão do islamismo
Após a morte de Maomé, em 632, o poder foi passado, sucessivamente, para quatro califas. Durante seus governos a expansão territorial foi muito rápida, e vastas áreas do Oriente Médio foram conquistadas e submetidas ao islamismo.

Após os quatro califas, teve início a Dinastia Omíada, que passou a controlar o poder islâmico e eleger os novos califas. O governo foi transferido para Damasco (atual Síria), e a expansão territorial continuou, sendo marcada pela invasão da Península Ibérica (711).

No ano de 752, o poder islâmico, tomado pela Dinastia Absida, foi transferido para outra capital, Bagdá (no atual Iraque). A partir do século XI, os turcos da região do Cazaquistão se converteram ao islamismo e se expandiram para o sul. Logo depois desenvolveu-se o Império Otomano, que, juntamente com os turcos, se expandiu para o oeste, ocupando a cidade de Constantinopla em 1453.

A cidade de Constantinopla passou então a se chamar Istambul, tornando-se a nova capital islâmica e concentrando o poder nas mãos de um sultão otomano. Formou-se assim um dos maiores impérios desse período histórico, o Império Turco-Otomano, que só teria fim com a sua fragmentação, após a Primeira Guerra Mundial (1918).

Na segunda metade do século XX, em alguns países do Oriente Médio ocorreu a tentativa de reduzir o poder dos grupos religiosos, restringindo sua prática e influência apenas à esfera privada. Tal política não teve sucesso, frente à reação dos movimentos fundamentalistas. Na década de 1970 ocorreu uma ampla adoção do fundamentalismo islâmico pelas massas urbanas, que apoiaram o Corão como lei e radicalizaram a exigência de respeito aos valores tradicionais, opondo-se ao modelo ocidental de organização política, social e cultural. A Organização da Conferência Islâmica, que em 1971 reuniu 40 países, foi a base da internacionalização desse movimento.

Dessa forma, na atualidade, quase todos os países do Oriente Médio têm o islamismo associado não apenas à vida cotidiana de suas populações mas também à política do Estado. Em muitos deles, a religião determina diretamente a forma de organização do Direito público e privado.

Por: Renan Bardine

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