Países

Iraque

Iraque, república do sudoeste da Ásia; limitada ao norte com a Turquia, a leste com o Irã, ao sul com a Arábia Saudita, o Kuwait e o Golfo Pérsico, e a oeste com a Jordânia e a Síria. Tem uma superfície de 434.924 km². Algumas das maiores civilizações da antiguidade se desenvolveram no território do atual Iraque (ver Assíria, Babilônia, Mesopotâmia e Suméria). Bagdá é a capital.

TERRITÓRIO

A parte norte do Iraque, conhecida como al-Jazirah ( palavra que significa “a ilha”), é montanhosa. Na fronteira com a Turquia existem picos como o Haji-Ibrahim, o mais alto do Iraque, com 3.600 metros. No sul, o terreno vai perdendo altitude até formar uma grande planície de aluvião, ocupada pelos vales dos rios Tigre e Eufrates. O extremo sudoeste é uma zona de terras baixas e pantanosas, junto do Golfo Pérsico, onde o Iraque tem 40 km de costa. A leste do Eufrates, o terreno se eleva gradualmente até o deserto Sírio.

CLIMA

A maior parte do Iraque tem clima continental muito acentuado. A área montanhosa tem verões frescos e invernos frios, com frequência acompanhados de neve. No centro de Iraque, os verões são longos e quentes, e os invernos curtos e frescos; em janeiro, a temperatura em Bagdá chega a uma média de 9,4o, enquanto durante julho e agosto alcança os 33,3o e, em algumas ocasiões, até 50,6º. O sul, perto do golfo Pérsico, tem as temperaturas mais altas do mundo e a umidade é muito elevada. Nas terras altas do noroeste, caem chuvas importantes entre outubro e maio, mas no sul, na planície de aluvião, as chuvas são escassas, como no deserto Sírio.

Iraque

RECURSOS NATURAIS

No Iraque, são sobretudo importantes os recursos minerais. Além de pequenos depósitos de carvão, gesso e enxofre, o país tem petróleo. Os solos, férteis, são de dois tipos: os grandes depósitos de aluvião, ricos em húmus e argila, adequados para a construção de edifícios; e os solos leves, cujos componentes tem sido depositados pelo vento. O alto conteúdo em sal afeta a fertilidade natural dos solos, mas são importantes as obras feitas para permitir a irrigação e evitar possíveis crescidas do Tigre e do Eufrates.

POPULAÇÃO E GOVERNO

Cerca de 75% da população é árabe; os curdos do norte constituem cerca de 20% dos efetivos. Outros grupos menos numerosos são os turcomanos, os judeus e os yazidis. Nas áreas rurais do pais ainda moram muitas pessoas em comunidades tribais, com uma existência nômade ou seminômade, dedicados ao pastoreio de camelos, cavalos e ovelhas. Com uma densidade de 44 hab/km², a população total, em 1993, era de 19.161.956 habitantes. Os centros mais povoados se encontram junto aos sistemas fluviais. O 70% de população é urbana. As principais cidades são: Bagdá (3.844.608 habitantes, em 1987); Basra (616.700 habitantes), o maior porto do país; e Mossul (570.900 habitantes, em 1985), importante centro petroleiro.

RELIGIÃO

Aproximadamente 95% dos habitantes pratica a religião muçulmana e 65% destes são xiitas, que moram principalmente no centro e no sul do Iraque; o resto, no norte, sunitas. Existem também grupos cristãos, como os nestorianos (ver Nestorianismo) e os jacobitas ou coptos. Também há católicos caldeus e sírios. Os yazidis vivem nas colinas ao norte de Mossul; os batistas mandeus, em Bagdá e Amara. Existe em Bagdá uma pequena comunidade judaica.

LÍNGUA, EDUCAÇÃO E CULTURA

O árabe é o idioma oficial e o curdo, a língua do maior dos grupos minoritários. A educação no Iraque é gratuita. O ensino primário é obrigatório durante seis anos, embora muitas crianças das áreas rurais, na prática, não vão à escola por falta de instalações. As aulas são dadas em árabe; no norte, na escola primária também se utiliza o curdo. O Iraque tem sete universidades: três em Bagdá, uma em Basra, uma em Arbil, uma em Mossul e outra em Tikrit. O país também tem 20 institutos técnicos. A tradição cultural do Iraque é principalmente árabe, apesar de ter sido o centro das civilizações babilônica e assíria, na Mesopotâmia, antes da chegada dos árabes. Monumentos importantes são a mesquita de Kadhmain, o palácio dos abássidas e o santuário de Samarra. O artesanato iraquiano é sobretudo famoso pelos tapetes. As principais bibliotecas do Iraque são a Central da Universidade de Basra, a Central da Universidade de Mossul e, em Bagdá, a Biblioteca do Museu Iraquiano, a Biblioteca Nacional e a Central da Universidade de Bagdá. Entre os museus, destacam-se o Iraquiano, que conserva objetos das primeiras culturas mesopotâmicas, o Iraquiano de História Natural e o Militar de Iraque, todos em Bagdá. O Museu de Babilônia expõe maquetes, pinturas e quadros da antiga Babilônia, enquanto no Museu de Mossul se encontram peças assírias.

ECONOMIA E RECURSOS NATURAIS

A economia se baseia na exportação de petróleo e a maioria de sua escassa indústria pesada está relacionada com ele. A agricultura proporciona sustento a sua população e a tâmara é a principal cultura de exportação. Praticamente todos os setores da economia sofreram as consequências da guerra com o Irã, que deixou o país com uma dívida externa superior a 75 bilhões de dólares. O embargo imposto pelas Nações Unidas (ONU), após a Guerra do Golfo Pérsico, afundou ainda mais sua economia. A unidade monetária é o dinar iraquiano. Economia fundamentalmente agrícola, as culturas mais difundidas são a do trigo, a cevada, o arroz e a tamareira. Também produz outras frutas como maçãs, figos, uva. azeitonas, laranjas, peras e romãs. A pecuária é importante, sobretudo entre as tribos nômades e seminômades. Além da criação do gado bovino, ovino e caprino, destaca-se a de aves de corte e a criação do famoso cavalo árabe. A indústria pesqueira é menos significativa. O petróleo é o recurso natural relevante no Iraque. Há sobretudo três regiões fundamentais: os arredores de Basra, junto ao golfo Pérsico: a parte norte do país, perto de Mossul e Kirkuk; e o centro-leste de Irak, junto à cidade de Janaquim. Outras jazidas importantes são as de minério de ferro, ouro, chumbo, cobre, prata, platino e zinco. Os fosfatos, o enxofre, o sal e o gesso são abundantes, o mesmo que o linhito. A indústria não está muito desenvolvida. Além dos derivados do petróleo e do gás natural, são produzidos têxteis, sapatos, cigarros e materiais de construção. O principal centro industrial é Bagdá. No final da década de 1980, a produção anual de eletricidade era de 22,9 bilhões de quilowatts-horas. Mais do 95% da eletricidade era produzida em centrais térmicas. Existem algumas centrais hidrelétricas no rio Tigre e afluentes.

TRANSPORTE E COMUNICAÇÕES

O Iraque está conectado por trem com a Turquia e a Europa através da Síria. A rede ferroviária do país abrange 2.440 quilômetros. A rede rodoviária tem 33.240 km, estando o 72% do total asfaltada. Existem aeroportos internacionais em Bagdá e Basra, cidade esta que é o principal porto para navios transoceânicos. O Tigre é navegável entre Basra e Bagdá para embarcações de menor calado.

GOVERNO E PARTIDOS POLÍTICOS

O Iraque se rege pela constituição de 1968, reformada posteriormente. A principal instituição do poder executivo é o Comando do Conselho da Revolução. Na prática, o poder se concentra em um dirigente que o exerce como presidente da república, primeiro-ministro e secretário do Comando do Conselho da Revolução. O Conselho de Ministros é o principal corpo administrativo do país. As 18 governações iraquianas são administradas por governadores designados pelo governo nacional. A organização dirigente no Iraque é o Partido Socialista Árabe Baaz, que baseia sua política nos princípios socialistas e pan-árabes. Outros grupos políticos são o Partido Comunista Iraquiano, o Partido Democrático do Curdistão e o Partido Revolucionário do Curdistão.

HISTÓRIA

O território do Iraque moderno coincide aproximadamente com o da antiga Mesopotâmia, na qual se sucederam várias civilizações. A Suméria surgiu no IV milênio a.C. e alcançou seu apogeu sob a III dinastia de Ur ao final do III milênio a.C. Depois seguiram períodos de hegemonia da Babilônia e Assíria. Em 539 a.C. Ciro II, o Grande, conseguiu o controle da região, que permaneceu sob o comando persa até ser conquistada no ano de 331 a.C. por Alexandre Magno. Com sua morte, a dinastia selêucida, de origem grega, reinou na Mesopotâmia durante 200 anos. Seguiu-se um longo período sob as novas dinastias persas — arsácidas e sassânidas —, até que os árabes muçulmanos invadiram a região no ano 700. Entre 750 e 1258, Bagdá foi a capital dos califas abássidas.

Depois do saque de Bagdá pelos mongóis em 1258 e a posterior pilhagem do restaurador do império mongol, Tamerlão, no século XIV, turcos e iranianos disputaram entre si a supremacia da região, até que o império otomano assegurou seu controle no século XVII, que durou até o século XIX. A finais do século XIX, a Alemanha e a Grã-Bretanha rivalizaram-se na luta pelo controle comercial da área mesopotâmica. O governo britânico pretendeu consolidar sua posição na área do Golfo Pérsico fazendo tratados com os xeques árabes locais, o que lhe permitiu obter em 1901 uma concessão para explorar os campos petrolíferos do Irã. Depois da entrada da Turquia na I Guerra Mundial (1914-1918) como aliada dos Impérios Centrais, as forças britânicas invadiram a Mesopotâmia, controlando-a totalmente em 1918.

Em 1920 começou uma revolta armada contra o exército britânico que ocupava o Iraque. A Grã-Bretanha traçou um plano para instalar um governo provisório no novo estado do Iraque: um reino com um governo dirigido por um conselho de ministros árabes, sob a supervisão do Alto Comissionado Britânico. Convidou-se Faiçal para ser o dirigente do novo estado, o qual reinou como Faiçal I. Em 1936, sob o reinado de Ghazi I, começou a se desenvolver no Iraque um movimento em busca da união de todos os árabes, conhecido como pan-arabismo. Em 1939, subiu ao trono Faiçal II, com três anos, pelo que se estabeleceu uma regência. Ante a política de não cooperação com a Grã-Bretanha na II Guerra Mundial, as tropas britânicas invadiram o país. Pouco depois do armistício se formou um governo pró-britânico que deu lugar a um gabinete dirigido por Said.

Ao declarar-se a independência de Israel em 1948, os exércitos do Iraque e Transjordânia (atual Jordânia) invadiram o novo estado, argumentando que o estabelecimento de um governo judeu em território palestino equivaleria a reconhecer a divisão da Palestina, ao que o Iraque se opunha há muito tempo. Após a derrota das forças árabes e sem confronto com Israel, se firmou um cessar fogo entre Israel e a Transjordânia, mas algumas unidades iraquianas continuaram combatendo os israelitas na zona ocupada pelos árabes ao norte da Palestina central. Em 1953 fizeram-se as primeiras eleições parlamentaristas por sufrágio direto.

Restabeleceu-se o governo constitucional e Faiçal II cedeu o trono formalmente. A tendência pró-ocidental da União Árabe (federação da Jordânia e Iraque), a repressão que sofriam os grupos opositores e o entusiasmo que a criação da República Árabe Unida (RAU), federação do Egito e Síria levantou entre os dirigentes nacionalistas do Iraque, que viam a possibilidade de levar a cabo seus ideais de pan-arabismo, acabaram com a monarquia. Em 1958 o general iraquiano Karim Kassem deu um golpe de estado e proclamou-se a república. O novo governo anunciou uma aproximação com a RAU e a dissolução da União Árabe. Em 1963, Kassem foi derrotado por um grupo de oficiais e Abdul Salam Arif se tornou presidente, o qual foi sucedido, no ano de 1968, por seu irmão o general Abdul Rahman Arif.

Na Guerra dos Seis Dias (1967) o Iraque enviou tropas e aviões para a fronteira entre a Jordânia e Israel. Mais adiante declarou guerra a Israel e cortou a provisão de petróleo aos países ocidentais, enquanto rompia relações diplomáticas com os Estados Unidos. Em 1968 o governo do general Arif foi deposto e o general Ahmed Hassan al-Bakr se colocou a frente do Comando Supremo da Revolução. Durante os anos que se seguiram o Iraque manteve como regra uma atitude hostil contra o Ocidente e de amizade com a URSS. As posições de cada um dos países árabes, com relação a Israel, causaram atritos entre o Iraque e seus vizinhos. Em 1974 aconteceram fortes combates entre as forças governamentais e os nacionalistas curdos, que rejeitavam a lei de autonomia. O general Saddam Takriti Hussein sucedeu o presidente Bakr em 1979, cercando-se imediatamente de uma dezena de oficiais leais, os quais colocou em cargos de responsabilidade. A tensão entre Iraque e o regime revolucionário iraniano aumentou ao longo do ano de 1979, quando o descontentamento dos curdos do Irã se estendeu ao Iraque.

O sectarismo religioso exacerbou a diferenças e a disputa desaguou na Guerra Irã-Iraque. Em 1990 o Iraque reavivou uma velha disputa territorial com o Kuwait e denunciou que a excessiva produção de petróleo daquele país estava prejudicando sua economia. Em 2 de agosto tropas iraquianas invadiram o Kuwait e provocaram a Guerra do Golfo Pérsico. Após o cessar fogo e o acordo de paz, o governo iraquiano utilizou os restos de seu exército para acabar com a rebelião dos xiitas no sul e dos curdos no norte. Centenas de milhares de curdos se refugiaram na Turquia e no Irã, e tropas dos Estados Unidos, França e Grã-Bretanha se instalaram no norte do Iraque para estabelecer campos de refugiados. O Iraque continuou seus esforços para acabar com a resistência interna ao longo de 1994. Na primavera de 1996, a ONU levantou o embargo que pesava sobre o petróleo iraquiano. Em outubro de 1997, Grã-Bretanha ameaçou usar a força quando Iraque não permitiu a entrada de uma equipe da ONU no país.

Houve um período de delicado equilíbrio nas relações, mas em setembro de 1998, o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) votou por unanimidade uma resolução mantendo as sanções contra o Iraque até que Bagdá voltasse a cooperar com os inspetores do desarmamento. Atendendo ao apelo da China, da França e da Rússia, o Conselho acenou com a possibilidade de retomar a cooperação, o que prevê um exame conjunto das relações do Iraque com a ONU. Após a carta entregue in extremis ao secretário geral da ONU, Kofi Annan, pelo vice-primeiro-ministro do Iraque, Tarif Aziz, foi suspensa pelo presidente norte-americano Bill Clinton a intervenção militar no Iraque. Na carta, o presidente iraquiano Saddam Hussein decidia finalmente voltar a cooperar com o desarmamento do país, permitindo a volta dos inspetores da Comissão Especial da ONU. Em dezembro de 1998, ao final de uma série de inspeções fundamentais para testar a cooperação do Iraque, duas equipes de inspetores integrantes da comissão encarregada do desarmamento iraquiano deixaram Bagdá. O chefe dos inspetores, Richard Butler, declarou ter sido impedido de entrar em alguns prédios em Bagdá, o que considerou, em seu relatório, “um fato grave”. Poucos dias depois, começou a operação militar de represália contra o Iraque, levada a cabo durante quatro dias pelas forças dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha, motivada pela negativa do presidente iraquiano, Saddam Hussein, de colaborar com os inspetores do desarmamento da ONU.

História (outra visão)

A antiga Mesopotâmia abriga várias civilizações a partir de 3000 a.C.: os sumérios, os acádios, os babilônios e os assírios. Conquistada por persas, gregos e romanos, torna-se o centro do Império Árabe nos séculos VIII e IX. Os árabes fundam Bagdá em 762 e introduzem a religião islâmica. Seguem-se as invasões dos mongóis e dos turcos e um longo período de decadência.

O Iraque moderno nasce em 1920, após a I Guerra Mundial, quando o Império Turco-Otomano é desmembrado. Uma decisão da Liga das Nações põe o novo país sob a tutela do Reino Unido, que instala no trono, em 1921, um monarca árabe da dinastia hachemita, Faisal Hussein. Um irmão de Faisal, Abdullah, torna-se na mesma época o emir da Transjordânia (atual Jordânia), também sob controle britânico. Em 1932, o Iraque é admitido na Liga das Nações como Estado independente, mas os britânicos controlam seu governo e obtêm, com isso, direitos exclusivos de exploração do petróleo.

Nacionalismo – Tropas britânicas intervêm em 1941, durante a II Guerra Mundial, para reprimir uma tentativa de golpe pró-nazista. Em 1948, o país participa da primeira guerra árabe-israelense. Dez anos depois, a monarquia iraquiana é derrubada por um golpe militar liderado pelo general ‘Abd al-Karim Qasim, que instala um regime nacionalista.

O novo governo é instável e enfrenta várias tentativas de golpe, lideradas principalmente pelo Partido Socialista Árabe Baath (“renascimento”, em árabe), que defende a união de todos os árabes numa única nação. Em 1961 é aprovada uma lei que limita os direitos das empresas petrolíferas estrangeiras. Qasim é derrubado e fuzilado em 1963, num golpe militar com participação do Baath, que se torna partido único em 1968. Em 1972, o petróleo é nacionalizado. Uma rebelião da minoria curda no norte do país é reprimida, deixando milhares de mortos entre 1974 e 1975.

Guerra Irã-Iraque – O vice-presidente, Saddam Hussein, amplia sua influência nos anos 70, até assumir a Presidência, em 1979, por meio de um golpe. Em 1980, o Iraque invade o Irã, iniciando uma guerra que dura até 1988. O país recebe o apoio de potências ocidentais, como Estados Unidos (EUA), Israel, União Soviética (URSS) e de regimes árabes conservadores, entre eles Arábia Saudita e Egito, temerosos de que a Revolução Islâmica iraniana se expandisse a outras nações do Oriente Médio e às repúblicas soviéticas da Ásia Central. O conflito mata 300 mil iraquianos e 400 mil iranianos, devasta os dois países e termina sem vencedor.

Guerrilheiros separatistas curdos atacam os militares iraquianos a partir de 1985. Três anos depois, as Forças Armadas do Iraque usam armas químicas – proibidas por convenção internacional – contra a aldeia curda de Halabja, matando 5 mil civis.

Guerra do Golfo – O Iraque provoca um conflito internacional ao invadir o Kuweit, em agosto de 1990. Saddam Hussein responsabiliza o país vizinho pela baixa no preço do petróleo ao vender mais do que a cota estipulada pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).

A Organização das Nações Unidas (ONU) condena o ataque contra o Kuweit – aliado do Ocidente – e decreta embargo comercial ao Iraque. Saddam Hussein anexa o Kuweit como sua 19ª província. Fracassam as tentativas de solução diplomática e, em 16 de janeiro de 1991, forças coligadas de cerca de 30 nações, lideradas pelos EUA, iniciam os bombardeios contra o Iraque, na Operação Tempestade no Deserto. Em 24 de fevereiro, a coalizão lança um ataque por terra que destrói boa parte do Exército iraquiano e põe fim à ocupação do Kuweit. Em 28 de fevereiro é assinado o cessar-fogo. O número estimado de mortos na guerra é de 100 mil soldados e 7 mil civis iraquianos, 30 mil kuweitianos e 510 homens da coalizão.

Rebeliões – No fim da guerra eclodem revoltas contra o regime de Saddam Hussein. No sul, a comunidade xiita toma várias cidades. No norte, separatistas curdos ocupam territórios. O governo reprime as insurreições com violência. Pressionado pela ONU, Hussein suspende as ações militares, e uma zona de exclusão para os voos iraquianos é imposta no norte e no sul do país. O presidente iraquiano começa a negociar com dirigentes curdos um projeto de autonomia para o Curdistão. Nos últimos anos, guerrilheiros do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) têm usado o território iraquiano como base para ataques à Turquia .

Embargo comercial – Os problemas com os EUA e seus aliados prosseguem, por cauda das violações ao acordo de cessar-fogo, pelo qual o Iraque se comprometeu a reconhecer as fronteiras do Kuweit, a suspender a perseguição aos xiitas e curdos e a permitir a inspeção e destruição de suas armas químicas, biológicas e nucleares. As forças norte-americanas respondem com bombardeios ao Iraque. O primeiro acontece em 1993, depois que inspetores de armamentos da Comissão Especial das Nações Unidas (Unscom) são impedidos de entrar no país. Sob risco de nova ação militar, o Iraque retira tropas estacionadas perto da fronteira do Kuweit em 1994 e reconhece a soberania do vizinho.

Inspeção internacional – Em 1996, o Iraque entra em acordo com a ONU para voltar a vender petróleo em quantidade limitada, o que acontece no ano seguinte. A suspensão completa do embargo, no entanto, permanece condicionada ao fim de todas as armas de destruição em massa do país. Em outubro de 1997, Saddam expulsa os integrantes norte-americanos da Unscom, alegando que a equipe tem excessiva participação dos EUA. A tensão eleva-se até fevereiro de 1998, quando é assinado outro acordo, incluindo na comissão diplomatas de vários países.

Raposa do Deserto – O Iraque suspende novamente a cooperação com a Unscom. Em reação, em dezembro de 1998, os EUA e o Reino Unido lançam a maior ofensiva militar contra o Iraque desde a Guerra do Golfo, a fim de “debilitar a capacidade iraquiana de produzir e usar armas de destruição em massa”. Durante 70 horas, o país é alvo de bombardeios e mísseis que destroem instalações militares e civis. Setenta pessoas morrem, de acordo com o governo iraquiano. A ofensiva é seguida de embates, em 1999, nas zonas de exclusão aérea criadas após a Guerra do Golfo. O Iraque declara essas zonas ilegais e passa a atacar aviões ocidentais que patrulham a região. A Força Aérea norte-americana e a britânica respondem com bombardeios contra alvos estratégicos. No final do ano, a ONU cria um novo corpo de inspeção dos armamentos iraquianos, a Unmovic. Ao mesmo tempo, crescem os problemas internos de Saddam Hussein, que ordena a execução de vários oficiais da força aérea, acusados de planejar um golpe de Estado.

FATOS RECENTES – Eleições parciais realizadas em março de 2000 – sem oposição – dão ao Baath 165 das 220 cadeiras em disputa no Legislativo. O filho de Saddam, Uday Hussein, é o candidato mais votado. Aumentam também as tensões com o vizinho Irã. Várias pessoas ficam feridas, em maio, em um ataque com foguetes contra o palácio presidencial, em Bagdá, aparentemente realizado por grupos guerrilheiros pró-Irã.

Em janeiro de 2001, no 10o. aniversário do lançamento da Operação Tempestade no Deserto, Hussein celebra, em discurso, o “triunfo iraquiano” sobre “os inimigos de Alá”. Em março, a Unmovic revela que o Iraque ainda tem capacidade para construir e usar armas biológicas e químicas e lançar mísseis Scud. Em setembro, a população comemora nas ruas os atentados suicidas em Nova York e Washington D.C. As especulações iniciais de que o governo iraquiano estaria envolvido nos ataques são afastadas.

Sanções econômicas castigam o povo há uma década – Idealizado com o objetivo de amenizar os efeitos do boicote econômico decretado em 1990, a operação “petróleo por comida” prevê que, a cada seis meses, o país pode exportar uma cota de petróleo para adquirir gêneros básicos (alimentos e medicamentos) para a população. Mas agências da ONU, como o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e o Programa Alimentar Mundial (PAM) alertam que o acordo – renovado consecutivamente desde 1996 – não tem sido capaz de contornar as trágicas consequências do embargo.

O próprio coordenador do programa “petróleo por comida” admite em 1998 que entre 4 a 5 mil crianças morrem a cada mês no país por causa da subnutrição, da contaminação das fontes de água, das péssimas condições sanitárias e da deterioração do sistema de saúde. Relatório da Cruz Vermelha, divulgado em 2000, conclui que a mortalidade infantil iraquiana triplicou desde a imposição das sanções.

A catástrofe humanitária que atinge o país faz crescer o movimento internacional pelo fim do boicote econômico, principalmente nos países árabes. Mas o tema divide o Conselho de Segurança da ONU: enquanto os EUA e o Reino Unido são favoráveis à manutenção, França, China e Federação Russa querem a suspensão.

DADOS GERAIS

NOME OFICIAL – República do Iraque (Al-Jumhuriya al-‘Iraqiya ad-Dimuqratiya ash-Sha’abiya).

CAPITAL – Bagdá

LOCALIZAÇÃO – sudoeste da Ásia

GEOGRAFIA – Área: 434.128 km². Hora local: +6h. Clima: tropical árido.

Principais cidades – Bagdá (4.478.000) (aglomerado urbano) (1995); Mosul (664.200), Irbil (485.968), Kirkuk (418.624), Basra (406.296) (1987).

POPULAÇÃO – 23,6 milhões (2001); nacionalidade: iraquiana; composição: árabes iraquianos 80%, curdos 15%, turcomanos, sabeus, iezites e marches 5% (1996).

Idioma – árabe (oficial), curdo.

Religião: islamismo 96%, outras 3,3%, sem religião e ateísmo 0,7% (2000).

Densidade – 54,36 hab./km² (2001).

Moeda – dinar iraquiano; cotação para US$ 1: 1.800 (jul./2001).

PIB – US$ 11,5 bilhões (1996). PIB agropecuária: 47% (1995). PIB indústria: 1% (1995). PIB serviços: 52% (1995). Crescimento do PIB: 6,2% ao ano (1999).

Força de trabalho – 6 milhões (1999).

Veja também: