História do Brasil

Diretas Já – Movimento e Campanha

O agravamento da inflação (99,7% em 1982) e o aumento da dívida externa, que resultou num choque entre o FMI e o governo brasileiro cujo ônus recaía sobre o governo militar, mobilizaram a sociedade.

Aproveitando-se desse cenário econômico adverso e do fortalecimento político dos partidos e movimentos sociais, o PT criou, no início de 1983, o movimento Diretas Já.

Era uma tentativa de pressionar os militares e acelerar a reabertura democrática, levando-a a ser consolidada pela sociedade.

Mas o Diretas Já só decolou quando o PMDB entrou em peso na campanha, puxando, com o apoio do deputado federal Ulysses Guimarães, presidente do partido, a pressão pelo direito legítimo da sociedade de escolher seu presidente. O movimento teve força para unir todos os setores da oposição, mobilizando uma multidão rara em manifestações públicas brasileiras. Em São Paulo, em abril de 1984, mais de 1 milhão de pessoas se reuniram nos comícios do vale do Anhangabaú.

A campanha Diretas Já enfrentava um obstáculo: era preciso mudar a Constituição, e para isso o PMDB precisava de mais membros a seu favor. O deputado Dante de Oliveira criou então uma emenda constitucional para as eleições diretas, que foi bloqueada em 25 de abril de 1984.

Essa decisão deixou a população frustrada, mas a abertura continuaria no colégio eleitoral. Para fazer frente a Paulo Maluf, do PDS, formou-se uma aliança entre Tancredo Neves e José Samey – o segundo não tinha apoio total, pois pertencera à UDN e à Arena. Em 15 de janeiro de 1985, o colégio eleitoral elegeu Tancredo por 480 votos contra 180 votos.

A campanha das Diretas Já

Em 1984, milhões de brasileiros saíram às ruas para reivindicar o direito de votar nas eleições para presidente do país. A campanha das Diretas Já mostrava o enfraquecimento da ditadura militar.

A abertura democrática se iniciou de fato quando o presidente Geisel escolheu, em 1978, João Batista Figueiredo como seu sucessor. Os esforços de Figueiredo para controlar a redemocratização, porém, sofreram forte abalo quando o general Golbery do Couto e Silva deixou o governo.

A saída de Golbery desarticulou o governo, permitindo à oposição civil se reorganizar em tomo do então MDB. A oposição se fortaleceu, ainda, devido à incapacidade do governo de combater a inflação e as altas taxas de desemprego.

Movimento das Diretas Já em São Paulo A vitória da oposição nas eleições estaduais de 1982 em estados importantes, como São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, intensificou a ideia de que os militares não controlavam mais o processo político. Aproveitando o cenário político favorável, a oposição – inicialmente o PT e, posteriormente, o PMDB, o PDT, a CUT e outros movimentos sociais – iniciou a campanha pelas eleições diretas para presidente, com o intuito de construir um caminho diverso do projeto militar, que previa a eleição pelo Colégio Eleitoral.

A campanha das Diretas Já movimentou a população em comícios gigantescos, com a clara intenção de pressionar o Congresso, levando-o a votar a favor da Emenda Dante de Oliveira, que propunha a eleição direta para presidente da República. A votação se deu no dia 25 de abril de 1984, mas a emenda não atingiu os dois terços de votos necessários para ser aprovada, pois o Congresso Nacional ainda era dominado pelo PDS (sucessor da Arena, partido de sustentação do regime militar).

Concentrada na praça da Sé, em São Paulo, a população paulistana acompanha a votação no Congresso, que rejeitou a emenda do deputado do PMDB, Dante de Oliveira, a qual instituiria eleições diretas para presidente da República. (foto ao lado).

A Frente Liberal

Na eleição presidencial via Colégio Eleitoral, o governador de Minas Gerais, Tancredo Neves (do PMDB), foi favorecido por um conflito político dentro do PDS. Eram três os possíveis candidatos: Paulo Maluf, Mario Andreazza e Aureliano Chaves. Maluf começou a costurar alianças políticas baseadas em favores a serem pagos no futuro. Tal prática desagradou o grupo de Aureliano Chaves, que abandonou o PDS, formando uma nova agremiação, a Frente Liberal (posteriormente, PFL).

A Frente Liberal negociou seu apoio junto ao bloco oposicionista (desfalcado do PT, que discordava da forma como a transição democrática estava sendo realizada), garantindo os votos necessários à vitória de Tancredo no Colégio Eleitoral. Em troca, o grupo indicaria em 1984 o candidato a vice-presidente, que acabou sendo José Samey, político maranhense ligado aos militares e presidente do PDS na época da rejeição da Emenda Dante de Oliveira.

O moderado Tancredo se elege

Habilidoso politicamente, Tancredo aceitou o apoio da Frente Liberal e começou a fazer comícios pelas cidades brasileiras, para manter a mobilização popular, prevenindo-se contra possíveis recaídas dos militares, que poderiam não aceitar a derrota do candidato do PDS.

Reunido em 15 de janeiro de 1985, o Colégio Eleitoral deu a vitória a Tancredo Neves sobre Paulo Maluf. O peso dos votos da Frente Liberal foi decisivo para a eleição de Tancredo.

Até o dia de sua posse, 15 de março de 1985, Tancredo se dedicou a determinar as diretrizes a serem seguidas e a compor seu governo com um grupo o mais amplo possível, prometendo a todos participação no futuro governo.

Tancredo morre, Sarney assume

O presidente eleito, contudo, adoeceu no dia da posse, sofrendo então uma primeira intervenção cirúrgica. Transferido para São Paulo, submeteu-se a novas cirurgias (sete no total) ao longo de algumas semanas.
A população passou a rezar pela recuperação do presidente. As manifestações públicas de vigília chegaram a se igualar àquelas em nome das Diretas Já, como se Tancredo representasse a própria redemocratização e a esperança de um novo recomeço para o Brasil.

Por fim, em 21 de abril de 1985, foi anunciada a morte do presidente. Ironicamente, a chamada Nova República seria governada por seu vice, José Samey, representante do PDS e da antiga UDN – um político que sempre havia apoiado o regime militar.

A vitória de Sarney, antes ligado aos grupos mais conservadores, foi interpretada por alguns como uma tentativa de os militares evitarem a divulgação imediata dos males e da violência da ditadura. Assim, estariam seguros de que o novo regime democrático não os perseguiria pelos crimes cometidos no passado.

Por: Renan Bardine

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