História

Fim da Idade Média – Crise do Século XIV

Por volta de fins do século XIII a produtividade agrícola já dava claros sinais de fim, prenunciando uma possível falta de alimentos, devido ao esgotamento dos solos, enquanto a população continuava apresentando tendências de crescimento, era o fim da Idade Média.

A exploração predatória e extensiva dos domínios, que caracterizara a agricultura feudal, fazia com que o aumento da produção se desse, em sua maior parte, com a anexação de novas áreas (que não estava mais ocorrendo) e não com a melhoria das técnicas de cultivo.

Agravaram-se as contradições entre o campo e a cidade da Idade Média. A produção agrícola não respondia às exigências das cidades em crescimento. Nos séculos XI, XII e primeira metade do século XIII, a utilização de novas terras e as inovações técnicas permitiram uma ampliação da produção. Na última década do século XIII já não restavam terras por ocupar, e as utilizadas estavam cansadas, gerando uma baixa produtividade. As inovações técnicas anteriores já não respondiam às novas necessidades. Além disso, a substituição do trabalho assalariado ocorria muito lentamente. Com a insuficiente produção agrícola e a estagnação do comércio, a fome se alastrou pela Europa, era o prelúdio do fim do sistema feudal e consequentemente o fim da Idade Média.

A partir do início do século XIV, uma profunda crise anunciou o final da época medieval. Fome, pestes, guerras e rebeliões de servos atingiram a essência do sistema feudal.

No inicio do século XIV, a Europa foi assolada por intensas chuvas (1315 a 1317) que arrasaram os campos e as colheitas. Como consequência, a fome voltou a perturbar os camponeses, favorecendo o alastramento de epidemias e trazendo a mortalidade da população. “Nos campos ingleses, ele passou de 40 mortos por cada mil habitantes, para 100 por mil. Na cidade belga de Ypres, uma das mais importantes da Europa, pelo menos 10% da população morreu no curto espaço de seis meses em 1316”.

A peste negra amedrontou a Europa e abalou a economia. Cidades ricas foram destruídas e abandonadas pelos seus habitantes desesperados a procura de um lugar com ar puro e sem pessoas infectadas. Os servos morriam e as plantações ficavam destruídas por falta de cuidados. Por esta causa os Senhores Feudais começaram a receber menos tributos diminuindo seus rendimentos.

Os senhores feudais viram seus rendimentos declinarem devido à falta de trabalhadores e ao despovoamento dos campos. Procuraram então, de todas as maneiras, superar as dificuldades. Por um lado, reforçaram a exploração sobre os camponeses, aumentando as corveias e demais impostos, para suprir as necessidades de ostentação e consumo, dando origem à “segunda servidão”. Por outro, principalmente nas regiões mais urbanizadas, os nobres passaram a arrendar suas terras, substituindo a corveia por Pagamento em dinheiro e dando maior autonomia aos camponeses, alterando bastante as relações de produção.

“Depois da acima dita pestilência, muitos edifícios, grandes e pequenos, caíram em ruínas nas cidades, vilas e aldeias, por falta de habitantes, de maneira que muitas aldeias e lugarejos se tornaram desertos, sem uma casa ter sido abandonada neles, mas tendo morrido todos os que ai viviam; e é provável que muitas dessas aldeias nunca mais fossem habitadas”.

A mortalidade trazida pelas chuvas, fome e peste negra foi ainda ampliada pela longa guerra entre os reis de Inglaterra e França, que entre combates e tréguas, durou mais de um século (1337/1453): a Guerra dos Cem Anos.

A Guerra dos Cem Anos surgiu porque o rei de França, Felipe IV, anexou a região de Bordéus domínio feudal do rei da Inglaterra, de onde provinha grande parte dos vinhos que os ingleses bebiam. Deveu-se também às ambições da França e da Inglaterra em dominarem a região de Flandres, rica por seu comércio e produção de tecidos.

Entre batalhas vendidas ora por ingleses ora por franceses e períodos de trégua, a guerra aumentou as dificuldades da nobreza e agravou a situação de miséria dos servos.

O recrudescimento da exploração feudal sobre os servos contribuiu para as revoltas camponesas que grassaram na Europa do século XIV, nas quais milhares deles foram mortos. Elas consistiam em súbitas explosões de resistência feroz; duravam pouco e, em regra, estavam mal organizadas. Logo que os lideres morriam ou eram feitos prisioneiros, a resistência apagava-se novamente com a mesma rapidez com que tinha começado a arder.”

Rebeliões camponesas
Rebeliões camponesas marcaram o fim da Idade Média

Pro fim, um fator fundamental para a quebra das estruturas do sistema feudal foi a longa série de rebeliões dos servos contra os senhores feudais. Ainda que momentaneamente derrotados, os levantes dos servos foram tornando inviável a manutenção das relações de servidão. A partir do século XIV, com mais rapidez em algumas regiões e menor em outras, as obrigações feudais foram se extinguindo.

A conjuntura de epidemias, de aumento brutal da mortalidade e de superexploração camponesa que caracterizou a Europa do século XIV trazendo crise, foi sendo superada no decorrer do século XV, que viu a retomada do crescimento populacional, agrícola e comercial. No campo, os senhores feudais, substituindo as corveias por salários, rompiam com o sistema senhorial de produção. Nas cidades, o revigoramento do mercado era favorecido pela ascensão dos preços das manufaturas.

Finalmente vencida pelos franceses, a Guerra dos Cem Anos fez emergir o sentimento nacional na França e na Inglaterra, favorecendo, um nos dois países, a consolidação territorial e a retomada do poder político pelos reis. Os monarcas contaram com as dificuldades da nobreza e com o apoio econômico da burguesia para recuperar e fortalecer sua autoridade.

Texto – O fim da Idade Média – escrito pela Professora de História Patrícia Barboza da Silva, formada pela Fundação Universidade Federal do Rio Grande – FURG

Bibliografia:

FRANCO Jr, Hilário. Idade média. Nascimento do Ocidente. São Paulo, Brasiliense, 1998.
O Feudalismo. São Paulo, Brasiliense, 1984.
LEGOFF, Jacques. A civilização do ocidente medieval. Lisboa: Editorial Estampa, 1983.

Por: Renan Bardine

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