Guerras

Guerra de Secessão

Sob uma onda de crescimento econômico, territorial e populacional dos Estados 13Unidos, eram visíveis as diferenças de interesses entre o norte e o sul. O terreno era instável e os conflitos internos avizinhavam-se de uma guerra civil, que aconteceu. Foi a Guerra de Secessão (1861-1865), que deixou um saldo de aproximadamente 600 mil mortos.

As causas da Guerra de Secessão

Se formos procurar as origens desse conflito, as mais significativas serão encontradas nas diferenças de interesses econômicos, políticos e sociais entre o norte industrial e o sul agrícola.

Causas econômicas

A partir da primeira metade do século XIX, com o crescimento econômico e industrial no norte, comerciantes, industriais e banqueiros nortistas passaram a defender e a pressionar o Congresso e o Governo Federal para adotarem medidas protecionistas contra a concorrência estrangeira, notadamente a inglesa, que possuía produtos de boa qualidade e baixo preço.

Os proprietários rurais sulistas defendiam, ao contrário do norte, a manutenção do livre-cambismo, pois, como agroexportadores, dependiam do mercado externo tanto para escoar sua produção como para adquirir produtos manufaturados ingleses de qualidade a preços compensadores.

A questão da integração do mercado interno também era vista diferentemente tanto pelos empresários do norte quanto pelos proprietários rurais do sul.

Ao norte interessava o estreitamento das relações comerciais com o oeste, adquirindo alimentos e matérias-primas a custos compensadores e, ao mesmo tempo, fornecendo-lhes produtos manufaturados, aumentando e consolidando um mercado consumidor para os industriais do norte e para os proprietários rurais do oeste. Isso requeria investimentos do governo federal na montagem de uma infraestrutura complexa, como portos, ferrovias, canais e pontes.

O aporte desse capital do governo federal viria na forma de impostos arrecadados de todos os estados da União e das tarifas alfandegárias, que teriam de ser aumentadas, beneficiando prioritariamente o norte e o oeste.

A isso se opunha o sul, defensor do livre-cambismo e resistente aos investimentos internos em outros estados com recursos de tributos arrecadados no sul.

A questão da escravidão

A questão da escravidão talvez tenha sido a mais representativa entre todas no deflagrar da guerra. A divergência em torno da escravidão extrapola a interpretação comumente feita de que o escravo, por não ser remunerado, não contribuía para o crescimento do mercado consumidor interno, prejudicando a economia industrial do norte.

O movimento abolicionista ultrapassa a análise estritamente econômica, contando com adeptos nos segmentos urbanos de ideologia liberal, entre os religiosos metodistas e socialistas utópicos que haviam organizado comunidades nos Estados Unidos.

Os sulistas defendiam a continuidade do trabalho escravo em suas lavouras, pois isso barateava o custo de produção do algodão, produto valorizado no mercado inglês. A adoção de mão-de-obra livre e assalariada aumentaria os custos de produção e, consequentemente, reduziria a margem de lucro na comercialização do algodão.

Causas políticas

Outra questão ligada à escravidão estava encravada nos novos estados que iam sendo incorporados ao território norte-americano. Os nortistas defendiam a ocupação desses territórios por trabalhadores livres, ao passo que o sul pretendia a expansão das lavouras agro-exportadoras com o emprego de escravos.

À medida que novos estados iam se formando e se integrando ao território estadunidense, o número de representantes das unidades da Federação no Congresso também aumentava, criando uma situação de desigualdade representativa entre a bancada de deputados e senadores defensores do abolicionismo, maioria dos Estados, e a bancada escravista, minoria.

Os sulistas defendiam a equanimidade de estados sem escravos e de estados com escravos na União, de tal modo que houvesse semelhante equanimidade de representantes das proposições escravistas e abolicionistas no Congresso.

As divergências expressas deram origem ao Novo Partido Republicano, fundado em 1854 por democratas, federalistas, nacionalistas e protecionistas, com políticos majoritariamente do norte e do oeste e, minoritariamente, do sul.

Nas eleições presidenciais de 1860, os nortistas apoiaram a candidatura de Abraham Lincoln, em cuja plataforma política estavam incluídos temas favoráveis aos Estados que ele representava, tais como o protecionismo alfandegário, a manutenção da União e a proibição do escravismo nos estados que estavam sendo incorporados à União.

O candidato dos sulistas, John Breckinrid­ge, defendia a manutenção da escravidão e o direito de os estados se separarem da União, em caso de prejuízos causados pelo governo federal.

Mapa da Guerra de Secessão.
Mapa da Guerra de Secessão norte-americana. Durante o conflito, nem todos os estados escravistas se uniram aos Estados Confederados da América, separatistas.

A vitória de Lincoln levou o estado da Carolina do Sul a declarar-se separado da União, em 20 de dezembro de 1860, com a adesão a esse propósito de Geórgia, Flórida, Alabama, Mississipi e Louisiana, formando, em fevereiro de 1861, os Estados Confederados da América, cabendo a presidência a Jefferson Davis.

A Guerra

Em abril de 1861, iniciava-se o conflito militar. Os estados de Virgínia, Arkansas, Tennessee e Carolina do Norte aderiram aos Estados Confederados, enquanto Missouri, Maryland e Kentucky, estados escravistas, permaneceram na União.

A comparação entre os Confederados e a União era extremamente favorável a estes.

A União compreendia 23 Estados, possuía extensa malha ferroviária, produzia seus próprios equipamentos, navios e suprimentos e contabilizava uma população de 28 milhões de habitantes.

Ao passo que os Confederados reuniam 11 Estados, uma malha ferroviária pequena, dependiam da importação de equipamentos e navios militares e contabilizavam 9 milhões de habitantes, sendo 3 milhões e 500 mil escravos.

A visível superioridade da União não impediu, no entanto, que sofresse algumas derrotas. A virada na Guerra se deu a partir de 1862 e, em novembro de 1863, na Batalha de Gettysburg, tropas da União impediram o avanço do General confederado Robert Lee.

O bloqueio aos portos confederados e o afundamento de sua frota naval, cortando as linhas de abastecimento e transporte, foram decisivos para a vitória da União.

A vitória foi assinalada após a conquista da capital dos rebelados, Richmond, e a derrota e rendição das tropas sulistas em Appomatox, a 9 de abril de 1865.

A Guerra de Secessão diferenciou-se das guerras anteriormente conhecidas pela humanidade ao empregar todos os recursos disponíveis e possíveis numa guerra. Considerada a maior guerra realizada no território de toda a América, deixou um saldo de aproximadamente 600 mil mortos e o sul arrasado, onde ocorreu a maior parte de todas as batalhas.

Durante a guerra, o presidente Abraham Lincoln sancionou a Emenda n. 8 à Constituição, em 1863, abolindo a escravidão em todos os estados e, pela Emenda n. 15, aprovada em 1865, estendeu o direito de cidadania aos negros, que passaram a ter direito ao voto.

Consequências da Guerra de Secessão

Ao término da guerra, no sul, o cenário era devastador. Palco principal das batalhas, a desorganização imperava: no campo, plantações arrasadas e carência de mão-de-obra com a fuga e a abolição dos escravos; latifundiários endividados tiveram suas terras confiscadas pelos bancos; infra-estrutura destruída; desorganização produtiva e, com a elevação das tarifas alfandegárias, houve perda do contato comercial com a Inglaterra, forçando-os a comercializar sua produção no mercado interno.

A guerra, por sua vez, trouxe novo impulso econômico aos estados do norte e oeste, estimulando tanto a produção bélica e seus afins, assim como o suprimento para as tropas. Data desse período a formação dos primeiros trustes norte-americanos.

A reconstrução do sul se deu pelo aporte de capitais nortistas, realizando investimentos consideráveis e impondo uma política industrializante.

O recrudescimento da intolerância foi outro desdobramento da guerra. Abraham Lincoln, reeleito presidente, não chegou a tomar posse: foi assassinado por um sulista.

Também no sul organizaram-se sociedades secretas segregacionistas, racistas, como a Ku-Klux-Klan e os Cavaleiros da Camélia Branca, que empreenderam atentados e atos de violência contra os negros e a favor da segregação racial.

Veja também: