História

História do Cristianismo

O cristianismo é a religião com mais seguidores no mundo. Atualmente, possui cerca de 2,18 bilhões de fiéis, sendo 51,4% católicos, 36% protestantes e 12,6% ortodoxos.

De acordo com a Bíblia, o livro sagrado dos cristãos, Deus criou o mundo, começando pelo céu e a terra, e terminando com a criação dos seres humanos à sua semelhança. Para os cristãos, Deus é um ser que está em todos os lugares ao mesmo tempo, observando e cuidando de todos os seres humanos.

Origem do cristianismo

A religião cristã derivou do judaísmo. Jesus de Nazaré foi um judeu, viveu na Palestina quando sua cidade estava sob o controle do Império Romano. Filho de Deus com a virgem Maria, é considerado o Messias que teria nascido para salvar a humanidade. Messias equivale à palavra grega Khristós, por isso ficou conhecido como Jesus Cristo.

Para os cristãos, Jesus foi mais que um grande profeta, foi o próprio Deus encarnado que revelou para a humanidade os ensinamentos do cristianismo. Foi denunciado por religiosos judeus por blasfemar ao dizer que era filho de Deus, por isso foi entregue aos romanos, depois morto e crucificado.

Estátua de Jesus pregado em uma cruz.
Jesus Cristo crucificado.

Seus ensinamentos prosperaram por meio de seus apóstolos e discípulos que acreditaram e anunciaram sua ressurreição, que teria ocorrido no domingo de Páscoa, por isso o domingo é o dia sagrado dos cristãos.

Os cristãos nos séculos II e III

Ao longo do século I, muitos cristãos tinham a esperança de que o Messias Jesus voltaria em breve. Acreditavam na iminência da parusia, uma palavra grega que significa “vinda”, e nos séculos II e III começaram a se organizar de forma estável.

A institucionalização do episcopado

A crença numa segunda vinda de Cristo fez que, a princípio, os cristãos não organizassem um sistema estável de líderes ou sacerdotes, como havia no templo de Jerusalém ou nas religiões grega e romana.

Os primeiros cristãos tiveram certa variedade de representantes, entre os quais se destacavam os apóstolos, que iam de um lugar a outro comunicando a mensagem cristã. Além deles, tiveram papel relevante os diáconos, os anciãos, os bispos, os doutores e os profetas.

A partir do século II, o bispo, nome derivado de episkopos, que em grego significa “supervisor”, adquiriu relevância entre os cristãos, já que, como a parusia demorava, foi necessário que se organizassem as igrejas – palavra que também vem do grego eklesia, que quer dizer “assembleia” – e se ordenassem as comunidades cristãs.

A importância social que os cristãos iam adquirindo fica demonstrada com os bispos. Eles terminaram assumindo poderes civis, como distribuir justiça, além de transmitir as crenças s as práticas cristãs. Eles eram encarregados de organizar a Igreja. Atualmente, os bispos são os líderes das comunidades cristãs católicas.

Heresias e perseguições

Os primeiros séculos do cristianismo se caracterizaram por uma grande quantidade de grupos que apresentavam diferentes interpretações da figura de Jesus e de sua mensagem. Alguns pensavam, por exemplo, que Jesus era apenas um ser humano, ainda que especial; outros, sem dúvida, consideravam que ele era Deus; outros ainda acreditavam que as duas naturezas – humana e divina – habitavam nele.

Essas diferenças escondiam, muitas vezes, enfrentamentos entre grupos e pessoas. Para tentar solucionar essas tensões, recorria-se aos concílios. Assim, pouco a pouco foram se estabelecendo as interpretações que a maioria e os mais poderosos acreditavam ser as corretas. Os que defendiam pontos de vista diferentes, e não aceitavam a decisão conciliar, eram chamados de hereges e perseguidos pelos demais cristãos.

Por outro lado, os cristãos também sofreram perseguições por parte de não-cristãos.

As mais sangrentas foram ordenadas por imperadores romanos, como Nero, Décio e Diocleciano. Os cristãos eram acusados de trair Roma, pois se negavam a realizar o culto imperial.

Muitos cristãos morreram durante as perseguições: foram chamados “mártires” – que, em grego, significa “testemunhas”. Há representações de santos mártires nas igrejas católicas, e até hoje se venera sua memória. Apesar das perseguições, o cristianismo foi se espalhando e ganhando seguidores em todo o mundo romano. No século IV, era o grupo religioso mais ativo e organizado.

O triunfo do cristianismo

A relação dos cristãos com Roma foi muito variável ao longo dos quatro primeiros séculos de existência da religião. Houve períodos de perseguição, mas também estabeleceram-se fortes relações com o poder.

A conversão de Roma ao cristianismo

A conversão religiosa se dá quando uma pessoa muda de religião. Esse fenômeno foi frequente em Roma: desde os povos conquistados, como os hispanos, que terminaram por mudar sua antiga religião pela romana, até os próprios cidadãos romanos que se tomaram devotos de Mitra, deusa de origem persa ou de Isis, deusa egípcia.

O fenômeno de conversão mais geral e duradouro foi, entretanto, a aceitação do cristianismo, que, além de tudo, defendia que as demais religiões eram falsas e que era necessário abandonar qualquer outro culto quando alguém se convertia.

O cristianismo foi ganhando seguidores nas cidades do império e, em princípios do século IV, o número de cristãos já era considerável, apesar das perseguições.

Como religião acessível a todos, escravos ou aristocratas, ricos ou pobres, esse poderia ser um significativo meio de coesão em um império em que as diferenças religiosas podiam ser causa de divisão.

O imperador Constantino foi o primeiro a apoiar claramente os cristãos em lugar de persegui-los. Deu poderes de governo aos bispos e, em troca, utilizou a influência deles, que se estendia por todo o império, para fortalecer seu poder. No final de sua vida, batizou-se e converteu-se.

Os governantes e sacerdotes romanos foram se convertendo pouco a pouco ao cristianismo. Os bispos ocuparam cargos de responsabilidade no governo de Roma e o título de sumo pontífice terminou sendo utilizado para nomear o bispo dessa cidade. Em 380, o cristianismo foi declarado religião oficial do Império Romano e 11 anos mais tarde foram proibidos os cultos tradicionais.

Todo o Império Romano terminou sendo cristianizado, e o cristianismo é até hoje a religião da maioria das regiões que foram, um dia, controladas por Roma.

O desenvolvimento do cristianismo

Diante do restante das religiões da época, o cristianismo oferecia uma mensagem universal que tomava todas as pessoas iguais diante dos olhos de Deus. Além disso, dava esperanças de uma vida melhor no além e também na terra, com os laços de solidariedade que existiam nas comunidades cristãs.

Os cristãos foram, desde o início, grandes missionários, e se expandiram por todo o Mediterrâneo, pela Ásia e além dos limites do Império Romano, chegando até a índia e a África subsaariana.

De toda forma, o Império Romano foi o principal âmbito de desenvolvimento do cristianismo. Essa expansão por cidades do império mudou profundamente a organização social dos romanos.

Os cristãos adotaram o sistema político romano, situando as sedes episcopais nos centros administrativos do império. Ainda hoje, Roma conserva prestígio entre os cristãos católicos, apesar do desaparecimento do império há mais de 1500 anos.

Os concílios ecumênicos

Os concílios ecumênicos da Antiguidade foram reuniões de bispos nas quais se fixaram as normas e os costumes pelos quais a Igreja seria regida.

Ecumênico” é uma palavra de origem greco-latina que significa ‘‘universal”. Nos concílios ecumênicos decidiram-se questões relacionadas à fé, e as posições discordantes foram condenadas como heresias.

A forma de organizar esses concílios foi tomada da tradição grega, segundo a qual os representantes das cidades se reuniam para tratar de assuntos que afetavam o conjunto da sociedade. Em grego, essas reuniões de representantes da cidade eram chamadas synodos, e em latim concilium, de onde vem o nome para designar as reuniões de bispos.

Desde o princípio, a Igreja tinha incorporado o modelo de organização do Império Romano. As populações com categoria de cidadãos tinham uma sede episcopal, e a importância dessa sede estava relacionada a seu caráter político.

O bispo com maior importância do império foi o da capital, Roma, mas rivalizou com bispos de outras sedes da região oriental para conseguir o poder maior.

Existiram diversos tipos de concílios, dependendo do número de bispos convocados. Houve concílios que afetaram uma ou várias províncias e outros, os ecumênicos, que se estenderam a toda a cristandade. Entre estes últimos destacaram-se o de Niceia, em 325; o de Constantinopla, em 381; o de Éfeso, em 431; e o de Calcedônia, em 451.

O cristianismo na idade Média

Durante a Idade Média, o cristianismo tomou-se a religião predominante na Europa. Da Irlanda à Rússia, e da Grécia à península Ibérica, a mensagem cristã se impôs sobre as outras religiões.

Ao longo da Idade Média foram se estabelecendo as crenças oficiais que deveriam ser aceitas por todos, e as autoridades religiosas, com o apoio das autoridades políticas, perseguiram os que pusessem em dúvida esses pontos de vista.

O cristianismo medieval, contudo, não era unitário. No Ocidente, o bispo de Roma, o papa, era a autoridade máxima; no Oriente, vivia-se um cristianismo diferente, que não reconhecia o papa como o chefe único da Igreja cristã.

Durante a Idade Média produziu-se a separação entre os católicos, seguidores do papa de Roma, e os ortodoxos do Oriente, que diziam seguir as formas mais antigas do cristianismo. Essas diferenças permanecem ainda hoje.

O período medieval foi também o momento em que uma nova religião, o islã, formou-se no Oriente, e conquistou regiões da Ásia e da África, nas quais um grande número de cristãos mudou suas crenças. A península Ibérica, conquistada pelos muçulmanos em 711, foi também uma região de enfrentamento, convivência e trocas entre essas religiões. Em 1492 completou-se a Reconquista, processo de expansão cristã que expulsou os muçulmanos do território ibérico.

A Idade Média foi uma etapa fundamental na origem da cultura ocidental moderna. Principalmente entre os séculos XI e XV consolidou-se a cristandade, dirigida por grandes poderes, como o imperador, os reis e o papa, que, em diversas ocasiões, entraram em conflito por motivos políticos. Além disso, muitas das igrejas e catedrais construídas nesse período originaram os estilos românico e gótico, e é possível apreciá-las hoje em suas dimensões artísticas e religiosas.

As universidades também se originaram nesse período, a partir da agremiação de professores e alunos, que, com o tempo, implicou um avanço em todas as áreas do conhecimento.

Ocorreram, nessa época, muitos fenômenos históricos, como as Cruzadas, organizadas pelos cristãos ocidentais com o propósito de apoderarem-se de Jerusalém e da Palestina, o que deu lugar a conflitos que persistem ainda hoje.

Essa época também foi marcada pela afirmação das ortodoxias religiosas que se produziram em oposição às doutrinas consideradas heréticas, que representavam aspirações populares e também eruditas. Nesse período foram criados os tribunais inquisitoriais paroquiais, estabelecidos para combater as doutrinas consideradas desviantes em relação ao catolicismo oficial. Assim, foram sendo consolidadas instituições que se mantêm até a atualidade.

A divisão do cristianismo

A divisão entre católicos e ortodoxos – Cisma do Oriente

A divisão do Império Romano em duas partes, no século IV, marcou a história posterior do cristianismo.

O concilio de Calcedônia de 451 elevou Constantinopla à condição de sede episcopal mais importante do Oriente, equiparando-a em poder à sede romana. Esse acordo não foi aceito pelo papa Leão I (440-461), e assim surgiu o primeiro conflito entre as igrejas do Ocidente e do Oriente, característica do período medieval.

Os problemas entre as sedes permaneceram até 1054, quando ocorreu a ruptura definitiva, o primeiro grande cisma no interior do mundo cristão – a separação oficial da cristandade em duas igrejas.

Os seguidores do papa de Roma formaram a Igreja católica, uma palavra grega que significa “universal”. A Igreja do Oriente foi denominada ortodoxa, que em grego quer dizer “que segue a crença correta”. Os crentes de cada uma das igrejas afirmam que a sua é a mais verdadeira e a que expõe a mensagem cristã do modo mais adequado.

A Reforma protestante

Em 1517, ocorreu uma nova divisão dentro da Igreja Católica Romana, na qual surgiram grupos que protestavam contra algumas regras e imposições da Igreja. Esse movimento ficou conhecido como Reforma Protestante.

A Reforma Protestante surgiu com as ideias do monge alemão Martinho Lutero, após a publicação das suas 95 teses. Nesse período, as pessoas estavam insatisfeitas com o grande poder do Papa e os abusos cometidos por membros da Igreja Católica, o que levou Lutero a condenar a venda de indulgências e o luxo que a Igreja desfrutava. As ideias de Lutero expandiram-se e ele foi excomungado pelo papa Leão XIII, após ter se negado a se retratar.

Lutero considerava a liturgia um importante momento da religião, por esse motivo traduziu a Bíblia para o alemão, possibilitando, assim, que mais pessoas pudessem lê-la.

Vários conflitos e guerras entre católicos e protestantes ocorreram na história, principalmente nos anos entre 1546 e 1555. Atualmente, ainda há conflitos entre membros de tais religiões, como na Irlanda do Norte.

Durante a Reforma Protestante, surgiram outras correntes religiosas, como o calvinismo, liderado por João Calvino, e que deu origem ao presbiterianismo, e o anglicanismo, na Inglaterra, que surgiu do rompimento do rei Henrique VIII com a Igreja Católica.

No Brasil, os protestantes são conhecidos como evangélicos, que são divididos em pentecostais/neopentecostais, de missão ou não determinados e correspondem a cerca de 22% da população.

O cristianismo na atualidade

Existem mais de 2 bilhões de seguidores do cristianismo, divididos em mais de 30 mil igrejas. As mais numerosas são a católica, com mais de 1,1 bilhão, as reformadas majoritárias, com 350 milhões, e a ortodoxa, com 250 milhões.

Grupos principais

Em termos quantitativos, os cristãos estão encabeçados pelos católicos, que, com 1,1 bilhão, representam a metade dos cristãos do mundo. Além disso, trata-se do grupo mais compacto, com escassas divisões. Os dados, no entanto, podem enganar, já que muitos dos que são considerados membros da Igreja católica, por serem batizados, não são praticantes e estão ligados à religião apenas por tradição cultural.

O segundo grupo mais numeroso é o dos protestantes, que somam 350 milhões. As diferenças entre eles são mais notáveis, pois nesse grupo se encontram os anglicanos, os luteranos, as diversas igrejas reformadas, os batistas, os metodistas e os adventistas.

A igreja ortodoxa agrupa 250 milhões de fiéis; outros grupos orientais, entre 20 e 25 milhões mais.

Há também grupos menores, mais dispersos. As diversas religiões independentes africanas podem somar até 110 milhões de seguidores; os pentecostais, outros 150 milhões; as testemunhas de Jeová, 15 milhões; e os mórmons, cerca de 12 milhões. Finalmente, em tomo de 110 milhões de cristãos não estariam incluídos em nenhuma igreja ou grupo.

Por: Paulo Magno Torres

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