História

Reforma Religiosa

A Reforma Religiosa marcou a história do cristianismo na Idade Moderna e produziu o segundo grande cisma entre os cristãos – o primeiro deles havia sido o que separara católicos e ortodoxos na Idade Média.

Os protagonistas dessa nova crise foram chamados “reformadores” ou “evangélicos” porque criticavam a Igreja católica, sua organização e seus dogmas, dizendo que buscavam voltar ao espírito dos primeiros cristãos tal como era narrado nos Evangelhos, reformando as instituições e a vida religiosa.

Os fatores que desencadearam a Reforma Religiosa

Desde o final da Idade Média havia fiéis descontentes com a situação moral e religiosa da Igreja Católica. Na opinião desses fiéis:

  • A alta hierarquia eclesiástica vivia em meio a uma riqueza e a um luxo exagerados.
  • O comportamento mundano – isto é, mais voltado para as coisas materiais – de parte do clero era injustificável; além disso, os religiosos careciam de boa formação teológica.
  • Os cargos eclesiásticos eram comprados por homens que não tinham vocação religiosa e buscavam com isso apenas o benefício econômico.
  • Vendiam-se indulgências, documentos emitidos pelo papado com os quais se comprava um suposto perdão dos pecados.

Em 1515, o papa Leão X ordenou a emissão e a publicação de novas indulgências para ajudar na construção da basílica de São Pedro, em Roma. O monge alemão Martinho Lutero protestou, em 1517, com a publicação de 95 teses contra a doutrina católica. Foi apoiado pelos nobres do Sacro Império Romano-Germânico, que queriam transformar as propriedades da Igreja em seus principados. Em 1520, o papa Leão X condenou as posições de Lutero, excomungando-o no ano seguinte.

Lutero e a Reforma

Martinho Lutero era um monge agostiniano, de origem pequeno-burguesa, da região da Saxônia. Seu rompimento com a igreja católica deu-se em razão da venda de indulgências.

Para concluir a construção da Basílica de São Pedro, o papa Leão X (1513-1521) determinou a venda de indulgências para toda a cristandade e encarregou o dominicano Tetzel de comercializá-las na Alemanha.

Lutero protestou violentamente contra tal comércio e, em 1517, afixou na porta da igreja de Wittenberg, onde era mestre e pregador, 95 proposições onde, entre outras coisas, condenava a prática vergonhosa da venda de indulgências. O papa Leão X exigiu uma retratação, sempre recusada.

Lutero foi excomungado e reagiu imediatamente, queimando em público a bula papal (documento de excomunhão).

Frederico, príncipe eleito da Saxônia e protetor de Lutero, recolheu-o em seu castelo, onde o pensador religioso desenvolveu suas ideias. As principais foram:

  • A justificação pela fé, pela qual as aparências têm valor secundário. A única coisa que salva o homem é a fé. Sem ela, de nada valem as obras de piedade, os preceitos e as regras. O homem está só diante de Deus, sem intermediários: Deus estende ao homem sua graça e salvação; o homem estende para Deus sua fé.
  • Por isso a Igreja não tem função, o papa é um impostor, a hierarquia eclesiástica, uma inutilidade.
  • Outra ideia de Lutero era o livre-exame. A Igreja era considerada incompetente para salvar o homem; por isso sua interpretação das Sagradas Escrituras não era válida: Lutero queria que todos os homens tivessem acesso à Bíblia (por isso a traduziu do latim para o alemão). Todo homem poderia interpretar a Bíblia segundo sua própria consciência, emancipando-se no plano da ideologia religiosa.

Muitos governantes alemães, cansados das imposições papais e do poder da Igreja, converteram-se ao luteranismo. Quando protestaram porque a Igreja queria obrigá-los a manter o culto católico nos territórios que governavam, foram chamados “protestantes“.

Reforma de Calvino

Enquanto a Reforma luterana se disseminava pela Alemanha, os franceses tentavam elaborar uma reforma mais pacífica, orientada pelos humanistas. Mas os setores católicos conservadores, que dominavam a Universidade de Sorbone, impediram o trabalho dos humanistas, preparando terreno para uma reforma muito mais radical e intransigente, liderada por João Calvino.

Calvino era ex-aluno da Universidade de Paris, nascido em 1509 de uma família pequeno-burguesa e estudioso de leis. Em 1531 aderiu às ideias reformistas, bastante difundidas nos meios cultos da França. Perseguido por causa de suas ideias, foi obrigado a fugir para a cidade de Basileia, onde publicou, em 1536, a Instituição da Religião Cristã, definindo seu pensamento.

Calvino, como Lutero, partia da salvação pela fé, mas suas conclusões eram bem mais radicais; o homem seria uma criatura miserável, corrompida e cheia de pecados; somente a fé poderia salvá-lo, embora essa salvação dependesse da vontade divina — esta era a “ideia da Predestinação”.

Calvino foi para a Suíça, estabelecendo-se em Genebra, em 1536. A Suíça já conhecia o movimento reformista através de Ulrich Zwinglio e era um lugar propício para Calvino desenvolver suas ideias. Mas o fator principal para a difusão do calvinismo na Suíça foi a concentração, nesta região, de um número razoável de comerciantes burgueses, desejosos de uma doutrina que justificasse suas atividades lucrativas.

Calvino transformou-se num verdadeiro ditador político, religioso e moral de Genebra. Formou um consistório (espécie de assembleia), composto por pastores e anciãos, que vigiava os costumes e administrava a cidade, inteiramente submetida à lei do evangelho. Eram proibidos o jogo a dinheiro, as danças, o teatro, o luxo.

Calvino ofereceu uma doutrina adequada à burguesia capitalista, pois dizia que o homem provava sua fé e demonstrava sua predestinação através do sucesso material, do enriquecimento. Defendia o empréstimo de dinheiro a juros, considerava a pobreza como sinal do desfavor divino e valorizava o trabalho, o que ia ao encontro dos anseios da burguesia, que tinha no trabalho o elemento necessário para acumular o capital.

A difusão do Calvinismo

O calvinismo se difundiu na França, nos Países Baixos e na Escócia. Na França e nos Países Baixos sofreu resistência, mas na Escócia foi adotado como religião oficial.

Foi John Knox (1505-1572) o introdutor do calvinismo na Escócia, e suas teorias foram rapidamente aceitas pela nobreza, interessada nas propriedades da igreja católica. Knox conseguiu que a religião católica fosse proibida pelo Parlamento escocês. A igreja escocesa foi organizada segundo o modelo da Igreja de Genebra e recebeu o nome de igreja presbiteriana, devido ao papel desempenhado pelos mais velhos (presbysteroi, em grego).

Na França, os huguenotes (calvinistas) envolveram-se nas sangrentas guerras de religião que marcaram as lutas políticas do país. ”

Reforma Anglicana

Na Inglaterra, a difusão da Reforma foi facilitada pela disputa pessoal entre o soberano, Henrique VIII, e o papa. Henrique VIII era católico, mas rompeu com o papa quando este se recusou a dissolver seu casamento com Catarina de Aragão, que não lhe havia dado um filho homem. Ignorando a decisão papal, Henrique VIII casou-se, em 1533, com Ana Bolena, sendo excomungado pelo papa Clemente VII.

O soberano encontrava assim uma justificativa para impedir que o poder da Igreja ofuscasse a autoridade de um rei absolutista. Além do mais, os bens da Igreja passaram para as mãos da nobreza, que apoiava o rei. Desta forma, as propriedades da nobreza aumentaram, facilitando a nova atividade econômica de produção de lã, que era pro­curada pelas manufaturas de tecidos.

A oficialização do rompimento entre Henrique VIII e o papado deu-se quando o Parlamento inglês aprovou o Ato de Supremacia, que, em 1534, colocou a Igreja sob a autoridade real: nascia a igreja anglicana.

“Rei é o chefe supremo da Igreja da Inglaterra (…) Nesta qualidade, o Rei tem todo o poder de reprimir, corrigir erros, heresias, abusos (…) que sejam ou possam ser informados legalmente por autoridade espiritual”

(Ato de Supremacia, 1534)

Pelo Ato dos Seis Artigos, assinado em 1539, Henrique VIII mantinha todos os dogmas católicos, exceto o da autoridade papal. Esta dubiedade foi atacada tanto por protestantes como por católicos: os protestantes reprovavam a fidelidade aos dogmas católicos, e os católicos reprovavam o cisma.

Eduardo VI, filho e sucessor de Henrique VIII, impôs ao país a obrigatoriedade do culto calvinista. Maria Tudor, sua sucessora, tentou, sem sucesso, restaurar o catolicismo. Com a morte de Maria Tudor, subiu ao trono Elizabeth 1 (1558-1603), que instituiu oficialmente a religião anglicana, através de dois atos famosos: o Bill da Uniformidade, que criava a liturgia anglicana, e o Rui dos 39 Artigos, que fundamentava a fé anglicana.

A reforma nos Estados Escandinavos

Desde o século XIV, a Suécia e a Noruega estavam submetidas ao reino da Dinamarca. Em 1523, o nobre sueco Gustavo Vasa proclamou a independência de seu país, transformando-se em rei da Suécia. Para obter recursos para administrar o novo país, Gustavo confiscou os bens da Igreja, convertendo-se ao luteranismo.

O rei da Dinamarca, que ainda dominava a Noruega, seguiu o exemplo de Gustavo, confiscando os bens da Igreja e convertendo-se ao luteranismo em 1535. A influência católica praticamente desapareceu desses países. ”

O desenvolvimento da Reforma na França gerou consideráveis conflitos. Merece destaque o massacre dos protestantes na conhecida noite de São Bartolomeu, em 1572

Bibliografia

PEDRO, Antonio, 1942 – História: Compacto, 2º Grau / Antonio Pedro,. – Ed. Atual., ampl. e renovada. São Paulo: FTD, 1995.

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