História

Renascimento Comercial e o surgimento da burguesia

O Renascimento Comercial está diretamente ligado à expansão europeia contra o Islão. As Cruzadas consolidaram a reabertura do Mediterrâneo, restabelecendo as ligações comerciais entre o Ocidente e o Oriente. Também ampliaram os mercados e intensificaram o uso do dinheiro – até porque os cruzados se apoderaram de moedas ou de metais preciosos mais tarde amoedados.

O contato com os islamitas ensinou aos cristãos certas técnicas comerciais, como a contabilidade, o uso das letras de câmbio e a noção de banco.

Dentro da própria Europa, diversos fatores contribuíram para o progresso das atividades comerciais. O fim das invasões árabes, normandas, húngaras e eslavas produzira um acentuado crescimento demográfico e, consequentemente, ampliara os mercados. A disponibilidade de mão-de-obra levou ao cultivo de novas terras, cujos ocupantes se estabeleciam na condição de homens livres.

Enquanto isso, o sistema feudal, cuja produção era adequada apenas para o consumo local, não conseguia atender ao crescimento da demanda, tomando-se incompatível com as novas condições históricas. Sua crise e decadência iriam levá-lo à desintegração, séculos depois.

Surgimento da Burguesia

Uma vez que a produção do feudo se tomou insuficiente para sustentar todos os seus habitantes, muitos deles começaram a sair. Isso aconteceu tanto com os vilões (que saíam livremente) como com os servos (que fugiam, ou às vezes eram expulsos por seus senhores). Esses elementos marginalizados dirigiam-se para os aglomerados urbanos, na esperança de lá ganharem a vida. Participavam de uma cruzada, roubavam, ingressavam na escolta de alguma caravana ou formavam bandos de salteadores. Qualquer atividade servia, desde que garantisse sua sobrevivência. Houve aqueles que se dedicaram ao comércio ambulante, formando o embrião do que mais tarde seria a burguesia.

As rotas de comércio foram um elemento essencial do Renascimento Comercial, pois constituíam as artérias por onde fluía a vida mercantil da época. As principais rotas da Europa eram as do Mediterrâneo, do Mar do Norte e da Champagne.

A rota do Mediterrâneo ligava Constantinopla e Alexandria aos portos da Europa. Era dominada pelas cidades de Gênova e Veneza, que haviam conseguido obter monopólios comerciais (fondacos) nos principais portos do Mediterrâneo Oriental. Veneza, por exemplo, monopolizava o comércio com Constantinopla.

A rota do Mar do Norte ligava aquele mar ao Báltico e penetrava no interior da Rússia, onde seguia os antigos caminhos percorridos pelos varegues (normandos originários da Suécia). Descendo o curso dos rios Dnieper, Dniester e Don, os mercadores alcançavam o Mar Negro e de lá chegavam a Constantinopla, onde vendiam peles, mel, trigo, âmbar e metais.

A rota da Champagne ligava a Itália à Flandres passando pela região da Champagne, na França. A Flandres possuía inúmeras manufaturas de panos e um comércio bastante desenvolvido, enquanto a Itália fornecia artigos de luxo, produzidos localmente ou importados do Oriente.

As principais rotas de comércio eram ligadas a outras secundárias. A rota da Inglaterra unia as Ilhas Britânicas à Flandres principalmente pelo comércio de lã. Para chegar à Champagne, os comerciantes espanhóis utilizavam a rota dos Pireneus; os alemães, a rota do Reno.

O grande número de mercadores circulando pelas rotas levou-os a fixar certos pontos do caminho para realização de trocas comerciais — geralmente locais protegidos por um castelo, ou então cruzamentos de rotas (nós de trânsito). Ali, os comerciantes se reuniam para negociar suas mercadorias durante um período predeterminado.

Tais encontros recebiam o nome de feiras. Sua importância foi imensa para o desenvolvimento do comércio na Baixa Idade Média. Eram eventos sazonais, criados por um edital de feira; neste, o senhor local prometia proteção militar e policial aos participantes, e assegurava o funcionamento de um tribunal internacional para julgar os litígios. Em troca, reservava-se o direito de cobrar um imposto por cabeça — a capitação — sobre todos os que entrassem na feira. E os produtos que tocassem o solo lhe pertenceriam por um direito costumeiro.

As principais feiras da Europa realizavam-se na Champagne e atraiam negociantes de todas as partes. Cada uma durava sete semanas, podendo ser semestral ou anual. Também havia feiras importantes na Flandres, na Itália, na Alemanha, na Inglaterra e na Espanha. Muitos locais onde se realizavam feiras deram origem a burgos — núcleos urbanos com intensa vida comercial e ativa produção artesanal.

A multiplicação das feiras levou à utilização das letras de câmbio (originariamente letras de feira), isto é, papéis valendo uma determinada importância e que podiam ser descontados por seu portador em outra cidade. Concomitantemente, a grande variedade de moedas em circulação criou os mecanismos de câmbio; nas feiras sempre havia cambistas, que trocavam para os clientes moedas de procedências diversas, O empréstimo a juros tornou-se prática corrente e foram fundadas as primeiras casas bancárias. Graças a tudo isso, começou a se processar na Europa uma acumulação capitalista primitiva, apesar de a usura ser condenada pela Igreja.

As feiras alcançaram seu apogeu no século XIII; em seguida declinaram, para dar lugar aos mercadores com diversos cambistas, que trocavam para os clientes moedas estabelecimentos sediados nas cidades.

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