Literatura

Gênero Dramático

O gênero dramático apreende a obra literária em verso ou prosa, mais conhecida como peça teatral. É feita para ser encenada por atores e construída de diálogos, seja eles para cinema, teatro ou televisão.

Para que o público se simpatize com a obra alguns fatores devem ser considerados, como cenário, figurino (vestimentas), elenco, desempenho dos atores, gestos, além do próprio conteúdo da obra.

Integram-se ao gênero dramático:

  1. Auto: representação que faz uso de alegoria pra fins místico, pedagógico ou moral. Geralmente são peças breves com tema religioso ou profano, ligadas aos mistérios e moralidades.
  2. Comédia: representação de algo inspirado na vida, a fim de criticar ou satirizar os costumes.
  3. Tragédia: representação de um fato trágico com o intuito de obter compaixão.
  4. Tragicomédia: é a mistura do trágico com o cômico, entretanto, já foi a junção do real com o imaginário.
  5. Farsa: peça teatral com características caricaturais e ridículas. Tem como objetivo criticar a sociedade e os costumes. Um grande autor a ser citado é Gil Vicente que ficou conhecido pelas suas inúmeras farsas, dentre elas, a Farsa de Inês Pereira, a Farsa do velho da horta.

Você sabia?

O teatro antigo era encenado com máscaras que recebiam o nome de persona, per sonare = soar através de. As máscaras eram confeccionadas para que a voz do ator alcançasse uma longa distância, já que as peças eram encenadas em teatros de arena enormes. Então, surgiu a palavra personagem.

Leia um trecho do final da Farsa de Inês Pereira, em que Pero Marques carrega Inês Pereira nas costas.

A Farsa de Inês Pereira é um exemplo de gênero dramático

Inês: Sabeis vós o que eu queria?
Pero: Que quereis, minha mulher?
Inês: Que houvésseis por prazer
de irmos lá em romaria.
Pedro: Seja logo, sem deter!
Inês: Este caminho é comprido:
contai uma história, marido.
Pedro: Por certo que me praz, mulher.
Inês: Passemos primeiro o rio;
descalçai-vos.
Pedro: E pois como?
Inês: E levar me-eis ao ombro,
não me faça mal o frio.

Põe-se Inês Pereira às costas do marido, e diz:
Inês: Marido, assi me levade.
Pedro: Ides à vossa vontade?
Inês: Como estar no Paraíso!
Pero: Muito folgo eu com isso.
Inês: Esperade ora, esperade!
Olhai que lousas aquelas,
Pera poer as talhas nela!
Pero: Quereis que as leve?
Inês: Si. Uma aqui e outra aqui.
Oh, como folgo com elas!
Cantemos, marido, quereis?
Pedro: Eu não saberei entoar…
Inês: Pois hei só de cantar
E vós me respondereis
Cada vez que eu acabar:
“Pois assi se fazem as cousas”.

Canta Inês Pereira:
Inês: “Marido cuco me levades
E mais duas lousas.”
Pero: “Pois assi se fazem as cousas.”
Inês: “Bem sabedes vós, marido,
Quanto vos amo.
Sempre fostes percebido
Pera gamo.}
Carregado ides, noss’amo,
Com duas lousas.”
Pero: “Pois assi se fazem as cousas.”
Inês: “Bem sabedes vós, marido,
Quanto vos amo.
Sempre fostes percebido
Pera cervo.
Agora vos tomou o demo?
Com duas lousas.”
Pero: “Pois assi se fazem as cousas.”
E assi se vão, e se acaba o dito auto.
LAUS DEOS
(Deus seja louvado.)

VICENTE, Gil. Farsa de Inês Pereira. São Paulo: Martin Claret, 2001.

Por: Miriã Lira

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