Pedagogia

História da Educação a Distância no Brasil e no Mundo

Ao analisar os conceitos de renomados pesquisadores, Keegan sintetiza-se alguns elementos fundamentais que caracteriza a educação a distância: separação física entre o professor e o aluno, principal distinção em relação a educação presencial, influência da organização educacional, utilização de meios técnicos de comunicação, previsão de uma comunicação de mão dupla, possibilidade de encontros presenciais, participação de uma forma industrializada de educação.

Para compreender o processo de desenvolvimento da Educação a Distância hoje, precisa-se conhecer sua história, origem, passado, evolução, e consequentemente suas implicações, desafios e possibilidades atuais.

A história da educação a distância no Brasil e no mundo

Segundo Barros (2003), os primeiros indícios de utilização da Educação a Distância remontam ao século XVIII, quando um curso por correspondência foi oferecido por uma instituição de Boston (EUA). A partir de então, é possível estabelecer uma cronologia da evolução da EAD no mundo.

EADAs primeiras experiências surgiram no século XIX, apresentando uma concentração maior na Europa, com o oferecimento de cursos por correspondência na Suécia, Reino Unido e Espanha, além dos Estados Unidos. No início do século XX, países como Austrália, Alemanha, Noruega, Canadá, França e África do Sul começam a realizar suas primeiras experiências com esse tipo de ensino.

Entretanto, apenas na segunda metade do século XX é que a educação a distância começou a se fortalecer e a se estabelecer como uma importante modalidade de ensino.

Em 1969, na Inglaterra, é autorizada a abertura da British Open University, considerada como um importante acontecimento dentro da evolução da EAD por trazer inovações nos instrumentos de comunicação entre professores e alunos, assim como na recepção e envio dos materiais educativos, sendo pioneira nesta modalidade de ensino superior a distância.

Segundo Litwin (2001, p. 15), a Open University “[…] mostrou ao mundo uma proposta com um desenho complexo, a qual conseguiu, utilizando meios impressos, televisão e cursos intensivos em períodos de recesso de outras universidades convencionais, produzir cursos acadêmicos de qualidade. […] A Open University transformou-se em um modelo de ensino a distância”.

Litwin (2001) e Barros (2003) também citam a criação da Universidade Nacional de Educação a Distância, na Espanha, em 1972, que surgiu com ideias atrativas para estudantes de graduação e pós-graduação do mundo inteiro, com grande parcela de alunos latino-americanos.

Na América Latina, países como Costa Rica, Venezuela, El Salvador, México, Chile, Argentina, Bolívia e Equador também implementaram programas de Educação a Distância, como aponta Barros (2003).

Litwin (2001) afirma que instituições como a Universidade Aberta da Venezuela e a Universidade Estatal a Distância da Costa Rica, ambas criadas em 1977, adotaram o modelo da British Open University de produção e implementação.

No Brasil, o desenvolvimento da EAD tem seu início no século XX, em decorrência do iminente processo de industrialização cuja trajetória gerou uma demanda por políticas educacionais que formassem o trabalhador para a ocupação industrial. Dentro desse contexto, a Educação a Distância surge como uma alternativa para atender à demanda, principalmente através de meios radiofônicos, o que permitiria a formação dos trabalhadores do meio rural sem a necessidade de deslocamento para os centros urbanos.

A história da educação a distância no Brasil esteve sempre ligada à formação profissional, capacitando pessoas ao exercício de certas atividades ou ao domínio de determinadas habilidades, sempre motivadas por questões de mercado.

A partir dos anos 30, as políticas públicas viram na Educação a Distância uma forma de atingir uma grande massa de analfabetos sem permitir que houvesse grandes reflexões sobre questões sociais.

Com o estabelecimento do Estado Novo, em 1937, a educação passou a ter o papel de “adestrar” o profissional para o exercício de trabalhos essenciais à modernização administrativa. Dentro deste contexto de formação profissional, surgem o Instituto Rádio-Técnico Monitor em 1939, e o Instituto Universal Brasileiro, em 1941, como aponta Nunes (1992).

Foram várias experiências radiofônicas até a implantação da televisão no Brasil, nos anos 50, que possibilitou o desenvolvimento de ideias relacionadas ao uso deste novo meio de comunicação na educação. Dessa maneira, nos anos 60, surgem as televisões educativas. Já na década de 70, a Educação a Distância começa a ser usada na capacitação de professores através da Associação Brasileira de Teleducação (ABT) e o MEC, através dos Seminários Brasileiros de Tecnologia Educacional.

Ainda no contexto do rádio, é criado em 1973 o Projeto Minerva, que disponibilizou cursos para pessoas com baixo poder aquisitivo. Na mesma época surge o Projeto Sistema Avançado de Comunicações Interdisciplinares (SACI) que, dentro de uma perspectiva de uso de satélites, chegou a atender 16.000 alunos entre os anos de 1973 e 1974.

Em 1978 é criado o Telecurso 2º grau, através de uma parceria da Fundação Padre Anchieta e Fundação Roberto Marinho. Seu foco era a preparação de alunos para exames supletivos de 2º grau.

Já em 1979 temos a criação da Fundação Centro Brasileiro de Televisão Educativa (FCTVE), utilizando programas de televisão no projeto Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL). Neste mesmo ano, a Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Ensino Superior (CAPES) faz experimentos de formação de professores do interior do país através da implementação da Pós- Graduação Experimental a Distância.

Já em 1984, em São Paulo, é criado o Projeto Ipê, com o objetivo de aperfeiçoar professores para o Magistério de 1º e 2º graus. Na década de 90 temos, em 1995, a reformulação do Telecurso 2º Grau, que passa a se chamar Telecurso 2000, incluindo nesse o curso técnico de mecânica.

Nessa mesma década, surge o projeto “Um Salto para o Futuro” que objetivava o aperfeiçoamento de professores das séries iniciais. Em 1995, também é criada a Secretaria de Educação a Distância (SEED/MEC) que desenvolveu e implantou, em 2000, um curso a distância vinculado ao Projeto TV Escola, também objetivando a formação de professores.

Educação a distanciaAinda nos anos 90, podemos citar a criação do Canal Futura, uma iniciativa de empresas privadas para a criação de um canal com programas exclusivamente educativos.

Para Barros (2003), assim como as exigências educacionais sofreram grandes alterações advindas das mudanças nas relações de trabalho com a Revolução Francesa e a Revolução Industrial, hoje vivenciamos a revolução das tecnologias, mais especificamente das tecnologias da informação, que mais uma vez afeta as relações de trabalho, e isso certamente se reflete na educação.

Duas tendências educacionais se firmaram no Brasil, no contexto da Educação a Distância, segundo Barros (2003, p. 52): “[…] a universalização das oportunidades e a preparação para o universo do trabalho”.

Autores como Nunes (1992) observam que, em todo o seu processo histórico, a Educação a Distância sofreu todo um processo de transformação, principalmente no que diz respeito ao preconceito sofrido por essa modalidade. Aos poucos, a Educação a Distância está perdendo o estigma de ensino de baixa qualidade, emergencial e ineficiente na formação do cidadão.

Porém, como toda modalidade de ensino, não se constitui na solução para todos os problemas. Atualmente vivencia-se novos desafios, principalmente no que diz respeito ao impacto nas novas tecnologias na Educação a Distância.

REFERÊNCIAS

BRASIL. www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004…/decreto/D5622.htm. BARROS, D. M. V. Educação a Distância e o Universo do Trabalho. Bauru-SP:

EUDSC, 2003.

DELORS, J. et al. Educação, um tesouro a descobrir – Relatório para Unesco da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI. São Paulo: Cortez/Unesco, 1998.

LOPES. Maria Cristina L.P, Dorsa. Arlinda Cantero, Salvago. Blanca Matín, Sanavria. Cláudio Zarate, Pistori. Jéferson. O Processo Histórico da Educação a Distância e Suas Implicações: Desafios e Possibilidades.

Por: Iara Maria Stein Benítez em 30/05/2012
Colaboradora do site Cola da Web

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