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Sociolinguística


Sociolinguística variacionista e suas aplicações metodológicas

As práticas metodológicas quanto ao ensino de língua materna (LM) estão sendo revistas a todo instante por estudiosos do ensino, da gramática e da linguística. Esta última, tema abordado pelas autoras Márluce Coan e Raquel Meister Ko. Freitag no artigo Sociolinguística variacionista: pressupostos teórico-metodológicos e propostas de ensino. Inicialmente as autoras fazem um panorama sobre a condição da Sociolinguística, em seguida fazem uma correlação com as práticas didáticas de ensino, vale ressaltar a menção sobre os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) que direcionam a prática docente no ensino de LM.

Labov, um dos grandes nomes da Teoria da Variação e Mudança Linguística, propõe o estudo da estrutura e evolução da língua considerando seu contexto social nas comunidades de fala, a fim de compreender sua sistematização e ampliar a competência linguística. Assim, compreende-se que nenhuma língua é homogênea como acreditavam Saussure e Chomsky, pois a língua é um organismo vivo que está em constante transformação de acordo com a necessidade de seus usuários.

Nesse contexto é importante mostrar isso ao discente durante as aulas de língua materna para que ele compreenda a influência do meio social sobre a língua e como essa é capaz de incluir ou excluir o indivíduo socialmente, portanto, segundo as autoras, “a escola não pode ignorar as diferenças sociolinguísticas”. Os PCNs afirmam que é preciso ter em mente a ressignificação da noção de erro, assim, faz-se necessário mostrar ao estudante que ele precisa adaptar sua linguagem conforme cada situação, assim como, precisa compreender as variações linguísticas que ocorrem em um idioma.

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Objetivando esclarecer essa importância as autoras fazem algumas propostas interessantes que devem ser consideradas. A primeira é sobre o uso de bancos de dados sociolinguísticos, PEUL e VARSUL, durante as aulas que, a meu ver, podem ser um material de suporte excelente para a demonstração das variações linguísticas existentes na língua portuguesa, assim como, a própria sala de aula pode ser usada como objeto de estudo, pois geralmente se tem uma sala mista.

A segunda proposta depreende sobre a heterogeneidade da língua e a necessidade do docente levar isto às aulas, por meio de exemplos do cotidiano, como maneira de mostrar a correlação entre o uso da língua e a norma. Entretanto, vale ressaltar que tudo tem uma ordem de funcionamento, até mesmo os ditos “desvios”, portanto, é preciso esclarecer certos mitos que afirmam existir “certo” e “errado” quando na verdade o que existem são adequações.

A última proposta afirma ser possível falar de heterogeneidade utilizando excertos da produção literária e história em quadrinhos. Através desses gêneros textuais é possível trabalhar conceitos de variáveis e variantes, variações linguísticas, diferenças entre a língua portuguesa do Brasil e de Portugal, rotacismo e estereótipos linguísticos.

Partindo desses pressupostos compreende-se a importância capacitar o docente para que este consiga fazer uso dos estudos sociolinguísticos e mostre ao discente o lado prático do nosso idioma, a sua heterogeneidade e as diferenças linguísticas. Portanto, o professor não deve apresentar o estudo de língua portuguesa descontextualizado, é preciso contextualizar, inclusive as análises sintáticas. Assim, se faz necessário preparar um cidadão crítico e consciente para que este respeite as diferenças sociolinguísticas e a pluralidade sociocultural.

Por: Miriã Lira

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