Psicologia

Psicologia Social


Nascimento da psicologia Social

Nasce na segunda metade do Séc XIX, em alguns países da Europa, e um pouco mais tarde nos Estados Unidos e outros países. Para alguns, a Psicologia Social surgiu no ano de 1859, junto com a edição da revista “Grande Enciclopédia Soviética”, de Steintahl e Lazarus.  Esta revista coloca a Psicologia Social como um ramo da psicologia burguesa. Para outros, a Psicologia Social surge nos últimos anos do séc.XIX, junto ao processo de psicologização da Sociologia. Como se pode observar, não há um consenso quanto à data e ao contexto em que nasceu a Psicologia Social.

A Psicologia Social não-soviética tem em comum com a Sociologia burguesa a tendência a justificar a ideologia do capitalismo. Mas não se pode reduzir a Psicologia Social burguesa à sua função ideológica; ela também se ocupa de problemas reais, e dispõe de métodos para obter e elaborar a informação científica.

Segundo Kuzmin, a Psicologia Social tomou dois caminhos distintos: um tenta atender as necessidades da Psicologia; o outro, atende à política das classes dominantes (tal como a Sociologia burguesa). Assim sendo, torna-se difícil afirmar que a Psicologia Social está mais próxima da Psicologia ou da Sociologia.

Para Mansurov, a Psicologia Social surge graças aos êxitos das várias Ciências Sociais. Entretanto, reconhece que só esse motivo não foi o bastante; o que influiu mesmo foram os interesses ideológicos e políticos da burguesia.

Mansurov reforça a ideia dos que veem a Psicologia Social como um ramo da Sociologia burguesa, pronta para defender a classe dominante do crescente movimento revolucionário da classe operária.

Segundo Pariguin (autor do texto), a Psicologia Social vai muito além desse caráter ideológico que alguns estudiosos tentam impor a ela. Seria medíocre acreditar numa Psicologia Social servindo apenas aos interesses de uma minoria.

Quem fugiu um pouco dessa análise simplista foi I.S.Kon, relacionando o surgimento da Psicologia Social com a psicologização da Sociologia. Para ele, a Psicologia do meado do nosso século ignorava os fatores sociais e a natureza específica da consciência coletiva. Ocupava-se apenas da Psicologia do indivíduo.

Para o autor, considerar as raízes gnosiológicas da Psicologia Social é tão importante quanto considerar suas raízes sociais. Assim sendo, a Psicologia Social surge também para atender as necessidades do desenvolvimento do saber científico.

Fontes da Psicologia Social:

Gordon Allport aponta Platão como fundador da tendência irracionalista na Psicologia Social. Isso porque Platão subestimava a capacidade de raciocínio das massas. De um modo geral, os filósofos antigos desprezavam o papel das massas populares na sociedade.

Helvécio destacava a importância do meio social para a educação do homem x  o papel da consciência e das paixões do indivíduo para o desenvolvimento da sociedade.

Feuerbach deu ênfase ao fator emocional no processo de comunicação das pessoas, e às relações humanas no desenvolvimento de todas as relações sociais.

Hegel foi um dos que psicologizaram o processo histórico. Ele justificava as ações das massas como advindas de suas necessidades e paixões.

Muitas questões relativas à Psicologia Social estão presentes nas obras dos primeiros pensadores burgueses. A despeito disso, não podemos considerá-los fundadores da Psicologia Social como disciplina científica independente.

Impensável também, creditar aos idealistas subjetivos a criação da Psicologia Social, visto que eles tinham como realidade única o mundo subjetivo da pessoa.

E os idealistas objetivos ? Consideravam como realidade única tão somente a ideia absoluta. Também estão descartados como criadores da Psicologia Social.

A luta de classes, que foi o fio condutor das revoluções burguesas dos séculos XVII-XIX, trouxe à tona a necessidade de um estudo acerca da psicologia dos movimentos de massas, para a compreensão adequada do sentido dos acontecimentos históricos.

Nesse momento de crise da tradicional concepção idealista da história, quem melhor traduziu as particularidades psicossociais de certas camadas foi Balzac, com seus retratos sobre os tipos sociais da França do séc. XIX.

Balzac conseguiu atrair a atenção de filósofos e sociólogos para os problemas da psicologia das classes, através da sua arte.

Para Labriola, foi Balzac, e não Augusto Comte, quem descobriu a psicologia  de classes.

Indo de encontro ao pensamento burguês, os historiadores franceses Thierry, Mignet e Guizot foram os primeiros a reconhecer o papel relevante das massas populares na história.

Segundo Thierry, é mais cômodo para a maioria dos historiadores atribuir a algum herói certas mudanças de ordem profunda na sociedade, ao invés de admitir o papel imprescindível do povo nessas mudanças.

Os trabalhos de Marx e Engels tiveram grande influência sobre os sociólogos e psicólogos burgueses, que passaram a considerar o movimento revolucionário das massas como força progressista do desenvolvimento histórico.

O estudo da psicologia dos povos e das massas é fator originante da Psicologia Social.

Nascimento da Psicologia como ramo de destintos setores da sociologia:

Vários setores da Sociologia tinham interesse pelo desenvolvimento da Psicologia Social. A Linguística, por exemplo, foi primordial para a Psicologia Social propriamente dita, através dos trabalhos de Lazarus, Stheinthal, e até mesmo de Wilhelm Wundt.

Além da Linguística, influíram também a Antropologia, a Etnografia e a Arqueologia. Mais especificamente na área psicológica, encontramos influências da Psicologia Geral e da Psiquiatria.

Podemos localizar as primeiras bases da orientação psicossocial na Psicologia, nos trabalhos dos psicólogos Baudouin e McDougall, Wundt e Ribot.

No início do séc. XX, o psiquiatra Sigmund Freud utilizou-se da Psicologia Social para estudar o caráter social e psiquicamente condicionado das neuroses e psicoses de massas.

Particularidades do nascimento da corrente psicológica na sociedade burguesa:

Cronologicamente, podemos situar o processo de psicologização da Sociologia burguesa na última década do século passado. Aceito esse processo, muitos sociólogos burgueses não tiveram outra saída a não ser admitir que “ ao século dos heróis sucedia o século das massas”, como afirmou o sociólogo e publicista francês G. Le Bon.

Mas, apesar de reconhecerem o poder das massas, os sociólogos burgueses e os psicólogos sociais ainda guardavam resquícios das tradições filosóficas. Reforçando essas tradições, a defesa do capitalismo apontava o movimento revolucionário das massas como algo irracional e destrutivo.

Dessa forma, os psicossociólogos burgueses não foram capazes de legitimar o importante papel das massas na história, dentro de uma concepção científica.

O psicossociólogo G. Tarde e o sociólogo Mikhailovski consideravam de fundamental importância a autoridade do herói e seu poder de sugestão sobre o inconsciente coletivo. Acreditavam que o povo necessita de um modelo a ser imitado, por não ser capaz de agir de forma consciente.

Vendo na Psicologia Social um instrumento ideológico, pronto para defender a exploração dos trabalhadores, reacionários como G. Tarde, Le Bon e Sighele elaboraram a Psicologia Social nessa direção, tratando os povos como anarquistas e bandidos, destruidores da ordem.

Para Le Bon, conhecer as particularidades psicológicas de um povo é o primeiro passo para dominá-lo.
A Psicologia Social como ciência independente nasce entre 1930-1940.

Etapas fundamentais do desenvolvimento da psicologia social burguesa. Seus ramos e traços característicos

A psicologia social burguesa do final do séc. XIX e inicio do séc. XX:

Podemos distinguir duas etapas no desenvolvimento da Psicologia Social burguesa: a primeira vai da segunda metade do séc. XIX até o primeiro quartel do séc. XX; a segunda vai desse período até os dias atuais.

No primeiro período, duas tendências são notadas: uma vê a psicologia do indivíduo como produto da sociedade; outra está centrada no indivíduo ( psico-individual ), e tenta  explicar tanto a psicologia da sociedade como todas as outras manifestações da vida social. Dentro desta tendência, encontram-se duas correntes: a organicista e da psicologia profunda.

Os organicistas baseavam-se nas reações psíquicas elementares que o homem herdou dos animais, para explicar os fenômenos da vida social.

Os que se ocuparam da psicologia profunda ( dentre eles, Freud ) tentavam descobrir o mecanismo psicológico da conduta do indivíduo, considerando o impulso sexual. Contudo, a concepção psicossocial de Freud é anticientífica.

Diferentemente de Freud, Mikhailovski e G. Tarde situavam os processos psíquicos inconscientes na autoridade do indivíduo e na capacidade imitativa das massas.

Apesar das divergências todos os representantes da psicologia profunda procuravam explicar a vida social por fatores psicológicos.

Entre fins do séc. XIX e início do séc. XX, desenvolveu-se na Psicologia Social a tendência sociológica, que colocava o indivíduo como produto da sociedade. Ribot, Blondel e Piaget defendiam essa ideia.

Outra corrente que surge nesse período na Psicologia Social é a tendência biossocial. Os neopositivistas P. Caullet e E. V. de Roberti foram representantes dessa corrente.

Augusto Comte enfatiza o caráter socialmente condicionado da psique humana; Durkheim fala do caráter socialmente determinado das funções psíquicas.

Dentro da corrente biossocial, surge o behaviorismo, que considerava os fatores biológicos, interagindo com os processos fisiológicos e o meio social.

O behaviorismo, que teve seu auge durante a Primeira Guerra Mundial, mais tarde foi perdendo terreno para a psicologia profunda, sobretudo para o freudismo, e depois para o neofreudismo.

Um aspecto relevante da Psicologia Social burguesa é a sua tendência ao monismo, como se um único fenômeno pudesse explicar toda a Psicologia.

Outra característica desse período é a concepção irracionalista do homem, de sua psique e de sua conduta. Este pensamento ia de encontro às ideias racionalista de Kant, Hegel e Herbart.

O rápido desenvolvimento das concepções irracionalistas na Psicologia Social tinham base na crise política e ideológica, e também na Filosofia burguesa.

Na Psicologia Social desse período também destacava-se o conceptualismo, que pretensamente elaborava esquemas teóricos gerais para explicar todos os fenômenos sociais.

A psicologia social bruguesa no sec. XX:

Entre os anos 20 e momento atual situa-se a segunda grande etapa da história da Psicologia Social burguesa.

A função aplicada da Psicologia Social nesta fase faz com que diminua o interesse dos psicólogos pelas questões teóricas. Passa-se das amplas generalizações filosóficas para o estudo de pequenas esferas e pequenos grupos sociais.

Após a Segunda Guerra Mundial, os sociólogos e psicólogos sociais burgueses direcionaram seu  objeto de estudo para os pequenos grupos sociais. A partir daí, o pequeno grupo passa a ser visto como a espinha dorsal de toda a estrutura da Psicologia Social.

Esta concepção microssociológica tem a intenção de mascarar as diferenças de classes, aparentando uma homogeneidade social na sociedade burguesa contemporânea.

Uma das características desta corrente é a tentativa de fundamentar o empirismo como método fundamental de investigação.

A oposição entre os métodos empíricos de investigação e a teoria vem comprovar a grande crise metodológica da moderna Psicologia Social burguesa.

Em 1924, Allport generalizou a experiência das primeiras investigações experimentais, assentando as primeiras bases da elaboração metodológica dos problemas relacionados com a experimentação psicossocial.

Embora o experimento psicossocial mereça seu reconhecido valor, não podemos considerá-lo como uma descoberta original da Psicologia Social.

Segundo o psicossociólogo C2urtis, atualmente os psicólogos sociais burgueses defendem a ideia de interação  ( sociedade – indivíduo).

Surgiram novas correntes, como neobehaviorismo e a sociometria, dentre outras.

Uma novidade da Psicologia Social burguesa é o princípio da condicionalidade social. Os sociólogos Parsons e Mead criaram a “teoria dos papéis”.

Essa novas tendências afetam também a concepção freudiana, que passa a considerar as inclinações do homem como resultado da influência do “meio sociológico”.

Por: Renan Bardine