Biografias

Visconde de Taunay

Nesse trabalho veremos a vida de um dos mais famosos escritores românticos brasileiros, Alfredo Maria d’Escragnolle Taunay ou melhor Visconde de Taunay. Ele foi o autor de Inocência um dos melhores livros de prosa romântica brasileira de todos os tempos.

Resumo: Nascido e falecido aos 56 anos de idade no Rio de Janeiro, Visconde de Taunay foi Engenheiro, Geógrafo. Como Oficial do Exército Imperial, começou como 2º Tenente na Retirada da Laguna, terminando com Major, ao final da na Guerra do Paraguai. Professor de História, Línguas, Mineralogia, Biologia e Botânica no Colégio Militar. Deputado por Goiás e Santa Catarina. Senador por Santa Catarina. Presidente das Províncias do Paraná e de Santa Cataria. Presidente da Sociedade Central de Imigração, que promoveu a vinda dos primeiros emigrantes alemães e italianos para o sul do Brasil. Fundador da Academia Brasileira de Letras (etimologia, dicionário, poemas, romances, peças de teatro, etc.) e da Academia Brasileira de Música (estudos e partituras em parceria com Carlos Gomes). Redigiu seu próprio epitáfio.

Biografia de Visconde de Taunay

Taunay, nasce e se cria num ambiente de romantismo francófilo, em São Cristóvão, bairro da nobreza, no Rio de Janeiro. Em 1858, conclui o Curso de Humanidades, no Collegio de Dom Pedro II. Senta praça no Exército Imperial em 1861, aos 18 anos, no 4º Batalhão de Artilharia à Pé. Concomitantemente, como era de praxe, frequenta as aulas na Escola Central, com a finalidade de obter os títulos de Engenheiro Militar e Bacharel em Sciências Physicas e Mathematicas. No ano seguinte, como era de se esperar, é promovido a Alferes-Aluno. Com a eclosão da Guerra do Paraguai em 1865, aos 22 anos, no posto de 2º Tenente, é enviado para o teatro de operações pelo então Ministro da Guerra, Visconde de Camamú. É incorporado à Comissão de Engenheiros, anexa ao Corpo Expedicionário que, via São Paulo, Uberaba e Miranda, tinha por meta rechaçar as tropas paraguaias de Solano Lópes, que haviam invadido a Província de Mato Grosso.

Durante três longos anos, Taunay permanece na região do planalto central brasileiro, tendo tomado parte ativa da Retirada da Laguna, que sua pena imortalizou.

Em 1868, retornando ao Rio de Janeiro, é nomeado para o Estado-Maior do Conde d’Eu, marido da Princesa Isabel, que o encarrega de redigir o Diário do Exército, publicado sob o título de A Campanha da Cordilheira.

“Nesse assalto de Perbebuí, tomei contra a vontade, parte na mais singular e mal pensada carga de cavalaria que imaginar-se pode. Houve um grito: ‘Carregue a Cavalaria’, e por diante de mim passou, como um turbilhão, um regimento inteiro a galope. O meu cavalo tomou o freio nos dentes e eis-me envolvido naquela onda oscilante, numa disparada horrível por uma rua espaçosa que ia desembocar naquele largo. Foi quando ouvi a voz de João Carlos da Rocha Osório, que me bradava: – Aperta os joelhos, Taunay, senão estás perdido!”

Autor reconhecido por:

  • pelo estilo pitoresco;
  • pelo emprego de termos e expressões típicas e regionais;
  • pela descrição de aspectos da paisagem brasileira.

A Retirada da Laguna

“La Retraite de Laguna” (A Retirada da Laguna), é o primeiro livro publicado de Visconde de Taunay, aos 28 anos de idade, logo após o retorno da Guerra do Paraguai, em 1871. Escrito em francês e impresso no mesmo ano, na Typographie Nationale, do Rio de Janeiro, é uma narração de suas anotações e memórias daquele episódio militar, no sertão de Mato Grosso. Esta aventura que marcou-o profundamente, expõe um jovem militar culto da Corte, às realidades dos sertões mais longínquos de nossas fronteiras.

“A ideia de viajar durante vários meses por ‘sertões imperfeitamente conhecidos e mal explorados’ seduziu imediatamente o jovem Taunay, que passou a acalentar projetos científicos, como o de ‘descobrir um gênero novo de planta, pelo menos uma espécie ainda não estudada e classificá-la’ .”

Inocência

Ideia essa que coloca em prática ao escrever Innocencia (Papilio Innocentia), em 1872. O romance que apresenta uma descrição bastante fiel do sertão brasileiro e de sua realidade sociocultural, talvez seja uma das últimas obras de ficção do romantismo brasileiro. Essa preocupação com o conhecimento da natureza, Taunay deixa visível na A Campanha da Cordilheira, onde não só descreve as ações militares, mas as complementa com descrições detalhadas e científicas, da vegetação nos teatros de operação do exército brasileiro.

Inocência, é a história de uma moça do interior, homônima do título do livro, que conhece um pesquisador alemão, Sr. Meyer, em andanças pelas Províncias de Goiás e Mato Grosso. Este descobre uma nova espécie de borboleta (Papilio), a qual dá o nome da jovem.
Mais tarde, em 1982, sob a direção de Walter Lima Júnior,viraria filme de sucesso, com Edson Celulari e Fernanda Torres no papel-título.

O início na política

Pelas mãos do Visconde do Rio Branco, Taunay ingressa na política, sendo eleito em 1872, Deputado pela Província de Goiás, graças ao interesse e apoio do amigo. Sua intensa atuação, notada por Caxias, chefe do gabinete de junho de 1875, faz com que este o nomeie Presidente da Província de Santa Catarina.

“Tomando posse do Governo da Província, a 7 de Julho, n’ella permaneceu Taunay até 2 de Janeiro de 1877, tendo procurado, com recursos escassissimos da receita provincial, levar a cabo grande numero de urgentes obras publicas e, sobretudo attrahir população européa, na faina constante de por em pratica as ideias de fervente immigracionista: á sua administração se devem, entre outros, alguns dos primeiros nucleos coloniaes fundados nos fertilissimos valles do Araranguá e do Tubarão, hoje são prosperos e povoados.”

Durante sua curta, mas produtiva permanência na presidência da Província de Santa Catarina, nasce em 1876, na capital Desterro, seu filho Affonso d’Escragnolle Taunay, mais tarde igualmente historiador, escritor e acadêmico.

Nos anos de 1878 e 1879, Taunay empreende longa viagem por países da Europa, percorrendo principalmente museus e pinacotecas.

“Frequentes correspondencias publicou, então, no Jornal do Commercio, de impressões de viagem e sobretudo de visitas a museus, especialmente a pinacothecas, percorridas com extrema attenção.”

Em 1881 é introduzido o regime de eleição direta, e Taunay resolve concorrer a uma vaga para Deputado, pela Província de Santa Catarina, que tão bem o havia acolhido.

“A 31 de outubro de 1881 tem-se nova eleição para a representação catarinense à Assembleia Geral Legislativa do Império, na sua 18a Legislatura (1882-1884). No primeiro escrutínio nenhum deles obteve maioria absoluta, havendo, então, um segundo escrutínio entre os dois mais votados – Taunay com 648 votos e Pitanga com 570 – sendo eleito Taunay.”

A Sociedade Central de Imigração

“Somente a partir da década de 1880, várias iniciativas começam a se esboçar, no sentido de tornar o Estado brasileiro mais moderno, para atrair a imigração. O prestígio de Taunay como militar, professor historiador e escritor, e agora político, além de profundo conhecedor do sertão brasileiro, leva-o a novos empreendimentos. Na esperança de encontrar uma saída para a difícil situação agrícola-escravagista do Brasil de então, procura através da constituição da Sociedade Central de Imigração em 1881.”

“A 17 de fevereiro de 1881 installa-se solennemente, com a assistencia do Imperador, a Sociedade Central de Immigração, fundação devida em grande parte aos esforços de Taunay e onde se congregou forte nucleo de homens de valor como os Viscondes de Beaurepaire Rohan e de Barbacena, os Barões de Tautphoeus e de Irapuá, André Rebouças, Luiz Couty, o mallogrado e notavel physiologista, Wilhelm Michler, o sabio lente da Polytechinica, os Conselheiros Nicolau Moreira e Oliveira Lisboa, Carlos von Koseritz, Ferreira de Araujo, Manuel Euphrasio Correia, H. Gruber, o Dr. Herman Blumenau, Giacomo de Vicenzi, Octavius Haupt, Theodoro Schieffler, Wenceslau Guimarães entre outros…”

Para que se possa compreender o trabalho desenvolvido pela Sociedade Central de Imigração, é imprescindível conhecermos o que pensava Visconde de Taunay, na liderança desse projeto.

“Desde muito moço, sob o influxo do espirito esclarecido de seu Pae, o Barão de Taunay, convencera-se da necessidade do rapido povoamento do nosso solo; sorria-lhe a visão philantropica, da multiplicação, na terra brasileira, de colonias de felizes escapos à miséria européa, e queria um Brasil pejado de brancos, a realisar na America do Sul o que os Estados Unidos haviam feito no hemispherio septentrional.”

Visconde de Taunay representava ao final do Império, no Brasil, uma das poucas cabeças lúcidas, com larga visão de mundo e de civilização, que carregavam em seu bojo, os ideais herdados da Revolução Francesa de 1789.

O Senador de Santa Catarina

Dissolvido o gabinete em 1884, é convocada uma nova eleição para 1º de março de 1885. Candidatando-se novamente pelo 1º Distrito de Desterro, perde a eleição para o Dr. Eduardo Paranhos Schutel. Mais tarde, no mesmo ano, é convidado pelo gabinete do Barão de Cotegipe, para Presidente da Província do Paraná, onde permaneceu até maio de 1886. Durante o curto período de oito meses que ocupou o cargo, a ele se devem muitas das medidas para estimular a imigração europeia, que era o ponto central de sua administração. Devem ser creditadas também à sua administração, a fundação da Biblioteca e do Museu Paranaense, e a Reforma da Instrução Primária da Província.

Eleito novamente deputado pelo 1º Distrito da Província de Santa Catarina, Taunay volta ao Rio de Janeiro.

No início de 1886 falece o Almirante Jesuino Lamego Costa, o Barão da Laguna, e Senador por Santa Catarina. Como deputado retorna a Santa Catarina para nova campanha política, almejando a toga senatorial. Aos 43 anos de idade é eleito para o cargo vitalício, confirmado por Dom Pedro II e ratificado pelo Senado.

É ai no Senado, onde sua voz se torna mais ouvida, que passa a ocupar a tribuna para dar a conhecer suas ideias sobre a imigração, a grande naturalização e o casamento civil.

Ainda em 1886, publica duas brochuras; O Casamento Civil e Nacionalização, que leva Taunay a sustentar ardentes debates com O Apóstolo, jornal católico do Rio de Janeiro.

O músico Taunay

“Eu, avisado por Tibúrcio, ia a procura de anunciado piano. Havia tanto tempo que estava privado desta distração! Achei, com efeito, o desejado instrumento, bastante bom e afinado até, e pus-me logo a tocar, embora triste espetáculo ao lado me ficasse: o cadáver de infeliz paraguaio, morto durante o bombardeio da manhã, por uma granada que furara o teto da casa e lhe arrebentara bem em cima.”

Em 1888, o compositor Carlos Gomes termina de compor a ópera Lo Schiavo (O Escravo) com argumento de Visconde de Taunay, de quem era pessoal amigo, com libreto de Paravicini.

Neste mesmo ano, dedica a ópera Maria Tudor, ao amigo Taunay. De volta ao Brasil em 1889, apresenta no dia 27 de setembro, O Escravo no Teatro Imperial D. Pedro II (Teatro Lírico), em homenagem à Princesa Isabel e à Lei Áurea. D Pedro II promete-lhe a direção do Conservatório do Rio de Janeiro. Menos de dois meses após a República é proclamada, e a promessa não pode se concretizar.

Post-mortem, em 1930, foi impresso pela Melhoramentos, o livro do Visconde de Taunay, “Dous artistas maximos, Jose Mauricio e Carlos Gomes”, onde apresenta estudos musicais, sobre a obra dos dois grandes compositores brasileiros. Esse trabalho lhe vale cadeira no 17, como Patrono da Academia Brasileira de Música.

O Acadêmico Taunay

Embora tenha se projetado no meio literário, sobretudo graças ao romance Inocência, foi também pintor e músico, tendo atuado ainda como jornalista e crítico literário.

Sua produção literária é vasta, o que lhe valeu ser convidado como Sócio Fundador para a “Comissão de Constituição” da Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira de número 13, que tem como patrono Francisco Otaviano.

Começou a escrever em 1870, quando publicou o primeiro romance, Mocidade de Trajano, sob o pseudônimo de Sílvio Dinarte, que usaria na maior parte das suas obras de ficção.

Obras principais: Mocidade de Trajano, romance (1870); A Retirada da Laguna, narrativa de campanha (1872); Inocência, romance (1872); Lágrimas do coração, romance (1873); Histórias Brasileiras, contos (1874); Ouro sobre Azul, romance (1875); Narrativas Militares, contos (1878); Céus e terras do Brasil, evocações (1882); Estudos Críticos, 2 vols. (1881 e 1883); O Encilhamento, romance (1894); No declínio (1899).

Teatro: Da mão à boca se perde a sopa (1874); Por um triz coronel (1880);Amélia Smith (1886).

Obras póstumas: Reminiscências (1908); Trechos de minha vida (1911);Viagens de outrora (1921); Visões do sertão, descrições (1923); Dias de guerra e do sertão (1923); Homens e coisas do Império (1924). Em sua bibliografia constam ainda obras de história, corografia e etimologia brasileira, sobre questões políticas e sociais, além de um dicionário da língua dos índios de Mato Grosso.

Sobre sua lousa tumular, no cemitério de S. João Baptista, inscreve-se o epitaphio que compuzera poucos mezes antes.

“Aqui jaz o autor de duas obras
Que alcançaram renome valioso
De Innocencia a historia sertaneja
E da Laguna o feito glorioso.”
25 de janeiro de 1899