Sociologia

Condições Socioeconômicas dos Idosos

O presente trabalho visa analisar as condições socioeconômicas dos idosos acolhidos no asilo São Vicente de Paulo na avenida Brasil, Bairro Dente Grande, em Janaúba/MG.O referido asilo é administrado pela Sociedade São Vicente de Paulo, que atende idosos da região.

Como é a administração da SSVP em relação ao asilo, com quais recursos é mantido, além da arrecadação com campanhas veiculadas na mídia local, promovidas pelos vicentinos e qual a contribuição recebida por familiares, sociedade e governo.

Faremos visita ao asilo para observar sua infra-estrutura, funcionamento e o atendimento oferecido aos idosos internos.

O envelhecimento é um processo natural e inevitável, mas pode ser vivido em melhores ou piores condições dependendo da cultura, da civilização e das condições que a sociedade oferece ás pessoas no transcorrer de sua vida e quando estas chegam a velhice.

A sociedade atual vive em um ritmo acelerado de vida, muitos não se preparam para a velhice e marginalizam os idosos que “atrapalham suas atividades” rotineiras ou não os acompanham.O que se tem observado é que o percentual de idosos é crescente, que são muitos os idosos desagregados da família por diversos fatores colocados em asilos, casas de repouso, ou abandonados.

JUSTIFICATIVA

Segundo Guita Grin Debert, 2003.

“A velhice é uma categoria socialmente produzida. Faz-se, assim, distinção entre um fato universal e natural – o ciclo biológico, do ser humano e de boa parte das espécies naturais, que envolve o nascimento, o crescimento e a morte – e um fato social e histórico – a variabilidade das formas de conceber e viver o envelhecimento”.

O termo velhice vem sendo substituído por “terceira idade”, que traz uma nova imagem do envelhecimento. Deixando de ser símbolo de aposentadoria, descanso e recolhimento para ser um período de atividade, lazer e realização pessoal. A questão não é mais limitada aos problemas econômicos dos idosos, mas sim, proporcionar cuidados culturais e psicológicos, de forma a integrá-los socialmente. Simboliza os “jovens velhos”, os aposentados dinâmicos, os quais são alvo do mercado de consumo, que vem investindo em serviços e produtos direcionados a esse público.

Mas não se pode fugir do tempo, que trás o envelhecimento orgânico, o desgaste fisiológico, e os custos financeiros disso estabelece um paralelo entre essa população que já está fora do mercado de trabalho e os ainda ativos, que arcam com seu próprio sustento. Com o avanço da idade tem-se a necessidade de tratamentos especializados, ou seja, prevê-se uma situação em que aumenta os gastos com as políticas sociais e em contrapartida diminuem os rendimentos com a redução do número de população ativa.

De acordo com dados do censo de 1991 no Brasil tínhamos 7,3% da população acima dos 60 anos de idade, em 2004 aumentou para 9,7%. Os dados do IBGE mostram que em 2000, no município de Janaúba a população de 61.651 habitantes contava com 4 200 acima de 60 anos de idade. Podemos observar esse crescente envelhecimento da população no gráfico do IBGE abaixo:

Segundo Clarice Peixoto, a velhice se tornou um problema social devido às consequências econômicas do envelhecimento.

Com o advento da aposentadoria pelo Estado, famílias que arcavam com os custos de seus velhos, incapacitados de sustentar a si mesmos, foi substituída pelo Estado-protetor. As políticas sociais voltadas à velhice surgiram em 1973 com INPS e decreto-lei de 1974, na forma de aposentadoria-velhice correspondente a 60% do salário mínimo para as pessoas com mais de 70 anos. Mas foi com a Constituição de 1988 que se reconheceu à importância da questão da velhice. Diz no art.230 que a família, a sociedade e o Estado têm o dever de cuidar dos idosos, assegurando-lhes uma participação na vida comunitária, protegendo a sua dignidade e bem-estar, garantindo-lhes o direito à vida.

Idosas independentes e homens com menos de 65 anos perfazem significativa parcela da população institucionalizada, segundo pesquisa realizada em asilos de Belo Horizonte. Asilos lotados e com filas de espera para internar, de modo definitivo, idosos com baixos níveis de dependência, são o retrato fiel de uma sociedade que não oferece a seus idosos outros modelos de assistência.

OBJETO DE ESTUDO E HISTÓRIA

Em Janaúba, conta-se com o Asilo São Vicente de Paulo, entidade de caridade da Igreja Católica sem fins lucrativos, de caráter filantrópico, administrado pela Sociedade São Vicente de Paulo, com o apoio da sociedade janaubense. Fundado em 07 de junho de 1987; tendo por finalidade passar da caridade cristã e a assistência social, acolhendo pessoas idosas, oferecendo moradias, alimentação, assistência médica, odontológica, psicológica, religiosa e atividades recreativas; sendo o atendimento prioritário aos mais carentes, a fim de fazer respeitar a dignidade humana. Situado na Avenida Brasil no Bairro Dente Grande nesta cidade de Janaúba/MG., com uma capacidade física para receber até 115 idosos. Atualmente, convivem na casa 42 idosos sendo 21 do sexo feminino e 21 do sexo masculino, distribuídos em duas alas (masculina e feminina) 15 funcionários fixos mantidos pela instituição e ainda com dois auxiliares mantidos pela Prefeitura.

A crescente procura pelo asilo mostra-nos a aceitação do trabalho e a sua importância para o idoso, para a família que não tem como cuidar dele e, principalmente, e para a sociedade. Para casos mais graves, são feitos atendimentos terapêuticos individuais, com amplas melhoras de problemas de depressão, hipocondria, agressividade e outros. Todo o trabalho no Asilo tem o fim último de tentar resgatar uma vida melhor para o indivíduo idoso, que é, na grande maioria dos casos, é alcançado.

É no mundo do vivido que as identidades se constroem e se afirmam e é do passado que os velhos se nutrem.

Conforme Estatuto do SSVP

É de sua trajetória que se origina a própria ideia de “eu” individualizado, formulado através de desempenho de vários papéis sociais papéis que irão dimensionar essa identidade.

É preciso uma mudança na educação para que as novas gerações sejam mais inclusivas e respeitem e acolham mais seus idosos, mas além disso, é preciso oferecer aos idosos a chance de participar de atividades produtivas que maximizem a utilização de seu patrimônio intelectual e cultural. É tarefa educacional produzir efeitos sociais para a promoção da educação permanente e, assim, por meio de intervenções, atualizar os mais velhos em novos conceitos de vida e experiência de inserção social para uma efetiva comunicação.

Por trás de toda rejeição ao velho, em nossa sociedade, há uma ideologia que permeia as relações e a vida social – É a lógica econômica da produção, das relações de oferta e demanda que produzem mais-vali2, enfim, que produzem dinheiro.

O velho tem um tempo contado, que, ao menos teoricamente, é menor que o do adulto e da criança. Ele tem menos tempo para produzir, e, por isso, na lógica capitalista, ele tem menos valor. Então, se é aposentado, se não tem mais tarefas domésticas a realizar, ou se não mais as consegue.

Nas sociedades modernas, o tempo também é apreendido como linear, irreversível e sequencial. Elas são orientadas para o futuro; o presente só é pertinente na medida em que remete a um futuro desejável, esperado.

Mais-valia, MARX, Karl

Apesar da modernidade ter que seguir seu curso natural para a evolução do homem, não se pode esquecer o valor das tradições na formação ética e moral.

A memória é a mediadora do processo entre a história e a narrativa. Contudo, a modernidade vem alterando o valor dado à memória e colocando em risco o intercâmbio de experiências através da narrativa, que é o que estabelece as relações profundas entre os sujeitos históricos, fazendo com que cada história singular se presente fique como parte de uma história maior, ou seja, a história de uma época ou de uma coletividade.

O passado é praticamente eliminado, e, com ele, os representantes e símbolos do passado, os velhos. Essa noção de tempo pressupõe uma ética voltada para o futuro, que, contudo, não sabemos quanto vai durar. E nesse futuro não há lugar para o velho, porque ele não é futuro, ou, no máximo, seu futuro é a morte (como se não fosse para todos nós). O ser humano, criança, adulto ou velho, só pode ser concebido como uma singularidade dentro de processos mais amplos da história e da cultura. Sua trajetória histórica só pode ser resgatada através da narrativa, enquanto “memória coletiva do passado, consciência crítica do presente e premissa operatória do futuro”(Ferrarotti, 1983).

OBJETIVOS

Geral

• Entender através das falas, a subjetividade do envelhecer dos idosos do Asilo São Vicente de Paulo na cidade de Janaúba. Recordações, fatos e situações de vida até então esquecidas ou com as quais elas não podiam entrar em contato, constituíram a matéria-prima desses encontros. O recordar dos idosos pode ajudar o indivíduo a articular novas formas de entendimento do passado e do tempo presente, e assim constituir novas pontes para um novo futuro.

Específicos

• Analisar as condições socioculturais dos idosos acolhidos no asilo São Vicente de Paulo;
• Resgatar a memória dos idosos através da narrativa, para inseri-los novamente no contexto histórico e social, como inventores de suas próprias vidas, criadores de história e de cultura.
• Trabalhar com profissionais, através de cursos e de palestras, sobre a importância de nossos velhos, o seu valor, o envolvimento e o compromisso que temos com eles, criadores de nós mesmos. É trabalhar a velhice, a que provavelmente chegaremos.

METODOLOGIA

• Pesquisa via internet;
• Pesquisa sobre a Sociedade São Vicente de Paulo;
• Visita ao Asilo São Vicente de Paulo;
• Máquina fotográfica;
• Coleta de dados na Secretaria do asilo;
• Entrevista com os funcionários e idosos do asilo através do uso do gravador;
• Relatos orais com idosos.

CRONOGRAMA

RELATÓRIO DE VISITA

Aos quinze dias do mês de novembro de 2006, foi realizada uma visita ao Asilo São Vicente de Paulo, localizado na avenida Brasil, no Bairro Dente Grande, em Janaúba.

A visita foi iniciada às nove horas da manhã, horário previamente agendado com a direção do asilo. A equipe de estudantes do segundo período de Direito da Faculdade Vale do Gorutuba-FAVAG foi recebida pela secretária da entidade, a senhora Zélia Ribeiro Martins.

A equipe foi conduzida por Zélia, para conhecer a infra-estrutura do asilo, iniciando pela área administrativa. Durante a visita a secretária foi entrevistada pelos alunos sobre alguns aspectos relevantes sobre a entidade com o objetivo de coletar dados para o presente trabalho.

O Asilo São Vicente de Paulo conta com um escritório, onde são realizadas as atividades administrativas, uma sala de recepção com banheiro, uma sala de reuniões e sala destinado ao acervo histórico do asilo Na sala de acervo estão preservados e expostos vários documentos da entidade, painéis e álbuns de fotografias legendadas, das pessoas que passaram pela entidade e de fatos lá ocorridos.

A equipe foi conduzida à capela dentro do asilo, ao pátio não muito amplo onde alguns idosos tomavam o sol da manhã e com os quais a equipe pode interagir, mantendo os primeiros contados com os internos. No pátio dois banheiros estão em construção e o acesso ao dormitório superior é feito através de uma rampa.
Em seguida foram visitados o refeitório amplo e a cantina onde são preparados os alimentos, todos bem organizados. Foi informado que são servidas quatro refeições diárias, sendo café da manhã, almoço, lanche e jantar.

A equipe visitou também os dormitórios que estão separados em alas masculina e feminina. Em cada quarto há três camas e um banheiro. A equipe pôde novamente interagir com os idosos, colhendo dados e relatos importantes e alguns muito curiosos. São 42 internos na unidade de Janaúba, sendo vários advindos de cidades vizinhas e da zona rural.

Uma clínica de fisioterapia foi montada dentro do asilo, onde um fisioterapeuta atende regularmente aos idosos. Os internos contam ainda com assistência médica semanal e em casos de emergência são conduzidos ao hospital em veículo próprio do asilo.

A secretária relata com clareza demonstrando profundo conhecimento de toda a organização e funcionamento daquela entidade e também das pessoas que por ali passaram e que ainda lá estão.

CONCLUSÃO

Segundo a secretária, Zélia Ribeiro, a maior arrecadação de recursos para manutenção do Asilo São Vicente de Paulo é feita através da Campanha Beneficente promovida pelos vicentinos com apoio da comunidade janaubense. Os internos aposentados contribuem com 70% do seu auxílio aposentadoria e outra parte é suprida com donativos da comunidade. Muitos dos internos não têm benefício do INSS, o sobrecarrega as despesas da entidade.

Uma das grandes dificuldades da entidade, relatada pela secretária, é conseguir o Benefício perante o INSS, seja o auxílio doença ou mesmo a aposentadoria daqueles que necessitam. Há casos notórios de extrema necessidade e direito e que têm o benefício negado pela perícia médica do referido órgão federal.

Outra dificuldade é contar com o acompanhamento de familiares com a presença, atenção e carinho que os idosos tanto necessitam. Segundo ela, algumas pessoas ficam lá um tempo e quando estão bem querem ir embora para ficar com sua família e isso realmente acontece.

A equipe pôde perceber, através dos relatos de alguns idosos, que eles estão satisfeitos ali, se sentem bem, são bem cuidados. Apenas duas mulheres reclamaram, uma porque queria estar na sua casa na roça “se eu tivesse lá agora, eu tava plantando minha rocinha, mas não posso voltar, minha nora não me quer lá… e minha filha não vem me ver… não é uma filha é uma cachorra…” e outra reclama coisas sem nexo, parece não ter boa saúde mental, “isso aqui é ruim, quem quer ficar aqui?… Eu queria ir embora…”. A maioria dos idosos são receptivos e alegres. E como todos que trabalham lá disseram e que foi percebido pela equipe, é que é grande a carência afetiva daquelas pessoas. Todos eles trazem uma história de vida e a maioria quer ser ouvida cm atenção.

O trabalho desenvolvido pela Sociedade Vicentina no Asilo São Vicente de Paulo, em Janaúba é de grande relevância para a sociedade janaubense e cidades vizinhas. A dedicação ultrapassa os limites do compromisso de trabalho. E notória a dedicação, o cuidado e o carinho para com todos os idosos que aquela entidade acolhe.

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