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Argélia

Argélia, país localizado no norte da África; limita-se ao norte com o mar Mediterrâneo, a leste com a Tunísia e a Líbia, ao sul com Níger, Mali e Mauritânia, e a oeste com o Marrocos.

Sua superfície é de 2.381.741 quilômetros quadrados. A capital é Argel. Desde a separação do antigo Sudão em dois novos países, a Argélia é o maior país africano em extensão territorial. Comparativamente, o território argelino é cerca de quatro vezes maior que a França – aliás um dos principais destinos para argelinos que imigram para o exterior. A colônia argelina é forte na França, em razão dos laços históricos e culturais entre os dois países.

Território e Recursos

Embora 90% do território argelino seja desértico, a Argélia possui quatro regiões fisiográficas principais. Isso faz com que o Tell, região de planície costeira estreita e ao norte, concentre boa parte das terras cultiváveis do país.

Banhada pelo principal rio, o Chelif (725 km), o litoral é propício para a agricultura. Ao sul do Tell, contudo, não há hidrografia relevante e as terras desérticas oferecem pouco mais que oásis para algum cultivo. O clima é mediterrâneo, mas torna-se mais seco à medida que se avança para o sul, rumo ao deserto.

No altiplano, vários estuários acumulam água durante os períodos de chuva e, quando secam, constituem planícies salinas, denominadas chotts. Ao sul, está o Atlas saariano. A quarta região é o Saara argelino, que abrange mais de 90% da superfície total do país. Ao sul, estão as montanhas Ahaggar. Essa cadeia de montanhas rochosas se estende por quase meio milhão de quilômetros quadrados e possui incontáveis pináculos de pedra, com vales que eventualmente propiciam a formação de alguns oásis e pontos onde a temperatura é mais amena.

A região do deserto enfrenta temperaturas diárias extremas, com cerca de 130 mm de precipitação anual. Ao longo dos séculos, as regiões setentrionais foram desmatadas e transformadas em pasto. Há restos de bosques em algumas áreas no ponto mais alto do Tell e no Atlas saariano. A imensa maioria dos planaltos é estéril, embora haja zonas de vegetação de estepe.

A extensão de terras desérticas, mas bastante montanhosas, torna o trecho do Saara argelino diferente de alguns outros pontos do deserto. Em algumas regiões, o relevo leva à formação de sequências de pequenos oásis, como ocorre na zona chamada Touat, mais ou menos no centro do território.

Já no sudoeste, na fronteira com Mali, o deserto torna-se mais baixo e plano. Algumas áreas possuem planalto nivelados de enorme extensão, como é o caso do Tanezrouft.

Mapa da Argélia.

População e Governo

A Argélia possui hoje uma população de cerca de 43,8 milhões de habitantes (Banco Mundial, 2020) composta de berberes e árabes. Sua geografia concentra a maioria esmagadora da população ao norte, próximo ao litoral do Mediterrâneo.

A capital, Argel, foi fundada por fenícios no século IV a.C. e hoje possui mais de 2,3 milhões de habitantes. Entre as décadas de 1960 e 2010, a cidade passou por uma explosão populacional, saindo de pouco mais de 900 mil habitantes para uma população que hoje chega quase ao triplo. A região metropolitana da cidade já conta com uma população próxima dos 5 milhões. Outras cidades importantes são Oran e Constantine.

A Argélia é um país de maioria absoluta islâmica e tem como principal língua oficial o árabe, embora cerca de 20% da população fale o Tamazight, um dialeto de origem bérbere. De acordo com a Constituição mais recente do país, de 1989, a Argélia é uma república socialista. A Frente de Liberação Nacional domina a política argelina desde a independência.

Embora os traços culturais hoje sejam praticamente heranças do longo domínio árabe na região e da etnia bérbere, o território argelino possui uma vasta história, com influências dos fenícios, romanos, cartagineses, turcos, bizantinos e mesmo povos “bárbaros” europeus, como os vândalos.

Economia da Argélia

A maior riqueza natural da Argélia reside em seus grandes depósitos minerais (petróleo, gás natural, fosfatos e minério de ferro). Outros minerais importantes são o carvão, o carbono, o chumbo e o zinco. A unidade monetária é o dinar argelino.

O petróleo é uma fonte considerável de renda nas exportações do país, que é membro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) desde 1969. O PIB do país chega à casa dos US$ 580 bilhões, de acordo com estimativas do Banco Mundial.

História

Os bérberes foram os primeiros habitantes. Em torno de 1100 a.C., os fenícios fundaram um Estado norte-africano em Cartago. Embora o coração do império cartaginês estivesse na vizinha Tunísia, por volta de 400 a.C. os bérberes argelinos eram maioria nos exércitos de Cartago.

Os conflitos entre romanos e cartagineses, nos últimos séculos antes de Cristo, permitiram a formação do reino argelino da Numídia, que foi subjugado por Roma em 106 a.C. O domínio romano representou um período de prosperidade para a Numídia, mas a decadência dos romanos, a partir do século III d.C., abriu caminho para o domínio da região pelos vândalos no século V. No século seguinte, os bárbaros seriam expulsos pelo imperador Justiniano I, para que no século VII a Argélia e quase todo o norte africano fosse invadido pelos povos árabes, que levariam à Argélia a religião que possui até os dias de hoje, o islamismo.

A Argélia foi transformada em uma província do califado omíada. Entre os séculos XI e XIII, os almorávidas e os almôadas submeteram o norte da África e o sul da Espanha a uma autoridade central única. Após a derrota dos almôadas em 1269, surgiu a concorrência comercial entre os portos do Mediterrâneo. Argel se transformou no primeiro centro de atividades de pirataria e se tornou uma província autônoma.

Os piratas argelinos eram exímios navegadores e estabeleceram um “reinado” de terror para frotas comerciais que navegavam o Mediterrâneo nos primeiros séculos da Era Moderna.

No final do século XVIII, a ação conjunta das frotas norte-americanas, anglo-holandesas e do exército francês culminou com a destruição das defesas de Argel em 1830. A Argélia foi anexada pelos franceses em 1834, sendo que os europeus ainda tardariam 13 anos para esmagar a resistência bérbere no país.

A Argélia se transformou em um departamento de ultramar da França, controlada pela minoria europeia, os colons, que formavam uma elite privilegiada. Com grandes entradas de capital, desenvolveu-se uma economia moderna.

O nacionalismo argelino surgiu depois da I Guerra Mundial entre os grupos de muçulmanos. A resistência dos colons à reforma conduziu à formação de um partido de militância antifrancesa. Os nacionalistas eram a favor da revolta armada. No início da década de 1950, muitos se esconderam ou se exilaram. Em 1954, foi formada a Frente de Liberação Nacional (FLN), que lançou uma ofensiva para conseguir a independência da Argélia. O contínuo aumento da guerrilha e o deliberado uso do terrorismo provocaram o surgimento de uma ação contra o terrorismo, com ataques aos povos muçulmanos e matanças brutais da população civil. Em 1958, os colons e os oficiais do exército francês se uniram para derrubar o governo francês; o general Charles de Gaulle convocou um referendo, no qual os argelinos se pronunciariam sobre a independência.

Em 1962, a Argélia votou majoritariamente pela independência e os colons começaram uma evacuação maciça. A Argélia foi declarada um Estado socialista, com a Frente como a única organização política legal. A economia local passou ao controle estatal, o que levou a uma guerra civil aberta entre facções discordantes da Frente de Libertação.

Ahmed Ben Bella foi eleito o primeiro presidente da Argélia independente em 1962. A primeira Constituição foi aprovada em 1963 e proporcionaria uma forma presidencial de governo. Em 1965, Bumedián deu um golpe sem derramamento de sangue e assumiu o poder supremo. Além do rápido desenvolvimento econômico, Bumedián trouxe ao país um sistema político viável.

A Constituição de 1976 definiu a Argélia como Estado socialista sob a liderança da FLN. Quando Bumedián morreu em 1978, o coronel Chadli Benyedid foi eleito sucessor. Benyedid continuou a política de seu antecessor, embora tenha afrouxado algumas das restrições. Em 1989, foi aprovada uma nova Constituição, que permitiu o livre acesso a outros grupos políticos.

Nas eleições de 1990, os fundamentalistas da Frente Islâmica de Salvação obtiveram uma esmagadora vitória sobre a FLN. Em 1992, depois das primeiras eleições e diante do temor de que os fundamentalistas islâmicos assumissem o controle do Parlamento, um grupo de militares e funcionários civis forçaram Benyedid a renunciar. Declararam estado de emergência, fecharam o Parlamento e criaram um novo Comitê Superior de Estado, presidido por Budiaf, provocando um violento conflito entre o governo, as forças de segurança e os extremistas islâmicos. Budiaf foi assassinado em 1992 e substituído por um Conselho Supremo. Em 1994, o Conselho nomeou Liamín Zerual presidente da Argélia. Zerual se recusa a negociar com os grupos islâmicos enquanto não cessarem os atentados terroristas.

A turbulenta política argelina nos últimos cinquenta anos criou momentos de maior migração de populações perseguidas ou temerosas, especialmente para a França, onde argelinos constituem uma das maiores comunidades estrangeiras do país.

Por: Carlos Artur Matos

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