História

Terrorismo

O termo “terrorismo” é frequentemente empregado nos meios de comunicação e na esfera política, mas sua origem e significado muitas vezes permanecem envoltos em mistério. Para compreender adequadamente essa palavra e o fenômeno complexo que ela descreve, é fundamental explorar suas raízes históricas, tipos, grupos notórios e a natureza intrincada do terrorismo contemporâneo.

O que é terrorismo

Terrorismo é o uso real ou ameaça de utilização da violência com fins políticos, que pode voltar-se tanto contra vítimas individuais como contra grupos mais amplos, cujo alcance muitas vezes transcende os limites nacionais.

O termo implica uma ação levada a cabo por grupos não-governamentais ou por unidades secretas ou irregulares, que operam fora dos parâmetros habituais das guerras e às vezes têm como objetivo fomentar a revolução.

Mais que uma operação militar, os terroristas têm como objetivo propagar o pânico na comunidade contra a qual volta a sua violência. Com frequência, o terrorismo tem como objetivo desestabilizar um Estado instaurando o maior caos possível, para possibilitar assim uma transformação radical da ordem existente.

Entre os atos mais comuns de terrorismo estão o assassinato, a explosão de bombas e o sequestro. O terrorismo político é utilizado para conquistar ou conservar o poder.

Tipos de terrorismo

Nas últimas décadas, as investigações acerca do fenômeno do terrorismo deram origem a uma ampla gama de classificações. Essas categorias incluem:

  1. Terrorismo Revolucionário: Este tipo de terrorismo utiliza táticas violentas como um meio para alcançar uma revolução política. Exemplos notáveis desse fenômeno incluem grupos como o italiano Ordine Nuovo, a francesa Ação Direta, o Sendero Luminoso no Peru e os Tupamaros no Uruguai.
  2. Terrorismo Nacionalista ou Separatista: O terrorismo nacionalista ou separatista busca alcançar a soberania de um território que é controlado por um Estado já estabelecido, muitas vezes por meio de ataques e atentados. Exemplos notáveis incluem o palestino Hamas, o Exército Revolucionário Irlandês (IRA) e o ETA (Pátria Basca e Liberdade) no País Basco.
  3. Terrorismo de Estado: Neste cenário, burocratas e estruturas de instituições estatais são utilizados para manter o poder do governo e reprimir qualquer oposição. Este método é amplamente associado a governos autocráticos, como as ditaduras na América Latina durante a Guerra Fria e regimes despóticos no mundo árabe.
  4. Terrorismo Criminal: Grupos envolvidos em atividades criminosas empregam táticas terroristas para proteger seus interesses. A brutalidade é frequentemente usada para intimidar opositores, consolidar fontes de lucro e amedrontar comunidades subjugadas. A Camorra na Itália, os cartéis de drogas no México e as milícias brasileiras são exemplos desse tipo de terrorismo.
  5. Terrorismo Religioso: Ataques são planejados e realizados em nome dos princípios, tradições e valores de uma crença religiosa específica. Grupos radicais de várias religiões, incluindo o budismo, cristianismo, judaísmo e islamismo, podem se envolver nesse tipo de terrorismo.
  6. Terrorismo Branco ou Supremacista: Este tipo de terrorismo está enraizado em ideologias extremistas de origem ocidental, como o racismo, fascismo e nazismo. A Ku Klux Klan, que foi fundada logo após a Guerra da Secessão nos Estados Unidos, é um exemplo desse fenômeno. Também é importante mencionar os ataques perpetrados por terroristas supremacistas na Noruega em 2011 e na Nova Zelândia em 2019, que ganharam destaque internacional.

Breve histórico do terrorismo

O terrorismo moderno, em sua acepção atual, encontra suas raízes no século XIX. Nesse contexto histórico, o anarquismo emergiu como um dos primeiros movimentos a adotar abertamente métodos terroristas. Figuras notáveis como o russo Mikhail Bakunin, renomado intelectual da ideologia política, defendiam ataques direcionados a alvos simbólicos do Estado e da sociedade capitalista. Em um episódio emblemático de 1881, um grupo de anarquistas arremessou uma bomba contra Alexandre II, o czar da Rússia Imperial. O monarca foi levado às pressas ao Palácio de Inverno, em São Petersburgo, mas não sobreviveu.

No século XX, o número de grupos terroristas aumentou consideravelmente, bem como a diversidade de causas defendidas e os recursos empregados por eles. Praticamente todas as nações do planeta testemunharam a atuação de, pelo menos, uma entidade de caráter terrorista.

Seguidores de correntes ideológicas como o marxismo, trotskismo, maoísmo e outras vertentes socialistas adotaram táticas violentas para estabelecer regimes revolucionários na Europa, África e América Latina. Movimentos separatistas, como os québécois no Canadá e os Tigres Tâmeis no Sri Lanka, também recorreram a métodos terroristas em busca de seus objetivos.

O nacionalismo também foi um catalisador para a execução de atentados terroristas em diversas regiões, como a ilha da Córsega, pertencente à França, e o País Basco, uma comunidade situada nos montes Pirineus, na Europa. No Oriente Médio, o desejo de criar o Curdistão levou grupos curdos a patrocinar ações terroristas contra Turquia, Irã, Síria e Iraque.

No âmbito religioso, os atentados promovidos por grupos como os sikhs no norte da Índia, os sionistas em Israel e os muçulmanos no Oriente Médio e na Ásia Central ganharam destaque nas manchetes dos jornais. Nos Estados Unidos, membros da Ku Klux Klan (KKK) e outras entidades extremistas causaram pânico em diversas cidades do país. Um dos atentados mais horríveis ocorreu em Oklahoma em 1995, quando supremacistas detonaram um carro-bomba, resultando na morte de 168 pessoas. Esse evento é considerado o maior atentado terrorista doméstico da história do país.

O terrorismo no terceiro milênio e os atentados de 11 de setembro

Considerando a diversidade de grupos extremistas que surgiram ao longo do tempo, o Ocidente estabeleceu uma conexão notável entre terrorismo e fundamentalismo islâmico, principalmente no início do século XXI. Essa associação ganhou força devido ao impacto imensurável do atentado cuidadosamente planejado pela organização Al Qaeda contra os Estados Unidos em 11 de setembro de 2001.

Liderada pelo saudita Osama bin Laden, a Al Qaeda executou ataques a alvos de significado simbólico no contexto do poder estadunidense. Notadamente, esses ataques foram dirigidos contra o World Trade Center em Nova York e o Pentágono em Washington. O resultado trágico dessas ações foi a perda de 3.234 vidas e 6.291 pessoas feridas.

Ataque terrorista às Torres Gêmeas em Nova Iorque.

O ataque de 11 de setembro, que ficou conhecido internacionalmente, efetivamente estabeleceu um padrão para o terrorismo no terceiro milênio. Ao contrário de atos terroristas do passado, o terrorismo contemporâneo adquiriu uma dimensão transnacional e desvinculada de um território específico. Como demonstrado pelas operações da Al Qaeda, as táticas de violência extrema evoluíram para se adequar ao contexto da globalização.

Consequentemente, as potenciais vítimas desse tipo de violência agora abrangem uma escala global, e nenhum canto do planeta está totalmente imune a esse perigo. Em virtude disso, o terrorismo emergiu como uma das principais preocupações da comunidade internacional, tornando-se um tema central nas discussões globais de política e segurança.

Por último, é crucial destacar a ampliação do exibicionismo associado ao terrorismo contemporâneo. A crescente interconexão dos meios de comunicação em escala global proporcionou uma visibilidade sem precedentes às ações terroristas. Certos canais de comunicação sensacionalistas contribuíram para a disseminação das demandas e objetivos dos perpetradores de atos terroristas, tornando-se uma força motriz na propagação dessas mensagens e na amplificação de seu alcance. Essa exposição midiática representa um desafio significativo na luta contra o terrorismo e na busca de soluções para mitigar seus impactos.

O financiamento de grupos terroristas

A coleta de recursos destinados a operações terroristas manifesta-se por meio de uma variada gama de métodos, apresentando-se como um desafio complexo. Grupos radicais exploram diversas fontes para financiar suas atividades, abrangendo tanto fontes legais quanto criminosas. As fontes legais incluem doações, lucros empresariais, apoio de organizações não governamentais, entre outras, enquanto as fontes criminosas envolvem atividades como tráfico de drogas, contrabando de armas, roubos de bancos, sequestros e extorsões.

Alguns grupos extremistas recorrem à exploração de mercados clandestinos como parte de sua estratégia de financiamento. Um exemplo notório é a comercialização ilegal de petróleo, onde o controle sobre recursos naturais em áreas sob seu domínio oferece uma fonte significativa de receita. Outros grupos estabelecem a imposição de taxas e impostos em comunidades sob sua jurisdição, estabelecendo assim uma forma de autoridade financeira sobre essas áreas. Adicionalmente, em ocasiões excepcionais, grupos terroristas obtêm financiamento por meio da venda de antiguidades roubadas, um mercado ilegal que gera quantias substanciais para sustentar suas atividades. É relevante destacar que as células operacionais de grandes organizações terroristas frequentemente desfrutam de independência para angariar fundos por conta própria, o que acentua ainda mais a complexidade do panorama de financiamento.

Independentemente da origem dos recursos, o terrorismo se depara com o desafio de “lavar o dinheiro“, um processo destinado a ocultar a origem e o destino dos fundos arrecadados. Consequentemente, as transações financeiras relacionadas a atividades terroristas geralmente envolvem várias etapas, nas quais pequenas quantias de dinheiro fluem por meio de diversas contas bancárias situadas em paraísos fiscais. Essas jurisdições são conhecidas por sua opacidade financeira e regulamentação frágil, tornando difícil para as autoridades conduzirem investigações fiscais detalhadas.

Contraterrorismo

O contraterrorismo, também conhecido como antiterrorismo, é uma estratégia que visa neutralizar práticas terroristas por meio de medidas específicas. No terceiro milênio, uma das iniciativas mais notáveis nesse sentido foi lançada pelo então presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, após os terríveis atentados de 11 de setembro de 2001. Essa política ficou conhecida como a Doutrina Bush ou Guerra ao Terror e teve como principal objetivo coordenar uma maciça mobilização do mundo ocidental contra grupos terroristas que se inspiravam no fundamentalismo islâmico. O cerne dessa estratégia residia na promoção da guerra preventiva, que consistia na antecipação de ataques por parte de organizações consideradas terroristas.

Em nome da Guerra ao Terror, os Estados Unidos promulgaram o Patriot Act (Ato Patriota). Esse decreto concedeu às autoridades governamentais uma série de poderes extraordinários, como o monitoramento de comunicações telefônicas e a violação de correspondências, medidas que muitas vezes eram questionadas sob o prisma dos direitos constitucionais. Além disso, em locais sensíveis, como aeroportos, estações de trem e eventos com grandes aglomerações, houve um reforço considerável nas medidas de segurança.

No entanto, ao longo do tempo, a Doutrina Bush revelou-se, em grande medida, pouco eficaz. A Guerra ao Terror resultou em duas intervenções militares em larga escala, no Afeganistão e no Iraque, que causaram um número considerável de vítimas e geraram custos exorbitantes. Esse esforço monumental falhou em erradicar antigas facções radicais e, lamentavelmente, proporcionou o surgimento de novos grupos extremistas em diversas partes do mundo.

Diante desse panorama, muitos países passaram a adotar abordagens alternativas para conter a expansão do terrorismo. Uma estratégia amplamente adotada foi a tentativa de “cortar o mal pela raiz”, ou seja, eliminar as fontes de financiamento das organizações terroristas. Para isso, os órgãos encarregados de combater a lavagem de dinheiro receberam reforços e expansões significativas.

Outras medidas incluíram o endurecimento dos controles de fronteiras, a implementação de sistemas de reconhecimento biométrico em espaços públicos e a utilização de registros de identificação de passageiros, tudo com o objetivo de dificultar a mobilidade dos terroristas. Além disso, a troca de informações entre órgãos competentes foi intensificada, visando à coleta e compartilhamento de inteligência.

Para complementar essas ações, houve uma ênfase na prevenção do acesso a armas e na proibição de conteúdos digitais com inclinação extremista. Em alguns lugares, foram desenvolvidos programas sociais destinados a oferecer apoio a potenciais recrutas de grupos radicais, juntamente com esforços para reabilitar prisioneiros condenados por associação ao terrorismo. Todas essas medidas representam uma mudança de paradigma no enfrentamento do terrorismo, visando a abordagens mais abrangentes e eficazes para combater essa ameaça global.

Principais grupos terroristas

O extremismo islâmico radical emergiu como a forma mais proeminente de terrorismo no século XXI. Abaixo estão algumas organizações extremistas que suscitam a inquietação da comunidade global.

Al Qaeda

A Al Qaeda é uma organização terrorista fundada no Afeganistão no final da década de 1980 por Osama bin Laden e seguidores jihadistas. Ela é conhecida por planejar e executar o atentado de 11 de setembro de 2001, que é considerado a maior operação terrorista da história.

O governo dos Estados Unidos iniciou a Guerra ao Terror em resposta aos ataques de 2001, investindo pesadamente contra a Al Qaeda. No entanto, a organização não foi completamente desmantelada. Após a morte de Osama bin Laden em 2011, a Al Qaeda passou por mudanças, com novas lideranças surgindo em diferentes regiões do mundo árabe. As células da Al Qaeda ganharam autonomia para angariar fundos e realizar ataques.

A organização mantém uma forte presença na Ásia Central, na Península Arábica e em países africanos. A recente retomada do governo do Afeganistão pelo Taleban, uma facção islâmica radical, levanta preocupações de um possível renascimento da Al Qaeda na região.

Estado Islâmico

O Estado Islâmico do Iraque e Levante (ISIS ou ISIL) teve origem como uma filial da Al Qaeda durante a intervenção dos Estados Unidos no Iraque em 2003, com Abu Musab al-Zarqawi como líder. A ocupação provocou caos no Iraque, alimentando o sentimento antiamericano. Ao longo da década de 2000, o grupo expandiu sua influência, principalmente em áreas rurais. A oportunidade de se expandir para a Síria surgiu durante a Guerra Civil Síria em 2011, com o objetivo de estabelecer um império muçulmano teocrático. O ISIS ganhou notoriedade por disseminar conteúdo violento e realizar ações terroristas em todo o mundo.

Em 2014, atingiu seu auge, comandando uma grande força e capturando território no Iraque e na Síria, incluindo grandes cidades. No entanto, em 2019, potências ocidentais e grupos de resistência locais, incluindo os curdos, contra-atacaram o ISIS, fazendo com que perdesse a maior parte de seu território. O grupo então transferiu suas operações para países africanos na região do Sahel, o que resultou em um aumento substancial nas mortes relacionadas ao terrorismo na área entre 2007 e 2022.

Boko Haram

O Boko Haram é um grupo terrorista que opera principalmente na Nigéria. Fundado em 2002 por Mohammed Yusuf, seu nome significa “a educação ocidental é um pecado” em haúça, um dos idiomas falados no país. A Nigéria é uma nação com uma rica diversidade cultural e é o país mais populoso da África, com cerca de 220 milhões de habitantes. No entanto, também enfrenta uma série de desafios, incluindo miséria, desigualdade, corrupção e conflitos étnicos, que remontam à época do imperialismo.

O objetivo do Boko Haram é erradicar as influências e tradições ocidentais da Nigéria e estabelecer um regime teocrático baseado na lei islâmica, a Sharia. O grupo atraiu muitos seguidores entre as pessoas descontentes com a falta de poder e modernização do país. A morte de seu líder em 2009 não enfraqueceu o Boko Haram; pelo contrário, o grupo intensificou suas operações violentas, incluindo ataques a igrejas, bares e centros comerciais.

Com o tempo, o Boko Haram estabeleceu conexões com outros grupos terroristas, como a Al Qaeda e o Estado Islâmico, ampliando sua esfera de influência para países vizinhos. Um dos incidentes mais notórios envolveu o sequestro de 276 alunas de uma escola na região de Chibok, no norte da Nigéria, em 2014, que ganhou repercussão mundial. Embora algumas tenham retornado, muitas ainda estão desaparecidas, e relatos indicam que foram mantidas em cativeiro. De acordo com a Anistia Internacional, o Boko Haram já sequestrou mais de duas mil meninas e mulheres desde sua criação. O grupo continua a representar uma séria ameaça à segurança na região.

Hezbollah

O Hezbollah, uma organização radical xiita, é conhecido por suas raízes na Guerra Civil Libanesa (1975-1990) e sua formação em 1982, como resultado da segmentação do grupo Amal, a primeira facção xiita do Líbano. A principal motivação para sua criação foi a invasão israelense no território libanês e o enfraquecimento das forças locais de resistência.

Inicialmente, o Hezbollah operava de maneira clandestina e com financiamento do Irã, que se tornou uma república xiita sob a liderança do aiatolá Ruhollah Khomeini. Em 1985, o Hezbollah lançou a Carta Aberta, onde expressou suas principais demandas, incluindo a retomada do território libanês ocupado por Israel.

Com o término do conflito, o Hezbollah se transformou em uma entidade política legalizada e conquistou apoio dentro das comunidades islâmicas xiitas do Líbano. Na década de 1990, obteve representação no Parlamento libanês e ocupou cargos ministeriais significativos. A organização também se envolveu em projetos sociais e atividades agrícolas no sul do país. No entanto, o Hezbollah manteve sua força militar, expandindo seu efetivo para cerca de 25 mil soldados e 30 mil reservistas. Parte de suas tropas participou de operações fora do Líbano, como envolvimento nos conflitos na Síria e Iêmen.

Embora seja rotulado como uma organização terrorista pelos Estados Unidos e pela Europa, devido a alegações de atentados, especialmente contra alvos israelenses, o Hezbollah é visto em algumas partes do mundo árabe como um movimento legítimo de resistência contra a intervenção do Ocidente e de Israel na região.

Fontes:

  • SILVA, K. V.; SILVA, M. H. Dicionário de conceitos históricos. São Paulo: Contexto, 2009.
  • WEISS, M.; HASSAN, H. Estado Islâmico, desvendando o exército do terror. São Paulo: Seoman, 2015.

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