História do Brasil

Invasões Holandesas

Os holandeses foram presença marcante no Brasil do século XVII, quando empreenderam várias invasões ao território. Especialmente em Pernambuco, deixaram importante contribuição cultural.

As primeiras incursões holandesas: 1624-1625

A primeira tentativa de invasão do território colonial brasileiro pelos holandeses ocorreu em 1624, na cidade de Salvador, Bahia, sede do governo-geral do Estado do Brasil. A reação contra a presença holandesa foi intensa. Os luso-brasileiros encurralaram os invasores e impediram seu avanço para o interior, expulsando-os definitivamente em 1625. As investidas holandesas contra Salvador, porém, não cessaram; a cidade foi ameaçada por duas vezes em 1627, quando os holandeses saquearam diversos navios aportados.

Os holandeses em Pernambuco: 1630-1654

Invasões holandesas no Brasil Em 1630, os holandeses invadiram a capitania de Pernambuco, onde estavam os principais engenhos da colônia, e passaram a chamá-la de Nova Holanda. Matias de Albuquerque, que substituíra Diogo Furtado de Mendonça no governo-geral, não conseguiu reunir tropas suficientes para rechaçar a invasão.

Os historiadores têm dividido a invasão holandesa do território colonial em três períodos:

  • O primeiro período, entre 1630 e 1637, caracterizou-se pelo enfrentamento militar entre holandeses e portugueses. A partir de 1632, entretanto, os holandeses conseguiram se deslocar de Olinda e conquistaram também a Paraíba, o Rio Grande do Norte e Itamaracá, sedimentando sua ocupação na região Nordeste.
  • O segundo período, entre 1637 e 1645, foi marcado pelo governo de João Maurício de Nassau, mandado pelo governo holandês para organizar a nova colônia. Apesar dos conflitos constantes, esse período é considerado por alguns estudiosos como a “idade de ouro” do domínio holandês em Pernambuco.
  • O terceiro período da ocupação holandesa, entre 1645 e 1654, correspondeu às guerras de restauração e à derrota definitiva das forças holandesas.

O governo de Maurício de Nassau: 1637-1644

Em 1637, chegou ao Recife o conde João Maurício de Nassau, com o título de governador e comandante-em-chefe. Vinha a convite do governo holandês e da Companhia das Índias Ocidentais – empresa recém-criada que havia recebido do governo holandês o monopólio sobre o comércio nas colônias europeias da América.

Nassau fez acordos com os senhores de engenho, fornecendo-lhes empréstimos e adiando o pagamento de dívidas em troca de apoio político. Muitos engenhos haviam sido destruídos durante os conflitos entre luso-brasileiros e holandeses, e os senhores precisavam de recursos para reconstruí-los e modernizá-los.

Diversas medidas econômicas, político-administrativas e culturais marcaram o governo de Maurício de Nassau. Protestante da nobreza, ele exerceu uma política de tolerância cultural e religiosa, permitindo a prática dos cultos religiosos indígenas e africanos. A primeira sinagoga do Brasil data da administração holandesa no Recife. As condições de vida na cidade também melhoraram nesse período, com investimentos em saneamento básico, na abertura de ruas e construção de casas, pontes e canais e na organização das vilas.

Entre os marcos da presença holandesa no Brasil, destacam-se os aspectos científico e cultural. O grupo que Nassau trouxe da Holanda, conhecido como “missão holandesa”, incluía pintores, desenhistas, astrônomos, médicos, arquitetos, escultores e outros cientistas e artistas. Foram os primeiros a explorar e registrar sistematicamente o cenário natural e humano do Brasil colonial. Na pintura e no desenho, destacaram-se Frans Post (1612-1680), Albert Eckhout (1610-1665), Zacharias Wagener (1614-1668) e Caspar Schmalkalden (1617-1668). O livro Theatrum rerum naturalium brasiliae, reúne centenas de desenhos desses artistas.

A expulsão dos holandeses: 1645-1654

Os acordos de Maurício de Nassau com os senhores de engenho trouxeram prejuízos à Companhia das Índias Ocidentais, interessada apenas em obter lucros. Essa situação, agravada por outros incidentes, provocou a demissão de Nassau, que partiu do Recife em 1644. A própria Companhia assumiu a administração da colônia holandesa.

A reação contra a presença holandesa fortaleceu-se quando, ainda em 1644, os holandeses foram expulsos do Maranhão, após uma ocupação de 27 meses. No ano seguinte eclodiu a Insurreição Pernambucana, que contou, em sua etapa final, com a aliança entre os moradores de Pernambuco e os portugueses. Depois de diversas batalhas, os holandeses foram derrotados em 1654.

Em 1661, na cidade holandesa de Haia, Portugal e Holanda assinaram um acordo que estabelecia uma indenização devida aos holandeses pelos investimentos feitos no Brasil.

Consequências da disputa com os holandeses

As lutas contra a Holanda tinham como causa a União Ibérica (1580-1640), período em que Portugal ficou sob domínio espanhol. Com a criação da Companhia Holandesa das índias Ocidentais em 1621, os holandeses procuraram estabelecer as principais bases para seu enriquecimento: a exploração de escravos e de engenhos de açúcar.

Encerrada a ocupação holandesa no Brasil, restava à colônia a herança dos compromissos estabelecidos pela metrópole portuguesa com a Coroa inglesa, outra forma de dominação colonial. Isso porque, tanto na luta contra os holandeses quanto nas disputas contra os espanhóis pelo trono, os portugueses contaram com o apoio dos ingleses. Em consequência, Portugal e Brasil tornaram-se dependentes do capital inglês.

Outra grave consequência da expulsão dos holandeses foi a concorrência promovida por eles na produção de açúcar. Utilizando os conhecimentos acumulados no Brasil, passaram a produzir açúcar em suas possessões nas Antilhas com custos mais baixos e melhor qualidade, provocando a decadência da produção açucareira no Nordeste do Brasil.

Alguns historiadores afirmam que a expulsão holandesa também contribuiu para o surgimento do nativismo pernambucano, já que a província seria o palco de boa parte das revoltas posteriores contra a metrópole portuguesa.

Autoria: Walter Antonio Molica

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