Resumos de Livros

Venha ver o Pôr-do-Sol – Lygia Fagundes Telles

Analisaremos a obra Venha ver o Pôr-do-Sol em seu conjunto. Pois é esse conjunto que nos dará uma visão do estilo da escritora Lygia Fagundes Telles.

É necessário cautela e atenção durante a leitura, visto que as pontuações são necessárias ao entendimento. Seja discurso ou monólogo, a visão do estilo da autora, a precaução às interpretações exigem reflexões, descobertas e análises oriundas da “leitura tipo”. Cautela! Não tente decorar. Jamais. Sugerimos ao candidato acompanhar a análise utilizando-se dos excertos apresentados no resumo.

O Noivo

Um rapaz de nome Miguel estava noivo, de casamento marcado, mas não se lembrava o dia, hora e com quem iria se casar no dia 12 de novembro numa quinta-feira. Interrogou um fraque novo na sala. Viu que era intacto. Reviu um álbum de fotografias, analisou as amigas e se uma delas seria sua noiva.

Lembrou uma canção de roda. Frederico vem buscá-lo para ir e diz que ele já está atrasado. Ao chegar à igreja lembra mais mulheres que poderia se uma delas sua noiva. “Mas já são quase nove horas, o casamento não é às dez? O café está aqui, o senhor não quer uma xícara. – Agora não, depois. “Depois”, refletiu baixando o olhar para poltrona. Empalideceu. Via agora ao lado do armário um maleta – a maleta que usava para viagens curtas – cuidadosamente preparada, como se daí a alguns instantes devesse embarcar. Ajoelhou-se diante da pilha de roupas. “Mas para onde? Não sei de nada, não sei de nada!…” Examinou os pijamas envoltos em celofanes.

Livro Venha ver o pôr do solTocou de leve no chão de banho, nos shorts, nos sapatos de lona. Tudo novo, tudo pronto para uma curta temporada na praia, a lua-de-mel ia ser na praia, e quem ia se casar era ele” (p.12) “- Mas, Miguel… você ainda está assim? Faltam só dez minutos, homem de Deus! Como é que você atrasou desse jeito? Descalço, de pijama! Miguel baixou olhar! Frederico era seu amigo mais querido. Contudo, viera buscá-lo para aquilo. – Fico pronto num instante, já fiz a barba. – E que barba, olha aí, cortou-se todo. Já tomou banho? – Não. – Ainda não?! Santo Deus. Bom, paciência, toma na volta que agora não vai dar tempo – exclamou Frederico empurrando-o para o quarto. (…) Você está pálido, Miguel, que palidez é essa? Nervoso. – Não. – Acho que a noiva está mais calma. – Você tem ai o convite? – Que convite? – Do casamento. – Claro que não tenho convite algum, que é que você quer fazer com o convite? – Queria ver uma coisa… – Que coisa? Não tem quer ver nada, Miguel, estamos atrasadíssimos, eu sei onde é a igreja, sei a hora, que mais você quer? Nunca vi um noivo assim – resmungou Frederico atirando o cigarro pela janela. – E esse laço medonho, deixa que eu faço o laço… – Miguel entregou-lhe a gravata.

Pensou em Vera! E se fosse a Vera? Verinha, a irmã caçula de Frederico, a mais bonita, a mais graciosa.” (p.16) “Miguel encarou. “Que estranho. Lembrei-me de tantas! Mas justamente nela eu não tinha pensado…” Inclinou-se para beijá-la. 1964 (p.19)

Natal na Barca

O narrador-personagem faz um passeio num barco sem querer lembrar por que estava naquela barca com pessoas humildes e de forte calor humano, crentes. “Era uma mulher com uma criança, um velho e eu.” Com essas pessoas, ele aprende ou desperta coisas que até então, não imaginava que existisse a fé: “A caixa de fósforos escapou-me das mãos e quase resvalou para o rio. Agachei-me para apanhá-la. Sentindo então alguns respingos no rosto, inclinei-me mais até mergulhar as pontas dos dedos na água. – Tão gelada – estranhei, enxugando a mão. – Mas de manhã é quente. Voltei-me para a mulher que embalava a criança e me observava com um meio sorriso.

Sentei-me no banco ao seu lado. Tinha belos olhos claros, extraordinariamente brilhantes. Vi que suas roupas puídas tinham muito caráter, revestida de uma certa dignidade.” “- Seu filho? – É. Está doente, vou ao especialista, o farmacêutico de Lucena achou que eu devia consultar um médico hoje mesmo. Ainda ontem ele estava bem, mas de repente piorou. Uma febre, só febre… – Levantou a cabeça com energia. O queixo agudo era altivo, mas o olhar tinha a expressão doce. – Só sei que Deus não vai me abandonar.” “- É o caçula? – É o único. O meu primeiro morreu o ano passado. Subiu o muro, estava brincado de mágico quando de repente avisou, vou voar!? “Como não bastasse a pobreza que espiava pelos remendos da sua roupa, perdera o filhinho, o marido, e ainda via pairar uma sombra sobre o segundo filho que ninava nos braços. E ali estava sem a menor revolta, confiante.

Intocável.Apatia? Não, não podiam ser de uma apática aqueles olhos vivíssimos e aquelas mãos enérgicas. Inconselência? Uma obscura irritação me fez sorrir. – A senhora é conformada. – Tenho fé, dona. Deus nunca me abandonou. – Deus – repeti vagamente. – A senhora não acredita em Deus? – Acredito – murmurei. E ao, ouvir o som débil da minha afirmativa, sem saber porque, perturbei-me. Agora entendia. Aí estava o segredo daquela confiança, daquela calma. Era a tal fé que removia montanha..” “Acordou o dorminhoco! E olha ai, deve estar agora sem nenhuma febre. – Acordou?! Ela teve um sorriso. – Veja… Inclinei-me. A criança abrira os olhos – aqueles olhos que eu vira cerrados. Tão definitivamente. E bocejava, esfregando a mãozinha na face de novo corada. Fiquei olhando sem conseguir falar. – Então, bom Natal! – disse ela, enfiando a sacola.

Encarei-a Sob o manto preto, de pontas cruzadas e atiradas para trás, seu rosto Resplandecia. Apertei-lhe a mão vigorosa. E acompanhei-a com o olhar até que ela desapareceu na noite. Conduzido pelo bilheteiro, o velho passou por mim reiniciando seu afetuoso diálogo com o vizinho invisível. Saí por último da barca. Duas vezes voltei-me ainda para ver o rio. E pude imaginá-lo como seria de manhã cedo: verde e quente. Verde e quente.” (p.21/23/24/25)

Venha ver o pôr-do-sol

Ricardo é um rapaz misterioso, cheio de ideias mórbidas. Achou de levar a namorada para ver o pôr-do-sol no cemitério. Lá chegando, Raquel estranhou a ideias, insultou-o de cretino, louco. Passearam por todo o loca, visitaram alguns túmulos. Mas, para ver o pôr-do-sol teria que ser sobre o túmulo da família de Ricardo, pois lá estava sua prima. “- Cemitério abandonado, meu anjo. Vivos e mortos, desertam todos. Nem os fantasmas sobraram, olha aí como as criancinhas brincam sem medo – acrescentou apontando as crianças na sua ciranda. Ela tragou lentamente. Soprou a fumaça na cara do companheiro. – Ricardo e suas ideias.

E agora? Qual é o programa? Brandamente ele a tomou pela cintura. – Conheço bem tudo isso, minha gente está enterrada aí. Vamos entrar um instante e te mostrarei o pôr-do-sol mais lindo do mundo. Ele encarou-o um instante. Vergou a cabeça para trás numa risada. – Ver o pôr-do-sol!… Ah, meu Deus… Fabuloso!… Me implora um último encontro, me atormenta dias seguidos, me faz vir de longa para esta buraqueira, só mais uma vez, só mais uma vez! E para quê? Para ver o pôr-do-sol num cemitério…” (p.27) “- Estou sem dinheiro, meu anjo, vê se entende. – Mas eu pago. – Com o dinheiro dele? Prefiro beber formicida. Escolhi esse passeio porque é de graça e muito descente, não pode haver um passeio mais descente, não concorda comigo? Até romântico. Ela olhou em redor. Puxou o braço que ele apertava.” (p.28) “Ele esperou que ela chegasse quase a tocar o trinco da portinhola de ferro. Então deu uma volta à chave, arrancou-a da fechadura e saltou para trás. – Ricardo, abre isto imediatamente! Vamos, imediatamente! – ordenou, torcendo o trinco. – Detesto este tipo de brincadeira, você sabe disso. Seu idiota! É no que dá seguir a cabeça de um idiota desses. Brincadeira estúpida!” (p.33) “Ele já não sorria. Estava sério, os olhos diminuindo. Em redor deles, reapareceram as rugazinhas abertas em leque. – Boa noite, Raquel. – Chega, Ricardo! Você vai me pagar!… – gritou ela, estendo os braços por entre as grades, tentando agarrá-lo. – Cretinho! Me dá a chave desta porcaria, vamos!” “E, de repente, o grito medonho, inumano: – NÃO! Durante algum tempo ele ainda ouviu os gritos que se multiplicaram, semelhantes aos de um animal sendo estraçalhado.

Depois, os uivos foram ficando mais remotos, abafados como se viessem das profundezas da terra. Assim que atingiu o portão do cemitério, ele lançou ao poente um olhar mortiço. Ficou atento. Nenhum ouvido humano escutaria agora qualquer chamado. Acendeu um cigarro e foi descendo a ladeira. Crianças ao longe brincavam de roda.” (p.34)

As Formigas

Umas estudantes chegaram a um pensionato com o fim de ali se alojarem. A dona da casa foi mostrar-lhe o quarto. Em baixo da cama ficou uma caixa de ossos ao estudante anterior que terminara medicina. Como uma das estudantes fazia medicina, a mulher ofereceu-lhe e ela aceitou. A estudante examina os osso e viu que parecia de criança, na verdade eram de um anão. Havia um cheiro indescritível. À noite surgem umas formiguinhas enturmadas se dirigiam ao caixotinho de ossos. As moças tentavam matar as formigas, mas tantas outras apareciam para o mesmo fim.

Só que os ossinhos não se encontravam na mesma posição que ela deixara. Isso assombrou a estudante de Direito que, vendo os ossinhos formando um “ANÃO”, ela se desesperou para sair da pensão mesmo na madrugada já que havia tido um pesadelo com o anão dentro de seu quarto. “- (…) E ficou olhando dentro do caixotinho. – Esquisito. Muito esquisito. – O quê? – Me lembro que botei o crânio em cima da pilha, me lembro que até calcei ele com as omoplatas para não rolar. E agora ele está ai no chão do caixote, com uma omoplata de cada lado. Por acaso você mexeu aqui? – Deus me livre, tenho nojo de osso. Ainda mais de anão.” (p.38) “Então fui ver o caixotinho, aconteceu o que eu esperava… – Que foi? Fala de pressa, o que foi? Ela firmou o olhar oblíquo no caixotinho debaixo da cama. – Estão mesmo montando ele. E rapidamente, entende? O esqueleto está inteiro, só falta o fêmur. E os ossinhos da mão esquerda, fazem isso num instante. Vamos embora daqui.. -Você está falando sério? – Vamos embora, já arrumei as malas A mesa estava limpa e vazios os armários escancarados. – Mas sair assim, de madrugada? Pordemos sair assim? – Imediatamente, melhor não esperar que a bruxa acorde. Vamos, levanta. – E para onde a gente vai? – Não interessa, depois a gente vê. Vamos, vista isso, temos que sair antes que o anão fique pronto.

Olhei de longe a trilha: nunca elas pareceram tão rápidas. Calcei os sapatos, descolei a gravura da parede, enfiei o urso no bolso da japona e fomos arrastando as malas pelas escadas, mais intenso o cheiro vinha do quarto, deixamos a porta aberta. Foi o gato que miou comprido ou foi um grito? No céu, as últimas estrelas já empalideciam. Quando encarei a casa, só a janela nos via, o outro olho era penumbra.” 1977 (p.41/42)

O jardim selvagem

Tio Ed casara-se com Daniela sem avisar à família. Era um quarentão, medroso e inseguro. Muito envolvido com a família: Tia Pombinha e a sobrinha. Têm o tempo fofocando sobre a vida da família. Tia Pombinha sonha com dente, que isso não é nada bom. Semanas depois ela recebe a notícia do suicídio do Tio ED. “- Ele parece feliz, sem divida, mas ao mesmo tempo me olhou de um jeito… Era como se quisesse me dizer qualquer coisa e não tivesse coragem, senti isso com tanta força, que meu coração até doeu, quis perguntas, o que foi, Ed! Pode me dizer, o que foi?

Mas ele só me olhava e não disse nada. Tive a impressão de que estava com medo. – Com medo de que? – Não sei, não sei, mas foi como se eu estivesse vendo Ed menino outra vez. Tinha pavor do escuro, só queria dormir de luz acesa. Papai proibiu essa história de luz e não me deixou mais ir lá fazer companhia, achava que eu poderia estragá-lo com muito mimo. Mas uma noite não resisti escondida no quarto. Estava acordado, sentado na cama. Quer que eu fique aqui até dormir? Perguntei. Pode ir embora, disse, já não me importo mais de ficar no escuro. Então dei-lhe um beijo, como fiz hoje. Ele me abraçou e me olhou do mesmo jeito que me olhou agora, querendo confessar que estava com medo. Mas se coragem de confessar.” (p.44/45) “- Ai é que está… Quem é que pode saber? Ed sempre foi muito discreto, não é de se abrir com a gente, ele esconde.

Que moça será essa?!” – E não é bom? Isso de ser meio velha. Balançou a cabeça com ar de quem podia dizer ainda um montão de coisas sobre essa questão de idade. Mas preferia não dizer. – Hoje de manhã, quando você estava na escola, a cozinheira deles passou por aqui, é amiga de Conceição. Contou que ela se veste nos melhores costureiros, só usa perfume francês, toca piano… Quando estiveram na chácara, nesse último fim de semana, ela tomou banho nua debaixo da cascata. – Nua? – Nuinha. Vão morar lá na chácara, ele mandou reformar tudo, diz que a casa ficou uma casa de cinema. e é isso que me preocupa, Ducha. Que fortuna não estarão gastando nessas loucuras? Cristo-Rei, que fortuna! Onde é que ele foi encontrar essa moça? – Mas ele não é rico? – Ai é que está… Ed não é tão rico quanto se pensa. Dei de ombros. Nunca tinha pensado antes no assunto.” “- Diz que anda sempre com uma luva na mão direita, não tira nunca a luva dessa mão, nem dentro de casa. Sentei-me na cama. Esse pedaço me interessa. – Usa uma luva? – Na mão direita. Diz que tem dúzias de luva, cada qual de uma cor, combinando com o vestido. – E não tira nem dentro de casa? – Já amanhece com ela. Diz que teve um acidente com essa mão, deve ter ficado algum defeito…” (p.45/46) “Tia Pombinha tinha ido ao mercado, pudemos falar à vontade enquanto Conceição fazia o almoço. – Seu tio é muito bom, coitado. Gosto demais dele – começou ela enquanto beliscava um bolinho que Conceição tirara da frigideira. – Mas não combino com dona Daniela. Fazer aquilo com o pobre cachorro, não me conforma! – Que cachorro? – O Kleber, lá da chácara. Uma cachorro tão engraçadinho, coitado. Só porque ficou doente e ela achou que ele estava sofendo… Tem cabimento fazer isso com um cachorro?

Antes do Baile Verde

Lulu precisa ir ao baile, fantasiada e escolhe um modelo com muitos bordados em lantejoulas. Foi em busca dos favores de uma preta que já estava pronta para o desfile, aguardando seu amor Raimundo chegar. Enquanto isso o pai de Lu estava muito doente entre a vida e a morte. Tatisa (a preta) não conversava outra coisa senão sobre o estado de saúde do pai de Lu. Esta ficava irritada, porque não queria perder o baile. “- Tenho que ir, Tatisa! – Espera, já disse que estou pronta – repetiu, baixando a voz. – Só vou pegar a bolsa… – Você vai deixar a luz acessa? – Melhor, não? A casa fica mais alegre assim. No topo da escada ficaram mais juntas. Olharam na mesma direção: a porta estava fechada. Imíveis como se tivessem sido petrificadas na fuga, as duas mulheres ficaram fechadas. Imóveis como se tivessem sido petrificadas na fuga, as duas mulheres ficaram fechada.

Imóveis como se tivessem sido petrificadas na fuga, as duas mulheres ficaram ouvindo o relógio da sala. Foi a preta quem se moveu. A voz era um sopro: – Quer ir dar um espiada, Tatisa? – Vá você, Lu… Trocaram um rápido olhar. Bagas de suor escorriam pelas têmperas verdes da jovem, um suor turvo como sumo de uma casca de limão. O som prolongado de uma buzina foi-se fragmentando lá fora. Subiu poderoso o som do relógio. Brandamente e empregada desprendeu-se da mão da jovem. Foi descendo a escada na ponta dos pés. Abriu a porta da desprendeu-se da mão da jovem. Foi descendo a escada na ponta dos pés. Abriu a porta da rua. – Lu! Lu! – a jovem chamou num sobre salto. Continha-se para não gritar. – Espera ai, já vou indo! E apoiando-se ao corrimão, colada a ele, desceu precipitadamente. Quando bateu a porta atrás de si, rolaram pela escada algumas lantejoulas verdes na mesma direção, como se quisessem alcançá-la.” (p.68/68)

Menino

Um menino conversador, saiu para acompanhar a mãe no cinema. Não se acomodou bem no lugar escolhido pela mãe e tratou de mudar de posição sempre que não estivesse vendo a tela. Impaciente, ele ainda se depara com um homem que se senta ao lado de sua mãe. Ele procura atrapalhar as explicações da mãe porque não estava se sentindo bem. Ao retornar a casa, teve vontade de contar tudo ao pai. Mas, eles não se relacionavam muito bem. O pai demonstra-lhe muita confiança na mulher e ele concluiu que seus pais são felizes mesmo que houvesse traição. “- E então, meu amor, lendo o seu jornalzinho? – perguntou ela, beijando o homem na face. – Mas a luz está muito fraca? – A lâmpada maior queimou, liguei essa por enquanto – disse ele, tomando a mão da mulher. Beijou-a demoradamente. – Tudo bem? – Tudo bem.

O menino mordeu o lábio até sentir gosto de sangue na boca. Como nas outras noites, igual. – Então, meu filho? Gostou da fita? – perguntou o pai, dobrando jornal. Estendeu a mão ao menino e com a outra começou a acariciar o braço da mulher. – Pela sua cara, desconfio que não. – Gostei, sim. – Ah, confessa, filhote, você detestou, não foi? – contestou ela. – Nem eu entendi direito, uma complicação dos diabos, espionagem, guerra, magia… Você não podia ter entendido. – Entendi. Entendi tudo – eles quis gritar e voz saiu um sopro tão débil que só ele ouviu. – E ainda com dor de dente! – acrescentou ela, desprendendo-se do homem e subindo a escada. – Ah, já ia esquecendo a aspirina! O menino voltou para a escada os olhos cheios de lágrimas. – Que é isso? – estranhou o pai. – Parece até que você viu assombração. Que foi?

O menino encarou-o demoradamente. Aquele era o pai. O pai. Os cabelos grisalhos. Os óculos pesados. O rosto feio e bom. – Pai… – murmurou, aproximando-se. E repetiu num fio de voz: – Pai… – Mas meu filho, que aconteceu? Vamos, diga! – Nada, nada. Fechou os olhos para prender as lágrimas. Envolveu o pai num apertado abraço.” (p.78)