Artes

Arte Românica

A arte românica começou no final do século X e início do século XI, estendendo-se até o início do século XIII.

Contexto histórico

A religião cristã e as igrejas medievais impregnavam a vida do homem em todos os aspectos, por meio de uma perspectiva teocêntrica do mundo que associava a existência do todo à figura de Deus, que mantinha no Santo Padre, o papa, seu legítimo representante na Terra.

O estilo românico floresceu neste período com o intuito de fortalecer tais concepções. A arte e os artistas foram enquadrados nos valores católico-cristãos: os nus foram proibidos e as imagens de corpos vestidos não poderiam sequer sugerir sua anatomia.

Essa norma apenas foi rompida quando Giotto di Bondone (1266-1337) pintou o afresco Noli me tangere, de 1305, na Capela Scrovegni, também conhecida como Capela Arena, em Pádua, na Itália, cuja anatomia deixa-se notar sob os drapeados.

Arquitetura

Acompanhando a expansão da fé católica romana, muitas igrejas foram construídas entre 1050 e 1200 para abrigar o grande número de peregrinos que se reuniam para celebrar a fé e o culto a Deus.

Seguiram, a princípio, a arquitetura das basílicas, utilizando-se de elementos da arquitetura romana, como as colunas e os arcos redondos, e abandonando outros, como os tetos de madeira, vulneráveis a incêndios, substituindo-os por abóbadas de pedra cilíndricas, utilizando-as com arestas apoiadas em pilastras, para assim provê-las de grandes espaços interiores, sem colunas ou obstáculos.

Mais tarde, as igrejas românicas desenvolveram características próprias, distanciando-se dos modelos das basílicas na parte externa e interna. Adequaram-se para receber grande número de fiéis, adotando uma planta baixa em formato de cruz, em que uma longa nave atravessava um transepto mais curto.

Exemplo de arquitetura românica.
Catedral de Siena.

Ao longo de toda a nave e na área atrás do altar, diversas capelas abrigavam os relicários a serem admirados pelos visitantes, posicionados de frente para o altar.

As principais obras arquitetônicas deste período, mosteiros e abadias estão ligadas às rotas de peregrinação.

Pintura

A pintura românica, em sua maioria, são afrescos, que tinham a função de decorar os interiores das igrejas, preservando traços da influência carolíngia e bizantina. Servia como referência visual nas pregações realizadas nas igrejas.

As naves dessas construções eram decoradas com pinturas murais de paleta rica e de cores intensas, adotando como temas mais comuns passagens da Bíblia Sagrada e da vida de santos e mártires, cheias de exemplos de retidão e simetria.

Nem sempre as imagens faziam referência às forças divinas. Também procuravam evidenciar e contrapor os vícios às virtudes humanas, mesclando-os com bestialidades que intimidavam seus espectadores, de modo a lembrar-lhes que precisavam evitar o caminho do pecado e da fraqueza moral. O Cristo Pantocrátor, do Mestre de Tahull, talvez seja o mais significativo exemplo do estilo românico oriental na pintura.

Exemple da pintura românica.
Cristo Pantocrátor, de Tahull.

As figuras humanas eram desprovidas de plasticidade e o planejamento com excesso de dobras das túnicas e dos mantos deixava apenas insinuadas as formas do corpo. Os rostos tinham suas linhas reforçadas por traços escuros e grossos. Os fundos das pinturas eram normalmente monocromáticos e predominavam o branco ou o dourado.

A arte românica destacou-se ainda na decoração de manuscritos ou iluminuras de Bíblias, executados em pele de boi ou de carneiro, que criou um estilo único, tanto no seu aspecto formal quanto pictórico.

Escultura

A escultura românica, de caráter ornamental, instalou-se nos relevos dos pórticos e nas arcadas das igrejas e estendia-se aos capitéis das colunas.

Com um propósito didático semelhante ao da pintura, a escultura descrevia, por meio dos relevos narrativos, episódios e passagens bíblicas para doutrinar os fiéis pela linguagem visual, uma vez que, em sua maioria, eram iletrados, procurando fortalecer arquétipos doutrinários, que afastassem o fiel do mal, do pecado e do inferno.

O corpo também desaparece sob as inúmeras camadas de panos das vestes e às figuras humanas se misturam animais fantásticos, caracterizando a mescla entre as tradições nórdicas e as orientais, em representações de caráter simbólico ou alegórico.

As peças eram expostas no interior de igrejas, contribuindo para intensificar os efeitos arquitetônicos dos prédios; nos tímpanos, espaços semicirculares que encimavam as portas das igrejas, cenas de maior grandeza eram representadas, tais como o Juízo Final ou o Todo-Poderoso cercado pelos símbolos evangelizadores.

A ourivesaria foi uma importante manifestação artística que adotou a temática religiosa, prestando-se à fabricação de objetos sacros como cruzes, relicários, estátuas, entre outros, para decoração de igrejas e altares, utilizando-se de técnicas bastante refinadas, como a filigrana e o esmalte. O uso de matéria-prima tão valiosa atraiu também o interesse de reis e nobres, encomendando peças em quantidades e doando-as a igrejas, que recebiam peregrinos.

A igreja, para ser considerada centro de peregrinação, deveria possuir relíquias de algum santo ou ter seus objetos, restos mortais ou parte deles guardados em obras de ourivesaria, como foi o caso dos restos do apóstolo São Tiago que repousam na igreja de Santiago de Compostela, local na Espanha que se transformou em importante ponto de peregrinação da Europa. Vindos de toda parte do mundo cristão, os peregrinos levavam consigo uma pequena concha, símbolo desse santo, como lembrança e amuleto.

A escultura buscou sua autonomia no apogeu do século XII, evoluindo para o naturalismo, desprendendo-se das convenções e das influências bizantinas.

Por: Wilson Teixeira Moutinho

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