Astronomia

Eclipse Solar e Lunar

A expressão eclipse tem origem grega, ékleipsis, que significa “ato de sair ou desaparecer de um local”. Quando empregamos hoje a palavra em astronomia, o significado é o “desaparecimento” temporário de um astro, ou ao menos o seu desaparecimento sob nosso ponto de vista.

Ao longo da história humana, os eclipses da Lua e do Sol, mais evidentes e visíveis a olho nu, foram estudados amplamente, e fizeram parte inclusive da mitologia e das crenças da grande maioria das civilizações.

Tipos de eclipses

Eclipse solar

O eclipse solar é um fenômeno que ocorre quando a Lua, ao longo de sua órbita ao redor da Terra, se posiciona entre o Sol e a Terra, fazendo com que o Sol desaparece por alguns momentos. A depender da localização do observador na Terra e dos ângulos entre os astros, o eclipse solar pode ter dois tipos distintos: o eclipse pode ser total, quando o disco inteiro do Sol está atrás da Lua, ou parcial, quando a Lua é capaz de cobrir somente uma parte do Sol.

Foto onde a lua está encobrindo totalmente o sol.
Coroa solar formada por um eclipse total do sol.

Durante o eclipse solar, especialmente em razão da potência luminosa do Sol, o brilho da estrela não é jamais apagado de forma completa. Ainda que a circunferência da Lua cubra, no eclipse total, toda a circunferência do Sol no céu, ainda é possível enxergar uma aura luminosa ao redor da escuridão criada pela Lua: a coroa solar. Com a principal fonte de luz da estrela ocultada, é possível enxergar a coroa solar – ou seja, o envoltório de gases incandescentes que existe ao redor da estrela.

Outra observação interessante é a das “pérolas de Baily“, que podem ser vistas na fase de eclipse total. A superfície lunar não é regular – ao contrário, possui montanhas e crateras que, quando à frente do Sol, deixam transparecer apenas alguns dos raios luminosos.

Eclipses totais são menos frequentes que os parciais. Para que um eclipse total ocorra, o número possível de ângulos entre os astros é bastante limitado – o que não ocorre com os eclipses parciais. Em geral, os eclipses totais são vistos apenas por uma faixa específica na superfície do planeta – novamente em decorrência dos ângulos. Essa faixa na qual o eclipse total é visível é conhecida por franja de totalidade. Nas zonas adjacentes, observa-se um eclipse parcial.

Eclipses não devem ser observados diretamente a olho nu. Apesar do brilho do Sol não estar em sua totalidade, os raios remanescentes ainda possuem toda sua potência – e podem causar danos permanentes à visão, a depender do tempo de exposição. Filtros especiais, óculos e máscaras devem sempre ser utilizados – uma vez que eles também permitem uma visibilidade melhor dos fenômenos ao redor do eclipse, como a coroa.

Imagem representativa de um eclipse solar.
Posição relativa do Sol, da Terra e da Lua para a ocorrência de eclipse solar. Como a Lua está mais próxima da Terra, ela é capaz de “esconder” o Sol, mesmo tendo diâmetro muitas vezes inferior.

Eclipse lunar

Um eclipse lunar ocorre quando a Terra se posiciona entre o Sol e a Lua. A sombra do nosso planeta, bem maior que a Lua, encobre completamente o satélite natural. Contudo, o fenômeno do eclipse só pode ser notado propriamente durante a fase cheia da Lua – e com um alinhamento astronômico perfeito: Sol – Terra – Lua.

Novamente, o eclipse lunar também pode ser total ou parcial. Contudo, nos eclipses parciais, uma vez que a Lua não emite luz própria, o que vemos é uma parte da Lua parcialmente iluminada – ou penumbral, quando a Lua fica em uma região denominada penumbra, local no qual a Terra é capaz de cobrir parcialmente a luz solar.

Os eclipses lunares são em geral mais comuns que os solares, e podem ser observados a olho nu sem perigo. A Lua não emite luz própria e a reflexão de luz solar durante o eclipse é ainda menor que a reflexão durante a lua cheia.

Imagem representativa de um eclipse lunar.
Posição relativa do Sol, da Terra e da Lua para a ocorrência de um eclipse lunar. Nesta conformação, a Terra projeta sua sombra na Lua, encobrindo-a de forma parcial ou total.

O eclipse lunar projeta uma sombra relativamente pequena sobre a superfície terrestre – o que limita as áreas nas quais o eclipse total é percebido. Isso ocorre porque o diâmetro lunar é consideravelmente menor que o terrestre, além de a Lua estar a uma distância da Terra bem maior do que alguns podem supor.

Os eclipses ao longo da história

Ao longo da história, os eclipses causaram muito espanto na humanidade, gerando diversas histórias, mitos e superstições. Já foram vistos como sinal de “mau agouro” ou de “boa sorte”. Civilizações do mundo inteiro criaram histórias e mitos sobre os eclipses, solares ou lunares, e muitas delas puderam inclusive prever, com precisão matemática, o acontecimento dos próximos fenômenos.

Os maias, por exemplo, que possuíam um calendário astronômico avançado, não eram no entanto capazes de antever muitos dos eclipses. Na mitologia maia, os eclipses eram um mau sinal – eles indicavam a “morte de um deus”, o que traria certamente consequências negativas para os seres humanos.

Contudo, o primeiro eclipse registrado “oficialmente” ocorreu no dia 30 de outubro de 1207 a.C. Pesquisadores da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, descobriram que esse eclipse teria sido mencionado na Bíblia, no livro de Josué. Apesar da Bíblia não possuir datas precisas, indicações do mesmo eclipse puderam ser encontrados em relatos arqueológicos de outras civilizações da mesma época, como os egípcios – no caso escritos da época de Ramsés II, o Grande, o terceiro faraó da XIX dinastia egípcia.

Os babilônios, por outro lado, civilização da Mesopotâmia durante os últimos dois milênios antes de Cristo, possuíam cálculos matemáticos e calendários que se baseavam em “ciclos” tanto para eclipses lunares como solares. Astrônomos da época perceberam, por exemplo, que alguns eclipses acontecem em intervalos regulares – e conseguiram prever esses ciclos em dias.

Tales de Mileto (624 a.C.-548 a.C.) foi o primeiro a conseguir prever matematicamente um eclipse solar, e manter registros do seu feito. Os gregos também possuíam uma relação mitológica com os eclipses, mas filósofos e astrônomos da época possuíam uma visão mais científica do cosmos.

Mais recentemente, em 1133 d.C., a morte do rei Henrique I da Inglaterra coincidiu com um eclipse solar total que durou 4 minutos e 38 segundos. Esse eclipse causou muito alvoroço nos ingleses da época, que chamaram o fenômeno de “trevas horrendas”, já que após a morte do rei iniciou-se uma luta pelo trono, dando início a uma Guerra Civil.

Os povos indígenas brasileiros também se espantavam com os eclipses. Um dos mitos tupi-guarani sobre os eclipses relata que a onça sempre persegue os irmãos Sol e Lua. Quando ocorrem os eclipses, solar ou lunar, os indígenas gritam e fazem muito barulho, tudo com o objetivo de espantar a onça celeste, pois acreditam que o fim do mundo ocorrerá quando ela devorar a Lua e o Sol, fazendo a Terra cair na mais completa escuridão.

De quanto em quanto tempo ocorrem os eclipses?

Por milênios o homem tentou – e às vezes conseguiu – criar modelos matemáticos e calendários que pudessem prever os eclipses. O feito é particularmente difícil – os ciclos muitas vezes dependem de onde o observador está.

Estudos matemáticos aprofundados pelos astrônomos permitiram o desenvolvimento de um sistema capaz de prever eclipses, chamado de ciclo de Saros, que leva em consideração os movimentos relativos do Sol e da Lua. Segundo esse método, a cada 18 anos acontece uma periodicidade na ocorrência dos eclipses solares e lunares, ocorrendo, em média, 42 eclipses de cada tipo, totalizando 84 eclipses em um ciclo.

Tomando esses números por base, a cada ano ocorrem, em média, dois eclipses solares e dois lunares. Contudo, em raros anos o número de eclipses pode chegar sete ou mais. A frequência dos eclipses lunares – os totais – é praticamente a mesma dos eclipses solares totais. Eclipses solares parecem mais raros porque são visíveis apenas em determinada faixa do globo – os lunares são visíveis em todo um hemisfério – embora em momentos diferentes, à medida que a sombra lunar percorre a superfície terrestre.

Referências:

Por: Carlos Artur Matos

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