Cultura

Década de 70 no Brasil

A cultura na década de 70 foi marcada pela forte presença da censura. Ao mesmo tempo, teve a criatividade e o engajamento de muitos artistas e intelectuais. Nos anos 1980, com a anistia, as atividades artísticas tomaram outros rumos.

O teatro como palco de resistência

Ao ampliar a repressão a partir de 1968, com o AI-5, o regime militar ocasionou o surgimento de novas formas de contestação, entre elas o teatro. Nos anos 1970 e 1980, elas acompanhariam o processo de redemocratização e a frustração com a derrota do movimento Diretas-Já.

O Teatro de Arena

O nascimento do Teatro de Arena na década de 1960 marcou um momento de expressão genuinamente nacional do teatro brasileiro. Ao mesmo tempo, engajou-se politicamente, posicionando-se contra o regime militar e expondo seu ponto de vista em peças como Eles não usam black-tie, de Gianfrancesco Guamieri, que retrata as dificuldades vividas por um grupo de operários em greve.

A obra era uma critica direta aos temas encenados no TBC, cuja trama dizia respeito a um universo burguês simples e feliz. Ao mesmo tempo, a peça propunha discussões, como o direito de greve, proibido pelos militares, e o direito à liberdade de escolha e de expressão.

A perseguição imposta pela ditadura e a censura aos textos do Arena levaram ao fechamento da companhia, em 1972.

O Teatro Oficina

Na mesma linha do Teatro de Arena também se destacou o Teatro Oficina, que se inspirava nas ideias existencialistas do francês Jean-Paul Sartre e do russo Stanislávski. O Oficina foi dirigido por José Celso Martinez Corrêa, que interagia com o público, convidando-o a problematizar politicamente o que estava sendo encenado.

O Teatro Oficina produziu, em 1962, a adaptação da peça de Tennessee Williams Um bonde chamado desejo, que foi um grande sucesso. O êxito definitivo veio em 1967, com 0 rei da vela, adaptação da peça de Oswald de Andrade. O endurecimento do regime restringiu a atuação do Oficina, e José Celso partiu para o exílio em 1974. Ao voltar, em 1978, retomou as atividades do Oficina (em São Paulo), apresentando espetáculos polêmicos.

As telenovelas

As telenovelas nasceram na Rede Tupi, ganhando projeção com o sucesso de Beto Rockfeller, em 1968, mas foi a Rede Globo que tornou esse gênero o preferido da população.

As telenovelas passaram a retratar o mundo da classe média carioca e paulistana, sempre se destacando pelo final feliz. Mesmo refletindo um nicho social, as telenovelas incorporavam os demais grupos sociais à trama -que, em geral, caminha para um final em que todos se confraternizam.

Vários autores colaboraram para a excelência das telenovelas, como Janete Clair, que escreveu clássicos como Selva de pedra, e Dias Gomes, autor de sucessos como O bem–amado e Saramandaia.

O cinema marginal

O cinema marginal surgiu em substituição ao Cinema Novo, esgotado criativamente e vítima do regime militar e de sua radicalização pós-1968.

No mesmo ano de 1968, Rogério Sganzerla dirigiu o filme 0 bandido da luz vermelha, que retratava o caso real de um ladrão que invadia residências de luxo em São Paulo para assaltá-las e violentar as mulheres. O filme conta a história da perspectiva do mundo marginal, numa clara demonstração de desapego à ética e aos valores morais. E considerado um divisor de águas entre o Cinema Novo e o cinema marginal.

Em 1969, fortalecendo o cinema marginal, entra em cartaz Matou a família e foi ao cinema, de Júlio Bressane, que conta a história de um jovem de classe média que mata os pais a navalhadas e depois vai ao cinema.

O cinema marginal também não resistiu por muito tempo, vindo a sucumbir pela falta de patrocínio. Os investimentos disponíveis eram direcionados para grandes produções que exaltassem o Brasil e as realizações do governo.

A Rede Globo

A expansão da televisão no Brasil confunde-se com a história da Rede Globo, que nasceu em 1965, como um dos braços das Organizações Globo, cujo setor mais forte era o jornalismo, representado pelo jornal 0 Globo. O nascimento da Rede Globo foi facilitado pelos militares, que encontraram em sua programação o apoio incondicional às medidas e políticas que adotavam.

Ela contou ainda com o investimento do conglomerado norte-americano Time Life (o que era proibido por lei) para se equipar com aparelhos de qualidade superior vindos dos EUA e da Europa, garantindo um padrão de excelência inédito na televisão e que passaria a ditar o formato das redes concorrentes.

Prova desse apuro técnico foram as telenovelas produzidas pela Rede Globo, que se tornaram febre nacional. Ao lado delas, programas informativos, como o Fantástico, o Globo Repórter e o Jornal Nacional, carro–chefe da emissora, procuravam destacar as realizações do governo militar, fortalecendo e legitimando a mensagem ufanista do regime.

Chico Buarque de Hollanda

Chico Buarque foi um dos protagonistas da década de 70, nasceu no Rio de Janeiro, em 1944. Iniciou sua carreira musical em 1964, em um concurso na antiga TV Excelsior.

Durante o regime militar, suas letras foram ficando mais críticas, valendo-se de termos de duplo sentido para escapar da censura, o que não impediu que fosse perseguido, vindo a se exilar no exterior entre 1968 e 1970.

Sua versatilidade como artista lhe permitiu participar da montagem de musicais e peças de teatro, como Calabor e Roda viva.

Com a reabertura democrática, suas músicas se distanciaram da temática política e ganharam mais poesia, tematizando o amor e os prazeres da vida. Nos anos 1970 iniciou carreira literária. Entre outros livros, escreveu Estorvo, Benjamim e Budapeste.

Por: Antônio Sacks Oliveira – Mestre em história

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