Doenças

Salmonelas

As salmonelas são microrganismos que estão largamente disseminados na natureza, habitando o tubo digestivo de mamíferos, aves répteis. Encontram-se classificadas entre as enterobactérias na tribo Salmonelleae, de que participam os gêneros Salmonella, Citrobacter e Arizona.

Trata-se de bacilos gram-negativos, medindo 2 a 4 micra por 0,5 mícron, móveis (fazem exceção a Samonella gallinarum e a Salmonella pollorum), de crescimento fácil nos meios de cultura de uso rotineiro, definidos por características bioquímicas comuns: não fermentam a lactose e a sacarose, não fluidificam gelatina e – com exceção da Samonella Typhi e da Samonella gallinarum – fermentam glicose e o monitol com produção de gás; não crescem na presença de KCN, reduzem nitratos a nitritos e quase todos os sorotipos produzem H2S.

Se bem que possuam potentes endoxinas (que correspondem ao antígeno somático O), as samonelas não produzem exotoxinas. São destruídas pela pasteurização e quando expostas durante 15 a 20 minutos à temperatura de 60º C; no entanto conservam o poder infectante no gelo durante muitos meses e mantém-se vivas durante várias semanas em águas esterilizada. Na falta de competição biológica com outros microrganismos, conservam sua viabilidade durante período mais prolongado nas águas puras que nas poluídas. Não suportam a coloração e a exposição direta aos raios solares por mais que oito horas, mas resistem bem à dessecação e à exposição à luz indireta.

Salmonelas

Com base no estudo dos antígenos somáticos (O e Vi) e flagelares (H), realizado com antissoros específicos, já se identificaram, segundo Wilson & Miles (1975), cerca de 2000 sorotipos (impropriamente denominados espécies) de samonelas distribuídos em diversos grupos ( A, B, C, D, E, etc.) no esquema de Kauffmann-White (classificação elaborada a partir do conhecimento da estrutura antigênica dos sorotipos). Desses sorotipos menos de 40 são comprovadamente patogênicos para a espécie humana, entretanto, doses pequenas (inócuas para os adultos) de outras salmonelas são patogênicas para crianças.

A infecção por samonelas é determinada quase sempre por intermédio da ingestão de alimentos contaminados com fezes. Ovos (de pata, peruas, galinhas, etc), carne (de porco, de vaca, de carneiro) e derivados, além do leite e de seus derivados, constituem as fontes mais comuns de infecção.

Nos adultos a maioria das infecções causadas relaciona-se com reservatórios animais de samonelas. Nos lactentes predomina a transmissão a partir de portadores (mãe, enfermeiros, médicos, etc) ou a infecção cruzada em berçários, enfermarias e creches.

A gastrenterite é a mais comum das síndromes causadas por samonelas. A Salmonella typhimurium, patogênica para numerosos animais (merecendo os roedores citação especial).

O período de incubação da gastrenterite por samonela varia de seis a 48 horas, mas geralmente não ultrapassa 24 horas (febre, dor abnominal, náuseas, vômitos, diarreia e anorexia).

Em todas as formas de infecção por Samonela, os germes penetram por via oral, podendo causar tanto infecções clinicas, como subclinicas. As Samonelas podem produzir três tipos principais de doença, embora sejam frequentes as formas mistas.

A – As “Febres Entéricas”: Tifoide (S. typhi) e paratifoide (S. paratyphi, S. schottmulleri etc). os germes ingeridos com bebida ou comida contaminadas alcançam o intestino delgado, onde ocorre sua penetração (talvez no interior de monócitos) nos linfáticos intestinais. Caminham, então, pelo canal torácico, até a corrente sanguínea, disseminando-se para muitos órgãos, inclusive rins e intestinos, onde os micro-organismos se multiplicam no tecido linfoide e são excretados pelas fezes. A dose infectante para o homem geralmente se situa acima de 1000.000 germes.

As lesões mais destacadas são hiperplasia e necrose do tecido linfoide (por exemplo, placas Peyer), necrose focal do fígado, inflamação da visicula biliar e ocasionalmente, de outros locais (e. g. periósteo, pulmões)

B – Septicemias: Devidas, por exemplo, à S. choleraesuis. A infecção por via oral é logo seguida por uma invasão da corrente sanguinea, embora, geralmente não ocorra o comprometimento intestinal. Os microrganismos estão amplamente disseminados, e podem produzir supuração focal, abscessos e meningites, osteomelits, pneumonia endocardite, sobretudo em pacientes debilitados.

C – Gastrenterite: (Denominada frequentemente “intoxicação alimentar”): Devida à S. Typhimurium, S. enteritidis ou S. derby, por exemplo. Os sintomas aparecem somente após 1 a 3 dias de incubação, o que sugere que a ingestão de um grande numero de microrganismos libera uma quantidade de toxina capaz de provocar uma irritação local violenta das mucosas. Não há, entretanto, invasão da corrente sanguínea nem disseminação para outros órgãos.

IMUNIDADE

As infecções causadas por S. typhi, S. paratyphi e S. schottmulleri conferem habitualmente, certo grau de imunidade. A reinfecção pode ocorrer mais, com frequência, menos gravemente. Um antígeno protetor,termolábil, foi parcialmente purificado. Os anticorpos circulantes para os antígenos O, H, e Vi não se relacionam claramente com a imunidade.

TRATAMENTO

Na diarreia intensa, torna-se essencial a reposição hidrelétrotilica. Pode haver necessidade de administração dos opiáceos. Muitos agentes antimicrobianos são ativos contra as samonelas. O cloranfenicol e a ampicilina constituem os agentes mais eficazes para a supressão da doença, mas não conseguem necessariamente, erradicar os germes, o que permanece em função do processo imunitário. A resistência múltipla aos antimicrobianos, transmitida geneticamente por um trator de  transferência de resistência (FTR) entre as bactérias intestinais e semelhante a um epissomo, desempenha um papel nos problemas crescentes de tratamento das infecções por salmonelas.

Nos portadores, os microrganismos podem abrigar-se nos intestinos, ou na vesícula e condutos biliares. Os portadores intestinais podem, algumas vezes, ser tratados com sucesso pela vias intestinais podem, algumas vezes, ser tratados com sucesso pela ampicilina. O tratamento dos portadores biliares exige a colecistectomia além da ampicilina. Os medicamentos antimicrobianos curam, de forma eficaz, a febre entérica, enquanto não conseguem abreviar o curso da gastrenterite por salmonela, podendo haver até um prolongamento no tempo de excreção desses microrganismos.

PREVENÇÃO e CONTROLE

Devem ser tomados medidas sanitárias para evitar a contaminação, dos alimentos e da água, por roedores ou outros animais, que excretem salmonelas. Deve-se cozinhar muito bem as carnes de animais e aves, bem como os ovos infectados. Aos portadores não se deve permitir o trabalho como manipuladores de alimentos devendo ser observadas estritas precauções de higiene. A colecistectomia ou a administração de ampicilina podem eliminar o estado de portador.

Duas injeções com uma suspensão de S. typhi, mortos pela acetona, seguidas de uma dose de reforço alguns meses depois, conferem proteção parcial contra pequenas doses no bacilo tifoide, mas não contra doses elevadas. As vacinas contra as outras salmonelas conferem uma proteção ainda menor e não se recomendam.

Bibliografia: 

Rubens – Patologia Estrutural e Funcional
Veronesi – Doenças Infecciosas e Parasitárias