Estados brasileiros

Ceará

A abolição da escravatura se fez na província do Ceará em 1884, quatro anos antes do 13 de maio. Festejaram os abolicionistas de todo o país e José do Patrocínio deu ao Ceará o nome de “Terra da Luz”. D. Pedro II aplaudiu comovido; e até Victor Hugo mandou da França uma saudação aos cearenses.

Situado na região Nordeste do Brasil, o Ceará ocupa uma superfície de 146.348km2. Banhado pelo oceano Atlântico numa extensão de 538km, tem litoral pouco recortado, onde aparecem planícies costeiras que contêm tabuleiros terciários e praias com dunas, célebres por sua beleza. Limita-se a leste com a Paraíba e o Rio Grande do Norte, ao sul com Pernambuco e a oeste com o Piauí. A capital é Fortaleza.

Geografia física

Relevo

Cinco categorias morfológicas caracterizam o relevo cearense: o pediplano, as serras, as chapadas, os tabuleiros litorâneos e as planícies aluviais. O pediplano, feição dominante, constitui uma vasta planura, levemente ondulada, que cai de modo suave de sul para norte e dele surgem elevações esparsas, as serras e chapadas. As serras são maciços montanhosos talhados em rochas cristalinas antigas.

Ceará

As mais importantes são as de Uruburetama, Meruoca e Baturité, a última com 1.115m, no pico Alto, ponto culminante da região Nordeste. As chapadas são elevações tabulares de grande extensão, formadas por terrenos sedimentares dispostos em camadas horizontais ou ligeiramente inclinadas. Dominam aí formações areníticas muito porosas, nas quais a água da chuva se infiltra, dando origem a fontes naturais no sopé das chapadas. As mais importantes chapadas localizam-se nas divisas com estados vizinhos: a do Apodi, a nordeste; a do Araripe, ao sul; e a de Ibiapaba, a oeste.

Os tabuleiros litorâneos são também formações areníticas do período terciário, pouco elevadas, e estendem-se por toda a extensão da costa cearense, dominando as praias. Finalmente, ao longo dos rios (Jaguaribe, Acaraú e outros), desenvolvem-se planícies aluviais (várzeas) sujeitas a inundações, que lhes renovam periodicamente os solos. Cerca de 92% da superfície do estado se encontra abaixo de 600m de altura, e 56% abaixo de 300.

Os solos dos extensos plainos do sertão (pediplanos) são em geral rasos, mas apresentam boa composição química. As dificuldades que oferecem à utilização agrícola resultam apenas de sua deficiência em umidade. Por outro lado, o principal problema dos solos das serras é sua declividade, que favorece a erosão acelerada do terreno. Os solos das chapadas são em geral pobres.

Clima

Salvo pequeno trecho da costa, nas vizinhanças de Fortaleza, que recebe de 1.000 a 1.500mm de chuvas anuais, prevalece na maior parte do território o clima semi-árido, do tipo Bsh de Köppen. A pluviosidade reduzida (menos de 1.000mm anuais e, em alguns locais, menos de 600mm) está sujeita a um regime irregular. Em determinados anos, a estação chuvosa não se produz, desencadeando o fenômeno da seca. Essas condições são ainda agravadas pelo forte calor, de que resulta um elevado índice de evaporação, que muito reduz a disponibilidade de água no solo. Só escapam a esse quadro serras e chapadas, pelas chuvas de relevo que determinam.

Vegetação

O revestimento vegetal se caracteriza pela predominância das caatingas, que recobrem cerca de 91% da superfície estadual. Esse tipo de vegetação encontra-se bastante modificado pela ação do homem, que o substituiu por plantações de algodão ou o transformou em pastagem, eliminando o estrato arbóreo ou arbustivo. Ocorrem ainda no Ceará, ocupando pequenas áreas, mais três tipos de vegetação: cerrados no topo plano das chapadas; carnaubais nas várzeas dos rios, sobretudo na do Jaguaribe; e florestas nas encostas de serras e sopés de chapadas.

Hidrografia

O principal rio do Ceará é o Jaguaribe, cuja bacia drena todo o sul, o centro e o leste do estado. O norte é banhado por pequenos rios independentes, entre os quais o Coreaú, o Acaraú e o Aracatiaçu. Todos os rios do Ceará são temporários, pois “cortam” na estação das secas, isto é, secam. Dentre os açudes construídos no estado, os maiores são os de Orós, no Jaguaribe, e de Banabuiú, no rio do mesmo nome. A capacidade de armazenamento de água atinge 7,8 bilhões de metros cúbicos, mas a utilização dos açudes na irrigação ainda é reduzida.

População e rede urbana

A distribuição da população é irregular, com forte contraste entre zonas de fraca e intensa concentração demográfica. A maior parte do território estadual — as grandes planuras do pediplano, marcadas por baixa pluviosidade — registra menos de vinte habitantes por quilômetro quadrado. Aí se incluem amplos espaços com menos de dez habitantes por quilômetro quadrado. Por outro lado, observam-se duas áreas em que as densidades demográficas nunca ficam abaixo de vinte habitantes por quilômetro quadrado, mantendo-se em geral acima de trinta. A primeira compreende todo o norte do estado e estende-se para o sul ao longo da divisa com o Piauí até Crateús. Além da proximidade do litoral, essa região compreende numerosas elevações, às quais se associa maior pluviosidade (chuvas de relevo), o que possibilita uma agricultura mais intensa; além da chapada de Ibiapaba, encontram-se aí as serras de Meruoca, Mucuripe, Uruburetama, Dança, Arará, Maranguape, Aratanha e Baturité. Fortaleza e Sobral são os principais centros urbanos.

A segunda área de adensamento populacional, no sudeste do estado, compreende o sopé setentrional da chapada do Araripe, onde se desenvolve a importante região agrícola do Cariri, a zona serrana que antecede a chapada e um trecho da várzea do rio Jaguaribe. Os principais centros urbanos são Crato e Juazeiro do Norte.

O território do Ceará encontra-se sob a influência de duas metrópoles regionais: Fortaleza e Recife. A primeira domina a maior parte do estado, cabendo à segunda apenas a extremidade meridional (Cariri e chapada do Araripe). Como porto, entroncamento viário, centro industrial, comercial e de serviços e centro cultural, a influência de Fortaleza se faz sentir também sobre o norte e o centro do Piauí e o leste do Maranhão. Na porção ocidental do Ceará, é por meio de Sobral que Fortaleza comanda a vida econômica; na parte centro-norte, é por meio de Iguatu.

A segunda cidade do Ceará, Juazeiro do Norte, situa-se, entretanto, na zona de influência de Recife. Juntamente com a cidade do Crato, que fica apenas a 12km dela, serve ao extremo sul do estado e a alguns municípios do noroeste de Pernambuco e sudeste do Piauí.

Economia

Agricultura e pecuária

Aproximadamente 75% da população ativa ocupa-se do setor agropecuário. A agricultura constitui o setor de maior importância econômica, quer pelo valor da produção, quer pelo efetivo de mão-de-obra utilizado. Domina no estado a pequena lavoura comercial e de subsistência.

A cultura do algodão arbóreo, importante produto do estado pela área ocupada e valor da produção, ocupa grande parte da área agrícola do pediplano, onde também se cultiva a mamona. Em meio a essas áreas, ocupando os leitos secos dos rios, surgem na estação seca as chamadas culturas de vazante, que proveem em parte a subsistência da população local.

Outro tipo de agricultura aparece nas várzeas dos rios (terrenos aluviais), sobretudo nos vales do Jaguaribe, Banabuiú e Acaraú, com cultivos de cana, arroz, milho, feijão e algodão herbáceo. Em encostas de serras, chuvas de relevo permitem aproveitamento mais intenso do solo com cultura de cana, café, árvores frutíferas (sobretudo banana) e alguns produtos de subsistência (milho, feijão e mandioca). A agricultura que se desenvolve no sopé das chapadas também se prende à ocorrência de chuvas de relevo, mas aí se verifica ainda o aproveitamento da água de fontes naturais. Os principais cultivos são banana, cana-de-açúcar, feijão, arroz e milho.

A pecuária extensiva ocupa a maior parte das terras secas do sertão, onde o gado bovino é criado à solta, principalmente em pastagens naturais. O Ceará possui um dos maiores rebanhos bovinos do Nordeste. Os rebanhos de suínos, ovinos e caprinos também são numerosos.

Indústria

Os principais ramos da indústria de transformação, pelo valor da produção e pelo número de pessoas empregadas, são a indústria têxtil, de produtos alimentícios, químicos, metalúrgica e de transformação de minerais não metálicos. Para estimular o desenvolvimento industrial, organizou-se o Distrito Industrial do Ceará, perto de Fortaleza. Além da capital, constituem centros industriais de importância secundária as cidades de Sobral, Crato e Juazeiro do Norte.

No setor da indústria extrativa destacam-se a produção de diatomita, gipsita e sal, entre os minerais, e de carnaúba, castanha de caju e lenha, entre os vegetais. O setor da pesca (o Ceará é o maior produtor nacional de pescado) obteve apreciável progresso com a instalação de frigoríficos e a modernização da frota pesqueira.

Transporte e energia

A mais importante das rodovias é a BR-116, que de Fortaleza se dirige para o Recôncavo baiano, passando pelo vale do Jaguaribe, onde toca as cidades de Ruças e Jaguaribe. Outra importante rodovia pavimentada é a BR-222, que de Fortaleza se lança em direção a Sobral, e daí prossegue até Piripiri, no Piauí.

A rede ferroviária compreende duas linhas-tronco dispostas em sentido norte-sul. A primeira parte do porto de Camocim para o sul, passando por Sobral e Itu, e atinge Crateús. A segunda parte de Fortaleza se estende também para o sul, tocando Baturité, Quixadá, Quixeramobim, Senador Pompeu, Iguatu, Juazeiro do Norte e Crato. As duas linhas-tronco foram ligadas pela linha Fortaleza-Sobral em 1949.

O estado possui três portos: Camocim, Mucuripe e Aracati. Mucuripe, em Fortaleza, é o único porto organizado do Ceará. O de Camocim situa-se na embocadura do rio Coreaú, a oeste, e o de Aracati no baixo Jaguaribe, a leste.

A maior parte da energia elétrica consumida no estado é suprida pela usina de Paulo Afonso.

Cultura

Entidades culturais

A Academia Cearense de Letras, a mais antiga do Brasil, foi fundada em 1894. Em 1903 inaugurou-se a Faculdade Livre de Direito. Outras entidades importantes, todas em Fortaleza, são o Instituto do Ceará, fundado em 1887, dedicado ao estudo da história, geografia e antropologia do estado; a Universidade Federal do Ceará; a Casa Juvenal Galeno, dedicada à literatura; a Biblioteca Pública do Estado; o Museu da Escola Normal; a Sociedade Musical Henrique Jorge; a Comédia Cearense; o Clube de Cinema de Fortaleza; e o Clube do Advogado.

Dentre os museus destacam-se o Museu de Arte Moderna da Universidade Federal do Ceará, o Museu Histórico Gustavo Barroso e o Museu da Escola Normal, cuja coleção arqueológica foi tombada pelo Patrimônio Histórico. Fortaleza possui ainda o Museu Histórico do Ceará e o Museu de Arte da Universidade do Ceará. Em Juazeiro do Norte funciona o Museu do Padre Cícero e em Aquiraz o Museu de Arte Sacra São José do Ribamar.

Na capital, o teatro José de Alencar, com 706 lugares, foi tombado pelo Patrimônio Histórico. Destacam-se ainda a casa em que nasceu o compositor Alberto Nepomuceno, a Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, o chafariz Tomás Pompeu, o monumento ao Cristo Redentor, todos em Fortaleza. Outro monumento tombado é a casa onde nasceu o romancista José de Alencar, em Mecejana; e em Juazeiro do Norte, o túmulo do padre Cícero, local de romaria para toda a população do Nordeste.

Turismo

O principal centro de atração turística do estado é a própria capital, que possui praias famosas como as de Iracema, do Futuro, Barra do Ceará, Volta da Jurema e Mucuripe (as duas últimas, pontos de recolhimento de jangadas). Mas há outras cidades cearenses como Aracati, Cascavel, Camocim e Beberibe que se destacam pela beleza de suas praias. Entre as igrejas, destacam-se a Catedral Metropolitana, igrejas de Nossa Senhora do Carmo, do Cristo-Rei, do Pequeno Grande (Fortaleza); basílica de São Francisco das Chagas (Canindé); matriz de Nossa Senhora de Assunção (Viçosa do Ceará); basílica dos Capuchinhos, capela do Horto e igreja de Nossa Senhora das Dores (Juazeiro do Norte).

Outros pontos turísticos da capital são a sede do Instituto do Ceará; Cidade da Criança, antigo parque da Liberdade; o Passeio Público, antiga praça dos Mártires, onde se encontra a cela em que esteve presa Bárbara de Alencar; o farol do Mucuripe; o estádio Presidente Vargas; a lagoa de Mecejana; a sede do Náutico Atlético Cearense; e a praça do Ferreira.

A 28km de Fortaleza encontra-se a antiga cidade de Aquirás, com o Museu Sacro de São José de Ribamar e a matriz de São José de Ribamar. Nas proximidades da divisa com o Piauí situa-se o Parque Nacional de Ubajara, com uma gruta calcária de cerca de meio quilômetro de extensão. A cidade de Juazeiro do Norte, no sul do estado, constitui também importante centro de artesanato. Representam ainda atrações turísticas importantes no estado a lagoa do Iguatu e o sítio Gameleira, em Iguatu; o açude do Cedro, em Quixadá; o açude Orós, em Orós; e a Casa dos Milagres, em Canindé.

Autoria: Paula Valente

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