História

China Antiga

A China atualmente não somente é o país mais populoso do mundo, como também ocupa um lugar importante no cenário mundial – econômica, social e politicamente. Com uma longa história e uma evolução civilizatória totalmente distinta da história ocidental, chineses possuem uma origem realmente antiga.

A China pré-histórica

Acredita-se que a chegada dos primeiros grupos e tribos humanas na China Antiga ocorreu entre 7000 a.C. e 5000 a.C. Esses grupos desenvolveram suas sociedades nas proximidades dos Rios Huang-Ho, popularmente conhecido como Rio Amarelo, e Yang-tsé, conhecido como Rio Azul – lógica de ocupação que segue até os dias atuais.

Assim como outras civilizações da Antiguidade, a utilização dos rios foi muito importante para o desenvolvimento de atividades agrícolas. Principalmente as margens e várzeas do leito do rio Amarelo eram particularmente férteis.

Os grupos humanos eram mais nômades em seu início, dedicando-se à pesca, caça e coleta e criando alguns animais, mas logo começaram a se dedicar à agricultura, com destaque para cereais como o arroz, a cevada e o sorgo.

Entre 3000 a.C. e 1800 a.C., duas culturas distintas ocupavam o atual território chinês: Longshan e Yangshao. Nessa época, em diversas regiões da China, não apenas artefatos descobertos pela arqueologia revelavam elaborados trabalhos em cerâmica, terracota e mesmo metais, mas surgiu a primeira e lendária dinastia chinesa: a Dinastia Xia, teoricamente constituída por 17 reis que governaram a partir, mais ou menos, do ano 2200 a.C.

As primeiras dinastias

Dinastias Xia

A Dinastia Xia, em tese entre os séculos XXI a.C. e XVI a. C., representa o primeiro traço de uma organização realmente civilizada e um reino formalmente constituído em território chinês. Apesar de poucos indícios (os primeiros registros escritos datam de 1250 a.C.) há evidências arqueológicas e lendas locais que situam essa dinastia em um período anterior aos registros históricos.

Os mesmos registros arqueológicos mostram que as primeiras cidades-estado surgiram na China ainda por volta de 1900 a.C., o que reforça os relatos a respeito dessa primeira dinastia.

Dinastia Shang

Após uma série de disputas e alianças entre os reinos, a dinastia Shang (também conhecida por Yin) chegou ao poder em 1523 a.C. Essa segunda dinastia expandiu seus domínios por cidades que surgiam por todo o vale do Amarelo. Ainda rudimentar, os exércitos Shang realizavam ocupações e transferiam a sede administrativa de seu governo conforme avançavam. Já nessa época, os imperadores chineses eram associados ao divino – para o povo, possuíam poderes místicos e eram considerados “filhos do céu”.

Sob o domínio dos Shang, a China aprimorou a escrita. Dessa época datam os primeiros registros históricos fidedignos. Trabalhos com jade e outras pedras e artefatos mais elaborados de metalurgia se tornavam comuns, assim como armas mais sofisticadas, incluindo charretes e carros movidos a tração animal. A tecelagem desenvolveu-se rapidamente com a utilização de rocas, para fiar principalmente a seda, um produto que transformaria a China, posteriormente, numa potência comercial no Oriente.

Dinastia Zhou

Em 1027 a.C., disputas internas pelo poder permaneceram incessantes. Finalmente, a hegemonia Shang foi vencida pelos Zhou, um clã do oeste chinês. poder enfraqueceram os Shang, que foram vencidos pela família Zhou, importante clã do oeste do território chinês. Os Zhou invocaram a tradição do chamado “Mandato do Céu”. Segundo essa tradição, os imperadores eram designados a governar por direito divino – mas em sua queda, perdiam esse direito.

Os Zhou modificaram a dinâmica de expansão – formaram alianças com clãs poderosos no interior da China. Esses clãs enviavam homens e armas para o exército Zhou, que na eventual conquista cedia aos clãs o controle de parte dos territórios. Os Zhou esboçaram, ainda num contexto esparso, as primeiras características do que seria a unificação chinesa.

Dinastia Qin

Com o tempo, os nobres do interior, cada vez mais poderosos, passaram a disputar entre si os territórios do reino Zhou. Grandes eixos de poder surgiram em todo o território chinês, aos poucos formando sete reinos distintos, com centenas de clãs e famílias como aliadas.

Em 481 a.C., a China Antiga estava dividida em sete grandes reinos rivais, que guerreavam entre si. A China mergulharia por duzentos anos na chamada “Época dos Estados Guerreiros”. Ainda sob uma certa influência majoritária dos Zhou, os reinos conquistavam e perdiam terras e batalhas a todo momento.

Porém, em 221 a.C., o príncipe Qinshi Huangdi, da dinastia Qin, conseguiu conquistar todos os territórios rivais e assumiu o poder na China como primeiro imperador. O novo imperador estruturou sua dinastia concentrando o poder em suas mãos.

Os nobres do interior perderam poder e foram rendidos em muitos casos e a administração chinesa, para controlar o enorme território, tornou-se o “primeiro estado burocrático” da China. Qinshi unificou a escrita, pesos e medidas e a legislação chinesa – o período retratado no filme “Herói” (embora de forma fantasiosa).

Qinshi Huangdi também foi o responsável por iniciar a construção da Grande Muralha da China. A despeito de ser um divisor de águas na história chinesa, a Dinastia Qin não sobreviveu à morte de Qinshi e foi rapidamente substituída pelos Han.

Desenho de centenas de pessoas construindo a muralha.
Construção da Muralha da China.

Dinastia Han

O imperador Qinshi Huangdi morreu em 210 a.C., após enfrentar uma série de guerras e revoltas internas. A crise e as disputas pelo poder imperial foram encerradas com a vitória de Liu Bang, da dinastia Han, em 206 a.C.

Dando continuidade a muitos dos feitos do antecessor, os Han levaram a China a um período de enorme prosperidade. O controle exacerbado de Qinshi, no entanto, passou por uma flexibilização – o que apaziguou revoltas e permitiu aos Han atuar na expansão militar do império. Cargos públicos passaram a ser acessíveis mesmo aos não nobres – por um sistema baseado em concursos – o que reduziu ainda mais a ocorrência de revoltas populares.

É na época dos Han que o comércio com o eixo ocidental tem início. Em 138 a.C., o então imperador Wu Ti enviou suas tropas para combater os hunos na região da Ásia Central. Lá, os chineses tiveram contato com o Império Romano, com o qual começaram a estabelecer relações comerciais. Caravanas atravessavam a Ásia em viagens que duravam uma geração, através da Rota da Seda, até o Oriente Médio, levando seda, luxuosos artesanatos e joias. Do Oriente Médio, os produtos eram distribuídos por comerciantes para todo o Império Romano e também para os gupta, na atual Índia.

Mapa do caminho da rota da seda.

Muito da ciência e da tecnologia chinesa antiga, famosa ainda nos dias de hoje, surgiu sob o domínio dos Han. Moinhos d’água, artefatos em ferro e outros metais, criação das primeiras bússolas, desenvolvimento da pólvora, técnicas de pavimentação inovadoras, arados mais avançados, popularização do papel e muito mais. Os avanços impulsionaram o comércio e a produção de alimentos e criaram bases para a prosperidade geral do império.

Mesmo assim, a dinastia Han entrou em decadência em 220 d.C., quando o governo foi enfraquecido por uma série de revoltas e pressões exercidas por grandes famílias da nobreza – que havia perdido consideravelmente seu poder sob o jugo dos Han. O império, que já vinha unificado por quase 500 anos, foi dividido em três reinos: Wu, Shu e Wei, e essa divisão durou até o ano 265 d.C..

Organização da sociedade na China Antiga

A antiga China imperial estava socialmente organizada por uma hierarquia rígida. Acima de todos, estava o imperador. O imperador era um escolhido divino, com direitos e garantias que não eram extensíveis aos homens – somente a ele.

Abaixo dele, estavam os nobres, em geral grandes proprietários de terras, que tinham à sua disposição grupos armados – muito similares, já na época, ao que os senhores feudais seriam durante a Idade Média no Ocidente. Das famílias nobres, saíam os altos funcionários imperiais, como os coletores de impostos, os chefes de polícia e os mandarins (altos funcionários públicos, conselheiros de estado).

Algumas profissões e profissionais – entre eles comerciantes, curandeiros e médicos, funcionários públicos de baixa patente – constituíam algo próximo do que seria uma “classe média antiga”. E, na base da sociedade chinesa, também como ocorreria no feudalismo ocidental, estavam os camponeses, que cultivavam as terras das famílias nobres em troca de parte das colheitas.

Os camponeses eram servos das famílias tradicionais e podiam ser convocados também por elas, ou mesmo a mando do imperador, para a realização de obras e trabalhos públicos em grande escala, como a construção de barragens, canais e edifícios diversos. Além disso, aldeias geralmente tinham de ceder alguns dos filhos para compor os exércitos dos senhores nobres.

Pintura de um imperador chinês sendo carregado em uma liteira.
Representação do imperador Ch’in Wang Ti, na China Antiga.

Religião

As duas principais correntes religiosas chinesas, o taoísmo e o confucionismo, estavam ligadas à filosofia. O pragmatismo dessas religiões explica o grande avanço pelo qual os chineses passaram até quase o fim da Idade Média ocidental.

O taoísmo foi organizado por meio das obras do filósofo Lao-Tsé, que significa Velho Mestre, e seus valores são: compaixão, respeito à natureza, valorização de um modo de vida simples e aceitação da transitoriedade da vida.

O taoísmo crê na concepção de que o universo é controlado por duas forças opostas e complementares: yin (que simboliza a passividade, a noite, o frio e o feminino) e yang (que simboliza a atividade, o dia, o calor e o masculino), que formariam uma unidade equilibrada conhecida como tao. O taoísmo, por sua ligação com a natureza e simplicidade de conceitos, atraía muitos camponeses e trabalhadores.

Já o confucionismo origina-se das ideias do filósofo Confúcio (551 a.C. a 479 a.C.), e seus valores são: humanidade (ren), senso de justiça (yi), ritual (li), conhecimento (zhi) e integridade (xin), aliados ao respeito, à tolerância e ao culto aos antepassados.

Embora frases e citações de Confúcio sejam famosas no campo motivacional nos dias de hoje, seus ensinamentos levaram na China Antiga a um complexo sistema de culto e organização social, buscando o autoconhecimento e o aprimoramento pessoa.

O respeito aos superiores, aos pais e antepassados, o respeito dos servos pelos senhores e de todos pelo imperador. O respeito e obediência eram eixos centrais no confucionismo, bem como valores de união, tradição e família.

Referências

  • FAIRBANK, J. K.; GOLDMAN, M. China: uma nova história. Porto Alegre, RS: L&PM, 2006
  • SCARPARI, M. Grandes civilizações do passado: China antiga. Barcelona. Ediciones Folio. 2006. p. 20

Por: Carlos Artur Matos

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