História

Nazismo Alemão

Origens e Características do Nazismo

A ideologia nazista se afirmou a partir de uma nova concepção da relação do homem com o mundo (Weltanschauung), exposta pelos teóricos do partido: Gõebbels, Rosenberg e sobretudo Hitler, em sua autobiografia, Mein Kampf, publicada em 1925 — amálgama de várias ideias às vezes contraditórias e violentas.

De fato, os grandes temas desenvolvidos pelo nazismo relacionam-se a antigas correntes do pensamento. O antissemitismo era ponto essencial da ideologia conservadora alemã do século XIX, que havia tomado a forma de um racismo sistemático sob a influência das teses de Gobineau e Chamberlain sobre a incontestável superioridade das raças humanas desenvolvidas. Os chefes nazistas eram fervorosos admiradores da obra de Nietzsche, em que domina o aspecto mítico do pangermanismo, oposto aos princípios ‘judaico-cristãos” que pervertiam a Alemanha.

Em relação ao Estado, acreditavam numa regeneração nacional baseando-se em escritos de Spengler (O prussianismo e o socialismo), que exaltava a tradição da autoridade prussiana e os princípios nietzschianos do chefe e da elite política. Assim Hitler habilmente conseguiu manipular e traduzir as aspirações confusas de uma Alemanha desorientada e quebrada pelos efeitos da crise econômica.

A Organização do Estado

A nova ordem — que, segundo Hitler, marcaria a Alemanha por mil anos — estabeleceu-se no quadro de um Estado totalitário fundado sobre o fanatismo nacional e o fervor racista.

A vanguarda dessa transformação era composta pelo Partido Nazista, partido único, diretamente dirigido pelo Fuhrer, tendo como suplente Rudolf Hess e, depois de 1941, Martin Borman. O partido controlava a administração oficial e se apoiava sobre a poderosa SS, que possuía 500000 membros, comandados por Himmler, e que era também responsável pela polícia. Em 1936, Himmler criou a Gestapo, submetendo a Alemanha a um rígido controle.

A ação do nazismo rapidamente se estendeu sobre a população alemã, graças ao controle dos meios de informação e à propaganda, confiada a um ministro especializado: Gõebbels orientou a imprensa, o rádio, o cinema e a literatura em direção à nazificação.

A juventude era considerada a mais séria garantia do regime: a educação deveria ser executada em favor do Estado e do partido; em 1935, oficializou-se o serviço militar obrigatório para todos os jovens, para o coroamento de sua formação ideológica. Da mesma forma, inúmeras medidas foram tomadas para unificar a classe trabalhadora ao nazismo.

Cartaz de propaganda nazista, no qual um ex-combatente da 1º Guerra pergunta, desafiando os alemães: “e você?”

Paralelamente desencadeava-se uma grande luta contra os adversários do nazismo. O antissemitismo oficial surgiu em 1933, quando os judeus foram excluídos da administração, do ensino, da imprensa e das atividades literárias e artísticas. Em 1935, as “leis de Nuremberg” privaram-nos de seus direitos civis, reduzindo-os à total marginalidade, proibindo-lhes o acesso a lugares públicos. Numerosos judeus abandonaram a Alemanha, mesmo perdendo seus bens. A partir de 1938, as violências se delineiam: formaram-se pogroms (ações contra os judeus), destruíram-se suas sinagogas e casas e proibiram-nos de deixar a Alemanha.

Outros adversários não foram poupados: Einstein e Thomas Mann foram obrigados a se exilar; milhares de obras literárias foram proibidas ou destruídas, obras de arte cubistas e impressionistas foram consideradas degeneradas e excluídas dos museus. A partir de 1933, abriu-se uma centena de campos de concentração — Dachau, Buchenwald, Sachsenhausen etc. — onde os prisioneiros políticos eram submetidos a violências físicas e morais, foi o holocausto.

A luta antirreligiosa foi também inevitável. Com o Papa Pio XI foi assinada uma concordata que submetia os bispos a prestar juramento ao chanceler. Mas em 1937, através da encíclica Mit brennender Sorge, o paganismo nazista foi condenado. Uma constituição de 1933 unificou a Igreja luterana, da qual foi nomeado chefe o Dr. Muller, bispo do Reich; 500 pastores indisciplinados foram enviados para os campos de concentração.

A Doutrina Nazista

“Ein Volk, ein Reich, ein Fuhrer”: com esse slogan o nazismo estabeleceu o novo Weltanschauung.

A base da doutrina era o racismo. A palavra volk (no sentido literal, povo ou nação), exprime uma comunidade racial fundada sobre o mesmo sangue, no mesmo solo. Os nazistas postulavam a existência de uma raça superior, os arianos, cujos mais puros representantes, os germânicos, “povo senhor”, tinham a missão de dominar o mundo.

Hitler insistia em exaltar as qualidades guerreiras dos antigos povos germânicos e seu sentido de dever, disciplina, vontade e poder. Mas, segundo o Fuhrer, essa raça pura estava ameaçada de contaminação pelas raças inferiores, arriscada à degeneração. Portanto era necessário eliminar as forças ruins que alteravam a pureza ariana: a ideologia liberal, a internacional marxista, a internacional católica, os judeus, o espírito crítico, o individualismo, o intelectualismo.

Era necessário fazer dos alemães um povo forte, pelo encorajamento da natalidade, da prática do esporte e sobretudo da formação racial da juventude: “Todo sistema educacional, declara Hitler, deve visar a dar às crianças a convicção de que são superiores aos outros povos”. A raça alemã, purificada, poderia então empreender a conquista do “espaço vital” (Lebensraum — a Polônia e a Ucrânia) necessário à sua sobrevivência.

Ein Reich representava a expressão política do Terceiro Reich. “O novo império não se deve edificar sobre a base do país, mas sobre a base nacional e sobre o Partido Nazista, que une toda a nação alemã”. O Terceiro Reich seria um Estado totalitário diante do qual se dissolveria o indivíduo: como o fascismo, o nazismo é antiparlamentar, antigualitário e antidemocrático.

O Estado deveria ser constituído por uma rigorosa hierarquia, e todas as decisões seriam submetidas à autoridade do Reichsfuhrer, considerado absoluto e infalível. “Eu não possuo mais consciência, declara Gõering, minha consciência se chama Adolf Hitler”. No Terceiro Reich não havia outra lei senão a vontade do Fuhrer, símbolo da Alemanha.

Por: Renan Bardine

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