Química Ambiental

Lixo Hospitalar


O PROBLEMA

Os Resíduos Sólidos Hospitalares ou como é mais comumente denominado “LIXO HOSPITALAR”, sempre constituiu-se um problema bastante sério para os Administradores Hospitalares, devido principalmente a falta de informações a seu respeito, gerando mitos e fantasias entre funcionários, pacientes, familiares e principalmente a comunidade vizinha as edificações hospitalares e aos aterros sanitários.

A atividade hospitalar é por sí só uma fantástica geradora de resíduos, inerente a diversidade de atividades que desenvolvem-se dentro destas empresas. O grande volume de compras de materiais e insumos para fazer funcionar, segundo Peter Drucker, a mais complexa das organizações, faz-nos responsável pelo destino de, números como os de que um hospital com cerca de 800 leitos, gere um volume de lixo hospitalar igual ao coletado em todo o município de Nova Prata- RS, por exemplo!

O desconhecimento e a falta de informações sobre o assunto faz com que, em muitos casos, os resíduos, ou sejam ignorados, ou recebam um tratamento com excesso de zêlo, onerando ainda mais os já combalidos recursos das instituições hospitalares. Não raro lhe são atribuídas a culpa por casos de infecção hospitalar e outras tantas mazelas dos nosocômios. A incineração total do lixo hospitalar é um típico exemplo de excesso de cuidados, sendo ainda neste caso, uma atitude politicamente incorreta devido aos subprodutos lançados na atmosfera como dioxinas e metais pesados.

Em sua grande maioria, os hospitais pouco ou quase nenhuma providência tomam com relação as toneladas de resíduos gerados diariamente nas mais diversas atividades desenvolvidas dentro de um hospital. Muitos limitam-se a encaminhar a totalidade de seu lixo para sistemas de coleta especial dos Departamentos de Limpeza Municipais, quando estes existem, lançam diretamente em lixões ou simplesmente “incineram” a totalidade dos resíduos.

Importante também destacar, os muitos casos de acidentes com funcionários envolvendo perfurações com agulhas, lãminas de bisturí e outros materiais denominados perfuro-cortantes.

O desconhecimento faz com que este fantasma, chamado “LIXO HOSPITALAR”, cresça e amedronte os colaboradores e clientes das instituições de saúde.

AS SOLUÇÕES

Os constantes problemas, o desconhecimento, o medo, mas principalmente o desejo de que o assunto fosse tratado de uma forma técnica, profissional, levou-nos a desenvolver um projeto que resolvesse definitivamente o problema “LIXO HOSPITALAR”.

Objetivos do projeto:

  • Elevar a qualidade da atenção dispensada ao assunto “resíduos sólidos dos serviços de saúde”;
  • Permitir o conhecimento das fontes geradoras dos resíduos. A atividade Hospitalar gera uma grande variedade de tipos de resíduos distribuídos em dezenas de setores com atividades diversas;
  • Estimular a decisão por métodos de coleta, embalagem, transporte e destino adequados;
  • Reduzir ou se possível eliminar os riscos a saúde dos funcionários, clientes e comunidade;
  • Eliminar o manuseio para fins de seleção dos resíduos, fora da fonte geradora;
  • Permitir o reprocessamento de resíduos cujas matérias primas possam ser reutilizadas sem riscos à saúde de pacientes e funcionários;
  • Reduzir o volume de resíduos para incineração e coleta especial;
  • Colaborar para reduzir a poluição ambiental, gerando, incinerando e encaminhando aos órgão públicos a menor quantidade possível de resíduos.

PROGRAMA DE GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS HOSPITALARES

Etapas para Elaboração do Projeto

  • Reconhecer as fontes geradoras dos resíduos hospitalares;
  • Identificar e classificar todos os tipos de resíduos por fonte geradora ou setores e serviços envolvidos;
  • Rotinizar condutas para seleção, coleta e transporte dos resíduos hospitalares, classificando-os conforme as normas técnicas que foram estabelecidas e legislação vigente contemplando: periculosidade, volume e reciclagem;
  • Definir atribuições aos diversos serviços e setores envolvidos, com a operacionalização do programa em cada uma das suas diferentes etapas;

IDENTIFICAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DOS RESÍDUOS HOSPITALARES

1. RESÍDUOS INFECCIOSOS – Material proveniente de isolamentos, sangue humano e derivados, material patológico, materiais perfurantes e cortantes, resíduos de diagnóstico e tratamento (gaze, drenos, sondas, absorventes e qualquer material sujo com resíduos e fluidos corpóreos) e peças anatômicas provenientes de amputações e biopsias. Passou a ser denominado de grupo 1.

2- RESÍDUOS ESPECIAIS – Material radioativo, farmacêutico e químicos. Passou a ser denominado de grupo 2.

3- RESÍDUOS GERAIS OU COMUNS – Materiais provenientes das áreas administrativas, resíduos alimentares da produção de alimentos, áreas externas e jardins, sucatas e embalagens reaproveitáveis. Passou a ser denominado de grupo 3.

ACONDICIONAMENTO E DESTINO DOS RESÍDUOS HOSPITALARES

GRUPO 1 – material perfuro cortante em caixas de papelão reaproveitadas e adaptadas para esta finalidade, demais resíduos em sacos plásticos brancos identificados com a simbologia de material infectante – destino: incineração ou aterro sanitário através de sistema de coleta especial;

GRUPO 2 – material radioativo conforme legislação própria do CNEN; material farmacêutico é devolvido aos fabricantes conforme acordo na compra do próprio material;

GRUPO 3 – vidros, plásticos, papel, papelão, metais e outros materiais recicláveis recebem embalagens próprias conforme o tipo de material – destino: reciclagem interna ou venda como sucatas diversas.

Toda a elaboração do projeto teve como premissa básica de que “a separação e embalagem deve ser feita no local de orígem e não deve ser admitida a separação posterior”.

Na implantação do projeto, em um hospital de 200 leitos, verificou-se que apenas 5 % em peso do lixo hospitalar, classificava-se como sendo do grupo 1, ou seja, resíduos que realmente necessitavam de cuidados e atenção especial, os demais 95 % eram idênticos aos gerados nos ambientes domésticos.

RACIONAL

Lixo apresenta risco potencial à saúde e ao meio ambiente, devido à presença de material biológico, químico, radioativo, perfurocortante. O tratamento adequado previne infecções cruzadas, proporciona conforto e segurança à clientela a à equipe de trabalho, bem como mantém o ambiente limpo e agradável.

CLASSIFICAÇÃO DO LIXO

Infectantes

Resíduos sólidos: resíduos em estado sólido ou semi-sólido e líquidos cujas particularidades tornem inviável seu lançamento na rede pública de esgotos

Resíduos do grupo A (apresentam risco devido à presença de agentes biológicos):

  • Sangue hemoderivados
  • Excreções, secreções e líquidos orgânicos
  • Meios de cultura
  • Tecidos, órgãos, fetos e peças anatômicas
  • Filtros de gases aspirados de áreas contaminadas
  • Resíduos advindos de área de isolamento
  • Resíduos alimentares de área de isolamento
  • Resíduos de laboratório de análises clínicas
  • Resíduos de unidade de atendimento ambiental
  • Resíduos de sanitário de unidades de internação
  • Objetos perfurocortantes provenientes de estabelecimentos prestadores de serviços de saúde.

Os estabelecimentos deverão ter um responsável técnico, devidamente registrado em conselho profissional, para o gerenciamento de seus resíduos.

Resíduos sólidos do grupo A deverão ser acondicionados em sacos plásticos grossos, brancos leitosos e resistentes com simbologia de substância infectante. Devem ser esterilizados ou incinerados.

Os perfurocorantes deverão ser acondicionados em recipientes rígidos, estanques, vedados e identificados com a simbologia de substância infectante.

Os resíduos sólidos do grupo A não poderão ser reciclados.

Os restos alimentares in natura não poderão ser encaminhados para a alimentação de animais

Especiais –  Radioativos compostos por materiais diversos, expostos à radiação; resíduos farmacêuticos, como medicamentos vencidos e contaminados; e resíduos químicos perigosos (tóxicos, corrosivos, inflamáveis, mercúrio).

Comuns – Lixo administrativo, limpeza de jardins e pátios, resto de preparo de alimentos.

RECOMENDAÇÕES

  • Resíduos infectantes não poderão ser dispostos no meio ambiente sem prévio tratamento ou reciclados.
  • Restos alimentares não poderão ser encaminhados para alimentação de animais

POR QUE TRATAR O LIXO ?

O tratamento de lixo é uma etapa intermediária do sistema de limpeza urbana. Entretanto, inexiste em grande parte dos municípios brasileiros, que tem os seus resíduos, quando coletados, transportados diretamente às áreas de destino final, em sua maioria lixões.

A necessidade de tratamento do lixo surge mais intensamente nas grandes metrópoles como uma possível resposta ao que fazer com o lixo nos próximos anos já que as administrações municipais têm se defrontado com:

  • escassez de áreas para a destinação final do lixo
  • disputa pelo uso das áreas remanescentes com as populações da periferia
  • necessidade de ampliar a vida útil dos aterros em operação
  • disposição inadequada de resíduos sépticos

Além destas questões mais imediatas e pontuais, a discussão mundial sobre a saúde do planeta tem apontado a valorização dos componentes do lixo como uma das formas de promover a conservação de recursos.

Assim, o tratamento de lixo deve:

  • reduzir a quantidade de lixo a ser enviado para disposição final
  • inertizar os resíduos sépticos
  • recuperar os &ldquorecursos&ldquo existentes no lixo

Há dois processos básicos para o tratamento do lixo urbano que atendem as condições acima:

Incineração

Em relação aos demais processos de tratamento, a incineração de resíduos apresenta como principal vantagem a redução do volume dos resíduos, uma vez que as cinzas resultantes do processo de combustão representam cerca de 25% do total incinerado. Outras vantagens do processo são a recuperação da energia calorífica liberada durante a combustão e, através das altas temperaturas alcançadas no forno de um incinerador (aproximadamente 850ºC), a neutralização da ação de vírus e bactérias que possam existir nos resíduos.

Por outro lado, no processo de incineração identificam-se algumas desvantagens, como custos operacionais altos quando comparados aos custos de operação dos aterros sanitários. Sem contar que a operação dos incineradores exige mão-de-obra qualificada e tratamento específico dos gases emitidos durante o processo para evitar danos ao meio ambiente.

Segregação dos diversos componentes do lixo

Objetiva a reutilização ou reciclagem dos diferentes materiais que compõem o lixo.

Em São Paulo, a operação de triagem e compostagem dos resíduos domiciliares é realizada nas Usinas de Vila Leopoldina e de São Matheus, que processam, respectivamente, 1200 toneladas por dia e 600 toneladas por dia de resíduos sólidos domiciliares. Nessas usinas, os resíduos são separados em três parcelas: materiais orgânicos, que são transformados em composto orgânico, um revitalizador do solo, representado pelo resto de alimentos, folhas de árvores ou de jardins e cascas de frutas; materiais recicláveis, especialmente vidros, plásticos, latas e utensílios de metal; e a parte não aproveitável dos resíduos, denominada rejeito, composto por pedras, areia, couros e borrachas.

A parte orgânica dos resíduos é triturada, aerada, peneirada e submetida ao processo de compostagem. Este processo consiste na ação das bactérias existentes no próprio lixo sobre a matéria orgânica, transformando-a em composto orgânico para ser utilizado na agricultura. Os materiais recicláveis são comercializados e o rejeito é transportado para os aterros sanitários.

Em virtude da composição atual dos resíduos coletados na cidade de São Paulo, do total de 1800 toneladas por dia de resíduos domiciliares que chegam às Usinas de Triagem e Compostagem, 900 toneladas por dia são transformadas em composto, que é adquirido pelos agricultores paulistas; 180 toneladas por dia de resíduos são recicladas e 720 toneladas por dia são rejeitos, isto é, materiais não aproveitáveis, enviados para os aterros. Portanto, são aproveitados 1080 toneladas por dia, que representam cerca de 12% dos resíduos domiciliares coletados pelo Departamento de Limpeza Urbana – LIMPURB.
A implantação de uma fase de tratamento não representa uma solução final para o problema da destinação final de lixo já que os processos de tratamento também geram resíduos que precisam ser dispostos.

INCINERAÇÃO DO LIXO DOS SERVIÇOS DE SAÚDE E HOSPITALAR

  • A incineração do lixo hospitalar não é obrigatória como meio de tratamento, porém é considerada a melhor alternativa de tratamento, pelos seguintes fatores: reduz drasticamente o volume de resíduo, sobrando uma pequena quantidade de cinzas;
  • é um processo simples apesar de crítico quanto ao cumprimento dos procedimentos operacionais;
  • como desvantagem, existe a emissão de compostos tóxicos como as dioxinas e furanos, caso a usina não seja projetada e operada adequadamente.

A geração do lixo hospitalar é quase cem vezes menor que a do lixo municipal levando, em geral, à utilização de usinas pequenas. No Estado de São Paulo, atualmente, mais de trinta municípios possuem seu próprio incinerador de lixo hospitalar.

Cabe ressaltar que o seu caráter de resíduo perigoso exige o correto rigor operacional. Além disso, seu conteúdo energético é muito maior que o do lixo municipal, tornado atrativa a recuperação de energia. Neste sentido, na tomada de decisão deve-se considerar, à medida que a geração de lixo hospitalar aumenta:

  • envio a municípios/ empresas que possuam incinerador;
  • contratação de prestação de serviços sem aquisição do equipamento;
  • aquisição de unidade pequena para tratar somente o lixo hospitalar do próprio gerador;
  • usina grande construída em consórcio e prestando serviços a outros geradores.

O lixo hospitalar varia sempre de composição, principalmente, por ser constituído de sobras e ter procedência variada.

O sucesso da incineração pode ser fortemente afetado pela variabilidade do resíduo e sua embalagem.

Uma vez definida no projeto do incinerador a composição dos resíduos a serem incinerados, é exigido pelo órgão de controle de meio ambiente um plano mínimo de monitoramento, que se torna mais complexo e caro à medida que se deseje incinerar substâncias mais perigosas em maior quantidade e variedade.

Por isso, ao se planejar o teste de queima é importante estabelecer o equilíbrio entre versatilidade na aceitação de diferentes resíduos e o rigor na triagem durante sua recepção (tipo e frequência de análises e critérios de aceitação).

No lixo hospitalar pode-se encontrar substâncias perigosas como acetona, metanol, xileno e, até mesmo, metais tóxicos provenientes de baterias retiradas de equipamentos eletrônicos. Alguns metais pesados são extremamente tóxicos para o ser humano e exigem tratamento especial.

A admissão de resíduos com composição muito diferente da esperada pode causar problemas de gravidade variável, tais como:

  • contaminação da corrente gasosa, líquida e/ ou das cinzas. Ex.: metais pesados;
  • danos ao revestimento refratário e grelhas. Ex.: excesso de substâncias com PCI elevado (polietileno), excesso de flúor, vidros;
  • explosões. Ex.: explosivos e substâncias instáveis ou muito reativas;
  • desgaste do revestimento refratário. Ex.: alto teor de Sódio (sal de cozinha);
  • corrosão. Ex.: altos teores de Enxofre e/ou Cloro (sulfato, sal de cozinha, PVC);
  • combustão incompleta. Ex.: sólidos em pedaços grandes (tocos de madeira, vidros, gesso ortopédico);
  • consumo excessivo de combustível. Ex.: resíduo muito úmido (o lixo urbano, geralmente, tem mais de 40% de água);
  • geração de monóxido de Carbono (CO) e material particulado (m.p.) em excesso. Ex.: PCI alto e variável, como na alternância de plásticos e material anatômico (órgãos e tecidos de cirurgias) do lixo hospitalar.

O lixo hospitalar, geralmente, é acondicionado em sacos plásticos e alimentados manualmente em pequenos incineradores.

Os tipos de incineradores mais usados são:

Câmaras múltiplas: consiste basicamente em duas câmaras em série separadas por chicanas para decantação de m.p. via regra. Apenas na segunda câmara é mantido um queimador para garantir as condições típicas de combustão secundária.

Ar controlado: este tipo de incinerador opera, em sua câmara primária, com vazão de ar abaixo do necessário para a combustão completa, tornando a queima lenta e com baixa geração de m.p.

Na câmara secundária, os gases são aquecidos a aproximadamente 900 graus, destruindo os compostos tóxicos.

A energia gerada na queima pode dispensar o uso do combustível auxiliar durante operação manual. A pureza dos gases de combustão dependerá da homogeneidade do resíduo alimentado.

Quanto ao tamanho do incinerador: entre 0,5 toneladas/dia e 20 toneladas/dia existem muitas alternativas para a seleção de um incinerador.

Dois fatores estratégicos são centrais na decisão de se instalar um incinerador:

  • o investimento é alto, podendo ultrapassar 2 milhões de dólares para unidades de 20 toneladas/dia;
  • o custo de transporte dos resíduos é pequeno em comparação ao custo de incineração, tornando viável incinerar em unidades distantes (mais de l00 quilômetros)

Cidades com até 50 mil habitantes podem utilizar incineradores pequenos, com capacidade da ordem de 0,5 tonelada/dia, para destruir seu lixo hospitalar. Nesta escala, caso seja necessário aumentar a capacidade, pode-se adquirir novos módulos idênticos e aproveitar os conhecimentos de operação e manutenção.

Os municípios com população na faixa de 50 a 500 mil habitantes, com eventual necessidade de destruir resíduos (os mais variados como os industriais), podem considerar a utilização de incineração em forno rotativo com capacidade da ordem de 5 toneladas/dia.

Autoria: Lúcio Cesar Abreu

Veja também:

  • Química Ambiental