Sociologia

Escola de Frankfurt

A Escola de Frankfurt foi a formação de um círculo de intelectuais que protagonizou a construção da teoria crítica da sociedade, constituindo uma corrente do pensamento marxista ocidental.

Era uma geração de pensadores que havia experienciado o impacto das revoltas operárias que se alastraram pela Europa, sendo que alguns de seus colaboradores haviam inclusive sido militantes políticos nos conselhos operários das fábricas, como Marcuse, Korsh e Neumann.

Contexto histórico: origem

Os primeiros anos da República de Weimar (1919-1933) foram de crise econômica e conflitos sociais. Havia greves, levantes comunistas, revoltas operárias e se erguiam barricadas periodicamente nas cidades mais populosas, como é o caso da Revolução de 1918 e da Revolta de Bremen.

Neste contexto, em 1923 é fundado o Instituto de Pesquisa Social ligado à Universidade de Frankfurt, Alemanha, por iniciativa de Felix Weil. Lá se reuniu uma série de filósofos notáveis, como Max Horkheimer, Theodor W. Adorno, Walter Benjamin, Ernst Bloch, Eric Fromm, Sigfried Kracauer, Herbert Marcuse, Friedrick Pollock, Franz Neuman, Karl Wittfogel, Karl Korsch e Jürgen Habermas.

O evento crucial que marcou profundamente a trajetória da Escola de Frankfurt, o verdadeiro alarme de incêndio para a barbárie moderna, foi a Segunda Guerra Mundial. A maior parte dos membros da Escola de Frankfurt, de origem judaica, foi perseguida, o que forçou o exílio. Alguns não sobreviveram.

Não à toa, os estudos dos autores sobre as experiências fascistas sempre se detiveram sobre o problema da personalidade autoritária. Nesse sentido, a psicanálise e a teoria freudiana tomaram junto ao marxismo um papel central.

Em 1953 o instituto volta a funcionar em Frankfurt, e até hoje reúne pensadores que de alguma maneira retomam o pensamento marxista em novas bases.

Características e a teoria crítica

A Escola de Frankfurt tinha como pressuposto dar sequência ao pensamento marxista, que até então não era estudado academicamente, e ao mesmo tempo renová-lo a partir das necessidades da época.

Para isso criou um programa de pesquisas multidisciplinares que não buscasse exclusivamente a formação de especialistas e que não reproduzisse a lógica universitária que separava formação técnica de formação de pesquisa, processo que até então produzia uma elite acadêmica.

A teoria crítica teve uma grande influência na sociologia contemporânea e tornou-se um marco histórico para o pensamento universitário ocidental e até hoje inspira todos aqueles que pretendem investigar a sociedade capitalista em que vivemos.

Para os pensadores da Escola de Frankfurt, o trabalho teórico era uma busca por decifrar a negatividade latente das contradições sociais da modernidade capitalista, o que demandava uma recusa da perspectiva positivista da sociologia clássica, mas também da neutralidade das ciências sociais tradicionais.

Era necessário desconstruir a separação entre saber científico e prática política. Num primeiro momento, os autores se interessaram pela integração entre análise social e filosofia, assim como recusavam a separação entre teoria e prática, pilar da teoria tradicional.

Como diretor da Escola de Frankfurt, Horkheimer criou um programa de pesquisa interdisciplinar sobre a base do modelo de Marx da dialética de investigação e apresentação, na qual a filosofia orientava a investigação cientifica social e era, por sua vez, modificada por esta.

Os teóricos de Frankfurt, ao longo de suas trajetórias, cada um à sua maneira, foram críticos também da burocratização soviética. Principiaram seus trabalhos investigando o fracasso da Revolução de 1919 e o movimento operário alemão do período.

Os trabalhos críticos sobre o positivismo no marxismo passaram a identificar nessa ideologia ”marxista”, que acreditava no “desenvolvimento das forças produtivas”, um alinhamento com a concepção burguesa de história que identifica mecanicamente o desenvolvimento técnico com o progresso inevitável da sociedade, como se a modernidade fosse necessariamente um estágio para o processo revolucionário e para emancipação.

A teoria crítica, ao contrário, interpreta o desenvolvimento técnico das forças produtivas como uma expressão daquilo que definem como a “racionalidade instrumental”, que nada mais é do que um mecanismo de dominação dentro da relação da racionalidade humana com o conhecimento do mundo que nasce da razão como princípio absoluto, mesmo que esta leve à destruição, controle e exploração da natureza. Essa racionalidade, levada ao seu limite, transforma-se em seu inverso, uma espécie de irracionalidade, exemplificada na dominação do homem pelo homem, no genocídio, na guerra e no massacre.

Principais pensadores

Vejamos a seguir algumas informações sobre os principais autores e suas investigações.

MAX HORKHEIMER (1885-1973)

Estudou literatura e viveu em Bruxelas e Londres até a criação do Instituto de Pesquisa Social. Horkheimer foi diretor da Escola de Frankfurt, responsável pelos arquivos da história do socialismo e do movimento operário. Depois dirigiu a experiência de exílio da Escola, na Inglaterra e em Paris.

THEODOR ADORNO (1903-1969)

Judeu e oriundo de uma família de músicos, Adorno estudou Música e Filosofia em Viena. Em Frankfurt se encontrou com Horkheimer e passou a ser membro do da Escola de Frankfurt, e, com a ascensão do nazismo, passa a lecionar exilado nos Estados Unidos.

Entre os assuntos abordados, disserta sobre o que denomina “indústria cultural”, que seria o veículo principal de introjeção da ideologia capitalista.

Suas reflexões partem principalmente de sua experiência em território estadunidense, que, apesar de não viver como países europeus da época sob um regime ditatorial, condicionava comportamentos sociais a partir das especificidades do avanço do consumismo e do individualismo.

WALTER BENJAMIN (1882-1940)

Judeu, nasceu e estudou Filosofia em Berlim, depois seguiu para Freiburg, onde desenvolveu suas teses sobre a crítica romântica e o drama barroco alemão. Mesmo exilado em Paris, integrou a Escola de Frankfurt, de 1933 a 1935.

Tudo indica que ele tenha cometido suicídio na fronteira da Espanha, quando, fugindo da guerra, se deparou com a polícia nazista.

Benjamin escreveu principalmente sobre estética e política, aspectos relegados pela tradição marxista imediatamente anterior.

Estudou com especial atenção o impacto do desenvolvimento técnico na era da capacidade de reprodução, em escala industrial, das obras artísticas. Segundo o autor, reproduzir uma imagem infinitas vezes (fotografia, por exemplo), e mesmo capturar imagens em movimento e exibi-las em todas as partes do mundo, em salas com grandes audiências, são inovações que provocam a queda da aura das obras de arte, ou seja, elas passam a não ser mais um produto único, resultado de um processo singular autoral num determinado tempo, e sim mercadorias produzidas em alta escala como qualquer outro produto.

O que poderia trazer uma dimensão de desencanto, por um lado, pode também trazer a esperança de uma consciência das potencialidades humanas democratizadas por outro. Mas essa potencialidade é uma semente, que germina ou não.

Em um curto e famoso texto intitulado O autor como produtor, Benjamin aproxima os artistas dos trabalhadores em geral a partir de experiências de ruptura com o capitalismo. Refletindo sobre a movimentação e cooptação cultural presente nas grandes guerras, afirma:

“Eis a estetização da política, como a pratica o fascismo. O comunismo responde com a politização da arte.”

Walter Benjamin também escreveu sobre a modernidade na metrópole capitalista. De acordo com o filósofo, ela diluía a verdadeira vida na vida mutilada da multidão. O choque da modernidade era uma experiência de reificação (transformação do homem e das relações em coisa), a cidade era sinônimo de mercadorização da vida.

HERBERT MARCUSE (1898-1979)

Também nascido em Berlim, filho de uma família de judeus assimilados. Foi filiado ao Partido Social-Democrata Alemão entre 1917-1918 e participou do Conselho de Soldados durante a Revolução Alemã de 1918-1919.

Entre os anos 1920 e 1930 estuda Filosofia com Martin Heidegger em Freiburg, até o momento em que seu orientador adere publicamente ao nazismo. Marcuse rompe com Heidegger e torna-se um dos especialistas do Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt.

Seu primeiro trabalho volta-se para a crítica da ideologia fascista. Depois da ascensão de Hitler ao governo, Marcuse se exila em Genebra, Paris e Estados Unidos. Marcuse parte da mesma questão que os colegas Adorno e Horkheimer chamavam de “sociedade totalmente administrada” para desenvolver sua interpretação sobre a “sociedade unidimensional”.

Em poucas linhas, a ênfase dos três, por diferentes caminhos, estava na capacidade de achatamento e homogeneização dos costumes, práticas e ideias advindos da generalização do capitalismo.

Marcuse foi um dos mais fortes expoentes da corrente psicanalítica da Escola de Frankfurt. Buscou juntar Sigmund Freud e Marx, a psicanálise e a revolução. Influenciou de maneira marcante o surgimento da nova esquerda estudantil nos anos 1970, apoiando a luta estudantil e antirracista nos Estados Unidos, as lutas anticoloniais e o fim da guerra do Vietnã.

JÜRGEN HABERMAS (1929-)

Nascido em Dusseldorf, Alemanha, foi assistente de Theodor Adorno e se aproximou tanto da teoria crítica de Frankfurt como do pragmatismo. Formulou trabalhos teóricos que interpretavam o conceito de democracia, analisando seu conceito de interpretação crítica do discurso sobre a modernidade, assim como suas teorias do agir comunicativo e da política deliberativa na esfera pública.

Bibliografia

  • OLGÁRIA C. F. A escola de Frankfurt, raízes e sombras do Iluminismo. São Paulo: Editora Moderna, 2001.
  • FREITAG, Barbara. A teoria crítica: ontem e hoje. São Paulo: Editora Brasiliense, 1986.
  • HORKHEIMER, M. Teoria tradicional e teoria crítica. In: MATTOS, Olgária C. F. A escola de Frankfurt, raízes e sombras do Iluminismo. São Paulo: Editora Moderna, 2001.
  • ADORNO, T. e HORKHEIMER, M. A dialética do esclarecimento, Rio de Janeiro: Ed. Jorge Zahar, 1997.
  • HABERMAS, Jürgen. The Theory of Communicative Action. In: . Reason and the Rationalization of Society.. Boston: Beacon Press.

Por: Wilson Teixeira Moutinho

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