Sociologia

Senso Comum

O senso comum é a primeira forma de conhecimento praticada pelo homem, e está ligado aos primeiros passos do homem em direção à vida em comunidades. A partir do senso comum, a sociedade humana deixa de depender apenas do instinto para a sobrevivência, e se abre caminho para a transmissão do aprendizado decorrente do meio entre gerações de forma não-genética.

O senso comum manifesta-se a partir da experiência pessoal individual e coletiva, das crenças que nascem a partir da convivência e dos acontecimentos do cotidiano. As percepções de cada um que parecem ter coerência vão sendo incorporadas ao coletivo e tornam-se “verdades absolutas”.

A importância do senso comum

O senso comum é uma consequência da realização cotidiana de tarefas e de vivências. Com mais repetições dessas mesmas tarefas, o indivíduo adquire segurança em relação a como se deve comportar e agir, e estabelece relações entre o seu comportamento e os resultados atingidos.

A vida em sociedade criou uma série de rotinas, além da divisão natural de tarefas entre os vários componentes da comunidade. Com isso, tarefas repetitivas se tornaram comuns. Cada um desses indivíduos, com o tempo, se torna mais acostumado a realizar suas tarefas de forma natural – e cria conclusões que são levadas ao grupo.

Essa “sabedoria” decorrente do fazer pode então ser passada, em termos sociais, para o restante do grupo e, posteriormente, para gerações futuras, até que se torne praticamente um dogma ou algo de comum aceitação entre toda a comunidade.

Os perigos do senso comum

O senso comum é decorrente da vida em sociedade em sua forma mais imediata. Necessidades do grupo encontravam respostas, e ainda encontram, em conclusões individuais, que parecem explicar ou resolver dilemas da comunidade como um todo.

Esse tipo de interpretação de mundo possui a sua utilidade, porém traz também seus perigos. A repetição e as conclusões “quantitativas” conseguidas a partir de um comportamento repetido inúmeras vezes pode causar a sensação equívoca de que mudanças e variáveis inexistem – e que o presente é a única coisa que importa.

Como espécie, o ser humano ainda levaria milênios em sociedade até que o senso comum começasse a ceder espaço para um estudo mais filosófico e posteriormente científico do ambiente que nos cerca. Apenas após civilizações como a egípcia e a grega o senso comum começaria a ceder espaço para uma visão mais filosófica daquilo que o indivíduo experienciava no mundo.

A crença da realidade única e presente pode gerar obstáculos e criar conclusões simplistas que exponham a comunidade toda ao perigo, sem que essa comunidade sequer tenha ciência desses riscos. Em outras circunstâncias, a interpretação plana pode levr à exclusão ou ao preconceito em relação a determinados indivíduos. A história está repleta de casos desse tipo.

Charge sobre o senso comum.
O senso comum auxilia nas tarefas cotidianas, como o ato de vestir-se, ao mesmo tempo que providencia uma visão de mundo pronta e simplificada.

Senso comum e a ciência

O senso comum corresponde à primeira forma de compreensão que o homem possui do mundo. O conhecimento produzido a partir do senso comum, contudo, é desorganizado, independente de causa e consequência e não pode ser comprovado de maneira científica. Com o tempo, o senso comum pode criar tradições e dogmas que se colocam como barreiras para busca do conhecimento de forma organizada.

Muitas correntes da psicologia e da sociologia consideram que o senso comum, dentro de uma óptica construtivista, é a base para o empirismo, a filosofia e o conhecimento científico. Sem o interesse do homem em explicar o entorno e criar conclusões a partir daquilo que vivencia, a investigação mais profunda e o posterior uso de variáveis e experimentos para criar conhecimento não seria possível.

A própria ciência decorre da necessidade de explicar, comprovar e reproduzir conclusões que são criadas a partir das próprias observações do indivíduo, suplantando observações já aceitas e rompendo com o senso comum, para criar conhecimento.

Referências:

  • SANTOS, Boaventura de Sousa. Introdução a uma ciência pós-moderna. Porto: Afrontamento, 1989.
  • SAVIANI, Dermeval. Educação: do senso comum à consciência filosófica. Autores Associados, 2021.

Por: Carlos Artur Matos

Veja também: