Física Geral

Galileu Galilei

O Sistema filosófico aristotélico-tomista e o modelo ptolomaico receberam o golpe fatal com as descobertas de Galileu. Munido de um telescópio, ele colocou por terra as teorias especulativas e deu início efetivo à ciência moderna.

Biografia

Nascido em Pisa, Galileu Galilei (1564-1642) é considerado o criador do método experimental na ciência, por combinar o pensamento indutivo com a dedução matemática. Com a sua obra, tem início a ciência moderna.

Descobriu o isocronismo do pêndulo e o aplicou na medição do tempo; formulou os princípios da dinâmica e estabeleceu a lei da inércia; idealizou a balança hidrostática; construiu seu próprio telescópio e foi o primeiro a observar as manchas solares, o relevo lunar, as estrelas que formam a Via Láctea, as fases de Vênus e Mercúrio e os satélites maiores de Júpiter. Defendeu a teoria heliocêntrica elaborada por Copérnico, embora a condenação pela Igreja o obrigasse a abjurá-la publicamente.

De seus textos, destacam-se Diálogo sobre os dois máximos sistemas do mundo: ptolomaico e copernicano (1632) e Discursos e demonstrações matemáticas sobre duas novas ciências relacionadas com a mecânica (1638).

Um impulso ao conhecimento

Retrato de Galileu
Retrato de Galileu Galilei (1636), óleo de Justus Sustermans; Florença, Galeria Ufizi.

No começo de 1609 chegou até Galileu Galilei  um instrumento vindo da Holanda, composto de lentes que, colocadas entre o olho e um objeto, aumentavam o tamanho desse objeto. Teria sido apenas mais um fato biográfico, não fosse Galileu um astrônomo que viu, naquele aparelho simples, um modo de perscrutar o céu.

Aperfeiçoando o equipamento, passou a ser considerado o primeiro a usar o telescópio para pesquisas astronômicas. Com isso, mudou duas histórias a um só tempo: a da ciência e a da filosofia. Na ciência, ele inaugurou a fase instrumental, aquela em que, auxiliado por instrumentos, o homem é capaz de realizar novas experiências. Na filosofia, o uso do telescópio levou à mudança definitiva – embora lenta – da maneira de compreender o mundo, com o abandono dos modelos cosmológicos tradicionais

O telescópio, mesmo rudimentar, mostrou a Galileu uma realidade celeste muito diferente daquela observada nos 2 mil anos anteriores. Aonde quer que ele dirigisse o aparelho, via o céu povoado de inúmeras estrelas, nunca imaginadas.

A Via Láctea, que para Aristóteles era um fenômeno sublunar, aparecia como um acúmulo de estrelas. Aplicado em direção à Lua, o telescópio mostrava que seu relevo não era liso e polido, mas rugoso e dominado por um jogo oscilante de luz e sombras que Galileu interpretou como efeito da ação dos raios solares sobre as montanhas lunares. A Lua revelava-se como um corpo semelhante à Terra, sem nenhum interesse metafísico,

A cosmologia copernicana

Telescópio de Galileu
O telescópio de Galileu. Florença, Museu da História e da Ciência.

Galileu Galilei declarou-se adepto da cosmologia copernicana em uma carta a Johannes Kepler, em 1597. Entretanto, não tornou pública sua adesão até obter a confirmação, por meio de observações feitas com um telescópio, da tese do heliocentrismo. O sinal mais forte veio com a descoberta das quatro luas de Júpiter, que, em sua avaliação, atestavam que a Lua e a Terra giravam ao redor do Sol. Em 1610, Galileu publicou seus achados num livreto de 24 páginas intitulado Mensageiro das estrelas, que causou enorme impacto e o tornou famoso em toda a Europa.

Nos anos seguintes, ele fez novas descobertas: as fases de Vênus (previstas nos sistemas Copernicano e de Tycho Brahe, elas comprovavam que os planetas refletiam a luz solar) as manchas Solares, a acidentada Superfície da Lua, a composição estelar da Via Láctea, a aparência das estrelas, uma “protuberância” na linha do Equador de Saturno (na verdade, eram os anéis do planeta, que Galileu não conseguiu ver).

A Inquisição

A difusão dos textos de Galileu Galilei (1564-1642), um laico que pretendia dizer para os teólogos e doutores da Igreja como as Escrituras deveriam ser interpretadas — e o fazia na contramão da exegese patrística ou tradicional — levou a Inquisição, em 1616, a condenar a tese do movimento da Terra. Ela foi considerada uma “doutrina falsa e contrária às Escrituras”.

Com a chegada de Urbano V, que era amigo de Galileu e interessado na ciência, ao pontificado, Galileu obtém permissão para publicar uma obra em defesa do copernicanismo assumido como hipótese. Entretanto, o Diálogo sobre os dois máximos sistemas do mundo; ptolomaico e copernicano, publicado em 1632, faz, de fato, uma defesa da realidade do movimento da Terra e uma crítica demolidora ao dualismo cosmológico e à teoria aristotélica. O sistema geo-heliocêntrico de Tycho Brahe, que nos últimos anos fora adotado pelos jesuítas, foi descartado como fisicamente irrelevante.

A obra foi denunciada de imediato ao papa, que foi convencido de que era ridicularizado, no livro, na figura de Simplício, o porta-voz do aristotelismo. O Diálogo foi proibido e abriu-se processo inquisitorial contra Galileu. Esse processo terminou em 1633, com sua condenação e a abjuração forçada do movimento da Terra.

Curiosidade

Acusado de heresia pelo tribunal do Santo Ofício, Galileu poderia, a exemplo de Giordano Bruno, ter sido queimado na fogueira. Esse destino não se consumou porque Galileu, para salvar a pele, aceitou a sentença de negar publicamente que a Terra se movia, no espaço, em torno do Sol. Galileu tinha, então, 70 anos de idade. Diz a lenda que, depois de abjurar as próprias ideias, ele teria dito, baixinho: “Eppur si muove!”.

A frase, que significa “e, no entanto, ela se move!”, referia-se à Terra, e, se verídica, foi o modo que Galileu encontrou de manter-se coerente com suas descobertas e teorias. Sem que ninguém ouvisse, ele repudiou, com uma simples frase, não apenas a decisão da Inquisição, mas também a postura da Igreja, que impunha suas crenças como verdades indiscutíveis acerca do mundo e da natureza.

Galileu e a nova física matemática

Com Galileu, entra em vigor uma nova concepção da física como ciência matemática. A linguagem da natureza, a partir de então, passa a ser a dos números.

O ensaiador

Na obra O ensaiador, de 1623, Galileu Galilei (1564-1642) já tinha formulado a concepção da natureza inaugurada por sua nova física. Para ele, a realidade, ou natureza, seria geométrica. Consistiria em corpúsculos (átomos) dotados de uma determinada extensão e figura, em movimento ou repouso. As qualidades sensíveis, como odores, cores, sabores e sons, não seriam objetivas (ou primárias), uma vez que, como tais, não corresponderiam a nada da realidade. Ao contrário, seriam secundárias, ou seja, não passariam de efeitos produzidos nos sentidos humanos pelas partículas extensas em movimento.

Repouso e movimento

Como essa realidade ou natureza é universal, concluía-se pela inexistência do dualismo aristotélico. O caráter quantitativo e geométrico da realidade, segundo Galileu Galilei, levava a uma consequência inaceitável para a época: a de que o instrumento conceitual apropriado para a compreensão da natureza e do movimento era a matemática.

Na primeira década do século XVII, Galileu encontrou as leis matemáticas que regem o movimento de queda dos corpos e o movimento dos projéteis. Elas, porém, seriam publicadas somente em 1638, na Holanda (Discursos e demonstrações matemáticas sobre duas novas ciências relacionadas com a mecânica). As leis descobertas por Galileu mostravam que a física matemática poderia oferecer uma explicação completa desses movimentos (campo em que a física aristotélica fracassava completamente), além de provar que a natureza terrestre não estava menos submetida à precisão matemática do que os céus.

Em resumo, ficou evidente a homogeneidade da natureza, submetida a uma única realidade matemática de validade universal. O matematicismo de Galileu uniu-se ao desenvolvimento kepleriano da astronomia física em uma única teoria matemática, que proporcionava uma explicação completa da realidade.

Da nova concepção do movimento concluía-se que a distinção entre o movimento natural e violento, assim como sua explicação no sentido de uma causa final – uma noção aristotélica ainda em vigor na época de Galileu – carecia de sentido. O estado de movimento ou repouso dos corpos era independente e alheio a uma suposta “natureza” deles e ao lugar que eles ocupariam, naturalmente, no mundo.

Ficava definitivamente abandonada a implicação entre a composição do corpo, o lugar que ele ocupava e seu comportamento. Repouso e movimento eram equivalentes; o repouso perdia sua superioridade ontológica. Ambos passaram a ser, inclusive, estados inerciais, permanentes, da matéria, e somente se modificariam se uma causa externa viesse a atuar sobre o corpo, alterando seu estado.

Assim, com Galileu, o século XV|| assiste ao desenvolvimento do mecanicismo e da física mecanicista, com um prestígio crescente em função das aplicações práticas que possibilitavam.

Por: Paulo Magno Torres.