Artes

História da fotografia

Em 19 de agosto de 1839, o francês Louis Daguerre apresentava oficialmente ao mundo o que pode ser considerado a primeira máquina fotográfica: o daguerreótipo. Esse dia acabou virando o Dia da Fotografia.

Hoje, para bater uma foto, basta um clique. As câmeras automáticas, digitais ou analógicas e os laboratórios fotográficos fazem o resto. Já os pioneiros da fotografia eram grandes especialistas, não só na arte de fotografar, mas na Química e na Física.

Saiba um pouco mais da história da fotografia.

Surgimento da fotografia

Foi por meio da invenção de superfícies fotossensíveis que o ser humano conseguiu gravar sobre uma superfície as imagens geradas pela luz, a própria fotografia. A primeira fotografia do mundo foi feita pelo francês Joseph Nicéphore Niépce. Quando isso aconteceu, ele já sabia como projetar uma imagem dentro de uma caixa escura, mas não sabia ainda como fazer para que essa imagem ficasse lá gravada. Ele conseguiu essa façanha por meio de experimentos com produtos químicos, inventando uma placa fotossensível que gravava as imagens. Mas como as imagens entravam nessa caixa escura?

Essa foi uma descoberta que começou na Grécia Antiga, há mais de dois mil anos antes da descoberta de Niépce.

Dentro de um quarto escuro com um pequeno furo na parede, um grego percebeu que a imagem que estava lá fora era projetada de forma invertida na parede do fundo desse quarto. Depois disso, a ideia da câmara escura, como é conhecida, passou a ser desenvolvida por várias pessoas de lugares e épocas diferentes, porém até Niépce descobrir os produtos químicos para fazer a fotografia, ninguém conseguia guardar essas imagens, apenas vê-las projetadas dentro da caixa.

Câmara escura - pinhole
Você sabia que até hoje podemos usar a ideia da câmara escura para tirar fotos com uma caixa ou lata? Essa técnica se chama pinhole, palavra inglesa que significa “buraco de alfinete”. Ela tem esse nome porque é através de um buraquinho do tamanho do furo de um alfinete que a imagem entra na caixa escura e vira uma fotografia lá dentro, sobre um filme ou papel fotográfico.

O novo desafio então era fixar essa imagem projetada, sem utilizar o desenhista. Essa possibilidade começou a ser levada a sério a partir do século XVIII, quando foram comprovadas as propriedades de sensibilização dos sais de prata à luz, já observadas por volta do início de 1600. Foi com base nesse conhecimento que Niépce e outros pioneiros da fotografia começaram a usar esses sais para tentar fixar as imagens sobre algum tipo de suporte. E conseguiram.

O trabalho de Niépce, conhecido como heliografia (gravura com a luz do sol), não se parecia em nada com as técnicas fotográficas atuais. Para obter as imagens, o inventor precisava deixar o material exposto à luz solar quase um dia inteiro. Mesmo assim, o resultado não era lá essas coisas. As primeiras imagens que produziu foram feitas em 1816, mas ainda eram registradas em negativo. Nessa técnica, as partes mais escuras apareciam em tons próximos ao branco e as claras, em tons escuros. Dez anos depois, Niépce já havia aprimorado o modo de fotografar. Sua foto de 1826 é considerada a primeira fotografia permanente do mundo e foi feita sobre uma placa de estanho, coberta com betume branco e exposta durante cerca de 8 horas à luz solar.

Você sabia?

Em 1727, o anatomista alemão Johann Heinrich Schulze demonstrou que os sais de prata escureciam quando expostos à luz. Schulze não via muita utilidade prática para sua invenção na época, mas afirmou que sua descoberta ainda teria muitas aplicações. Boa profecia. Em 1777, outra descoberta fundamental para a fotografia foi o uso do amoníaco como fixador, isto é, como um meio de evitar que as partes cobertas com sais de prata e não expostas à luz se escurecessem também, fazendo com que a imagem desaparecesse.

A primeira máquina fotográfica

Apesar de Niépce ter apresentado as primeiras imagens, o título de ‘inventor da fotografia’ ficou com seu colega francês Louis-Jacques Daguerre (1787-1851), com quem trabalhou de 1829 a 1833.

Em 7 de janeiro de 1839, Daguerre apresentou na Academia Francesa de Ciência, em Paris, sua invenção – o daguerreótipo. Esse aparelho consistia em uma caixa preta, na qual era colocada uma chapa de cobre prateada e polida que, submetida a vapores de iodo, formava sobre si uma camada de iodeto de prata. Essa placa era exposta à luz dentro de uma câmara escura por 4 a 10 minutos. Depois, era revelada em vapor de mercúrio aquecido, que aderia ao material nas partes onde ele havia sido sensibilizado pela luz, formando a imagem.

Daguerreotipia

O processo todo, chamado de daguerreotipia, foi apresentado ao público no dia 19 de agosto de 1839. O grande lance de sorte de Daguerre foi a descoberta do mercúrio como revelador, o que reduziu o tempo de exposição à luz. As histórias contam que isso aconteceu por acaso. Daguerre teria guardado uma placa que tinha ficado pouco tempo exposta à luz em um armário no qual havia também um termômetro de mercúrio quebrado. No dia seguinte, ele notou que uma imagem visível havia se formado sobre a placa. Graças ao mercúrio, as áreas atingidas pela luz apareciam claras e brilhantes.

A daguerreotipia era um processo bastante rudimentar e não permitia que fossem feitas cópias. Uma vez pronta, a foto consistia numa chapa metálica, na qual ficava gravada a imagem. O equipamento era pesado e o processo, caro (os elementos químicos eram de difícil obtenção e as placas de cobre revestidas, caríssimas). Apesar das dificuldades, em pouco tempo o daguerreótipo espalhou-se pela França e a fotografia se tornou uma febre.

Da chapa ao rolo de filme

A chapa metálica começou a perder lugar com a invenção do papel fotográfico, mais leve e que permitia fazer várias cópias do mesmo negativo. Ele foi patenteado em 1841, na Inglaterra, por William Fox-Talbot (1800-1877), um nobre inglês que, além de ser escritor e membro do parlamento, era também cientista. Após várias tentativas, ele chegou ao papel fotográfico coberto por iodeto de prata (o que seria equivalente ao filme). Este era sensibilizado pela luz e, em seguida, revelado com ácido gálico, gerando uma imagem negativa.

O primeiro livro do mundo ilustrado com fotografia foi The pencil of Nature (O lápis da natureza), publicado por Talbot em 1844.

Finalmente, as cópias positivas eram feitas por contato com papel banhado em cloreto de prata. Esse processo é muito semelhante ao que conhecemos hoje.

Mas o antepassado do filme de hoje foi inventado só em 1884 pelo norte-americano George Eastman, fundador da Kodak. Os rolos de filmes fotográficos, aliado ao lançamento da primeira câmera fotográfica portátil, em 1888, são o ponto de partida para a popularização definitiva da fotografia. O slogan da campanha na época era: ‘Você aperta o botão, nós fazemos o resto’.

As câmeras de hoje têm basicamente o mesmo funcionamento da câmera lançada por Eastman. O filme é colocado dentro da máquina fotográfica. Quando o botão da máquina é apertado, a luz natural atravessa o diafragma – dispositivo que, em conjunto com o obturador, controla o tamanho da abertura da entrada de luz e o tempo em que ela deve atravessar esse pequeno orifício (frações de segundos) – e chega ao filme, gerando imagens negativas.

Existem muitos tipos de filmes fotográficos coloridos e em preto e branco. Uns são mais sensíveis à luz e outros, menos. A sensibilidade de um filme é definida pelo índice de exposição ISO (International Organization for Standardization), em português, ASA. O filme mais comum é o de ASA 100, mais barato e utilizado para imagens externas, em dias ensolarados. Quanto maior a ASA, maior a sensibilidade do filme à luz. Por exemplo, para fotografar em ambientes fechados, sem iluminação natural, o melhor é utilizar filmes com ASA 400 ou 800. Existem filmes específicos para fotografar à luz do sol ou sob luzes de tungstênio e que são usados por fotógrafos de estúdios.

O processo digital

Uma pessoa tirando uma foto com uma câmera digital.

As câmeras digitais se tornaram populares na década de 1990, mas o que pouca gente sabe é que o desenvolvimento delas é fruto de um programa norte-americano de pesquisas militares durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Na época, as informações digitalizadas por meio de mensagens criptografadas foram testadas e utilizadas como táticas de guerra.

A estratégia seguiu durante a Guerra Fria (1947-1989), período em que a internet sofreu grande impulso, visto a necessidade dos militares de contar com uma rede de comunicação integrada.

As primeiras imagens sem filme datam de 1965 e foram capturadas pela sonda Mariner 4 na superfície de Marte. O processo fotográfico ainda não era puramente digital, visto que os sensores utilizados capturavam imagens por meio de princípios analógicos televisivos. Como essas sondas sumiriam no espaço e não retornariam à Terra, diferentemente das missões tripuladas que revelavam seus filmes fotográficos, era preciso de uma nova invenção que possibilitasse a transmissão dessas descobertas.

O processo base das câmeras digitais e o sensor de captura das imagens surgiram em 1964 e 1969, respectivamente. A primeira versão comercial de uma máquina digital apareceu no mercado em 1973 e tinha capacidade de armazenar fotos de 0,01 megapixels.

Com o passar dos anos, as empresas entraram na corrida pelo aperfeiçoamento desses equipamentos e alcançaram uma boa movimentação no mercado, que pendeu também para o lançamento de modelos mais populares. A cada lançamento, o avanço tecnológico bate as próprias marcas no quesito megapixels, zoom ópticos, sensores digitais, processamento de imagens e vídeos, entre outras facilidades. Hoje, há foto digital para todos os gostos e bolsos.

Você sabia?

A primeira imagem digital foi feita por Russell Kirsch, no National Bureau of Standards (NBS, agora conhecido por National Institute of Standards and Technology, ou NIST). A foto de um bebê, granulada e com dimensão de apenas 5x5cm, foi classificada como uma das ‘100 fotografias que mudaram o mundo’.

Fotografia no Brasil

A daguerreotopia chegou ao Brasil, em 1840, trazida pelo abbé Combes, capelão de um navio-escola francês e autor das três primeiras fotos tomadas em solo brasileiro: do Paço Imperial, do chafariz de mestre Valentim e da praia do Peixe, no Rio de Janeiro. O primeiro brasileiro a possuir uma câmara daguerre foi o imperador Pedro II, fotógrafo amador. Marc Ferrez, mestre dos primórdios da fotografia no Brasil, trouxe as chapas secas, os autocromos de Lumière e os papéis à base de brometo. Rompeu com o espírito retratista e mercantil e fotografou, pela primeira vez, índios e navios em alto-mar.

Outros nomes importantes foram Musso, retratista do início do século XX; Paulino Botelho, da Gazeta de Notícias que, em 1905, voou no balão Portugal para tirar fotos aéreas da cidade; e Augusto Malta, que fotografou o incêndio da Companhia Telefônica, o desabamento do Clube de Engenharia, em 1906, e o lançamento ao mar do navio Minas Gerais, em 1908.

No Museu Histórico Nacional há fotos sobre a guerra do Paraguai, que mostram tropas fardadas, ruínas da igreja de Humaitá e o acampamento das forças brasileiras. Há outras feitas na Vila do Rosário, em 1870, em que aparecem o conde d’Eu, comandante-chefe brasileiro da última fase da guerra do Paraguai, e seu estado-maior. Outras fotos mostram a missa campal em ação de graças pela assinatura da Lei Áurea, em 1888; e o embarque, em 1889, da família imperial brasileira, rumo ao exílio.

No primeiro aniversário da república, Marc Ferrez fotografou a festa de comemoração diante do quartel do Exército. Juan Gutiérrez, fotógrafo e fototipista espanhol, registrou no Rio de Janeiro, na década de 1880, a revolta da Armada e documentou a campanha de Canudos, onde teria morrido. Algumas de suas fotos ilustram edições antigas de Os sertões, de Euclides da Cunha. Outras coleções importantes dos primeiros tempos da fotografia no Brasil pertencem ao Museu da Imagem e do Som de São Paulo e ao do Rio de Janeiro, onde está o acervo de Malta; à Cinemateca Brasileira, em São Paulo; ao Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro; ao Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro; e ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, no Rio de Janeiro, que inclui parte da coleção de Gutiérrez.

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