Biografias

Monteiro Lobato

Nasceu José Bento Monteiro Lobato em Taubaté, interior de São Paulo. Formou-se em Direito e exerceu, por vários anos, o cargo de promotor público na região do Vale do Paraíba. Depois de fracassar como fazendeiro, nas terras herdadas do avô, em 1917 comprou a editora que publicava a Revista do Brasil e mudou-se para São Paulo.

Trocou o nome da editora para Monteiro Lobato & Cia, que faliu em 1925. Fissurado pelo desejo de levar leitura e conhecimento ao país todo, nunca desanimou do investimento editorial: fundou, durante sua vida, mais duas editoras, a Companhia Editora Nacional e a Editora Brasiliense.

Embora nacionalista, seu conservadorismo político e seu moralismo o levaram a contradições como, por um lado, desejar progresso e educação para o povo e independência econômica para o país — lutando bravamente por eles, até a exaustão — e, por outro, opor-se drasticamente às renovações culturais e artísticas do Modernismo. Se ficou na história a sua prisão, em 1941, por ter atacado a ligação das autoridades brasileiras getulistas aos interesses internacionais, e a comoção nacional em defesa do escritor, também passou para a história a polêmica que provocou ao achincalhar a exposição expressionista de Anita Malfatti, em 1917.
Retrato de Monteiro LobatoNas obras do ciclo do Sítio do Pica-Pau Amarelo, encontra-se ainda o melhor da ficção para crianças já produzida no país. Até hoje Lobato é referência como autor que educa, ensina e diverte, sem o artificialismo, sem o coloquialísmo gratuito e sem o oportunismo editorial de boa parte da frágil literatura infanto-juvenil brasileira.
De sua obra para adultos, destacam-se os volumes de contos — Urupês, Cidades mortas e Negrinha — e as crônicas e artigos polêmicos reunidos em Ideias de Jeca Tatu, Jeca Tatuzinho, América, O escândalo do petróleo e Zé Brasil.

Tematizando o Vale do Paraíba paulista em sua decadência agrícola do início do século XX, retrata em seus contos o drama social e cultural do roceiro em abandono e ignorância. Apesar da renovação temática- mais uma contradição lobatiana! -, manteve-se preso a uma estrutura narrativa realista e a uma linguagem lusitanizante, apenas temperada com regionalismos caipiras.

Não fosse a figura pública polêmica que ele construiu para si mesmo, e não fosse sua magistral obra infantil, Lobato seria facilmente relegado a segundo plano na memória cultural brasileira, caso considerássemos apenas sua produção literária para adultos.

No volume de contos Urupês, no artigo “Urupês”, incluído desde a segunda edição do livro, Lobato trouxe um tipo humano para a literatura, fruto de suas observações sobre o habitante pobre do interior de São Paulo, ao qual chamou de Jeca Tatu. Essa figura tornou- se símbolo do interiorano pobre e ignorante, alienado, cheio de vermes e preguiça, que destrói a natureza e não tem qualquer conhecimento agrícola. A visão de Lobato é antes resultado de sua arrogância como filho de senhores de terras, desprovido de profundidade política, apesar de intelectual, do que resultado de uma análise mais detida das causas e consequências de séculos de estreiteza das elites políticas e de resquícios de semi-escravidão e abandono das classes populares.

O Jeca é uma figura que penetrou no folclore brasileiro e até hoje, quando queremos ofender alguém, acusando-lhe de ter mau-gosto ou ser ignorante, usamos a expressão “E um jeca, mesmo…”. O próprio Lobato foi responsável pela mitificação dessa personagem, como se pode observar no texto a seguir:

“Lançado em 1924, Jeca Tatuzinho veio ensinar noções de higiene e saneamento às crianças, por meio do personagem-símbolo criado por Monteiro Lobato. Adaptado no ano seguinte e, ao que consta, oferecido a seu amigo Cândido Fontoura para promoção dos produtos do laboratório Fontoura Serpe & Cia, em especial do Biotônico, chegaria a 100 milhões de exem­plares no centenário do escritor.

Considerada a peça publicitária de maior sucesso na história da propaganda brasileira, inspi­raria, em 1982, a criação do Prêmio Jeca Tatu. Instituído pela agência CBBA-Castelo Branco e Associados, representou uma homenagem “à obra-prima da comunicação persuasiva de caráter educativo, plenamente enquadrada ria missão social agregada ao marketing e à propa­ganda”.

Por: Renan Bardine

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