Biografias

Raquel de Queiroz

A jovem cearense Raquel de Queiroz que, aos 20 anos, chamou a atenção da crítica do Rio de Janeiro e de São Paulo por conta de seu primeiro romance, O quinze, projetou-se na vida literária do país com uma prosa regionalista e de fundo social.

Biografia

Rachel de Queiroz nasceu em Fortaleza em 17 de novembro de 1910. Pelo lado materno, era descendente do escritor José Alencar (1829-1877), o maior romancista do período romântico.

Procurando esquecer os horrores da terrível seca de 1915, em 1917a família muda-se para o Rio de Janeiro. Retoma a Fortaleza em 1919 e, em 1921, Rachel de Queiroz é matriculada no colégio Imaculada Conceição, onde concluí o curso normal, diplomando-se como professora em 1925, aos quinze anos de idade.

Fotografia em preto e branco de Raquel de Queiroz segurando seu gato de estimação.
Rachel de Queiroz (1910-2003).

Dois anos depois, atraída pelo Jornalismo, inicia sua colaboração no jornal O Ceará. Sua estreia literária só se dará em 1930, com o livro O quinze. Esse primeiro romance, custeado pela própria autora, teve edição de mil exemplares e lhe deu inesperada notoriedade, sobretudo no centro da cultura brasileira àquela época (o eixo Rio de Janeiro-São Paulo).

Em 1931, recebe no Rio de Janeiro o prêmio da Fundação Graça Aranha e conhece integrantes do Partido Comunista (PC), vindo a fundar, de volta a Fortaleza, o PC cearense.

Por conta disso, é fichada na polícia de Pernambuco como “agitadora comunista”. Porém, vem a romper com o partido quando esse exige que ela submeta seu livro João Miguel (1932), às vésperas de sua publicação, a um comitê, que o reprova pelo fato de, em seu enredo, um operário matar outro. Apesar do rompimento com o PC, durante a ditadura do Estado Novo a autora teve seus livros queimados em Salvador (junto aos de outros “subversivos” como Jorge Amado e Graciliano Ramos) e chegou a ficar detida por três meses, em Fortaleza.

Ao longo de seus 93 anos de vida, Rachel de Queiroz publicou dezenas de livros e suas histórias são adaptadas para o cinema e a televisão. Em 1957, a Academia Brasileira de Letras lhe concedeu o prêmio Machado de Assis, pelo conjunto de sua obra e, em 1977, a escritora se tomou a primeira mulher a integrar a instituição.

Em 1993, recebeu outros prêmios importantes, como o da União Brasileira dos Escritores (o Juca-Pato) e o Prêmio Camões, que representa o melhor da literatura produzida em língua portuguesa em diversos países.

Rachel de Queiroz faleceu em 2003, na cidade do Rio de Janeiro, enquanto dormia em sua rede.

Características literárias e obras de Rachel de Queiroz

Na década de 1930, o rádio encurtava as distâncias. Na esteira de uma tendência em que a cultura brasileira começava a fazer uma análise mais crítica de sua própria miséria, uma nova prosa de ficção surgia para mostrar um Brasil estranho e desconhecido, cheio de desigualdades: o romance regional.

É nesse contexto que surge O quinze (1930). O romance tem dupla linha narrativa. A primeira, de cunho mais social, trata do drama do retirante Chico Bento. A segunda, de perfil mais pessoal e intimista, trata do amor impossível entre Vicente, proprietário rural, e Conceição, moça urbana e culta.

Com uma prosa de cunho social e neorrealista, Rachel de Queiroz retrata com objetividade a eterna luta de um povo contra a miséria, a seca e a exclusão. O quinze foi um dos romances fundamentais do chamado “ciclo do romance nordestino” da literatura brasileira do século XX.

Além de romances, Rachel de Queiroz escreveu crônicas (A donzela e a moura torta, 1948; 100 crônicas escolhidas, 1958; O brasileiro perplexo, 1963; Histórias e crônicas, 1963) e peças de teatro (Lampião, 1953; A beata Maria do Egito, 1958). Seus diálogos são correntes e leves, lembrando por vezes a narrativa novelística popular, gênero que acabaria por atrair a escritora para o teatro folclórico e regional.

Curiosidades

Livro “de verdade”

Rachel de Queiroz transformou-se em figura importante graças a seu livro de estreia, 0 quinze (1930,160 páginas). Em seguida vieram João Miguel (1932, 158 páginas) e Caminho de pedras (1937,156 páginas).

Depois do lançamento deste último, sua mãe, numa quase crítica ao pequeno tamanho dos livros da filha, perguntou quando ela enfim conseguiria escrever um livro “que parasse em pé”.

Amigos, amigas…

Diante do furor ocasionado por sua indicação e eleição na Academia Brasileira de Letras, em 1977, Rachel de Queiroz declarou, em entrevista, a respeito do fato de ser a primeira mulher “imortal”: “Eu não entrei para a ABL por ser mulher. Entrei, porque, independentemente disso, tenho uma obra. Tenho amigos queridos aqui dentro. Quase todos os meus amigos são homens, eu não confio muito nas mulheres.”

Por: Paulo Magno da Costa Torres

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