Animais

Répteis

A palavra réptil possui origem no latim reptum, que significa rastejar. O nome, no caso dos animais, é uma clara alusão à forma com que os répteis se locomovem. Exceto pelas serpentes, os répteis possuem quatro membros que auxiliam na movimentação, porém todos eles de fato rastejam a maior parte do tempo.

A arqueologia comprovou que répteis são descendentes diretos de um grupo de anfíbios – a evolução e desdobramento ocorreu há cerca de 350 milhões de anos. Em relação aos anfíbios, os répteis apresentam algumas características evolutivas, responsáveis pelo sucesso na ocupação do ambiente terrestre. A reprodução interna e o desenvolvimento do embrião ainda dentro dos ovos, além da pele espessa e resistente, tornou essas criaturas concorrentes mais bem-sucedidos no ambiente terrestre – além, é claro da respiração pulmonar.

Embora os dinossauros sejam exemplos óbvios disso, o sucesso dos répteis permitiu o surgimento de criaturas muito maiores e desenvolvidas e, durante muito tempo, garantiu às espécies da classe Reptilia o domínio quase que absoluto do planeta.

Características gerais dos répteis

Temperatura corporal

Assim como os peixes e anfíbios, os répteis também são animais pecilotérmicos (ectotérmicos), pois utilizam o calor do ambiente para controlar a temperatura corporal. De forma popular, são conhecidos como animais de “sangue frio”. O calor necessário para a manutenção da atividade e da vida, no caso dos répteis, depende das condições climáticas e ambientais.

Pele

A pele dos répteis é seca e sem glândulas, o que a torna grossa e impermeável. A resistência e impermeabilidade se deve, principalmente, à abundância de queratina. Com a pele que possuem, os répteis evitam a perda de água e são capazes desse modo de sobreviver mesmo em ambiente extremamente áridos. Contudo, apesar de resistentes, a sua pele não pode realizar trocas gasosas ou “respirar”.

Como forma de defesa principalmente, muitos dos répteis possuem protuberâncias e partes mais espessas na pele e couraças.

Circulação

A circulação sanguínea dos répteis é dupla, muito semelhante à dos anfíbios. O sangue é bombeado pelo coração até os pulmões, onde realiza a captura de oxigênio e eliminação de gases, retornando para o coração, que o redistribui ao restante do corpo.

A maioria dos répteis possui um coração com três cavidades: dois átrios e um ventrículo seccionado por um septo – o que reduz a possibilidade de mistura do sangue arterial, ou oxigenado, com o sangue venoso.

Os crocodilianos, no entanto, possuem um coração de quatro cavidades. Embora ainda haja alguma mistura do sangue arterial e venoso por meio de uma conexão existente entre a aorta e a artéria pulmonar, o coração dos crocodilianos é mais eficiente na distribuição de gases da respiração, quando comparado aos demais répteis.

Em A, está representado o coração de réptil não crocodiliano. Possui três câmaras, sendo o único ventrículo parcialmente dividido por um septo. Em B, está representado o coração de um réptil crocodiliano: as quatro câmaras são completamente separadas e existe comunicação entre a artéria aorta e a artéria pulmonar, a qual permite a mistura de sangue oxigenado (arterial) com sangue não oxigenado (venoso). AD: átrio direito, VD: ventrículo direito, AE: átrio esquerdo, VE: ventrículo esquerdo.

Sistema digestório e alimentação

Os répteis contam com um sistema digestório que se inicia na boca, repleta de dentes (exceto pelos quelônios, como o cágado, que têm placas cortantes e bicos). Em seguida, o alimento passa pela faringe, esôfago, estômago e intestino (delgado e grosso), culminando numa cloaca – que funciona tanto para a eliminação de fezes e outros resíduos quanto para pôr ovos. O sistema digestório dos répteis ainda possui uma série de órgãos anexos:

  • Glândulas salivares
  • Fígado
  • Pâncreas
  • Vesícula biliar

Os répteis podem ser herbívoros, carnívoros e também onívoros, em termos de hábitos alimentares.

Respiração

Apresentam respiração pulmonar. Os pulmões dos répteis são desenvolvidos e apresentam uma estrutura de alvéolos, que aumenta a eficiência da troca gasosa elevando a superfície de captação de oxigênio.

Os répteis possuem capacidade respiratória mais eficiente que os anfíbios. Contudo, como uma herança dos anfíbios, muitos répteis possuem capacidade para uma respiração “complementar” através das vias faríngica e cloacal.

Reprodução

A fecundação dos répteis ocorre de maneira interna (os machos depositam espermatozoides dentro do corpo da fêmea). Essa fecundação foi o que “libertou” os anfíbios que evoluíram para répteis da sua dependência do meio aquático.

Algumas espécies botam ovos grandes (ovíparas), com grandes vitelos, em cascas córneas ou calcárias, como os jacarés, as tartarugas e algumas cobras e lagartos. Outras espécies são vivíparas, ou seja, os ovos são retidos pela fêmea para o desenvolvimento dos filhotes – entre as espécies vivíparas estão algumas cobras e lagartos.

Os ovos tendem a ser proporcionalmente grandes, duros e de casca resistente – retendo o líquido para o embrião e protegendo o seu desenvolvimento antes da eclosão.

Representação esquemática de um ovo de réptil.

Sistema nervoso

O sistema nervoso dos répteis é um pouco mais desenvolvido que o dos anfíbios. Entre os órgãos sensoriais, a distinção é nítida – o olfato e a visão são bastante desenvolvidos e há órgãos do sentido especializados, como órgão de Jacobson presente nas serpentes. Esse orgânulo é uma estrutura vomeronasal que funciona em apoio ao olfato. Também as serpentes possuem receptores termosensoriais, que ajudam a detectar diferenças de calor no ambiente.

Classificação

As diferentes espécies de répteis estão classificadas em quatro grupos: quelônios, crocodilianos, escamados e rhyncocephalia.

Quelônios

Os quelônios são representados por tartarugas, cágados e jabutis. São caracterizados por possuir um corpo em rigor mais frágil que o de muitos outros répteis, compensado pela dura e resistente carapaça protetora, que recobre toda a parte dorsal com placas, o abdome com estruturas um pouco mais flexíveis e protege o animal: exceto pela cabeça, patas e cauda.

Mesmo assim, muitos quelônios são capazes de “entrar” completamente nas carapaças. Os membros, a cabeça e a cauda são de certo modo retráteis, dando uma vantagem adicional a esses animais contra predadores.

Espécies marinhas ou aquáticas tendem a possuir carapaças mais achatadas – de modo a beneficiar a natação, imprimindo uma forma mais aerodinâmica ao corpo. Nos quelônios terrestres, as carapaças em geral são mais arredondadas e altas.

Carapaça (dorsal) e plastrão (ventral) de um quelônio.

As tartarugas que vivem no mar ou em água doce possuem as patas dianteiras e traseiras adaptadas, em forma de nadadeira. A carapaça é achatada, diminuindo o atrito com a água durante o nado.

Tartaruga-marinha. As patas em forma de nadadeiras são uma importante adaptação ao ambiente aquático.

Os cágados podem ser encontrados em água doce, mas também se locomovem em terra. Em termos de hábitos, são animais muito próximos dos anfíbios.Têm pescoço longo que, ao ser dobrado lateralmente, é recolhido dentro da carapaça. O casco dos cágados é mais achatado do que o das tartarugas.

Cágado-de-barbicha, comum na América do Sul.

Os jabutis são exclusivamente terrestres e são quase que somente herbívoros. Os pés são achatados e possuem dedos curtos, com unhas duras. As patas em si têm um formato de coluna – e são adaptadas para caminhar em terra.

Jabuti. As patas são arredondadas nas extremidades.

Crocodilianos

Os crocodilianos são representados por crocodilos, gaviais, aligatores e jacarés. Apresentam o corpo coberto por placas ósseas ou escamas, corpos pesados e patas com garras.

Seu habitat recobre praticamente todas as zonas tropicais e equatoriais de maior temperatura no planeta, sempre próximo do mar, lagos e rios. Sua agilidade é maior dentro da água, onde utiliza a cauda para auxiliar a impulsão. Em terra são mais lentos, porém devido à poderosa musculatura, podem ser ágeis em curtos períodos de tempo, mais explosivos.

Por serem animais semiaquáticos, os crocodilianos possuem uma série de adaptações evolutivas que lhes dão vantagens e beneficiam uma maior permanência na água. As pálpebras possuem membranas protetoras transparentes e as narinas válvulas que controlam a entrada de água – uma delas no topo da cabeça, permitindo a respiração mesmo quando o animal está parcialmente submerso.

Os crocodilianos são todos animais carnívoros e predadores no topo da cadeia alimentar em todos os ambientais em que vivem. Entretanto, devido ao seu baixo metabolismo, podem passar longos períodos sem alimentar-se, economizando energia e guardando-a para atacar presas mais fáceis.

Os jacarés e os crocodilos são animais muito parecidos. Os jacarés se distinguem pela cabeça mais curta e larga e pelo focinho arredondado. Já os gaviais, sendo o mais conhecido deles o gavial do Nilo, lembram jacaré, porém com focinho e boca afinados, adaptados para capturar peixes.

Jacaré.
Crocodilo.

Escamados

Os escamados são os répteis que têm o corpo coberto por escamas, o que inclui os lacertílios e os ofídios. O grupo dos lacertílios é o que possui maior número de espécies. Nele estão os lagartos, os camaleões, as lagartixas, as iguanas e similares.

Os lagartos e as cobras são os répteis mais diversificados, tendo se adaptado a praticamente todos os habitats no planeta. Há cobras e lagartos em florestas, desertos, regiões mais frias e nos mares, rios e lagos.

Em termos de tamanho, há animais minúsculos, como algumas espécies de lagartixas e cobras até lagartos enormes, cujo tamanho rivaliza com alguns dos crocodilianos, como o iguana e o dragão-de-Comodo.

Dragão-de-komodo.

No grupo dos ofídios estão as serpentes, répteis escamados ápodes (sem patas). Elas o corpo alongado e um esqueleto bastante simples, formado apenas pelo crânio, pela coluna vertebral, pelas costelas e por uma mandíbula, cujos ossos possuem uma articulação que lhes permite abrir a boca em um ângulo próximo a 180°. Várias são espécies são venenosas e inoculam o veneno em suas vítimas usando duas presas na boca.

Em geral, podem ser divididas entre as espécies venenosas e as não venenosas, serpentes geralmente maiores, com corpos que podem atingir até 10 metros de comprimento e com musculatura mais potente, já que capturam e matam suas presas por meio da constrição.

Serpente mostrando sua língua bífida.

A despeito de não possuir patas, as serpentes possuem um complexo sistema de músculos que lhes confere agilidade, permitindo saltos, botes, deslocamento em terra em velocidade, escaladas e até nadar.

A língua das serpentes é bífida, isto é, dividida em duas pontas. As serpentes utilizam a língua como captador de partículas que são levadas ao órgão de Jacobson (órgão quimiorreceptor), uma estrutura no céu da boca que oferece um potente sentido olfativo.

Veja mais: Serpentes peçonhentas e não peçonhentas.

A ordem dos escamados ainda possui um terceiro grupo, o das anfísbenas, conhecidas no Brasil como “cobras de duas cabeças”. Esses animais são em geral menores que a cobras e possuem um corpo alongado e repleto de secções transversais. Não são peçonhentas e são os únicos répteis realmente escavadores – o formato do seu corpo permite a esses animais escavar complexas redes de túneis para defesa, abrigo e procriação.

Rhynchocephalia

tuatara é o único representante de répteis da ordem Rhynchocephalia. É um réptil endémico da Nova Zelândia que vive apenas em algumas ilhas ao largo deste país, estando extinto nas duas ilhas principais. É considerado uma espécie ameaçada desde 1895. O nome tuatara é uma palavra Maori que significa dorso espinhoso.

Tatuara.

As tuataras têm características mistas entre lagartos, tartarugas e aves. Os dentes estão fundidos aos maxilares e não têm órgãos de copulação nem auditivos externos. São animais de clima frio, que não suportam temperaturas acima dos 27ºC. Os adultos medem cerca de 60 cm de comprimento, pesam entre 0,5 e 1 kg e são terrestres e principalmente noturnos.

Por: Carlos Artur Matos

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