Biologia

Clonagem

Clonagem é a obtenção, em laboratório, de numerosas células vivas e idênticas, a partir de uma única célula. A duplicação de células pode ser feita a partir de células de um ser adulto ou de um embrião. A cópia é geneticamente idêntica à célula-mãe, tendo todas as suas características físicas e biológicas.

Veja aqui a história da clonagem, como é feita a clonagem de mamíferos, para que serve e a quantas anda a discussão sobre os critérios éticos para esse tipo de manipulação genética.

História

Depois que a simpática ovelha Dolly apareceu nas TVs e jornais do mundo todo, em 1996, o assunto clonagem entrou para o cotidiano popular. De lá para cá, diversos animais foram clonados com sucesso, inclusive aqui no Brasil.

Quando se fala de clones de seres humanos, no entanto, muitos pesquisadores dizem ter descoberto como clonar gente, mas nenhuma dessas experiências foi comprovada cientificamente.

Para o público leigo, Dolly foi o início de toda a discussão. Para a comunidade científica, no entanto, a ovelha foi um importante avanço em uma pesquisa que vinha sendo desenvolvida há décadas.

Os primeiros clones vegetais

O termo clone apareceu em 1903, criado pelo botânico Herbert J. Webber, que pesquisava hibridização de plantas no Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. Ao contrário do que ocorreu com muitos termos científicos, esse permaneceu intocado pelo tempo: segundo Webber, um clone seria “uma colônia de organismos que, de modo assexuado, deriva de apenas um progenitor”.

Paralelamente ao debate sobre a clonagem de humanos – seja ela terapêutica ou reprodutiva –, as pesquisas continuaram a avançar. Atualmente, a lista de animais clonados contém ovelhas, bezerros, camundongos, cabras e gatos.

Os primeiros clones animais

As primeiras experiências que permitiram o desenvolvimento da técnica da clonagem datam do final do século XIX, quando o alemão Hans Driesch separou células de embriões de ouriços-do-mar e observou o desenvolvimento de larvas pequenas, mas completas. A partir daí, os cientistas só avançaram no conhecimento de como acontece a reprodução sexuada e de que forma isso serviria para criar ‘cópias’ de seres vivos.

A ideia de clonar um animal viria um pouco mais tarde: em 1935, o também alemão Hans Spemann ganhou o Prêmio Nobel e ficou conhecido posteriormente como ‘pai da clonagem‘ por transferir de forma rudimentar o núcleo de uma célula em estágio tardio de desenvolvimento para um óvulo enucleado (com o núcleo retirado), observando que o óvulo se desenvolvia novamente para formar uma larva completa.

Durante as décadas de 1940 e 1950, vários animais seriam clonados pela divisão de embriões nos estágios iniciais, como se de um único zigoto fossem criados vários irmãos gêmeos. Em 1952 dois cientistas testaram o transplante de núcleo em anfíbios: o núcleo de uma célula de embrião de uma rã foi transplantado para um óvulo não fertilizado, do qual foi retirado o núcleo. Muitos girinos chegaram a nascer e alguns até se transformaram em juvenis.

Os primeiros mamíferos clonados

As experiências com clonagem de anfíbios seguiram com sucesso; no início da década de 1980 começaram as primeiras tentativas de transferência nuclear em mamíferos. Em 1983, camundongos foram gerados de ovos fertilizados enucleados que receberam núcleos de outros ovos fertilizados.

Três anos depois, na Inglaterra eram clonados os primeiros carneiros. A técnica usada pelo dinamarquês Steen Willadsen consistia em fundir o núcleo de uma célula de embrião em um ovo enucleado.

Mas, então, o que Dolly teve de tão especial? A grande diferença no processo que deu origem à famosa ovelha e que tanto entusiasmou os cientistas é que Dolly foi clonada a partir de células adultas, denominadas células somáticas – e não a partir de células embrionárias, como acontecia normalmente. Daí em diante, tornou-se possível clonar a partir de um animal adulto, conhecendo de antemão as características que serão “copiadas”.

Como a clonagem é feita

Para entender como é feita a clonagem de um embrião, temos de recordar alguns processos biológicos relacionados à formação da vida.

Fique ligado!
As células de um mamífero adulto podem ser divididas, basicamente, em dois tipos: as células germinativas (óvulos e espermatozoides) e as células somáticas. As germinativas são as células destinadas à reprodução; são, portanto, responsáveis pela transmissão dos genes de uma geração para a outra. As somáticas são as demais células, que servem para as mais variadas funções, menos à reprodução.

Primeiro, a multiplicação

Todos os mamíferos são criados a partir de uma única célula, resultante da união (fecundação) do óvulo com o espermatozoide. Assim que é formada, essa célula começa a se dividir por meio da mitose, primeiro em duas, depois em quatro, oito, e assim sucessivamente. A cada divisão, a célula duplica seu material genético para as células-filhas. É como se cada uma dessas células carregasse em si a receita para fazer um animal completo.

Depois, a identidade

Inicialmente, essas células são idênticas. São as chamadas células-tronco, células embrionárias ou células indiferenciadas. Estas células são pluripotentes (ou totipotentes), ou seja, elas possuem a capacidade de originar qualquer tecido para posteriormente constituir órgãos, membros, etc.

Em determinado momento, algumas começam a assumir características diferentes umas das outras: é o processo conhecido como diferenciação. O que isso quer dizer? Que um mecanismo ainda não totalmente compreendido pelos cientistas faz com que cada grupo de células assuma certa identidade, perdendo o acesso a todo o resto da informação genética contida em seu núcleo – a receita inteira ainda está lá, mas cada célula lê apenas uma parte dela.

A clonagem da ovelha Dolly

Para a criação de Dolly, resumidamente, retiraram o DNA do interior de uma célula da glândula mamária de uma ovelha adulta que foi inserido no gameta feminino (óvulo) de outra ovelha do qual também havia sido retirado o DNA. Dessa forma, o óvulo ficou com o DNA da primeira ovelha, em vez de ter o DNA da segunda ovelha que teve o óvulo retirado. Este óvulo com novo material genético foi inserido no útero de uma terceira ovelha, e se desenvolveu, gerando um filhote chamado de Dolly.

Esquema ilustrando como foi realizada a clonagem da ovelha Dolly.

E a clonagem de humanos?

O mesmo processo utilizado na clonagem de Dolly poderia, teoricamente, dar origem a um bebê humano ou a embriões dos quais se extrairiam células-tronco com finalidade terapêutica. Essas células seriam usadas para substituir quaisquer outras células somáticas do organismo que estivessem com defeito. Um paciente com problemas renais, por exemplo, poderia ter suas células-tronco clonadas e, a partir delas, ter um novo rim. Com isso, não haveria o risco de rejeição, já que as células do rim transplantado possuiriam os mesmos genes do paciente.

Discussões éticas sobre a clonagem

Enquanto os “clonados” se restringiam a vegetais e anfíbios, ninguém parou para discutir o assunto. Mas quando as possibilidades foram ampliadas para a clonagem de mamíferos – ovelhas, vacas e até mesmo pessoas –, o debate começou a esquentar.

Vantagens econômicas

A ideia de clonar animais é bem aceita, uma vez que pode trazer grandes vantagens econômicas. No ramo da agropecuária, o interessante é clonar animais com características diferenciadas – que sejam bons reprodutores, por exemplo –, garantindo rebanhos melhores.

Também sob esse aspecto a clonagem a partir de células de um animal adulto apresenta vantagens. “Se a clonagem de animais visa à reprodução de características interessantes, precisamos conhecer o animal antes de querer cloná-lo, certo? Assim, não adianta clonar a partir de células de um embrião, que ninguém sabe se será um grande produtor de leite de ou carne. Comercialmente é mais interessante poder clonar a partir de células de um indivíduo adulto”, diz a geneticista Lygia da Veiga Pereira, da Universidade de São Paulo.

Doações compatíveis

No caso da clonagem humana, as questões levantadas são outras. Existe certo consenso entre os cientistas quando se trata da clonagem terapêutica – afinal, é difícil ser contra a ideia de salvar vidas, certo? Errado.

Existem argumentos teológicos muito fortes contra a ideia de fazer experimentos com embriões humanos, clonados ou não. A posição da Igreja Católica condena qualquer tipo de utilização, a produção e a destruição de embriões humanos com o simples objetivo de experimentar e obter células matrizes embrionárias.

A Igreja Ortodoxa também condena experimentos com embriões, mas o judaísmo não. Para os judeus, um óvulo fertilizado in vitro não tem “humanidade” enquanto não é implantado em um útero. Veja os argumentos favoráveis e contrários à clonagem de células humanas.

Argumentos a favorArgumentos contra
Desenvolvimento de tecnologias que permitiriam a cura e o tratamento de várias doenças, como o câncer, o mal de Alzheimer, etc.O índice de experimentos errados ainda é muito grande e existe a chance, no caso de a clonagem reprodutiva humana, de a criança clonada nascer com más-formações ou com outros problemas genéticos.
Possibilidade de pessoas inférteis terem filhos com suas características genéticas.Mesmo no caso de crianças aparentemente normais, como garantir que elas não apresentem mutações genéticas que só serão percebidas daqui a várias gerações?
Possibilidade de criação de um “banco de órgãos” a partir de células clonadas, eliminando o problema das filas de transplante e da incompatibilidade de doadores.Além dos argumentos científicos, pesam, entre outros, os de origem antropológica, religiosa e ética, como a questão da exclusão da paternidade e da maternidade, a imposição prévia da imagem e semelhança do doador, a transformação da criança em objeto e produto da fantasia de alguém, em vez de um ser humano único, etc.

Fábrica de bebês?

Se já existem empecilhos quando se trata de embriões e células-tronco, a discussão se acirra ainda mais quando o assunto é a clonagem de uma criança.

Segundo pesquisadores da área, a técnica da clonagem ainda não é suficientemente controlada para garantir o nascimento de uma criança saudável. Até mesmo o cientista Ian Wilmut, chefe da equipe responsável pela clonagem de Dolly, é abertamente contra a clonagem humana, o que considera uma “irresponsabilidade criminosa“. Segundo ele, o risco da clonagem de mamíferos ainda é muito grande. Além do mais, a clonagem reprodutiva – aquela que permitiria a criação de um ser humano idêntico a outro – é proibida nos Estados Unidos desde o fim da década de 1990.

Dolly: experiência bem-sucedida?

Até hoje os cientistas se questionam se a experiência com Dolly foi totalmente bem-sucedida. As células da ovelha, que morreu aos seis anos de idade (metade da estimativa de vida de uma ovelha comum), aparentavam ter mais idade do que realmente tinham. Além disso, não foi possível identificar se a artrite de Dolly era devida à clonagem, a algum problema genético ou a condições ambientais. Contudo, a morte precoce sugere a possibilidade de que seres criados a partir da clonagem de adultos envelhecerão com maior rapidez.

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