Ecologia

Competição

A competição é uma das interações ou relações ecológicas mais comuns entre os seres vivos. Na natureza, ela ocorre quando uma ou mais espécies disputam espaço ou recursos escassos. Essa competição pode ocorrer em razão de um território, abrigo, potenciais parceiros, alimento, água, presas e outros fatores. A ecologia separa a competição em dois tipos distintos:

– A competição intraespecífica, quando a disputa ocorre entre animais de uma mesma espécie.

– A competição interespecífica, quando essa concorrência ocorre entre animais de duas ou mais espécies diferentes.

Competição intraespecífica

Indivíduos da mesma espécie tendem a disputar os mesmos recursos. Essa disputa é notória quando observamos a forma com que animais de uma mesma espécie interagem quanto ao domínio do território, ao posicionamento dentro de uma comunidade ou durante o acasalamento.

Quando essa disputa ocorre dentro de uma mesma espécie, estamos lidando com uma competição intraespecífica. Ao longo da vida de qualquer ser vivo, esse tipo de competição se dá pelo menos uma vez.

As espécies evoluíram com o tempo de modo a reduzir esse tipo de competição. Se considerarmos uma espécie em particular, podemos dizer que o excesso de disputa poderia levar a uma redução ou até mesmo extinção da espécie como um todo.

Corais, algas e algumas esponjas no mar e árvores e plantas em geral em terra disputam sistematicamente o espaço. Como não possuem fácil mobilidade, ao menos na maioria dos casos, têm de garantir espaço, mesmo quando sobrevivem em colônias ou grandes comunidades. A evidência disso é o fato de indivíduos notadamente crescerem mais ou menos que seus vizinhos.

A competição intraespecífica está diretamente relacionada com a densidade da população, assim como encontra relações com a abundância ou escassez de recursos em um habitat. Ou seja, quando temos um aumento da densidade populacional ou um esvaziamento de recursos, automaticamente eleva-se a competição entre os indíviduos de uma mesma espécie. Quando a população cai, a competição tende a atenuar e indivíduos são mais propensos a compartilhar qualquer dos recursos.

Competição intraespecífica.
Rinocerontes-brancos competem por território e fêmeas.

Competição interespecífica

Como o próprio nome diz, a competição interespecífica é aquela que ocorre entre indivíduos de diferentes espécies que ocupam o mesmo nicho ecológico. Como compartilham um mesmo local, têm acesso aos mesmos recursos e espaço. Caso esses recursos sofram escassez, espécies irão se tornar mais competitivas, como modo de garantir a sobrevivência dos seus antes da vitória de outra espécie.

O sucesso reprodutivo de uma espécie depende diretamente do volume de recursos que essa espécie pode alcançar. A disputa é tão acirrada que seres vivos submetidos a uma grande competição tendem a evoluir mais depressa, como um modo de conseguir a vitória sobre as demais espécies.

O grau de competição depende diretamente dos recursos necessários e seu nível de abundância. Predadores competem pelas presas de uma região, como ocorre entre leões, leopardos e guepardos. Plantas em uma floresta podem competir pela luz solar, e acabam crescendo demasiado para garantir insolação acima das demais espécies.

Competição interespecífica.
As plantas ocupam diferentes espaços no interior das florestas. Isso permite que as diferentes espécies coexistam.

A elevada competição entre duas ou mais espécies geralmente leva a um controle populacional de todas as espécies envolvidas na relação de competição.

Da concorrência elevada entre espécies surgem muitas mutações evolutivas. As espécies sujeita a maior concorrência tendem a evoluir de forma mais dinâmica, de modo a superar os concorrentes.

Ao longo dos últimos três séculos, o homem teve uma interferência fundamental – ainda que danosa – na indução de mecanismos de competição entre espécies que não teriam sido naturalmente produzidos. Como resultado, espécies levadas de um continente ao outro destruíram o equilíbrio competitivo em determinados habitats, criando grandes populações e, em alguns casos, extinguindo espécies locais incapazes de competir com a nova ameaça.

Um exemplo atual disso são os gatos na Austrália. Inexistentes no continente antes da chegada dos europeus, os gatos foram gradativamente introduzidos como animais domésticos. Contudo, os gatos australianos não possuem predadores naturais e, face a isso, não tiveram sua reprodução controlada de qualquer maneira ao longo dos séculos. A crise atual ameaça espécies endêmicas em razão da superpopulação felina e levou o governo australiano a iniciar planos para o extermínio de 2 milhões de gatos.

Não se trata do primeiro desastre do tipo em solo australiano. Em 1859, o britânico Thomas Austin solicitou ao irmão, na Inglaterra, que lhe enviasse alguns animais – entre eles, estavam apenas 24 coelhos. Incauto, Austin soltou alguns deles na natureza local. Em 1867, mais de 14 mil coelhos foram encontrados mortos na sua propriedade. Torneios de caça, inclusive com a participação da nobreza inglesa, que viajava esporadicamente para a Austrália, resultavam invariavelmente na morte de milhares de animais nas propriedades de Austin.

Mesmo assim, já no século XX, o governo australiano chegou a decidir construir uma cerca que se estendia por mais de 550 quilômetros, apenas para impedir que a nova praga, os coelhos, tomassem todo o território da ilha. Não adiantou. Já em anos mais recentes, tentou-se controlar a população de coelhos por meio da introdução de raposas – que preferiram caçar roedores e marsupiais locais. Em menos de 150 anos, a Austrália, um universo de espécies endêmicas, se transformou numa província oceânica de coelhos, gatos e raposas.

Por: Carlos Artur Matos

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