Filosofia

Ceticismo filosófico e científico

O ceticismo (ou cepticismo) divide-se em duas correntes, a filosófica e a científica.

Ceticismo filosófico

Muitos estudiosos da filosofia identificam o prenúncio do ceticismo entre os sofistas, na época clássica da filosofia grega, em especial com as proposições de Górgias de Leontinos (485-380 a.C.), com sua radical negação do ser.

Na era helenística, a corrente filosófica cética delimitou-se, iniciando-se com Pirro de Élis (365-270 a.C.) e recebendo sua sistematização com Tímon (360-230 a.C.).

Em linhas gerais, o ceticismo caracterizou-se pela desconfiança em relação a conhecimentos presumivelmente universais, questionando a ambição, prevalecente no interior da filosofia, de revelar a essência da realidade e de fornecer um universo de valores definitivos para a humanidade.

Para o ceticismo, a razão não supera o campo instável dos fenômenos que nos envolvem, não atinge princípios explicativos situados além da experiência, a natureza estável, o ser das coisas. A postura cética descarta, assim, sistemas filosóficos como o platonismo, o aristotelismo, o epicurismo e o estoicismo – as diferentes teses filosóficas cujo ponto em comum é a apresentação de supostas verdades universais.

Sob o prisma cético, não existem motivos que justifiquem o assentimento à teoria das ideias de Platão, à metafísica de Aristóteles, à física epicurista ou à ética estoica, para citar alguns dos muitos exemplos possíveis. Os céticos, enfim, consideram dogmáticas todas as explicações filosóficas que pretendem apresentar certezas, verdades inquestionáveis sobre o mundo.

A tese cética de que não há verdade incide, porém, em uma contradição. Afinal, de acordo com os críticos da perspectiva cética, declarar a inexistência da verdade significa, paradoxalmente, atestar que, pelo menos, uma verdade existe: é verdadeira a não existência da verdade.

Perante essa objeção, a escola de pensamento cética reelaborou sua concepção, definindo-a nos seguintes termos: é possível elaborar hipóteses diferentes e contrárias acerca da realidade, mas jamais se tem critérios válidos para atestar a verdade ou a falsidade de uma ou outra afirmação, ou seja, não é legítimo dizer que uma proposição seja verdadeira, tampouco é plausível dizer que seja falsa.

Essa postura cética referente ao conhecimento desdobra-se em apreciações éticas sobre o modo como se deve viver. Para o ceticismo, as inquietações, ansiedades e angústias têm suas raízes precisamente nas aspirações às verdades definitivas e universais.

Sendo assim, é imprescindível renunciar à busca de certezas, que nunca são alcançadas, e aceitar a simples realidade dos fenômenos que nos cercam. Em sentido prático, trata-se do entendimento de que os indivíduos devem se ajustar à cultura, aos hábitos, valores e costumes vigentes em sua sociedade, organizando suas vidas de acordo com as exigências da experiência social.

Ceticismo científico

O ceticismo científico tem relação com ceticismo filosófico, mas eles não são idênticos. Muitos cientistas e doutores que são céticos quanto às demonstrações paranormais não são adeptos do ceticismo filosófico clássico. Quando críticos de controvérsias científicas ou paranormalidades são ditos céticos, isto se refere apenas à postura cética científica adotada.

O termo cético é usado atualmente para se referir a uma pessoa que tem uma posição crítica em determinada situação, geralmente por empregar princípios do pensamento crítico e métodos científicos (ou seja, ceticismo científico) para verificar a validade de ideias. Os céticos veem a evidência empírica como importante, já que ela provê provavelmente o melhor modo de se determinar a validade de uma ideia.

Apesar de o ceticismo envolver o uso do método científico e do pensamento crítico, isto não necessariamente significa que os céticos usem estas ferramentas constantemente ou simplesmente achem que existe evidência de sua crença.

Os céticos são frequentemente confundidos com, ou até mesmo apontados como, cínicos. Porém, o criticismo cético válido (em oposição a arbitrárias ou subjetivas dúvidas sobre uma ideia) origina-se de um objetivo e metodológico exame que geralmente é consenso entre os céticos. Note também que o cinismo é geralmente tido como um ponto de vista que mantém uma atitude negativa desnecessária acerca dos motivos humanos e da sinceridade. Apesar de as duas posições não serem exclusivas mutuamente e céticos também poderem ser cínicos, cada um deles representa uma afirmação fundamentalmente diferente sobre a natureza do mundo.

Os céticos científicos constantemente recebem também, acusações de terem a “mente fechada” ou de inibirem o progresso científico devido a suas exigências de evidências materiais. Contudo, tais críticas são, em sua maioria, provenientes de adeptos de disciplinas denominadas pseudociência, paranormalidade e espiritualismo, cujas visões não são adotadas ou suportadas pela ciência convencional. Segundo Carl Sagan, cético e astrônomo, “você deve manter sua mente aberta, mas não tão aberta que o cérebro caia”.

Um debunker é um cético que combate ideias falsas e não-científicas. Alguns dos mais famosos são: James Randi, Basava Premanand, Penn e Teller e Harry Houdini. Muitos debunkers se tornam controversos, porque eles costumam exprimir opiniões contundentes e tendem a comentar sobre assuntos que possuem o potencial de ofender valores pessoais, como religião e crenças em geral.

Críticos dos debunkers dizem que suas conclusões estão cheias de interesse próprio e que são cruzados e crentes com uma necessidade de certeza e estabilidade. Entretanto, chamados por eles a comprovar cientificamente suas teorias e alegações, a grande maioria dos críticos os evita.

Por: Wilson Teixeira Moutinho

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