Estados brasileiros

Pernambuco

Nos primeiros séculos da colonização, Pernambuco foi uma das mais ricas capitanias do Brasil, graças principalmente à produção de açúcar. Sua capital tornou-se um dos primeiros polos irradiadores de cultura na colônia.

Estado do Nordeste brasileiro, Pernambuco limita-se a leste com o oceano Atlântico, ao norte com a Paraíba e o Ceará, a oeste com o Piauí e, ao sul com a Bahia e Alagoas. Ocupa uma área é de 98.938km2. Sua capital é Recife.

Geografia física

Geologia e relevo

O estado de Pernambuco exibe relevo modesto, de altitudes pouco elevadas e predomínio da topografia plana ou regular. Estão abaixo de 600m de altitude 76% do território estadual, e entre 300 e 600m, 62%. Compõem o quadro morfológico três unidades: a baixada litorânea, o planalto da Borborema e o pediplano cristalino.

Na baixada litorânea distinguem-se, de leste para oeste: praias, protegidas pelos recifes; uma faixa de tabuleiros areníticos, com quarenta a sessenta metros de altura; e a faixa de terrenos cristalinos talhados em colinas, que se alteiam suavemente para oeste até alcançar 200m junto ao sopé da escarpa da Borborema.

Estado de Pernambuco

Tanto a faixa de tabuleiros como a de colinas são cortadas transversalmente por vales largos onde se abrigam amplas várzeas (planícies aluviais). Fortes contrastes observam-se entre os solos pobres dos tabuleiros e os solos mais ricos das colinas e várzeas (massapê). Nos dois últimos repousa a aptidão do litoral pernambucano para o cultivo da cana-de-açúcar, base de sua economia agrícola.

O planalto da Borborema ergue-se a cerca de setenta quilômetros do litoral. Seu rebordo oriental, escarpado, domina a baixada litorânea com um desnível de 300m, o que lhe confere ao topo uma altitude de 500m sobre o nível do mar. Para o interior, o planalto ainda se alteia mais e alcança 800m em seu centro, donde passa a baixar até atingir 600m junto ao rebordo ocidental. Apresenta, assim, pronunciado abaulamento. Diferem consideravelmente as topografias da porção oriental e da porção ocidental. A leste, erguem-se sobre a superfície do planalto cristas de leste para oeste, separadas por vales, que configuram parcos relevos de 300m. A oeste domina relevo regular, ligeiramente inclinado para o sul, em direção ao rio São Francisco, e limitado a oeste por rebordo de traçado tortuoso. Aproximadamente no centro-sul do planalto eleva-se o maciço dômico de Garanhuns, que supera a altitude de mil metros.

O pediplano cristalino estende-se além do rebordo ocidental do planalto. Seu relevo regular, com nível entre 300 e 400m, é dominado quer por relevos sedimentares (restos do capeamento que revestia toda a área anteriormente), quer por pequenas serras de caráter residual.

Clima

Dois tipos climáticos caracterizam o estado, os climas As’ e BSh de Köppen. O clima As’, tropical, com chuvas de outono-inverno, domina a porção oriental do estado. Registra temperaturas médias anuais de 25o C e pluviosidade de 1.500mm anuais. O clima BSh, semi-árido quente, domina as porções central e ocidental do estado. Registra temperaturas médias anuais de 25o C no oeste e 23o C no centro do estado, onde a maior altitude reduz a temperatura. A pluviosidade, que cai rapidamente do litoral para o interior, mantém-se sempre abaixo de 600mm anuais. O vale do São Francisco registra os totais mais baixos, menos de 500mm.

As chuvas ocorrem no verão, e os invernos, na maior parte da área, são secos. Apenas na zona de transição para clima mais úmido, do litoral, o período chuvoso ocorre no outono-inverno. Uma acentuada irregularidade caracteriza a pluviosidade na zona de domínio desse tipo climático, com anos em que a estação chuvosa não se produz ou se faz escassa e tardia. Desencadeia-se, então, a crise econômico-social causada pela seca.

Em Pernambuco, como nos demais estados do Nordeste litorâneo, observa-se uma bem marcada zona de transição entre o clima seco do interior e o clima úmido da costa: é a zona do agreste, na qual se verificam ainda algumas áreas mais úmidas, os brejos, resultantes de uma pluviosidade mais copiosa, ligada a chuvas de relevo de caráter local.

Vegetação

Revestem o estado a floresta tropical perene, a floresta tropical semidecídua (agreste) e a caatinga. A floresta tropical recobria outrora toda a região situada a leste da encosta oriental da Borborema, razão pela qual a região passou a denominar-se zona da mata. Atualmente pouco resta da vegetação primitiva, que deu lugar a campos de cultura e pastagens artificiais.

A área de transição entre os climas úmido e semi-árido é revestida por vegetação florestal peculiar, onde se misturam espécies da floresta atlântica e da caatinga. É a vegetação do agreste, que também dá nome à região. Finalmente no resto do estado, isto é, no interior, domina a caatinga, característica do sertão.

Hidrografia

Dois domínios hidrográficos dividem Pernambuco. O primeiro compreende pequenas bacias hidrográficas independentes, formadas por rios que correm diretamente para o Atlântico: as bacias dos rios Goiana, Capibaribe, Ipojuca, Camarajibe e Una. O segundo domínio é constituído pela porção pernambucana da bacia do rio São Francisco: integram-no pequenos afluentes da margem esquerda, entre os quais o Moxotó e o Pajeú. O São Francisco forma a divisa entre Pernambuco e a Bahia. Com exceção do São Francisco e dos rios litorâneos, todos os rios de Pernambuco têm regimes temporários: fluem só na estação chuvosa.

População

Um forte contraste entre as áreas de clima chuvoso e as de clima seco marca o estado de Pernambuco. Toda a porção úmida apresenta povoamento denso, sobretudo na área de Recife. Um pouco mais para o interior, no agreste meridional, essa densidade cai, tornando-se ainda menor no vale do Ipojuca. Na área de transição para o sertão a densidade diminui ainda mais rapidamente, principalmente no sul, a região mais seca do estado.

Rede urbana

Todo o território pernambucano situa-se na área de influência de Recife, cuja ação alcança ainda os territórios da Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e a parte oriental do Maranhão. Para o sul sua influência é tolhida pela ação da cidade de Salvador, ficando os estados de Alagoas e Sergipe e o norte do estado da Bahia numa área em que não se define bem a primazia de qualquer das duas metrópoles.

A capital pernambucana figura entre as maiores do país. A expansão de sua área urbana pelos municípios vizinhos levou à formação de uma área metropolitana na qual participam os municípios de Abreu e Lima, Cabo, Camarajibe, Igaraçu, Itamaracá, Itapiçuma, Jaboatão dos Guararapes, Moreno, Olinda, Paulista e São Lourenço da Mata. Outras cidades importantes do estado são Caruaru, Petrolina, Vitória de Santo Antão, Garanhuns e Goiana.

Economia

Agricultura e pecuária

Pernambuco é o segundo produtor brasileiro de cana-de-açúcar. A zona da mata abriga mais de noventa por cento das plantações. Outros produtos importantes no estado são o algodão (arbóreo e herbáceo) e a mandioca. O feijão apresenta menor dispersão do que a mandioca, pois pouco se difundiu na zona da mata e é encontrado em todas as microrregiões do sertão e do agreste. O milho mostra distribuição geográfica semelhante à do feijão, enquanto a banana distribui-se de modo mais parecido com o da mandioca.

A mandioca, o feijão e o milho, produtos indispensáveis à subsistência das populações interioranas, mostram, ao lado de sua dispersão, uma tendência menos acentuada à concentração em certas áreas como os brejos do agreste e as zonas serranas do sertão, todas tipificadas pela maior umidade, devido às chuvas de relevo, que as beneficiam. Alguns produtos de expressão no panorama estadual e mesmo regional alcançaram notável concentração: a cebola, cultivada na várzea do São Francisco, e o caju, típico das terras de Garanhuns. Outros têm apenas significado local, como o café, também concentrado na região de Garanhuns, e o coco-da-baía, no litoral.

Pernambuco conta com expressivos rebanhos de bovinos, suínos, ovinos, caprinos, equinos e muares. O sertão é a área principal das criações, onde se acham sobretudo a maior parte dos ovinos, caprinos e bovinos, estes com pouca densidade na região, mas espalhados por extensão muito maior que a do agreste. Na zona da mata, as densidades novamente caem, porque a cana-de-açúcar domina as terras mais férteis e deixa para a criação somente o solo dos tabuleiros, onde se propagam as pastagens pobres. A produção de leite concentra-se no agreste, que responde por mais de metade do total do estado.

Indústria

O estado dispõe de um moderno parque industrial, que se vale da sólida estrutura oferecida pelo porto de Recife. O complexo industrial e portuário de Suape, situado a quarenta quilômetros da capital, está equipado para receber navios de até cem mil toneladas. As indústrias mais importantes são as de alimentos (especialmente fabricação de açúcar), têxteis (beneficiamento, fiação e tecelagem do algodão), química e de transformação de minerais não-metálicos (cimento, cerâmica, vidro etc.).

A capital concentra grande parte das unidades industriais, mas em outros municípios estão instaladas fábricas importantes: as têxteis de Paulista e Moreno; as usinas de açúcar de Barreiros, Catende, Escada, Pesqueira, Cabo, Formoso, Jaboatão e Goiana; as fábricas de cimento de Paulista e Goiana.

Cultura

Além de estabelecimentos isolados, têm sede no estado a Universidade Federal de Pernambuco, fundada em 1946 (obtêm repercussão nos centros científicos as pesquisas realizadas no campo da micologia e da nutrição humana, em institutos de sua faculdade de medicina), a Universidade Federal Rural de Pernambuco, fundada em 1954, e a Universidade Católica de Pernambuco, fundada em 1951.

Tem sede em Recife a Academia Pernambucana de Letras, fundada em 1901 (40 membros efetivos), bem como o Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, instituto fundado em 1949 e dedicado a estudos de ciências sociais nas áreas de sociologia, antropologia e economia. A Diretoria de Documentação e Cultura da Prefeitura de Recife mantém biblioteca, discoteca, fototeca, e várias publicações. O Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco edita desde 1963 uma revista e mantém valiosa biblioteca. Olinda mantém um Instituto Histórico e Geográfico.

Bibliotecas e museus

Na área federal, sobressai a Biblioteca Central da Universidade Federal de Pernambuco, com suas diversas bibliotecas departamentais e institutos isolados; a Biblioteca do Instituto de Pesquisas e Experimentação Agropecuárias do Nordeste. Dentre as estaduais, são importantes a Biblioteca Pública do Estado e a da Comissão de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco. Dentre as particulares, a do Gabinete Português de Leitura, a do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco, e a da Sociedade Cultural Brasil-Estados Unidos.

São expressivos, em Recife, o Museu do Estado, com suas coleções de gravuras, móveis, imagens e joias antigas, e o Museu do Açúcar, no bairro de Apipucos. Em Olinda, o Museu de Arte Moderna ocupa o edifício da antiga Cadeia Diocesana. Encontram-se, ainda, em Caruaru, o Museu de Arte Popular; em Goiana, o Museu Histórico de Arte Sacra; e em Igaraçu, o Museu do Instituto Histórico.

Turismo

Os principais centros de interesse turístico do estado são as cidades de Recife e Olinda, detentoras ambas de precioso acervo arquitetônico. Olinda, por seus monumentos históricos e artísticos, que a levaram a ser proclamada pela UNESCO patrimônio da humanidade. Na capital, são pontos de maior atração: as fortalezas de São João Batista do Brum e de São Tiago das Cinco Pontas (onde foram executados os heróis da Confederação do Equador), o antigo palácio da Soledade, o teatro Santa Isabel (1859), a casa em que nasceu Joaquim Nabuco, os jardins do conde Maurício de Nassau, a matriz de Santo Antônio (onde está sepultado Henrique Dias), o convento e igreja de Nossa Senhora do Carmo, e a capela dos Noviços, dita Capela Dourada, da Ordem Terceira de São Francisco de Assis (1716).

Devem ainda ser lembrados o palácio do governo, antigo palácio Friburgo, hoje Campo das Princesas; o antigo palácio episcopal, sede do governo rebelde de 1817; e a cadeia velha, em 1852 convertida em biblioteca pública, onde frei Caneca passou seus últimos momentos. Residências senhoriais e valiosas coleções particulares de arte também contribuem para o interesse turístico.

Em Olinda, são notáveis os conventos de São Francisco, do Carmo e da Misericórdia, o mosteiro de São Bento, as igrejas de Nossa Senhora do Amparo, de Nossa Senhora do Monte e da Sé. Entre as praias apreciam-se as do Bairro Novo, Casa Caiada e Rio Doce, do Carmo, do Farol e dos Milagres, Boa Viagem, Janga, Sirinhiaém, Porto de Galinhas e São José da Coroa Grande. Na ilha de Itamaracá, as do Pilar Jaguaribe e de Forte Orange

Folclore e cozinha

Em poucos estados é tão viva, como em Pernambuco, a sobrevivência e presença do folclore. Por isso se deu em Caruaru, em 1977, o I Encontro Latino-Americano de Folclore. A cidade é célebre por sua feira de artesanato (barro, cerâmica, palha, couro etc.) profundamente identificada com a natureza e a história da região. Notabilizou-se também, por sua autenticidade cultural, o carnaval de Recife, dominado pelo ritmo do frevo e do maracatu.

Permanecem muitas tradições populares, como a chegança, o reisado, os pastoris e o bumba-meu-boi, do ciclo do Natal, e danças como o coco e as quadrilhas, do ciclo junino, o xaxado e o baião, danças masculinas do sertão. Da década de 1960 em diante, uma outra atração do estado passou a ser a Nova Jerusalém, distrito de Brejo da Madre de Deus, perto de Garanhuns, onde se encena uma Paixão realista e de enorme participação popular.

A cozinha de Pernambuco é uma das mais características e saborosas do Brasil. Salientam-se pratos como a carne-de-sol com feijão-de-corda ou com macaxeira, o jabá com jerimum (carne-seca com abóbora), a buchada de carneiro ou cabrito, o sarapatel com farinha d’água, ou a tapioca molhada (com leite de coco).

Autoria: Sandra Alves Lemos

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