Geografia

Causas da Pobreza na África

A África é um continente que, infelizmente, é comumente associado à pobreza, à miséria e à fome. A verdade é que a concepção do que é a África não corresponde ao que podemos encontrar em diferentes regiões e países desse continente, extremamente heterogêneo.

Mesmo assim, para compreender a situação de miséria e carência de muitas regiões africanas, é preciso analisar o continente sob o ponto de vista histórico, geográfico e inclusive o próprio conceito de pobreza.

Pobreza pode ser definida como estado de todo indivíduo cujo nível de renda ou consumo fica abaixo do essencial para suprir necessidades humanas básicas.

Muitos países africanos apresentam os menores valores de PIB nominal per capita do mundo, o que reflete num baixo índice de desenvolvimento humano (IDH) e numa consequente população com altos níveis de pobreza.

Lista de países classificados pelo IDH.
Os países com IDH abaixo de 0,5 (coloridos em laranja e vermelho no mapa) são considerados com baixo IDH, sendo o grupo de países com piores valores sociais do mundo.

A maior parte dos países de IDH mais baixo do continente africano – embora o continente em si possua grande parte dos países com as piores notas no indicador – está na África Central e Subsaariana. As regiões, sofreram de modo mais intenso a exploração do período colonial, bem como com o tráfico de escravos e também, mais recentemente, com guerras civis.

Os conflitos e as guerras civis levam a pesadelos humanitários que não estão ligados apenas à fome ou à pobreza – genocídios e a destruição de regiões e etnias inteiras é a motivação perversa por detrás da manutenção da pobreza em muitas das nações africanas.

Para nós, que estamos no Ocidente, a “propaganda” da miséria e da fome varia de região em região africana a cada período de tempo. Os famintos da “Biafra”, na Nigéria, na década de 1970, foram seguidos pela fome na Etiópia e na Somália, nas décadas de 1980 e 1990, pelos refugiados de Ruanda ou Libéria, logo em seguida, guerras civis e vítimas incontáveis no antigo Zaire (hoje República do Congo) e Sudão (hoje separado em dois países), ou vítimas de ditaduras execráveis, em Angola, Uganda, Namíbia, Serra Leoa e outros.

Historicamente e também geograficamente, é possível reparar que a miséria ocorre de modo mais acentuado na África em países e regiões que sofreram uma interferência mais predatória na época colonial, e que conflitos entre tribos e etnias locais são, não raramente, uma das principais causas que levam populações à miséria, fome e doenças.

Mau gerenciamento da terra

Os países africanos apresentam, em geral, grande concentração de terras, um legado do Período Colonial, em que áreas mais férteis e com melhor produtividade agrícola eram distribuídas entre os colonizadores europeus.

Mesmo em países onde o impacto da miséria não é tão brutal, como na África do Sul, Egito ou Marrocos, a concentração de terras e renda ainda é um problema sistemático. Terras cultiváveis, em qualquer ponto na África, não são tão comuns. No centro e norte do continente, desertos são a grande maioria das paisagens. Na região equatorial, a população está concentrada em pequenas regiões de alta densidade demográfica. Mais ao sul, o clima é quente e a vegetação predominante a savana, algo parecido com o cerrado. Clima mais seco e propício para algumas culturas, mas nem tanto para outras.

Para ter ideia de como essa concentração de rendas ocorre, na África do Sul, por exemplo, cerca de 82% de todas as áreas cultiváveis estão concentradas nas mãos de descendentes de europeus. O mesmo ocorre em países como a Namíbia, Quênia, Nigéria e Camarões. Em outros locais, a isso soma-se a predominância de terras de difícil plantio – como é o caso da Namíbia, da Etiópia, da Somália ou países da faixa saariana como o Níger ou Mali.

Mau uso dos recursos financeiros

A corrupção é generalizada na maioria dos países africanos. A falta de uma maturidade política e desenvolvimento educacional cria lideranças populistas e carismáticas, e abre espaço para governos ditatoriais. E, mesmo em países que se converteram em democracias após décadas de conflitos ou regimes totalitários, há ainda falta de leis e regulamentos, de transparência e de confiança internacional em termos políticos.

A África, ao menos nos últimos 50 anos, é o continente que mais recebe repasses, doações, transferências e auxílios financeiros na forma de fundos internacionais, empréstimos, programas de incentivo e arrecadação de fundos por meio de campanhas. São milhares de ONGs atuando diretamente nos países africanos, dezenas de fundos internacionais de apoio às economias locais e ações dos maiores órgãos mundiais que facilitam investimentos, empréstimos e a angariação de capital para o desenvolvimento africano.

Não obstante, esses fundos têm imensa dificuldade em chegar aos africanos. E há uma série de motivos e razões para que isso ocorra.

A grande maioria dos países africanos possui altos índices de corrupção. Nos números do Corruption Perception Index de 2020, da Transparência Internacional, há apenas quatro países africanos entre os 50 menos corruptos do mundo (sendo dois deles países insulares – Cabo Verde e Ilhas Seychelles).

As maiores nações africanas estão entre os países menos transparentes do mundo: Angola e Uganda (142º lugar), Nigéria e Moçambique (149º lugar), Congo (165º lugar), Sudão (174º lugar), Somália e Sudão do Sul (179º lugar).

A África também é o continente que, atualmente, ainda possui o maior número de ditaduras. Segundo dados de relatório da Freedom House, das 49 ditaduras existentes hoje no mundo 18 estão na África Subsaariana e mais 6 no Norte da África. Isso significa que o continente ainda tem quase metade dos governos totalitários no mundo.

pobreza na africa

Recursos humanos

Com baixos níveis de educação, principalmente nas regiões rurais, países africanos têm dificuldade em criar alternativas para o desenvolvimento econômico. As novas gerações não conseguem ascensão social, pois não têm acesso à educação, do mesmo modo que seus pais ou avós.

A dificuldade do avanço na educação no continente ocorre por uma série de motivos. Em primeiro lugar, a questão linguística. A maioria dos países, a despeito de possuírem línguas oficiais como o inglês, o francês ou o português, possuem centenas ou milhares de idiomas ou dialetos. Regiões mais afastadas dos centros urbanos, por vezes, têm línguas próprias, completamente diferentes daquelas de outras regiões de um mesmo país. Com a maioria da educação formal sendo ministrada nos idiomas oficiais, a educação acaba se tornando inacessível para muitas comunidades.

Outro problema são os constantes conflitos étnicos e culturais. Da forma com que a África foi delimitada, tribos e culturais rivais ou completamente estranhas entre si foram alocadas em um mesmo território – enquanto que nações inteiras foram divididas em pequenas comunidades, espalhadas em dois ou mais países diferentes.

Finalmente, há o problema do trabalho infantil. A grande maioria das crianças africanas é alocada para auxiliar a família na geração de renda, no trabalho no campo ou mesmo aliciada para participação em milícias e grupos separatistas.

Pouca infraestrutura

As estratégias territoriais adotadas pelo sistema colonial africano não tiveram preocupação em estabelecer redes de conexão e mobilidade no continente. Colonialmente, europeus não tiveram grande interesse em desenvolver uma infraestrutura que avançasse muito rumo ao interior – na grande maioria das nações africanas, há algumas infraestrutura portuária, porém pouquíssimo desenvolvimento em termos de estradas e ferrovias.

A concentração da população em pequenas regiões demograficamente lotadas tornou, historicamente, “pouco compensador” estender e ampliar redes de energia, eletricidade, água e saneamento, especialmente longe da costa litorânea.

A falta de industrialização no continente e a pouca produção de excedentes no setor primário torna a África, a despeito do enorme território e diversidade, um amontoado de nações importadoras. A África sobrevive em termos de exportações de alguns poucos exemplos, geralmente ligados à exploração mineral, e na outra via tem de importar absolutamente tudo, inclusive alimentos, em alguns casos.

A balança comercial em constante déficit cria dificuldades para a chegada de bens básicos ao continente, que se dirá de máquinas, equipamentos e tecnologia. Ao mesmo tempo, grandes projetos de infraestrutura exigem financiamento e os altos índices de corrupção tornam o investimento em solo africano difícil e caro, especialmente por conta dos altos riscos.

Por: Carlos Artur Matos

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