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África do Sul

País localizado no extremo sul do continente africano, a África do Sul é banhada ao mesmo tempo pelos oceanos Índico e Atlântico. Além de Pretória, a capital administrativa onde se encontram os departamentos governamentais, a África do Sul possui duas outras capitais, ao contrário de outros países: a Cidade do Cabo, sede do Legislativo e maior cidade do país, onde estão a Assembleia Nacional e o Conselho Nacional das Províncias e Bloemfontein, onde fica a sede do Poder Judiciário.

Economicamente, algumas outras cidades ainda têm grande importância no país, como Johnnesburgo e Durban, ambas com cerca de 3 milhões de habitantes.

Em termos geográficos e fisiográficos, África do Sul é muito variada. Possui uma vasta linha costeira e um interior repleto de planaltos, vales e formações montanhosas. O clima sul-africano é temperado e suave, com longas estações de sol e um clima parecido com algumas regiões brasileiras.

Mapa da África do Sul.

História da África do Sul

Os primeiros ancestrais do homem viveram há 2 milhões de anos no que é atualmente a África do Sul. Como outros países africanos, a África do Sul foi uma das primeiras regiões do mundo a abrigar comunidades de hominídeos. Após o surgimento das civilizações, o sul-africano passou pelas mãos de muitas culturas, até que por volta do ano 1500 a colonização europeia viesse a modificar de forma agressiva a dinâmica da região. Em 1488, Bartolomeu Dias foi o primeiro a aportar no litoral sul-africano, iniciando um ciclo de quinhentos anos de domínio europeu.

Antes disso, já no século I, a África do Sul foi colonizada por tribos banto, vindas de regiões mais ao norte. Algumas dessas tribos iriam evoluir para as primeiras culturas civilizadas da África do Sul.

A parte ocidental do país era historicamente ocupada por duas etnias e grupos distintos: o san, que vivia da caça, e o khoikhoi, que vivia da criação de gado e ovelhas. Para os europeus, a partir do século XVII quando a colonização se tornou mais presente, o primeiro grupo passou a ser conhecido como o grupo dos bosquímanos, enquanto khoikhois passaram a ser hotentotes.

A região oriental da África do Sul tornou-se mais densamente habitada por um povo de pele negra que falava línguas bantas. Esse povo veio do norte por volta de 900 e passou a viver, sob a autoridade de chefes, da criação de bois e ovelhas e da agricultura.

Colonização Holandesa

Os navegadores portugueses foram os primeiros europeus a avistar o país, em 1488, mas os primeiros colonos europeus apenas se instalariam no páis em 1652. Eram empregados da Companhia Holandesa das Índias Orientais, que importava escravos da África tropical para trabalhar em suas fazendas. A partir de 1657, a empresa holandesa permitiu que funcionários pudessem se estabelecer no sul da África e criar propriedades agrícolas – esses primeiros colonos seriam conhecidos por bôeres.

Por volta de 1700, os bôeres ocuparam a maioria das terras férteis em torno da Cidade do Cabo, pressionado bosquímanos e hotentotes para outras regiões – muitos deles passaram a ter de servir os colonos, como forma de manter seus lares.

À medida que o território conquistado pelos europeus se expandia, declinavam as populações khoikhoi e san. Em sua maior parte, os que sobreviveram tiveram de servir aos europeus. Holandeses calvinistas eram maioria, mas também havia colonos franceses, alemães e escoceses. Guerras com os povos locais iriam consolidar o domínio europeu – por meio da colonização e da miscigenação, em pouco mais de um século metade da população na parte ocidental da África do Sul seria de europeus e seus descendentes miscigenados – os malaios.

Domínio Britânico

Em 1795, a França conquistou os Países Baixos, a atual Holanda. Com o controle na Europa, ingleses ocuparam a Colônia do Cabo com suas tropas, para afastar franceses. Em 1803, os ingleses devolveram a colônia aos holandeses, mas tornariam a ocupá-la em 1806. Em 1814, os Países Baixos cederam o Cabo finalmente aos britânicos. Os bôeres, “abandonados” pela Holanda, se revoltariam diversas vezes contra o domínio inglês.

O governo fez do inglês o único idioma oficial, em 1828. Seis anos depois, a escravidão foi abolida em todos os domínios ingleses, o que incluía da Colônia do Cabo. Bôeres que dependiam da mão-de-obra escrava foram à falência. Alguns deixaram a colônia, migrando para o interior, onde iriam se confrontar com os remanescentes bantos, conquistando territórios longe do litoral e fundando o Estado Livre de Orange e o Transvaal. Os conflitos com os ingleses, contudo, não cessariam por um bom tempo ainda.

Guerras Anglo-Bôeres

Em 1870, um enorme filão de diamantes foi descoberto na região onde hoje fica Kimberley – um dos grandes pólos de extração de diamantes até os dias atuais. As jazidas foram então anexadas em 1871 pelo Reino Unido, que repetiu a anexação de terras com o Transvaal seis anos depois. Em 1880, rebeldes bôeres iniciaram um conflito com os ingleses invasores, deflagrando a Primeira Guerra Anglo-Bôer, na qual conseguiram derrotar os ingleses em 1881.

A história tornou a repetir-se em 1886, quando jazidas ricas em ouro foram descobertas onde hoje se localiza Johanesburgo, no Transvaal. Houve uma corrida ao local. Para manter o controle do país, os bôeres começaram a limitar direitos políticos dos uitlanders (estrangeiros), a maioria deles britânicos. A medida agravou os ânimos já esquentados entre ingleses e locais.

Em 1895, Cecil Rhodes, o primeiro-ministro da Colônia do Cabo, iniciou um movimento para a derrubada definitiva dos governantes do Transvaal. Organizou uma tropa para invadir o território dos bôeres, que foi capturada. Em 1899, o Transvaal e o Estado Livre de Orange declararam guerra ao Reino Unido. Os bôeres foram vencidos e acabaram apresentando rendição aos ingleses em 1902. As repúblicas dos bôeres se tornariam a partir dali colônias inglesas, com todos os demais povos africanos vizinhos sob o domínio também inglês e de outras nações europeias.

União Sul-Africana

O Reino Unido não manteve o controle sobre as colônias por muito tempo, concedendo autonomia ao Transvaal em 1906 e ao Estado Livre de Orange em 1907. A Colônia do Cabo e Natal já gozavam desse privilégio, a exemplo de muitas outras colônias inglesas ao redor do mundo. Em 1910, as quatro colônias formaram a União Sul-Africana, um país autônomo, porém dentro do Império Britânico. Durante a Primeira Guerra Mundial, dois generais bôeres – Louis Botha e Jan Christiaan Smuts – chegaram a chefiar tropas sul-africanas contra alemães. Os mesmos generais chegariam, após a guerra, ao cargo de primeiro-ministro.

O Nacionalismo Africânder

Botha e Smuts procuraram unificar os africânderes (como os bôeres passaram a ser chamados) e os descendentes de europeus que falavam inglês. A nata cultural local, contudo, assim como a igreja protestante, encorajavam a independência e falavam numa nação própria, de constituição africânder.

Em 1913, James Barry Munnik Hertzog, também um ex-general que havia se focado na política, fundou o Partido Nacional, chegando ao cargo de primeiro-ministro em 1924. Hertzog governou o país por quinze anos, até o início da Segunda Guerra Mundial, quando o nacionalismo sul-africano sofreu desgaste. Em seu governo, o africâner se tornaria um idioma oficial e a industrialização finalmente chegaria ao país, que em 1931 conseguiria a independência definitiva como membro membro da Comunidade de Nações (Commonwealth).

A Segunda Guerra Mundial criou discórdia na África do Sul. Hertzog queria que a África do Sul se mantivesse neutra, pois simpatizava com as ideias segregacionistas da ideologia nazista, mas Smuts defendia a aliança com o Reino Unido contra a Alemanha. O parlamento local seguiu a posição de Smuts, que acabou assumindo cargo de primeiro-ministro em 1939, acabando com a hegemonia de 15 anos de Hertzog.

Ao longo da guerra, nacionalistas, mesmo fora do comando, ganharam influência com a fundação do Partido Nacional (NP), que conquistou o poder em 1948. A guerra havia terminado, mas os ideais segregacionistas foram mantidos, culminando no regime do apartheid, que retirou os direitos dos negros. Em 1949, o Ato de Proibição dos Casamentos Inter-Raciais tornou ilegal o casamento entre brancos e não-brancos. Em 1950, o Ato das Áreas de Grupo determinou a designação de áreas residenciais separadas. As décadas seguintes criariam um dos mais controversos regimes sociais do mundo contemporâneo.

Oposição ao Apartheid

O governo da África do Sul passou a sofrer oposição a partir do momento em que adotou o apartheid. Não apenas líderes africanos – o mundo inteiro olhava o governo sul-africano com maus olhos. Internamente, negros tentavam organizar-se politicamente, mas sem sucesso. Greves, boicotes e alianças com outras nações não seriam suficientes para deter o avanço do apartheid. O Congresso Nacional Africano (CNA) despontou como o principal grupo contrário ao apartheid, liderado por negros e responsável por dezenas, senão centenas de manifestações nas décadas de 1950 e 1960. Em 1962, após o CNA ser proibido por lei, Nelson Mandela, líder do CNA, foi condenado à prisão perpétua.

No dia 31 de maio de 1961, a África do Sul tornou-se uma república e abandonou a Comunidade de Nações (Commonwealth), principalmente em razão das diferenças ideológicas em relação aos demais membros da comunidade. No exterior, vários países se posicionaram contra o apartheid. A despeito disso, o governo sul-africano manteve sua política inalterada por décadas.

Em 1971, foi promulgada a Lei de Constituição das Pátrias Bantas, que determinou a criação de estados tribais autônomos para os africanos, mais tarde conhecidos como bantustões. Essa lei previa o confinamento dos principais grupos étnicos africanos em um território reservado. Esses sítios autônomos (em termos) perduraram até as eleições de 1994.

Em 1984, uma rebelião contra o apartheid fez com que o governo decretasse a Lei Marcial, sendo duramente criticado na comunidade internacional. As pressões se agravaram e membros da ONU decretaram uma série de sanções e boicotes à África do Sul. Nessa época, o movimento pela libertação de Mandela, que ainda permanecia no cárcere, ganhou força.

Em 1989, Frederik de Klerk foi eleito presidente. Logo no início de seu governo, De Klerk sinalizou que buscava reformas que iriam, aos poucos, colocar um fim ao regime do apartheid e legalizariam a CNA, libertando inclusive Mandela. Visando legitimar seu programa, convocou um plebiscito para a minoria africânder, em que 69% desta aprovou o fim do apartheid.

Economia

A África do Sul é a nação mais rica e desenvolvida da África, embora grande parte da população, especialmente a negra, viva em condições de extrema pobreza. Com cerca de 60 milhões de habitantes, dos quais praticamente 90% são compostos por etnias negras, tem uma economia diversificada e vibrante, porém com alguns pontos fortes.

O país é o maior produtor de ouro do mundo e um dos maiores de diamantes. A agricultura é forte e capaz de abastecer à demanda local, com alguns excedentes exportáveis, porém as divisas vêm mesmo da exportação de minérios e produtos beneficiados.

Cultura

A maior contribuição da África do Sul para a arte diz respeito à literatura. Grande parte dela reflete as tensões políticas e sociais do país. Depois da Guerra dos Bôeres, escritores africânderes como Jan Celliers, C.L. Leipoldt e C.J. Langenhoven expressaram mágoa pela conquista britânica de seu território e ganharam fama internacional. As dificuldades históricas do país deram origem a romancistas brilhantes no início do século XX: Nadine Gordimer, Alan Paton, William Plomer, Peter Abrahams, Ezekiel Mphahlele e Benedict Vilakazi. Contudo, o período do apartheid colocaria nesses escritores e em uma possível nova geração uma grande mordaça que somente seria retirada da boca dos sul-africanos com a vitória de Nelson Mandela, nos anos 1990.

Por: Carlos Artur Matos

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