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Curdistão

O polêmico Curdistão, presente nas manchetes de jornais no mundo todo desde a primeira Guerra do Golfo, no início dos anos 1990, geograficamente compreende as nascentes dos rios Tigre e Eufrates.

A região se localiza principalmente ao norte do Iraque, na zona das bacias petrolíferas de Kirkuk e Mossul. Contudo, o chamado Curdistão se estende a regiões do território da Turquia, da Síria e até mesmo algumas partes a oeste do Irã e ao norte, rumo à Armênia e ao Azerbaijão.

Os curdos, população dessas regiões, formam hoje o maior grupo étnico do mundo sem um Estado próprio, com sua cultura fragmentada entre fronteiras de diversos países. Nas estimativas mundiais, há mais de 25 milhões de curdos vivendo nessas regiões.

É um povo antigo, ariano, de língua persa. Seus hábitos e cultura foram delineados nas áreas montanhosas entre a Turquia, Iraque, Armênia e Irã. Possui uma rica história, cujo auge ocorreu na Idade Média, com a dinastia de Saladino, que venceu os cruzados e reconquistou a Palestina para os muçulmanos.

Após 1918, quando é desmembrado o Império Turco-Otomano, formam-se novos países, como a Turquia, Iraque e Síria, e a etnia curda, minoria, passou a ser reprimida. Ao contrário de outros conflitos da região, a segregação da etnia curda não tem um cunho religioso – a maioria da população do Curdistão compreende muçulmanos sunitas, como em diversos outros países do Oriente Médio.

Os tratados que dissolveram o Império Otomano acabaram por não conceder aos curdos um Estado e com a consolidação dos estados formados na região as esperanças curdas se tornaram ainda mais distantes com o passar do tempo. Dois tratados, ao fim da Primeira Guerra Mundial, deixaram o Curdistão de lado.

O Tratado de Sévres, em 1920, não apenas estabelecia parâmetros para novas fronteiras que envolviam o território da atual Turquia, Gŕecia e Síria, mas também reconhecia grande parte da Península da Anatólia como sendo de maioria curda – inclusive a zona de Istambul.

Apesar disso, três anos depois, no Tratado de Lausanne, que desenhou a Turquia moderna, a existência de um possível Curdistão foi posta de lado.

Nas décadas seguintes, o governo turco iniciou uma política de repressão aos curdos, que foram movidos da região norte da Anatólia, que ocupavam, para os confins a leste da Turquia. Oficialmente, a etnia curda tinha sua existência negada pelos governos turcos, sendo designados como “Turcos da Montanha”.

Desde a década de 1960, o movimento separatista curdo vem crescendo no Iraque e também na Turquia. Desde a formação de partidos até conflitos e lutas armadas, a história do povo curdo vem sendo marcada, nas últimas cinco décadas, por batalhas próprias e pelo envolvimento em outras guerras que assolaram o Oriente Médio (Guerra Irã-Iraque e as duas guerras do Golfo).

Na década de 80, o Iraque realizou a destruição de cidades e a deportação de nacionalistas curdos, devido à oposição dos mesmos ao governo iraquiano. Os conflitos com governos como o iraquiano e o turco faz com que a população curda, de tempos em tempos, migre. Por essa razão, é difícil estabelecer fronteiras ou limites da região ocupada pela etnia, embora haja estudos e análises a respeito, como na foto da BBC, com dados da CIA.

Na década de 1990, as facções curdas retomaram as lutas internas desencadeadas por rivalidades entre as principais lideranças. Desentendimentos com governos da região e com medidas internacionais acirraram a disputa entre as lideranças locais.

A região autônoma curda, ao norte do Iraque, submissa ao bloqueio internacional e ao imposto pelo Iraque, permaneceu desde 1991 sob a ameaça do aumento dos conflitos tribais e a intervenção dos exércitos turco e iraniano. Nessa região, a crise econômica, a fome e a violência se agravaram.

Até que, em 1996, o Partido Democrático do Curdistão (KDP) pediu ajuda ao próprio governo do Iraque para se impor ao partido rival, a União Patriótica do Curdistão (PUIÇ)., que recebe apoio do Irã e da Turquia. Assim, tropas iraquianas ocupam a capital do Curdistão iraquiano, Arbil, desrespeitando a zona de exclusão aérea acima do paralelo 36°. Esse fato provocou novamente a intervenção dos EUA no Iraque. Mas o KDP, Partido Democrático do Curdistão, com o apoio do governo do próprio Iraque, conseguiu em poucos dias (setembro/96) dominar as principais cidades curdas.

O nacionalismo curdo ganhou importância na década de 1990, impulsionado pelos conflitos iraquianos com norte-americanos e uma aliança ocidental. Contudo, os separatistas curdos não tiveram a sua causa estabelecida como prioridade nas Guerras do Golfo e, até os dias de hoje, o projeto de um Estado curdo ainda é pouco mais do que um apanhado de processos e documentos perdidos em órgãos mundiais diplomáticos.

Na Turquia, o governo aplicou até 2002 políticas discriminatórias contra os curdos, privando-lhes da s identidade, proibindo tanto seu idioma como alguns dos seus costumes mais característicos.

A Guerra Civil da Síria

Desde 2012, a Guerra Civil da Síria causou grandes ondas de refugiados sírios rumo à Europa e outros países árabes. Com territórios ao norte da Síria ocupados também pela etnia curda, partidos do Curdistão entraram em desentendimento. Algumas lideranças mantiveram neutralidade em relação aos conflitos na Síria, mas facções mais extremistas chegaram a atacar militares sírios durante o ponto mais alto da guerra.

Na fronteira com a Turquia, o conflito sírio apenas serviu para que grupos separatistas novamente aumentassem a oposição ao governo e novos conflitos armados – com iniciativas tanto do lado curdo quanto do exército turco tenham ocorrido de 2012 até os dias atuais.

Em 2019, os ataques turcos ao Curdistão atingiram seu ápice após mais de 40 anos de conflitos esporádicos, com a Operação Nascente de Paz, quando turcos lançaram uma enorme ofensiva aérea e bombardeio a cidades ao norte da Síria que vinham sendo, desde 2012, ocupadas por uma maioria curda.

Por: Carlos Artur Matos

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