História do Brasil

Como era a educação na ditadura militar

A ditadura militar provocou muitas mudanças que se refletiram sobre a sociedade, criando novos padrões de comportamento e de relações sociais. Veja como foi a relação da ditadura com a educação.

A repressão e a educação

A relação entre os militares e o setor educacional foi conflituosa desde o início. Quando tomaram o poder, em 1964, os militares decretaram a ilegalidade da UNE (União Nacional dos Estudantes), mas mesmo assim ela continuou a promover convenções para discutir o cenário educacional e nacional.

A perseguição não se estendeu apenas a líderes estudantis e simpatizantes, mas também ao corpo docente, sendo realizado um verdadeiro expurgo, sobretudo no meio universitário, no qual muitos docentes eram adeptos de ideias revolucionárias.

Ainda assim, a universidade resistiu ao regime, mesmo porque ele necessitava de capacidade intelectual para sustentar o crescimento econômico planejado. As áreas ligadas ao setor de engenharia e química foram incentivadas, visando à aplicação prática das descobertas científicas no setor industrial; a repressão maior estava voltada para as disciplinas de humanas.

Até hoje as áreas de humanidades sofrem com a herança da ditadura: o governo ainda disponibiliza poucos recursos para pesquisas e material – como bibliotecas.

Ensino público e pátria: a doutrinação nos currículos escolares

Os militares não descuidaram do ensino técnico, incentivando-o no então chamado segundo grau para obter a mão-de-obra qualificada de que necessitavam as empresas. O governo também apoiou iniciativas privadas no sentido de formar mão-de-obra.

Em 1969, duas disciplinas sumiram do currículo escolar. Os estudantes não tinham mais Sociologia nem Filosofia, e em seu lugar o governo militar criou três disciplinas: Educação Moral e Cívica, Estudos de Problemas Brasileiros e Organização Social e Política Brasileira – válidas para todas as escolas e todos os níveis, do fundamental ao universitário.

O governo desejava, com o novo currículo, reforçar sua ideologia política, exaltando o nacionalismo e o civismo. Além disso, o ensino de História e Geografia também ficou comprometido: com a ditadura, essas disciplinas foram obrigadas a ficar menos críticas e mais factuais, exaltando a história dos grandes personagens e feitos.

Só em 2003 o governo aprovou uma lei que dava autonomia às instituições de ensino, para que elas pudessem desenvolver o conteúdo relacionado a civismo e moral com independência, nas disciplinas correlatas.

O governo também se preocupou com o problema do analfabetismo, que produzia estatísticas incompatíveis com o modelo industrializante adotado pelos militares: a sociedade urbanizada que se construía era formada por iletrados. A criação do Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral), em 1967, foi uma tentativa de resolver essa situação.

A atuação do Mobral foi criticada por muitos educadores do período, que afirmaram ser a alfabetização realizada meramente técnica, ensinando as pessoas apenas a ler e escrever e não a raciocinar e interpretar, criando assim uma massa de cidadãos que seriam identificados posteriormente como “analfabetos funcionais”.

Por: Paulo Magno da Costa Torres

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